A GEOPOLÍTICA E AS DISPUTAS DE ENERGIA POR DETRÁS DA GUERRA DE ISRAEL-GAZA DE 2014
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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

A GEOPOLÍTICA E AS DISPUTAS DE ENERGIA POR DETRÁS DA GUERRA DE ISRAEL-GAZA DE 2014





Por Karl Naylor

'Excepto algum elemento que mude fundamentalmente a equação - uma decisão israelita de voltar a ocupar Gaza, a erupção de uma terceira intifada na Cisjordânia - em algum momento tanto Israel como o Hamas estarão prontos para mediadores para ajudarem a construir algum cessar-fogo negociado'. -America needs to end its obsession with trying to fix everything in Gaza-Aaron David Miller.

Israel caminhará para uma vitória definitiva e irá esmagar o Hamas decisivamente como força política. A ausência de qualquer contexto geopolítico para a análise de Aaron Miller é perceptível. Israel tem como principal objetivo proteger os campos de gás marítimos de Gaza o melhor que poder para afastar uma potencial crise de energia e reforçar o Egipto, que também carece de gás barato.

Washington compartilha em parte o objectivo de manter o Egipto estável, mas foi cauteloso sobre a divisão preocupante que se abriu entre a Turquia e o Qatar, por um lado, e o Egipto, Israel e a Arábia Saudita, por outro. As crescentes tensões entre estes alinhamentos de potencias regionais estão a bloquear as negociações de paz efectivas.

O Hamas é apoiado pelo Qatar e pela Turquia, porque ambos têm um interesse geopolítico em estar em jogo com os seus aliados da Irmandade Muçulmana na Síria, pela qual eles esperam derrubar Assad e assim avançar na construção de um gasoduto Qatar Turquia em rivalidade com projectos energéticos regionais de Israel.

Israel, por sua vez, não quer que o eixo de influência sunita para o desenvolvimento e pelo Qatar seja capaz de transitar o gás até ao Mediterrâneo Oriental antes que eles desenvolvam plenamente os campos de gás de  Leviathan, Tamar e Mares de Gaza. Nem se quer querem o gasoduto rival entre o Irão, Iraque e Síria.

Uma razão pela qual Netanyahu ter ficado satisfeito em a diplomacia russa ter sido capaz de evitar a perspectiva de um ataque militar dos EUA e da França sobre a Síria (embora ele tenha elogiado a diplomacia enérgica dos EUA para trazer a Rússia ás negociações) foi que Israel não tem interesse em que Assad se vá tão cedo, mas sim na continuação do conflito.

Natanyahu fez questão de exortar os EUA a aceitarem o acordo da Rússia sobre armas químicas da Síria em 2013, apesar do seu gabinete o ter negado oficialmente, porque não estavam entusiasmados com a estratégia de Washington na Síria, que ficava a beneficiar muito mais o Qatar e a Turquia.

Por sua vez, o golpe de Estado no Egipto em 2013 foi apoiado por Israel, enquanto os EUA não foram tão entusiasmados inicialmente, com Kerry apenas a reafirmar o seu apoio total, algum tempo depois, quando os EUA tiveram de aceitá-lo como um facto consumado, em parte por causa da vergonhosa escala de assassinatos, mas também de modo a não irritar o Qatar e a Turquia.

Os EUA têm evitado de se envolverem demasiado no Médio Oriente desde que retiraram as suas tropas do Iraque. A revolução de xisto e a reorientação da atenção diplomática para a região da Ásia-Pacífico em 2011 foi parte disso. Desta forma, Israel tem mãos livres para esmagar o Hamas.

A razão é que, apesar da forte oposição pública à guerra de Israel em Gaza, poucas potências mundiais ou regionais têm qualquer interesse particular ou a capacidade de impedi-lo. Israel quer destruir o Hamas enquanto tem a oportunidade com o Egipto de Sisi de selar a fronteira e as frias relações entre o Irão, o Hezbollah e o Hamas.

Israel aproveitou a oportunidade para acabar com o Hamas para remover a sua capacidade com foguetes[rockets], na qual receava algo que poderia ser desencadeado contra a infra-estrutura de gás de Israel no Mediterrâneo Oriental. Em seguida, seria capaz de usar isso para colocar o AP numa posição em que poderia quebrar a sua aliança com o Hamas.

A mensagem seria, então, se a AP quer beneficiar das receitas do gás, ela e a Cisjordânia seria melhor não alinhar com o Hamas, pois não haveria mais vantagem. A estratégia de Netanyahu é cruel, mas parece que tanto as potencias dos Estados Unidos e da União Europeia terão pouco a perder se ele tiver sucesso.

A necessidade de cobrir as suas apostas em matéria da guerra de Israel em Gaza é em parte sobre a necessidade da UE para a diversificação energética. Israel poderia usar os suprimentos de GNL que estão definidas para serem exportadas no futuro, para a Ásia Oriental, assim como para promover a sua segurança regional, apoiando o Egipto e a Jordânia, que são vistos como ameaçados por jihadistas.

É difícil ver como a guerra de Israel em Gaza poderia ser feita de forma particularmente menos seguro. A única possibilidade disso acontecer seria se a ISIS ganhasse uma posição mais forte em Gaza à custa do Hamas. Ex-comandantes das IDF têm alertado para isso. Contudo, mesmo assim, isso não mudaria muito porque Netanyahu tem a intenção de prosseguir uma "guerra ao terror" generalizada.

O governo do Likud não faz distinção entre o Hamas, a Irmandade Muçulmana ou a ISIS: todos são fanáticos islâmicos jihadistas ao nível regional e global, impregnados com uma obsessão psicopatológica de destruir Israel e civilização ocidental.

Como um rico e em grande parte bastante eficaz 'Estado de segurança nacional', Israel não vai ser realisticamente ameaçado. O último atentado suicida foi em 2008. Essa ameaça tem sido largamente evitada. O Hamas não recebeu muita ajuda do Irão entre 2011-2014.

Parte disso está conectado com as divisões sectárias abertas e agravadas pelo conflito sírio. Continua a ser visto se o Hezbollah e o Irão irão colocar mais prioridade na sua luta contra os jihadistas sunitas do que começar a focar-se no que Israel possa vir a provar ser demasiado bem sucedido.

No entanto, é muito improvável e a realidade é que Netanyahu sabe que ele tem a melhor oportunidade que Israel tem tido nos últimos anos para obrigar a uma paz inteiramente nos seus termos, que ele se refere como um "cessar-fogo sustentável" ou uma "acalmia sustentável", e que mistura as agendas de segurança energética com a da "guerra contra o terrorismo".

Independentemente do custo humanitário, e que Israel acusa o Hamas por continuar a tentar lançar foguetes, até agora até Tel Aviv e Jerusalém, a guerra está definida para continuar até ele ganhar a segurança regional que quer, e é por isso que Netanyahu deixou bem claro que "esta será uma operação longa".






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