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quinta-feira, 30 de maio de 2024

MEU NOME É KHAN. EU SOU DO TPI E VOCÊ ESTÁ PRESO

Karim Khan é o homem que poderia quebrar de uma só vez a credibilidade dessas instituições e colocar a América ainda mais para trás em seu poder em declínio, lutando para se adaptar ao mundo multipolar.


Por Martin Jay

Não houve nada parecido antes. Os mandados de prisão dos líderes do Hamas e de Benjamin Netanyahu pelo TPI criam um novo precedente para a chamada ordem baseada em regras do Ocidente e das suas elites. Com agora países como Noruega, Irlanda e Espanha já declarando que a Palestina poderia ser reconhecida como um Estado, com pelo menos 100 países do Sul Global prontos para apoiar uma medida tão ousada, a pressão sobre o presidente dos EUA, Joe Biden, está aumentando, à medida que ele consegue apoiar a si mesmo e seu governo num canto com os EUA cada vez mais isolados agora no cenário mundial.

O que acontece quando o Sul Global acorda e percebe que esses tribunais internacionais em Haia são apenas ferramentas para qualquer administração dos EUA prender e deter quaisquer líderes ao redor do mundo que eles não possam assassinar ou substituir facilmente e que a "ordem baseada em regras" é apenas uma desculpa para os EUA e o Reino Unido quebrarem as suas próprias regras em todo o mundo quando lhes convém apoiar a hegemonia dos EUA?

Karim Khan é o homem que poderia quebrar de uma só vez a credibilidade dessas instituições e colocar a América ainda mais para trás em seu poder em declínio, lutando para se adaptar ao mundo multipolar. Khan é o procurador-chefe do TPI que emite os mandados que estão sujeitos à aprovação dos juízes do TPI. Se forem emitidas, elas se tornarão imediatamente uma restrição potencial muito mais significativa à liderança de Israel do que uma decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) num caso movido pela África do Sul, que ordenou que Israel suspendesse a sua campanha militar em Rafah.

Se concedida, pode ser um divisor de águas que pode colocar toda a guerra de Gaza e o seu esforço para ter o seu próprio Estado num novo caminho, esmagando de uma vez por todas qualquer hegemonia que os EUA pensem que ainda exercem no Médio Oriente.

O anúncio de Khan acusou Binyamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, juntamente com três líderes do Hamas, de crimes contra a humanidade. Foi a primeira vez que um líder apoiado pelo Ocidente foi alvo do tribunal e isso provocou indignação internacional.

É importante notar que o TPI não é um tribunal ligado à ONU, mas formado por um tratado assinado em Roma em 2002 e foi amplamente apoiado por países pobres cujos regimes temiam ser vítimas de golpes de Estado de países vizinhos. Em linhas gerais, a diferença entre o TPI e o TIJ é que o primeiro emite mandados de prisão para ditadores com pressão sobre os próprios Estados-membros para que os descrevem. Nem Israel nem os EUA são membros.

Khan deu recentemente uma entrevista exclusiva ao London Times, onde revelou o quanto é odiado por líderes ocidentais, em particular do seu próprio país, como Rishi Sunak, que chamou a decisão de "profundamente inútil", e o presidente Biden, que a chamou de "ultrajante".

"Nosso trabalho não é fazer amigos", diz. "É fazer o nosso trabalho, quer sejamos aplaudidos ou condenados. Temos que sublinhar o valor igual de cada criança, de cada mulher, de cada civil num mundo cada vez mais polarizado e, se não fizermos isso, qual é o sentido de nós?"

Os dois pontos principais que vêm da entrevista são sua crença num sistema baseado em regras internacionais que não é dominado pelos EUA e como a punição coletiva na guerra é totalmente inaceitável.

Ele é crítico de Israel e dos seus assassinatos em massa em Gaza e Rafah, dizendo que Israel deveria aprender as lições da luta do Reino Unido na Irlanda do Norte, onde o exército britânico estava relutante em bombardear indiscriminadamente enormes áreas onde se sabia que os terroristas do IRA estavam vivendo.

"Houve tentativas de matar Margaret Thatcher, Airey Neave foi explodida, Lord Mountbatten foi explodido, houve o ataque de Enniskillen, tivemos joelhadas... Mas os britânicos não decidiram dizer: 'Bem, na Falls Road [o coração da católica Belfast] sem dúvida pode haver alguns membros do IRA e simpatizantes republicanos, então vamos lançar uma bomba de 2.000 libras na Falls Road'. Você não pode fazer isso.

"A lei deve ter algum propósito, é isso que separa os Estados que respeitam a lei dos grupos criminosos e terroristas. E é só isso que tenho tentado fazer, aplicar a lei com base em factos, e é isso que devemos fazer qualquer condenação que recebamos."

A simples realidade dos mandados de prisão, porém, é que eles são em grande parte simbólicos, embora sirvam para isolar ainda mais os EUA, prestando-se a dar mais gravidade ao Estado palestiniano. Provavelmente Netanyahu não viajará para nenhum dos 124 países membros do TPI, o que o pressiona ainda mais a combater as suas acusações de corrupção em casa, a menos que, é claro, ele decida num determinado momento fugir de Israel para um porto seguro – que provavelmente seria um país do Médio Oriente, Marrocos ou os EUA (este último dependendo de quem estiver no Salão Oval).


Fonte: Strategic Culture Foundation

quarta-feira, 29 de maio de 2024

QUAIS OS PAÍSES QUE RECONHECEM A PALESTINA?

O reconhecimento da Palestina é um passo importante no reconhecimento do direito do povo palestiniano à autodeterminação e ao Estado. É um marco importante na luta em curso no Médio Oriente.


O Estado da Palestina é reconhecido por 143 países em todo o mundo, o que representa uma maioria significativa da comunidade internacional.

Na quarta-feira, Noruega e Espanha disseram que reconheceriam formalmente a Palestina como Estado em 28 de Maio. Mais tarde, o primeiro-ministro irlandês, Simon Harris, anunciou o reconhecimento da Palestina por seu país.

Até quarta-feira, a Palestina tinha sido reconhecida por nove Estados-membros da UE. Oito países - Bulgária, Chipre, República Checa, Hungria, Malta, Polónia, Roménia e Eslováquia - reconheceram-no em 1988, antes de aderirem à União Europeia, e a Suécia em 2014.

O movimento da Rússia em direção ao reconhecimento de um Estado palestino veio em Novembro de 1988 com a declaração pelo Conselho Nacional da Palestina de um Estado independente da Palestina.

Veja os infográficos da Sputnik mostrando quais países ao redor do mundo reconheceram a Palestina:





segunda-feira, 27 de maio de 2024

ISRAEL ENFRENTA NOVA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL POR ATAQUES MORTAIS AO ACAMPAMENTO DE RAFAH

Mohammed Abuassa, que correu para o local no bairro de Tel al-Sultan, no noroeste do país, disse que as equipes de resgate "retiraram pessoas que estavam num estado insuportável". "Retiramos crianças que estavam em pedaços. Retiramos jovens e idosos. O incêndio no campo era irreal", disse.


Israel tem enfrentado crescentes críticas internacionais pela sua guerra com o Hamas, com até mesmo alguns dos seus aliados mais próximos, particularmente os Estados Unidos, expressando indignação com as mortes de civis. Israel insiste que cumpre o direito internacional, mesmo enfrentando escrutínio nos principais tribunais do mundo, um dos quais exigiu na semana passada que interrompesse a ofensiva em Rafah.

Israel disse que está investigando as mortes de civis depois que atingiu uma instalação do Hamas e matou dois militantes seniores. O ataque de domingo à noite, que parecia ser um dos mais mortais da guerra, ajudou a elevar o número total de palestinianos mortos na guerra para mais de 36.000, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não distingue entre combatentes e não combatentes em sua contagem.

Num discurso perante o Parlamento de Israel na segunda-feira, Netanyahu disse que "apesar dos nossos maiores esforços para não prejudicar civis inocentes, ontem à noite, houve um erro trágico. Estamos investigando o incidente e vamos chegar a uma conclusão porque essa é a nossa política."

Mohammed Abuassa, que correu para o local no bairro de Tel al-Sultan, no noroeste do país, disse que as equipes de resgate "retiraram pessoas que estavam num estado insuportável".

"Retiramos crianças que estavam em pedaços. Retiramos jovens e idosos. O incêndio no campo era irreal", disse.

O Ministério da Saúde de Gaza disse que cerca de metade dos mortos eram mulheres, crianças e idosos. Na segunda-feira, crianças descalças apalpavam os escombros enegrecidos enquanto as buscas continuavam.

'Indignação' francesa

A França, um aliado europeu próximo de Israel, disse estar "indignada" com a violência.

"Essas operações devem parar. Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinianos. Peço pleno respeito ao direito internacional e um cessar-fogo imediato", publicou o presidente Emmanuel Macron.

Indignado com os ataques israelitas que mataram muitos deslocados em Rafah.

Estas operações têm de parar. Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinianos.

Apelo ao pleno respeito pelo direito internacional e a um cessar-fogo imediato.

- Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) 27 de maio de 2024

Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, na fronteira com o Egipto, abrigou mais de um milhão de pessoas - cerca de metade da população de Gaza - deslocadas de outras partes do território. A maioria fugiu mais uma vez desde que Israel lançou o que chamou de incursão limitada lá no início deste mês. Centenas de milhares de pessoas estão amontoadas em acampamentos de tendas precárias dentro e ao redor da cidade.

Num desenvolvimento separado, os militares do Egipto disseram que um de seus soldados foi morto a tiros durante uma troca de tiros na área de Rafah, sem fornecer mais detalhes. Israel disse que está em contacto com as autoridades egípcias, e ambos os lados disseram que estão investigando.

Netanyahu diz que Israel deve destruir o que ele chama de últimos batalhões restantes do Hamas em Rafah. O grupo militante lançou uma enxurrada de foguetes no domingo da cidade em direção ao populoso centro de Israel, disparando sirenes de ataque aéreo, mas sem causar feridos.

O ministro da Defesa, Guido Crosetto, disse que bombardeamentos como o de Rafah terão repercussões de longa data para Israel.

"Israel com essa escolha está espalhando ódio, enraizando ódio que envolverá os seus filhos e netos. Eu teria preferido outra decisão", disse ele ao canal de notícias italiano SKY TG24.

O Qatar, um dos principais mediadores entre Israel e o Hamas nas tentativas de garantir um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos pelo Hamas, disse que os ataques podem "complicar" as negociações As negociações, que parecem estar recomeçando, fracassaram repetidamente devido à exigência do Hamas por uma trégua duradoura e a retirada das forças israelitas, termos que os líderes israelitas rejeitaram publicamente.

Os vizinhos Egipto e Jordânia, que fizeram a paz com Israel décadas atrás, também condenaram os ataques de Rafah. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto descreveu o ataque a Tel al-Sultan como uma "nova e flagrante violação das regras do direito internacional humanitário". O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia chamou o caso de "crime de guerra".

A principal autoridade legal do exército israelita disse que as autoridades estão a examinar os ataques e que os militares lamentam a perda de vidas civis. O advogado-geral militar, major-general Yifat Tomer-Yerushalmi, disse que tais incidentes ocorrem "numa guerra de tal escopo e intensidade".

Falando a uma conferência de advogados israelitas, Tomer-Yerushalmi disse que Israel lançou 70 investigações criminais sobre incidentes que levantaram suspeitas de violações do direito internacional, incluindo a morte de civis, as condições num centro de detenção que abriga supostos militantes palestinianos e a morte de alguns presos sob custódia israelita. Ela disse que incidentes de "violência, crimes patrimoniais e saques" também estão sendo examinados.

Israel há muito sustenta que tem um judiciário independente capaz de investigar e processar abusos. Mas grupos de direitos humanos dizem que as autoridades israelitas rotineiramente não investigam totalmente a violência contra os palestinianos e que, mesmo quando os soldados são responsabilizados, a punição geralmente é leve.

Israel negou as acusações de genocídio apresentadas contra si pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça. Na semana passada, o tribunal ordenou que Israel interrompesse a sua ofensiva em Rafah, uma decisão que não tem poder para aplicar.

Separadamente, o procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional pede mandados de prisão contra Netanyahu e o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, além de três líderes do Hamas, por supostos crimes ligados à guerra.

Israel diz que faz o possível para aderir às leis da guerra e diz que enfrenta um inimigo que não assume esse compromisso, se insere em áreas civis e se recusa a libertar reféns israelitas incondicionalmente.

O Hamas desencadeou a guerra com o seu ataque de 7 de Outubro contra Israel, no qual militantes palestinianos mataram cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e fizeram cerca de 250 reféns. O Hamas ainda mantém cerca de 100 reféns e os restos mortais de cerca de 30 outros, depois que a maioria dos demais foi libertada durante um cessar-fogo no ano passado.

Cerca de 80% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza fugiram das suas casas, a fome severa é generalizada e autoridades da ONU dizem que partes do território estão passando fome.

(AP)

A EUROPA OU A IMPOSTURA

A União Europeia é uma entidade política sem uma Constituição legítima e, por conseguinte, não pode expressar a vontade política dos povos europeus. A única aparência de unidade é alcançada quando a Europa age como vassalo dos Estados Unidos, participando em guerras que em nada correspondem aos nossos interesses comuns, muito menos à vontade do povo.


Por Giorgio Agamben, Filósofo Italiano

Muito poucos dos que se preparam para votar nas eleições europeias provavelmente se perguntaram sobre o significado político do seu gesto. Ao serem chamados a eleger um "Parlamento Europeu" não especificado, podem acreditar de boa fé que estão a fazer algo que corresponde à eleição dos parlamentos dos países de que são cidadãos. É importante esclarecer desde já que não é bem assim.

Quando hoje falamos da Europa, o mais importante que é eliminado é, em primeiro lugar, a realidade política e jurídica da própria União Europeia. Que se trata de uma verdadeira fraude resulta claramente do facto de evitar, por todos os meios, dar a conhecer uma verdade tão embaraçosa como óbvia. Refiro-me ao facto de, do ponto de vista do direito constitucional, a Europa não existir: aquilo a que chamamos "União Europeia" é tecnicamente um pacto entre Estados.

O Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em 1993 e deu à União Europeia a sua forma actual, é a sanção definitiva da identidade europeia como um mero acordo intergovernamental entre Estados. Consequentemente, falar de democracia em relação à Europa não fazia sentido, e os funcionários da União Europeia tentaram colmatar esse défice democrático elaborando o projecto da chamada Constituição Europeia.

É significativo que o texto com este nome, elaborado por comissões de burocratas sem qualquer base popular e aprovado por uma conferência intergovernamental em 2004, quando foi submetido a votação popular, como aconteceu em França e nos Países Baixos em 2005, tenha sido esmagadoramente rejeitado por uma larga maioria. Diante do fracasso da aprovação popular, que efetivamente anulou a chamada "Constituição", o projecto foi tacitamente – e talvez devêssemos dizer vergonhosamente – abandonado e substituído por um novo tratado internacional, o chamado Tratado de Lisboa de 2007.

Escusado será dizer que, do ponto de vista jurídico, este documento não é uma Constituição, mas um acordo entre governos cuja única coerência diz respeito ao direito internacional e que, por isso, tiveram o cuidado de não o submeter à aprovação popular. Não surpreende, portanto, que o chamado Parlamento Europeu que está a ser eleito não seja, de facto, um parlamento, porque não tem o poder de propor leis, e que esteja inteiramente nas mãos da Comissão Europeia. Alguns anos antes, o problema da Constituição Europeia tinha dado origem a um debate entre um jurista alemão cuja competência ninguém podia duvidar, Dieter Grimm, e Jürgen Habermas, que, como a maioria dos que se dizem filósofos, era completamente desprovido de uma cultura jurídica.

Ao contrário de Habermas, que pensava que a Constituição poderia, em última análise, basear-se numa mítica "opinião pública", Dieter Grimm tinha boas razões para explicar a impossibilidade de uma Constituição pela simples razão de que não há povo europeu e, portanto, algo como um poder constituinte carecia de todas as bases possíveis. Porque, como todos reconhecemos, o poder estabelecido pressupõe um poder constituinte, a ideia de um poder constituinte europeu está em grande parte ausente dos discursos sobre a Europa.

Por conseguinte, do ponto de vista da sua chamada Constituição, a União Europeia não tem legitimidade. Por conseguinte, é perfeitamente compreensível que uma entidade política sem uma Constituição legítima não possa expressar a vontade política dos povos da Europa. A única aparência de unidade é alcançada quando a Europa age como vassalo dos Estados Unidos, participando em guerras que em nada correspondem aos nossos interesses comuns, muito menos à vontade do povo. A União Europeia actua hoje como um ramo da OTAN (que é ela própria um acordo militar entre Estados).

É por isso que, não muito ironicamente, retomando a fórmula de Marx, se poderia dizer que a ideia de um poder constituinte europeu é o espectro que assombra a Europa de hoje e que ninguém se atreve a evocar hoje. No entanto, só esse poder constituinte poderia devolver legitimidade e realidade às instituições europeias. Assim, deve ficar claro para os conhecedores e leigos algo simples: de acordo com todos os dicionários, impostores são "aqueles que forçam os outros a acreditar em coisas estranhas à verdade e a agir de acordo com essa credulidade". Por outras palavras, a União Europeia e a sua vasta burocracia não passam actualmente de uma verdadeira "farsa".

Uma ideia diferente da Europa só será possível quando tivermos posto fim a esta impostura. Falando francamente: se queremos realmente pensar numa Europa política, a primeira coisa que temos de fazer é tirar a União Europeia do caminho – ou, pelo menos, estar preparada para o momento em que, como agora parece – iminente, entrará em colapso.


Fonte: https://observatoriocrisis.com

domingo, 26 de maio de 2024

CHINA E BRASIL OFERECEM O SEU PRÓPRIO PLANO DE PAZ ENQUANTO A "CIMEIRA DA UCRÂNIA" OCIDENTAL SE ATRAPALHA

Moscovo não foi convidada a participar da "conferência de paz" que a Suíça sediará em 15 e 16 de Junho. Autoridades russas observaram que foi concebido como mais um esforço para "empurrar a inviável 'fórmula de paz' que ignora os interesses russos". Além disso, qualquer processo de negociação sobre a Ucrânia sem o envolvimento da Rússia é "sem sentido".


Por Svetlana Ekimenko

O próximo encontro apelidado de "Cimeira da paz" da Ucrânia na Suíça está sendo prejudicado por todos os lados.

Brasil e China anunciaram uma iniciativa rival na sexta-feira, rebaixando ainda mais a conferência do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, destinada a impulsionar a sua inviável "fórmula de paz".

Os dois países apoiam uma conferência internacional de paz "realizada num momento apropriado que seja reconhecido tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igual de todas as partes, bem como uma discussão justa de todos os planos de paz", disseram num comunicado.

O documento conjunto foi assinado por Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo chanceler chinês, Wang Yi, e afirmava:
  • O diálogo e a negociação são a única solução viável para a crise na Ucrânia.
  • Devem ser criadas condições para a retoma do diálogo directo, com uma desescalada até que um cessar-fogo abrangente esteja em vigor.
  • Deverá realizar-se uma conferência internacional de paz com a participação da Rússia e da Ucrânia.
  • Os ataques contra civis e instalações civis devem ser evitados.
  • O ataque a centrais nucleares e outras instalações nucleares pacíficas tem de ser combatido.
  • A utilização de armas de destruição maciça, em especial armas nucleares e armas químicas e biológicas, deve ser combatida.
  • Devem ser envidados todos os esforços possíveis para evitar a proliferação nuclear e evitar a crise nuclear.
  • O mundo não deve ser dividido "em grupos políticos ou económicos isolados", afirmaram os dois países.
A iniciativa do Brasil e da China veio depois que os seus presidentes se recusaram a participar da "conferencia da paz" da Ucrânia, marcada para 15 a 16 de Junho. O evento em Lucerna é atormentado por grandes faltas de comparecimento. A atenção de Joe Biden foi desviada para questões mais urgentes, como esfregar cotoveladas com celebridades de Hollywood na sua arrecadação de fundos.

Além dos líderes do Brasil e da China, a África do Sul também se recusou a participar do evento. Moscovo classificou a conferência, para a qual não foi convidada, como "sem sentido". O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a conferência claramente não é orientada para resultados, pois é impossível ter conversas efetivas sobre a Ucrânia sem a participação da Rússia.

No que diz respeito às próximas negociações na Suíça, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sugeriu que elas constituem um esforço dos patronos do regime de Kiev para conferir legitimidade a Zelensky, agora que o seu mandato legal como presidente expirou.

O mandato constitucional de Volodymyr Zelenesky como presidente da Ucrânia expirou em 21 de Maio. Ele cancelou as eleições previstas para Março ou Abril em Novembro passado.

Putin enfatizou na conferencia de imprensa desta sexta-feira que a Rússia continua pronta para retomar as negociações de paz com a Ucrânia. Minutas de Convênios Durante as negociações na Bielorrússia e Turquia na primavera de 2022, mas levando em conta as realidades actuais no terreno.

Em relação ao plano de paz de 10 pontos de Zelensky, não passa de um ultimato à Rússia, ministro dos Negócios Estrangeiros Sergey Lavrov observou na quarta-feira, enquanto presidia a uma reunião de sherpas e sous-sherpas dos Brics em Moscovo. Ele acrescentou que os EUA estavam impondo a fórmula de Zelensky em todos, convidando países do Sul Global para as suas plataformas, como o próximo encontro de Lucerna.

O chefe da diplomacia russa também revelou que o presidente ucraniano exigiu "histericamente" que outras nações apoiassem a sua proposta. Fórmula da Paz" antes do encontro.


Svetlana Ekimenko é correspondente da Sputnik especializada em relações internacionais, questões sociais e ciência. Anteriormente, trabalhou como apresentador de transmissões ao vivo da Rádio Sputnik.


Fonte: Sputnik

sexta-feira, 24 de maio de 2024

NOT IN OUR NAME: UMA CARTA AOS PRESIDENTES DA COMISSÃO EUROPEIA, DO PARLAMENTO E DO CONSELHO EUROPEU


Not In Our Name: Uma carta aos Presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento e do Conselho Europeu

Somos um grupo de funcionários públicos e outros funcionários da UE que estão preocupados com o pouco (ou quase nada) que a UE está a fazer para resolver a terrível crise humanitária em Gaza. Consideramos que esta inacção permanente é contrária aos valores fundamentais da UE e ao seu objectivo de promover a paz.

Por esta razão, elaborámos uma carta com uma série de exigências. A carta foi enviada aos presidentes da Comissão Europeia, do Parlamento e do Conselho Europeu em 23 de Maio, com mais de 200 assinaturas.

Planeamos enviá-lo novamente sempre que atingirmos marcos importantes de assinatura. Portanto, se você também não se sente representado pelo contínuo fracasso da UE em tomar uma posição contra essa catástrofe humanitária, por favor, considere assinar. Note-se que esta carta se destina a ser assinada exclusivamente por pessoal da UE (incluindo estagiários).

Obrigado pelo apoio!

__________________________________________________________
Atualização 24 Maio 2024 – 473 assinaturas

Cara Ursula von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia,
Cara Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu,
Caro Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu,

Somos um grupo de funcionários públicos da UE e outro pessoal que trabalha nas instituições e agências da União Europeia. Escrevemos-lhe, na nossa qualidade pessoal de cidadãos da UE, para expressar a nossa crescente preocupação com a inacção da UE no contexto da crise em curso em Gaza.

Na sequência do hediondo ataque do Hamas em 7 de Outubro de 2023, que condenamos veementemente, Israel tem levado a cabo uma resposta que, em virtude da sua desproporcionalidade e da falta de considerações humanitárias elementares, não só viola o direito internacional, mas também, como tal, é contrária aos valores fundamentais da UE e ao seu objectivo de promover a paz.

Não questionamos o direito de defesa de um Estado. No entanto, esse direito precisa respeitar os princípios da proporcionalidade e da necessidade e respeitar considerações elementares da humanidade. A resposta das Forças de Defesa de Israel ao ataque de 7 de Outubro violou todos esses princípios. Com efeito, o facto de, no momento em que escrevo, mais de uma em cada cem pessoas em Gaza ter morrido, e de cerca de 70% destas serem mulheres e crianças, sugere que a resposta das forças israelitas ao ataque de 7 de Outubro representa uma medida de retaliação colectiva, e não o exercício de qualquer direito previsto no direito internacional. De facto, o Tribunal Internacional de Justiça, em seu Despacho de 26 de Janeiro de 2024, concluiu que a perpetração de actos genocidas por Israel contra os palestinianos em Gaza é plausível.

Enquanto isso, organizações não-governamentais independentes, como a Amnistia Internacional, os Médicos Sem Fronteiras e a Human Rights Watch, pediram repetidamente um cessar-fogo. A incapacidade da UE para responder a estes apelos cada vez mais desesperados está em clara contradição com os valores que a UE defende e que defendemos.

Além disso, para além das terríveis consequências locais em Gaza, a contínua apatia da UE em relação à situação dos palestinianos corre o risco de contribuir indirectamente – através da inacção – não só para a propagação de narrativas polarizadoras, mas também para normalizar a ascensão de uma ordem mundial em que se trata do simples uso da força, em oposição a um sistema baseado em regras, que determina a segurança do Estado, a integridade territorial e a independência política – ou a falta dela.

Foi precisamente para evitar uma ordem mundial tão sombria que os nossos avós, testemunhas dos horrores da Segunda Guerra Mundial, criaram a Europa. Ficar de braços cruzados perante tamanha erosão do Estado de direito internacional significaria falhar o projecto europeu tal como por eles previsto. Isso não pode acontecer em nosso nome.

Por todas as razões acima expostas, solicitamos que a UE:

apela oficialmente a um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza;
apela oficialmente à libertação de todos os reféns;
condena os crimes internacionais e as violações dos direitos humanos cometidos por todas e cada uma das partes neste conflito, tal como relatados e documentados por organizações independentes como a Amnistia Internacional, os Médicos Sem Fronteiras e a Human Rights Watch;
assegura a suspensão das exportações de armas dos Estados-Membros para Israel, sejam elas directas ou indirectas;
analisa a cooperação política, económica, científica e tecnológica entre a UE e Israel, de modo a condicionar-se – não só na teoria, mas também na prática – ao respeito dos direitos humanos e ao respeito dos princípios democráticos (em conformidade com o artigo 2.º do Acordo Euro-Mediterrânico entre a UE e Israel).

Gostaríamos de salientar que as exigências acima referidas não decorrem de uma posição partidária em relação ao conflito, mas sim do nosso profundo desejo de que as acções da UE estejam em conformidade com os seus valores fundamentais, tal como regularmente expressos pelos seus altos funcionários, e com o seu objectivo de promover a paz, tal como consagrado no Tratado da União Europeia.

Confiantes de que a nossa voz será ouvida e esperando contribuir para a formulação de uma melhor resposta europeia à crise humanitária em curso em Gaza, agradecemos a vossa atenção.

Sinceramente


Assinar aqui:



FUNCIONÁRIOS DA UE ASSINAM CARTA EXPRESSANDO PREOCUPAÇÃO COM A FORMA COMO LIDAM COM A CRISE EM GAZA

Exclusivo: Mais de 200 signatários citam 'apatia contínua' da União para combater situação dos palestinianos e pedem pedido oficial de cessar-fogo


Ashifa Kassam, correspondente de assuntos da Comunidade Europeia.

Mais de 200 funcionários de instituições e agências da UE assinaram uma carta expressando "crescente preocupação" com a resposta da União à crise humanitária em Gaza, argumentando que ela é contrária aos seus valores fundamentais e ao objectivo de promover a paz.

A carta, assinada por 211 pessoas na sua qualidade pessoal de cidadãos e dirigida aos três principais responsáveis da UE, começa por condenar os ataques de 7 de Outubro "nos termos mais fortes".

Citando a decisão de Janeiro do Tribunal Internacional de Justiça que sugeriu um risco crível para os palestinianos sob a convenção sobre genocídio, a carta alerta que a "apatia contínua da UE com a situação dos palestinianos" corre o risco de normalizar uma ordem mundial em que o simples uso da força, em vez de um sistema baseado em regras, determina a segurança do Estado, a integridade territorial e a independência política.

"Foi precisamente para evitar uma ordem mundial tão sombria que os nossos avós, testemunhas dos horrores da Segunda Guerra Mundial, criaram a Europa", lê-se na carta. "Ficar de braços cruzados diante de tamanha erosão do Estado de Direito internacional significaria fracassar o projecto europeu como eles imaginam. Isso não pode acontecer em nosso nome".

A carta, partilhada com exclusividade com o Guardian, foi escrita por um pequeno grupo de funcionários, disse Zeno Benetti, um dos organizadores.

"Não podíamos acreditar que nossos líderes que eram tão vocais sobre os direitos humanos e que descreveram a Europa como o farol dos direitos humanos de repente ficaram tão silenciosos sobre a crise que se desenrola em Gaza", disse ele. "É como se de repente nos pedissem para fechar os olhos aos nossos valores e aos valores para os quais supostamente estávamos trabalhando. E, para nós, isso não era aceitável."

Os organizadores esperavam chegar a 100 assinaturas – um número que foi rapidamente superado quando a notícia da carta se espalhou. Uma versão da carta tornada pública na sexta-feira não inclui os nomes dos que assinaram, pois lhes foi prometido sigilo pelos organizadores.

A carta destaca as muitas ONG que pediram repetidamente um cessar-fogo, acrescentando: "A incapacidade da UE para responder a estes apelos cada vez mais desesperados está em clara contradição com os valores que a UE defende e que defendemos".

Insta a UE a apelar oficialmente a um cessar-fogo imediato e permanente, acrescentando-o a uma lista de pedidos que incluem o apelo oficial à libertação de todos os reféns e a garantir que os Estados-Membros suspendam as exportações directas e indirectas de armas para Israel.

Benetti enfatizou que a iniciativa não foi feita para ser pró-palestina, nem para tomar uma posição partidária sobre o conflito. "Em vez disso, assinamos porque achamos que o que está acontecendo está colocando em risco princípios do direito internacional que consideramos importantes e que tomamos como garantidos", disse ele.

A carta deverá ser entregue na sexta-feira a Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, bem como a Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, e a Charles Michel, que lidera o Conselho Europeu.

O anúncio ocorre semanas depois que mais de 100 funcionários da UE marcharam por Bruxelas para protestar contra a guerra de Israel em Gaza. "Estamos nos reunindo numa assembleia pacífica para defender esses direitos, princípios e valores sobre os quais as instituições europeias são construídas", disse o membro da Comissão Europeia, Manus Carlisle, à Reuters na época.


Fonte: The Guardian

Versão da carta em português

Poderá assinar a petição para todos os cidadãos da UE aqui:
Associação à Carta dos Funcionários Europeus - Not In Our Name - Petição Online (openpetition.eu)

UMA GUERRA DE VALORES: COMO A AGENDA WOKE OCIDENTAL ESTÁ EMPURRANDO AS NAÇÕES PARA A MULTIPOLARIDADE

Com o avanço de temas como LGBT e ideologia queer, conservadores, tradicionalistas e todos os grupos contrários à loucura ocidental estão se unindo para a reconfiguração geopolítica.


Por Lucas Leiroz

Todo o mundo ocidental parece ter aderido a uma loucura coletiva. A chamada "agenda woke" tornou-se uma espécie de princípio básico para toda a humanidade. A agenda trans e LGBT, o feminismo liberal e todos os tipos de ideologia antitradicional parecem ser mais importantes do que qualquer outra questão para políticos e funcionários do Estado no Ocidente.

Mais do que isso, essas agendas estão sendo até militarizadas. Recentemente, o chefe da OTAN, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança militar atlântica está disposta a lutar contra a homofobia e a transfobia. Na prática, ele está simplesmente avançando com uma agenda há muito planejada por estrategistas "woke" americanos e europeus, que é estabelecer condições para o uso da força contra nações conservadoras e tradicionais.

Chefes de Estado conservadores tornaram-se inimigos centrais do Ocidente nos últimos anos. Até algum tempo atrás, o pragmatismo ainda predominava nas relações internacionais, com questões morais domésticas sendo ignoradas nos países aliados do Ocidente. A Arábia Saudita, por exemplo, é um país reconhecido internacionalmente por impor regras morais e religiosas extremamente rígidas e, no entanto, sempre foi um grande aliado dos EUA. No entanto, a situação está mudando rapidamente.

A própria Arábia Saudita foi uma das primeiras vítimas da raiva despertada pelo governo Biden. O líder democrático criou uma série de tensões com a monarquia do Golfo por não concordar com as tradições internas do país e tentar adaptá-lo ao modelo globalista de democracia liberal. Este foi, inclusive, um factor vital para que os sauditas iniciassem um processo de cooperação mais ampla com potências multipolares – que resultou no acordo de paz com o Irão mediado pela China.

Claramente, os países ocidentais querem construir uma ordem global de valores universais. As "regras" da ordem mundial também incluirão pautas LGBT e trans. O objectivo é levar a ideologia liberal às suas últimas consequências em todos os países, extinguindo quaisquer tradições, religiões ou valores morais. Esta parece ser a nova fase da eterna utopia liberal.

Mais do que isso, no plano interno, os países ocidentais estão progressivamente agravando a sua perseguição contra pessoas comuns de mentalidade conservadora. No território da Federação Russa, há uma chegada constante e crescente de refugiados americanos e europeus que querem deixar as suas terras simplesmente porque não podem criar os seus filhos sem a imposição de uma brutal agenda ideológica. A ditadura de gênero e o fascismo LGBT estão gerando uma onda migratória, já tendo efeitos semelhantes aos de grandes guerras e catástrofes.

Tudo isso tem grande relevância geopolítica. Quando analisamos os BRICS, vemos o grupo como uma verdadeira coligação de potências regionais cuja característica comum central é a existência de um valor civilizatório. Com a Rússia ortodoxa, a China confucionista, a Índia hindu, o Irão xiita, o Egipto multimilenar e outros, os BRICS provam ser um bloco capaz de reunir civilizações, religiões e valores morais, que jamais estarão sujeitos às grotescas "inovações" do Ocidente.

Os BRICS, ao proporem uma configuração geopolítica baseada em relações internacionais pragmáticas e despolitizadas, sem intervencionismo nos assuntos internos de diferentes civilizações, estão simplesmente criando uma alternativa global à ditadura mundial woke. Somente agindo em conjunto, em coligação, os povos do mundo serão capazes de neutralizar o avanço constante e agressivo das ideologias ultraliberais no Ocidente.

É preciso, portanto, dar um passo além: nas suas próximas reuniões, é apropriado que os membros dos BRICS estabeleçam de uma vez por todas a proteção dos valores tradicionais, em detrimento do fascismo woke, como uma agenda política comum. É urgente trazer a questão moral para o status geopolítico. Se a OTAN está disposta a usar a força contra conservadores e tradicionalistas em todo o mundo, então as potências multipolares devem estar unidas para impedir a propagação da agressão ocidental.

Os valores morais também são armas de autodefesa para nações soberanas. O Ocidente quer destruir todos os valores tradicionais porque isso facilita o seu trabalho de guerra psicológica e conquista de mentes. O mundo emergente deve estar pronto para combater isso.


Fonte: Strategic Culture Foundation

quarta-feira, 22 de maio de 2024

TENSÃO ENTRE POLÍCIA E ATIVISTAS PRÓ-PALESTINA NA CELEBRAÇÃO EM LISBOA DA FUNDAÇÃO DE ISRAEL

Duas centenas de ativistas pró-Palestina manifestam-se em frente ao cinema São Jorge onde a embaixada israelita organizou um evento. O protesto está a ser controlado por um forte contingente policial.


Por Manuel de Almeida/Lusa

Cerca de duas centenas de ativistas pró-palestinianos, rigorosamente controlados pela polícia de intervenção portuguesa, estão a manifestar-se contra as celebrações do 76.º aniversário da fundação do Estado de Israel, no centro de Lisboa.

O protesto junto ao Cinema São Jorge, convocado pela Plataforma Unitária em Solidariedade com a Palestina (PUSP), tem estado a ser acompanhado por um forte contingente policial, iniciado com a Equipa de Intervenção Rápida (EIR) e, depois, pelo Corpo de Intervenção da PSP, sem registo de confrontos até ao momento.

A entrada dos convidados para a cerimónia de celebração dos “76 anos da independência” de Israel, organizada pela embaixada israelita em Lisboa, inicialmente prevista para a entrada principal do cinema, está a processar-se pelas traseiras do ‘São Jorge’, para onde alguns manifestantes ainda conseguiram atirar sacos com tinta, que acertaram nalguns dos convidados.

A decisão de fazer entrar os convidados pelas traseiras do cinema foi tomada pela polícia, depois de dezenas de manifestantes se prostrarem defronte da entrada principal, do lado na Avenida da Liberdade.

Aos poucos, e no meio da alguma tensão face à presença das diferentes unidades da polícia de Segurança Pública (PSP), os manifestantes, ao aperceberem-se de que os convidados estavam a entrar pelas traseiras do edifício, também tentaram chegar ao local.

Embora alguns ativistas pró-palestinianos se mantenham diante do cinema, a maioria acabou por concentrar-se já no Largo Jean Monet, nas proximidades do edifício, onde se sentaram e continuaram a gritar palavras de ordem contra Israel.

Empunhando bandeiras palestinianas e cartazes de protesto, os manifestantes gritaram palavras de ordem como “viva a luta do povo palestiniano“, “os 76 anos são de roubo e de chacina“, “[Carlos] Moedas (presidente da câmara municipal de Lisboa) patrocina propaganda assassina” ou “Sionismo é violência, Palestina é resistência“, além de referências aos 76 anos de “ocupação, apartheid (regime de segregação racial], roubo de terras e de genocídio“.

O protesto organizado pela PUSP e também pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente MPPM) continuará a partir das 20h00 com uma vigília que visa denunciar a “expulsão de milhões de pessoas palestinianas das suas casas e terras, assim como uma ocupação mortífera de quase oito décadas, sobre as quais teve base a fundação do Estado de Israel”.

A vigília conta com intervenções de uma refusenik (judeus ativistas e objetores), de duas pessoas palestinianas e de um membro do coletivo “Judeus pela Paz e pela Justiça”, mantendo depois disso o habitual formato de microfone aberto.

Em declarações à agência Lusa, Júlia Branco, ativista política pró-palestiniana, considerou “vergonhoso” que a Câmara Municipal de Lisboa e o cinema de São Jorge “deem palco a assassinos” e “a pessoas que estão a matar crianças, pessoas completamente inocentes, aos milhares”.

“Acho vergonhoso que a nossa cidade [Lisboa] dê palco a estas pessoas. Mas fico feliz de ver aqui tantas pessoas a resistirem e a denunciarem este crime de que Portugal está a ser cúmplice”, acrescentou.

“Acho ridícula a presença de um forte contingente policial, quando são só pessoas a manifestarem-se pacificamente contra algo que me parece básico, alimentar a dissidência humana”, prosseguiu.

Questionada pela Lusa sobre a decisão anunciada hoje pela Espanha, Noruega e Irlanda de reconhecerem a 28 deste mês a Palestina como Estado independente, Júlia Branco defendeu que Portugal deveria fazer o mesmo.

“O governo português tem de reconhecer o Estado da Palestina já! Espanha já o fez, a Irlanda já o fez, a Noruega já o fez. Não sei do que é que está Portugal à espera”, concluiu.

A DEMOCRACIA, VERSÃO UNIÃO EUROPEIA

A União Europeia apresenta a eleição dos eurodeputados e a do Presidente da Comissão como manifestações do seu carácter democrático. Ora, tudo isso não passa de um teatro de sombras. O essencial foi já estabelecido noutro lado, sem que ninguém tenha ouvido nada. Esta encenação bastará para fazer crer que a peça, já escrita, emanou subitamente da vontade popular.


Por Thierry Meyssan

Quando a União Europeia se apresta a transformar-se num Estado único, a sua evolução política toma um sentido autoritário.

A ELEIÇÃO DOS EURODEPUTADOS E DO PRESIDENTE DA COMISSÃO ESTÁ JÁ ASSENTE

A eleição dos eurodeputados promete ser deliberadamente confusa. Ainda não existem partidos políticos à escala europeia, embora já se fale deles há cinquenta anos e os tenham inscrito nos tratados, mas unicamente coligações (coalizões-br) europeias de partidos nacionais, o que não é, de todo, a mesma coisa. Estas coligações apresentam cada uma um Spitzenkandidat, literalmente um « cabeça de lista », que não é candidato ao Parlamento e não figura em nenhuma das suas listas nacionais. Cinco deles debaterão na Eurovisão o seu projecto para presidir a Comissão Europeia. Trata-se de :

• Walter Baier, Esquerda europeia ;
• Sandro Gozi, Renovar a Europa agora ;
• Ursula von der Leyen, Partido Popular europeu ;
• Terry Reintke, Verdes europeus ;
• Nicolas Schmit, Partido Socialista europeu.

O grupo « Identidade e Democracia » não foi convidado para este show. Já que os cinco grupos anteriores têm uma concepção particular de democracia. Eles consideram que “Identidade e Democracia” não joga o mesmo jogo que eles e por isso recusam debater com ele.

Este debate não terá lugar em estúdio, mas sim no hemiciclo do Parlamento ; um cenário imponente. A presidente do Parlamento, Roberta Metsola, aproveitou o facto de os eleitos estarem em campanha eleitoral para ceder esta tela de fundo aos produtores mediáticos, sem prevenir os parlamentares. Muitos teriam uma palavra a dizer sobre isto.

Ele decorrerá em língua inglesa. Esta é outra subtileza da União : cada Estado-Membro tem o direito de solicitar que todos os documentos oficiais sejam traduzidos para uma língua à sua escolha. A União tem, pois, 23 línguas oficiais para 27 Estados Membros, ou seja 552 combinações linguísticas possíveis. Mas nenhum Estado solicitou que o inglês seja uma das línguas da União. Por exemplo, Malta que fez do inglês uma das suas duas línguas oficiais, preferiu que seja o maltês a ser utilizado em Bruxelas. No entanto, o inglês tornou-se, de facto, a 24.ª língua da União e a única comum a todos. Claro, isto não tem evidentemente nenhuma relação com o facto que a UE seja, não um projecto europeu, mas sim um projecto anglo-saxónico.

Além disso, este estranho debate importa pouco, pois todos sabem que o Presidente da Comissão será provavelmente escolhido fora deste círculo : deveria ser o banqueiro Mario Draghi [1]. O que não é impossível uma vez que em 2019, Ursula von der Leyen não participou neste debate e no entanto tornou-se Presidente da Comissão.

Veja-se bem : é certo que Mario Draghi tem 76 anos, mas é o antigo governador do Banco Central Europeu. Nesta função, ele tudo fez para tornar o euro irreversível. E conseguiu, « Whatever it takes » (em inglês no texto), salvá-lo da crise da dívida soberana dos anos 2010. No fim, não resolveu nenhum problema e agravou o abismo que separa as economias dos Estados-Membros. De um ponto de vista dos Estados-Membros, ele é, pois, um incapaz, mas não o é do ponto de vista dos banqueiros de investimento ; uma casta que sempre foi a sua (ele foi o número 2 do Goldman Sachs para a Europa).

A confirmação da investigação belga (Bruxelas), alemã (Mönchengladbach) e europeia por corrupção visando Ursula von der Leyen já não deixa margem para dúvidas [2]. Torna-se urgente para as Instituições livrarem-se dela. Da mesma forma, deputados apanhados com a mão na massa foram discretamente afastados, entre os quais a Vice-presidente Eva Kaili. É preciso dar a impressão que a administração da União é honesta e está ao serviço dos « cidadãos » (sic) ; “impressão”, porque, na realidade, não há nem povo europeu, nem cidadãos, tal como atesta a ausência de partidos europeus.

AS ESCOLHAS DA UE JÁ ESTÃO FEITAS

A União, que é uma estrutura política que vai muito para além do «mercado comum» inicial, deve fazer face a vários desafios externos :

» Assinou vários acordos de livre-comércio com Estados ou Blocos que não respeitam as suas regras internas. O equilíbrio da concorrência, que estava estabelecido através de um complexo sistema de subsídios, já não está garantido, visto que não existe nenhum sistema financeiro comparável à escala global [3] .

» Ao não vincular o acto de comerciar com terceiros ao seu respeito pelas regras internas da União, ela ligou-o ao seu respeito pelos Direitos do Homem. Ora, dois dos seus parceiros comerciais colocam problemas muito graves, sem que a UE tenha reagido.

• Israel não respeita nenhuma das Resoluções das Nações Unidas que lhe dizem respeito, desde há 76 anos. Além disso, acaba de iniciar uma limpeza étnica da Palestina, massacrando cerca de 50. 000 civis e ferindo cerca de outros 100. 000.

• A Ucrânia, cuja Constituição é explicitamente racista, montou dois Golpes de Estado sucessivos (2004 e 2014). Depois elegeu o presidente, mas o mandato deste chega hoje, 21 de Maio de 2024, ao fim. Nenhuma eleição foi convocada e onze partidos políticos da Oposição foram proibidos.

No decurso das últimas semanas, a UE não avançou um jota nos acordos de livre-comércio que assinou, em violação das suas regras internas. Aos seus olhos, basta esperar para que o problema desapareça : dentro de alguns anos, os sectores agrícolas atingidos terão desaparecido.

Pelo contrário, ela anunciou apoiar uma solução para a Palestina, mas, por outro lado, prossegue a sua ajuda ao regime não-democrático de Volodymyr Zelensky.

• Em relação ao primeiro ponto, a UE parece ansiosa por reconhecer a Palestina como membro de pleno direito nas Nações Unidas. Ela precisa que não apoia o plano do enviado especial da ONU, o Conde Folke Bernadotte (assassinado em 1949), antes que se refere ao plano da Comissão Colonial presidida por William Peel : deveria haver dois Estados distintos, mas acima de tudo não um Estado binacional onde os judeus e árabes seriam iguais perante a lei.

• No que diz respeito à Ucrânia, a UE persiste em ignorar os Acordos de Minsk, aprovados pela Resolução 2202 do Conselho de Segurança da ONU, e a responsabilidade de proteger que daí resulta. Além disso, não só não felicita a Rússia por ter posto fim ao massacre dos russófonos do Donbass, mas persiste em acusá-la de ter invadido o seu vizinho.

Em matéria de Defesa e Política Externa, as posições da UE são exactamente as do G7, no qual ela participa. Não há nenhum caso em que ela se diferencie dele, ou até simplesmente em que ela emita uma “nuance”. A UE dota-se, pois, actualmente de uma indústria de fabrico de armas e coordena cada país de modo a abastecer continuamente o governo de Kiev. Até 2022 (operação especial do Exército russo na Ucrânia), a UE não se metia nas questões da Defesa. Com efeito, os Tratados Europeus estipulam que este não é o seu domínio. A Defesa do território da União não depende dos seus Estados-membros, mas sim da OTAN-NATO, quer eles sejam ou não membros dela.

No entanto, de maneira permanente, a Aliança Atlântica definia normas de interoperabilidade entre os seus membros que transmitia à Comissão Europeia, a qual os fazia adoptar pelo Parlamento. Elas eram então transcritas para a legislação nacional por cada um dos 27 Estados-Membros. Essas normas iam desde a composição do chocolate (há uma barra de chocolate na ração dos soldados da Aliança) até à largura dos grandes eixos de circulação (a fim de os poder utilizar com os tanques norte-americanos).

A Comissão não teve dificuldade em abordar as questões de armamento. Ela já o havia feito para os medicamentos durante a epidemia de Covid. Repare-se bem que a generalização destes medicamentos não provou a sua utilidade face à Covid-19. Mas esse não é o problema. Não se tratava de uma epidemia devastadora, mas de um pretexto para um exercício de mobilização no qual cada potência mostrou o que podia obter. Deste ponto de vista, a Comissão provou que podia abordar um tema que não era da sua competência e que ela podia até fechar contratos gigantescos em nome dos seus membros sem lhes revelar o segredo das negociações.

Assim que a UE se tornar um Estado único, a Comissão deverá fazer prova da mesma habilidade e ainda mais, uma vez que a sua acção já não será mais entravada pelos 27 Estados-Membros. Eles terão desaparecido. Após esta fusão, o banqueiro Mario Draghi irá realizar « economias de escala ». Por exemplo : será inútil desperdiçar dinheiro em embaixadas para cada Estado-Membro, uma única rede basta para o Estado-único. Enquanto isso, os privilégios de uns serão postos ao serviço de todos. Por exemplo, o lugar permanente dos Franceses no Conselho de Segurança das Nações Unidas caberá à União. Ou ainda, a Bomba atómica francesa será entregue à Defesa da União. Os Estados neutros, como a Áustria, terão, de qualquer modo, desaparecido.

Aquilo que é verdade em matéria política também o é em matéria económica. Mario Draghi preconiza desde há muito uma reorganização da economia da UE segundo o modelo soviético : a cada região a sua especificidade. Foi, aliás, apostando nesta evolução que a UE concluiu os acordos de livre-comércio a que fiz referência no início deste artigo. Se a criação de gado continuará a ser uma especificidade da Polónia, os Países Baixos já assumiram a dianteira ao lançarem os seus camponeses autoritariamente no desemprego e a França não tardará em consagrar os seus talentos a tarefas diferentes.

A ELIMINAÇÃO DOS OBSTÁCULOS

O verdadeiro obstáculo à criação de um Estado-único só pode advir de Estados-Membros que se recusem a desaparecer. Assim, ele reside no Conselho de Chefes de Estado e de Governo.

Dois pontos de vista diametralmente opostos e inconciliáveis se enfrentam. Os dois extremos situam-se na antiga Checoslováquia : a Chéquia é governada há pouco mais de um ano pelo General Petr Pavel, antigo presidente do Comité Militar da OTAN. O seu programa é o do G7 (afirmação de um mundo regido por regras [4] , contenção da Rússia, apoio aos nacionalistas integralistas ucranianos, preparação para o confronto com a China). Pelo contrário, a Eslováquia é governada desde há seis meses por Robert Fico. A aliança em que ele se apoia inclui, é certo, alguns nostálgicos do Padre Jozef Tiso que estabeleceu, sob a protecção dos nazis, um regime nacional-católico durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, mais seriamente, baseia-se nos apoiantes da independência face à URSS que não se reconheciam na figura de Václav Havel, o agente da CIA que tomou o Poder por ocasião de uma revolução colorida, a « Revolução de veludo ». Antigo comunista, Robert Fico diferencia a Rússia da URSS. Ele defende um mundo organizado em torno do Direito Internacional (e não das «regras» do G7). Ele apoiou a Resolução 2202 do Conselho de Segurança e, por conseguinte, aprovou a intervenção da Rússia na Ucrânia. Ele é o único dirigente da União a manter esta posição (a Hungria de Viktor Orbán evita abordar este assunto).

Há alguns dias, o problema foi regulado : em 15 de Maio de 2024, um indivíduo desfechou cinco tiros à queima roupa sobre ele. Robert Fico foi imediatamente evacuado (foto). Ele foi já operado duas vezes e a sua vida já não corre perigo. No entanto, o debate que ele animava no seio do Conselho foi interrompido. E, não deverá ser retomado.

A História da UE está já escrita. O que é fantástico neste projecto é que, à medida que ele é concretizado, descobrimos por que é que Bruxelas impôs regras, e factos, que não tinham qualquer sentido quando foram decididas, mas que agora fazem todo sentido.

O grotesco debate dos Spitzenkandidaten, em língua inglesa e num cenário grandioso, mas sem propósitos, terá cumprido o seu papel : distrair as multidões enquanto aqueles que contam decidem o seu futuro na sombra. Os que se opõem ao projecto de Estado-único serão eliminados.


Fonte:  Rede Voltaire

terça-feira, 21 de maio de 2024

DOCENTES APELAM À NÃO UTILIZAÇÃO DE POLÍCIA CONTRA ESTUDANTES PRÓ-PALESTINA NO PORTO

Professores e trabalhadores da Universidade do Porto entregaram uma carta em que instam a Universidade a não utilizar força policial contra os alunos pró-Palestina a quem foi dada ordem de dispersar.

Por Fernando Veludo/Lusa

Meia centena de docentes e trabalhadores não docentes da Universidade do Porto e do Politécnico do Porto apelam esta segunda-feira, numa carta aberta, à não utilização de meios policiais contra os estudantes pró-palestina em protesto na Faculdade de Ciências.

Os ativistas pró-palestina que desde quinta-feira se mantêm em protesto na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto receberam, no domingo, a indicação para desmobilizarem até às 20h00 desta segunda-feira ou “serão acionados meios” para os retirar.

Numa carta aberta, a que a Lusa teve acesso, os subscritores – professores, investigadores e trabalhadores – expressam a sua “solidariedade para com os estudantes em luta contra o genocídio em curso na Palestina” e pedem que “não sejam utilizadas, contra os estudantes, e nas [suas] faculdades, meios policiais ou qualquer tipo de intervenção que os vise expulsar de um espaço que é seu”.

Defendem ainda que “o caminho a seguir é o da negociação aberta e transparente” entre os estudantes e os órgãos dirigentes das instituições.

No documento, conhecido esta segunda-feira, os signatários colocam-se ainda ao lado dos estudantes, subscrevendo as suas principais reivindicações, desde logo exigindo que a universidade “rompa imediatamente todas as relações que mantém com instituições e empresas israelitas” e condene o “genocídio na Palestina”.

Pede-se ainda que a Universidade do Porto utilize “a sua influência” para instar a Câmara Municipal do Porto e o Governo português a “condenar as atrocidades cometidas pelo estado colonial de Israel”.

Entre os subscritores da missiva estão o professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e ex-deputado do PCP, Manuel Loff, e o sociólogo, também professor da Faculdade de Letras e ex-dirigente do Bloco de Esquerda, João Teixeira Lopes.

Depois da ordem de desmobilização da direcção da Faculdade de Ciências, os ativistas pró-palestina marcaram uma manifestação para esta tarde, em frente à faculdade.

Os estudantes estão desde o início da manhã “a reunir e a deliberar democraticamente em assembleia”, de forma a decidir quais serão os seus próximos passos, decisão que será tomada após reunião, desta tarde, com a direção da Faculdade.

Independentemente da ocupação se manter ou não, os estudantes garantem que as acções em defesa do povo palestiniano se manterão.

O grupo de ativistas afirma que “a comunidade académica – não só estudantes, mas docentes e não docentes – tem demonstrado vincadamente o seu apoio a esta causa, assim como membros da sociedade civil”.

Este protesto teve o primeiro momento há mais de uma semana quando cerca de meia centena de estudantes reclamaram diante da reitoria da Universidade do Porto o corte de relações entre a academia e o Estado de Israel.

Na quinta-feira, os estudantes prosseguiram com o protesto na Faculdade de Ciências, onde colocaram tendas de campismo para se abrigarem durante a noite rodeadas de bandeiras da Palestina, velas e faixas com frases como: “Solidariedade proletária por uma Palestina Livre”, “Israel não é uma democracia, Israel é um país terrorista” e “A revolução começa aqui”.

O conflito em curso na Faixa de Gaza foi desencadeado pelo ataque do grupo islamita Hamas em solo israelita de 7 de Outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou acima de 35 mil mortes, na maioria civis, de acordo com as autoridades locais controladas pelo Hamas, e deixou o enclave numa situação de grave crise humanitária.


segunda-feira, 20 de maio de 2024

PROCURADOR-CHEFE DO TPI PEDE MANDADOS DE PRISÃO PARA NETANYAHU E LÍDERES DO HAMAS

O primeiro-ministro e o ministro da Defesa de Israel, bem como os líderes do Hamas, são suspeitos de cometer crimes de guerra, disse Karim Khan


O procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional disse que está buscando mandados de prisão para líderes israelitas e do Hamas, incluindo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Há "motivos razoáveis para acreditar" que as pessoas procuradas são responsáveis por "crimes de guerra e crimes contra a humanidade" em Gaza e em Israel, destacou Karim Khan num comunicado na segunda-feira.

Junto com Netanyahu, o promotor busca prender o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant. Entre os responsáveis procurados pelo Hamas estão o líder do grupo armado palestiniano, Yahya Sinwar, o comandante da sua ala militar - as Brigadas al-Qassam -, Mohammed Diab Ibrahim al-Masri, e o chefe do Bureau Político do Hamas, Ismail Haniyeh, lê-se no comunicado do procurador.

Segundo Khan, Netanyahu e Gallant são suspeitos de crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Gaza, como ataques intencionais contra uma população civil, assassinato intencional e causa de sofrimento, uso da fome como método de guerra, "extermínio e/ou assassinato", além de outros "actos desumanos".

Os líderes do Hamas procurados supostamente "têm responsabilidade criminal" por assassinato, violação e outros actos de violência sexual, e por fazer reféns, tortura e outros "actos desumanos", disse o promotor.

Em 7 de Outubro, combatentes do Hamas realizaram uma incursão em Israel, que resultou em cerca de 1.200 pessoas mortas e 250 feitas reféns. O governo israelita respondeu ao ataque lançando uma operação militar em larga escala em Gaza que ainda está em andamento. De acordo com dados do Ministério da Saúde do enclave palestiniano, 35.456 pessoas morreram e outras 79.476 ficaram feridas como resultado dos ataques aéreos e da ofensiva terrestre de Israel.

Israel não é membro do TPI e não reconhece a jurisdição do tribunal da ONU, mas o Estado da Palestina aderiu à organização em 2015. Assim que os mandados contra Netanyahu e os líderes do Hamas forem emitidos, qualquer um dos 124 Estados-membros do tribunal será obrigado a prendê-los se pisar em seu território.

Benny Gantz, membro centrista do gabinete de guerra de três pessoas de Israel, classificou a decisão de Khan de pedir mandados de prisão contra Netanyahu e Gallant como "um crime de proporções históricas". Israel está travando "uma das guerras justas travadas na história moderna" e traçar paralelos entre seus principais funcionários e os líderes do Hamas é "uma profunda distorção da justiça e uma flagrante falência moral", afirmou ele em um comunicado.

O ministro das Finanças do país, de extrema direita, Bezalel Smotrich, disse que "não vimos uma demonstração tão grande de hipocrisia e ódio aos judeus como a exibida pelo tribunal em Haia desde a propaganda nazista". Outro membro do gabinete de direita, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, pediu ao primeiro-ministro israelita e ao ministro da Defesa que "ignorem o promotor antissemita e ordenem um ataque intensificado contra o Hamas até que sejam completamente destruídos".

Em Abril, quando surgiram relatos de um possível mandado de prisão contra Netanyahu, o primeiro-ministro culpou o TPI por tentar "paralisar a própria capacidade de Israel de se defender", enquanto atiçava o "fogo do antissemitismo".

O site Axios noticiou no início deste mês que um grupo de legisladores republicanos na Câmara dos Representantes dos EUA estava elaborando sanções contra o TPI numa tentativa de dissuadi-lo de processar os líderes israelitas. Os EUA, principal aliado de Israel, não são um Estado parte do Estatuto de Roma, que fundou o TPI em 2002.


Fonte: RT 

sábado, 18 de maio de 2024

GEÓRGIA: OUTRA "REVOLUÇÃO" COLORIDA CONTROLADA PELO OCIDENTE

A revolução colorida ronda na Geórgia contra a lei sobre a transparência do financiamento estrangeiro de movimentos políticos, meios de comunicação e ONGs aprovada pelo governo de Tbilisi, liderado pelo partido Georgian Dream. O Ocidente e as agencias sorosianas não são estranhos a esta revolução.


Por Francesca de Villasmundo

Um novo Maidan na Geórgia?

Na Geórgia, é o eterno retorno das revoluções coloridas, ou mudança de regime, se preferir, controladas remotamente pelo Ocidente e pelas burocracias sorosianas. Com o risco de um Maidan ao estilo georgiano, porque os Estados Unidos e a União Europeia se alinharam em grande parte com a oposição, exercendo pressão adequada e injustificada para garantir que a lei sobre a transparência do financiamento estrangeiro de movimentos políticos, meios de comunicação e ONG seja anulada. Porque destacaria o financiamento generoso que vem chegando ao país de Washington e Bruxelas há muito tempo.

O blog italiano Inside Over analisa com razão:

«A Geórgia está em turbulência. O confronto entre o governo e a oposição corre o risco de arrastá-lo para o abismo de um novo Maidan. Como na Ucrânia em 2014, de facto, as praças estão lotadas, mesmo que não estejam muito lotadas (os vídeos em questão sempre mostram isso a partir das fotos de baixo). Os protestos foram desencadeados pela Lei de Transparência de Financiamento Estrangeiro, que a oposição chama de "lei russa" porque foi modelada após uma lei semelhante de Moscovo. A lei georgiana recentemente aprovada estipula que ONGs, meios de comunicação e sindicatos que recebem mais de 20% das suas receitas de fontes estrangeiras devem se registar como organizações que servem aos interesses de um país estrangeiro, sob a supervisão do Ministério da Justiça."

Este registo permitirá conhecer todo o financiamento que entra no país desde os Estados Unidos e pela UE até aos cofres de ONG locais, meios de comunicação social, partidos, etc.

A lei sobre a transparência do financiamento estrangeiro de movimentos políticos, dos média e de ONGs destacaria a interferência ocidental

O artigo acima mencionado continua:

«A lei provocou indignação no Ocidente, que adoptou uma postura muito dura em relação ao governo, que descreveu como liberticida. Uma indignação crescente que atingiu o seu clímax com a visita dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Estónia, Islândia e Lituânia que, antes de se encontrarem com a presidente cessante da Geórgia, Salomé Zourabichvili, se juntaram aos manifestantes, uma clara interferência num país estrangeiro.

Esta interferência estrangeira denota um desejo ocidental de confronto "que corre o risco de degenerar", escreve o Inside Over. A perspectiva é outra Maidan, desta vez num estilo georgiano, com tudo o que isso implica. Resta saber, no entanto, se a Rússia permitirá outro Maidan na suas fronteiras, dadas as consequências desastrosas do primeiro.

No entanto, lembra o Inside Over, "o partido no poder, Georgian Dream, não é de todo pró-russo. Na verdade, ele buscou ativamente a adesão à UE e (com menos determinação) à OTAN. Tanto que, em Dezembro de 2023, a UE concedeu à Geórgia o status de candidata (...), que condenou a invasão russa da Ucrânia e forneceu ajuda humanitária a Kiev. Mas também teve a clarividência de evitar um confronto com Moscovo, até porque se lembra perfeitamente de como na guerra anterior, em Agosto de 2008, os Estados Unidos, apesar de prometerem ajuda e apoio inabaláveis, não levantaram um dedo, deixando-os sozinhos para confrontar a Rússia.

O "Partido da Guerra Mundial" está a tentar usar os georgianos como "bucha de canhão"

Artin Dersimonian e Anatol Lieven observam como, ansiosos para manter uma relação frutífera com Moscovo, apesar das relações amistosas com a UE e os Estados Unidos, o Georgian Dream evitou aderir a algumas das sanções emitidas contra Moscovo, com as quais intensificou o comércio e também concluiu um acordo comercial de longo alcance com a China em 2023.

Assim escreve o Inside Over: "O partido Georgian Dream é mais realista do que o pró-russo, o apoio muito forte do Ocidente à oposição fortaleceu-o, temendo uma operação de mudança de regime. Tanto que Ivanishvili acusou o "partido da guerra mundial" de tentar usar os georgianos como "bucha de canhão", arrastando-os para outro conflito catastrófico com Moscovo. Um conflito cuja memória está muito presente na memória da população georgiana, que não quer que volte a acontecer, como notam os colunistas do RS. Tanto que até a oposição, ao mesmo tempo em que acusa o governo de ser dependente de Moscovo, tenta por todos os meios tranquilizar nesse ponto."

Sobre a lei que tanto tem recebido reprovação no Ocidente, o comentário mais incisivo do RS permanece:

«Devemos lembrar que a maioria dos americanos consideraria absolutamente inaceitável que instituições estrangeiras, particularmente se estiverem ligadas a Estados estrangeiros, tivessem um papel fundamental no financiamento de grupos políticos que operam nos Estados Unidos."

Há uma lei semelhante nos Estados Unidos, a FARA, que exige que as entidades que recebem subsídios estrangeiros se registrem da mesma forma

Além disso, há uma lei semelhante nos Estados Unidos, a FARA, que exige que as entidades que recebem subsídios estrangeiros se registrem da mesma forma. E, ironicamente, enquanto os EUA se manifestam contra a lei da Geórgia, preparam-se para alterar a sua com mais rigor em preparação para as eleições de 2024 (Politico). Um primeiro projecto de lei nesse sentido foi apresentado em Setembro do ano passado.

Mas o Tio Sam acostumou o mundo ocidental burro, decadente, imoral e sem espinha dorsal a essa hipocrisia fenomenal:

«Faça o que eu não digo, não o que eu faço."

Os georgianos, dos quais apenas uma manifesta minoria, parecem mais realistas em relação ao jogo duplo atlantista.


Fonte: Médias-Presse-Info

A CIA E A ESTRATÉGIA DE TENSÃO NA EUROPA

O ataque ao primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, lembra assustadoramente o assassinato de Lee Harvey Oswald e o papel da rede Gladio que opera em solo europeu, e novos ataques em território europeu não podem ser descartados com o objectivo inequívoco de semear o caos em todo o continente. Esta é a "estratégia de tensão" para, em última análise, provocar o envolvimento directo da OTAN num conflito generalizado com a Rússia. 


Por Germán Gorraiz López, analista de políticas 

A rede Gladio. Gladio (latim para espada), era o nome dado à "rede de agentes adormecidos implantados pela OTAN na Itália e prontos para entrar em acção caso os soviéticos invadissem a Europa Ocidental" e seria a força aliada que permaneceria atrás das linhas soviéticas para facilitar o contra-ataque.

Essa rede era controlada remotamente pela CIA e, apesar do perigo de desaparecer da invasão soviética, continuou a agir nos países ocidentais para impedir que os partidos comunistas chegassem ao poder por meio de eleições democráticas e se dedicou a semear o caos através da chamada doutrina da "estratégia de tensão".

A Operação Gladio afetou praticamente toda a Europa, com particular virulência em Itália, onde foi investigada pelo juiz Guido Salvini, que concluiu que organizações terroristas de extrema-direita como Ordine Nuovo ou a Vanguarda Nacional "estavam intimamente ligadas ao Estado italiano e à CIA americana" e que "a CIA sublinhou os objetivos e encorajou-os a agir".

A Operação Gladio 2.0 está em andamento? A possível vitória de Trump em Novembro de 2024 representaria o declínio da estratégia atlantista de Biden e Soros determinada a expulsar Putin do poder após a assinatura de um acordo de paz na Ucrânia e o retorno à doutrina da coexistência pacífica com a Rússia. Isso significaria a entronização do G-3 (Estados Unidos, Rússia e China) como primus inter pares na governança global e o fim do sonho obsessivo dos globalistas liderados por Soros e da Open Society Foundation (OSF) de conseguir a balcanização da Rússia, "a baleia branca que os globalistas tentam caçar há décadas".

Para evitar isso, a CIA e o MI6 britânico teriam criado a Operação Gladio.2.0, que consistia em recrutar elementos do Estado Islâmico, bem como acordar as suas próprias células adormecidas para provocar ataques sangrentos com grande impacto midiático na Rússia e sua contra-resposta nos países vizinhos da Ucrânia, com o objectivo declarado de semear o caos na Europa através da chamada "estratégia de tensão" e, finalmente, provocar o envolvimento directo da OTAN num conflito com a Rússia.

O primeiro da Operação Gladio 2.0 foi o sangrento ataque à sala de concertos Crocus City Hall, em Moscovo, que deixou quase 140 mortos e mais de 150 feridos e pelo qual o Estado Islâmico (EI) foi inicialmente reivindicado como responsável e apesar de Putin reconhecer que os autores do ataque sangrento eram "islamitas radicais" do Tajiquistão. a sombra da paternidade intelectual continuaria a pairar sobre a CIA e os serviços secretos ucranianos.

O objectivo indescritível da CIA seria semear o caos em território europeu através da chamada doutrina da "estratégia de tensão" e, nesse contexto, a recente tentativa de assassinato contra o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, seria enquadrada, na esperança de uma resposta de Moscovo seguindo o padrão de acção-reacção, já que Fico teria sido acusado pelos média ocidentais de ser resistente aos postulados da OTAN e rotulado de "pró-russo" após suspender a ajuda para a Ucrânia.

A média ocidental atribui a autoria a um escritor ingênuo de 71 anos e aponta a "polarização ideológica da sociedade eslovaca após a deriva pró-russa de Fico" como a causa, mas na realidade é um ex-membro do Serviço de Segurança Privada (SBS) que estava em posse legal de uma arma, o que torna o ataque estranhamente reminiscente do assassinato de Lee Harvey Oswald.

Novos ataques estão sendo preparados? Neste contexto de estratégia de tensão, o MI6 estaria a preparar um ataque de bandeira falsa em território britânico contra um soldado da NATO e depois a culpar Moscovo, por outro lado, pelos eventos desportivos e de massas que vão decorrer este verão em solo europeu, como os Jogos Olímpicos de Paris e a Taça da Europa de Futebol (UEFA EURO), na Alemanha. seriam cenários ideais para semear o caos na sociedade europeia através de ataques indiscriminados e levar a opinião pública a aceitar a criação de um Estado policial.

Nesse contexto, a recente ameaça do Estado Islâmico ou do EI de um "ataque terrorista nos quartos de final da Liga dos Campeões" seriam avisos que se encaixariam na doutrina da "ameaça terrorista local", promovida pelos governos ocidentais e apoiada pela média para "criar uma atmosfera de medo e intimidação, levando à abolição das liberdades civis e promovendo o posterior estabelecimento de um Estado policial".

Seria uma deriva involucionária de Estados democráticos resultante da supressão dos direitos individuais implícita na cruzada da "guerra global ao terror" e que teria o apoio midiático da média. Assim, os meios de comunicação de massa teriam contribuído para instalar esse terror no Ocidente ao empregar o imaginário colectivo da imagem do Estado Islâmico como "um inimigo externo que ameaça os valores pacíficos e democráticos do mundo ocidental" para fazer as pessoas engolirem "a necessidade de aceitar qualquer tipo de política repressiva das liberdades, como parte da cruzada contra o terrorismo".

Assim, em Março de 2024, a União Europeia (UE) aprovou a primeira regulamentação abrangente da inteligência artificial (IA), mas de acordo com um documento interno a que o semanário Politico teve acesso, "o uso irresponsável e desproporcionado da tecnologia" é possível através da identificação biométrica, como o reconhecimento facial. O texto legal elaborado em 22 de Dezembro pela presidência espanhola do Conselho da UE estabeleceu "a proibição desses sistemas de vigilância biométrica em tempo real", mas deixou a porta aberta a excepções para que policias e militares usem essa tecnologia controversa por meio de autorização legal para "prevenir ameaças como o terrorismo". "assassinato ou violação", o que seria um claro alerta para o previsível estabelecimento de um Estado policial nos países da Europa Ocidental.


Fonte: https://www.observateurcontinental.fr

quinta-feira, 16 de maio de 2024

ELEIÇÕES EUROPEIAS DO LADO ALEMÃO ANUNCIAM MUDANÇA RADICAL

Os eleitores alemães mostram-se dispostos a aproveitar esta oportunidade para exigir uma mudança radical na política em ano de eleições europeias. A crise económica e social agravou-se com o conflito na Ucrânia. Com a chegada em massa de migrantes e o aumento da pobreza, os alemães votam nos cabeças de listas que denunciam o envio de mísseis, bombas e munições para a Ucrânia contra a Rússia e que querem impedir a chegada em massa de migrantes. A situação na Alemanha revela também a tendência para a França.


Por Philippe Rosenthal

A vida mudou significativamente nos últimos anos na Alemanha e não para melhor. A questão de saber se vão votar nas eleições europeias é importante para o establishment político da Alemanha e da UE, porque é o país com o maior número de mandatos parlamentares. Além disso, estas serão as primeiras eleições para o Parlamento Europeu na história da Alemanha em que muitos jovens poderão participar, uma vez que a idade de voto para as eleições europeias na Alemanha foi reduzida para 16 anos.

Quase cinco milhões de jovens terão a oportunidade de moldar a política europeia pela primeira vez. E, claro, as actuais eleições europeias são o indicador mais importante para as eleições de 2025 para o Bundestag.

"Cada vez mais jovens se voltam para partidos de direita. Este é o resultado de um novo estudo representativo", disse a ZDF no final de Abril. E os jovens adultos estão cada vez mais insatisfeitos, especialmente devido aos desenvolvimentos políticos e económicos. Eles querem votar na AfD, o partido de extrema direita que acaba de ser classificado como um partido extremista pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição (Verfassungsschutz). A democracia alemã acusa a AfD de discriminação e hostilidade em relação à democracia.

O Reichsbürger (Cidadãos do Reich). "Um grupo Reichsbürger em torno do príncipe Reuß foi fundado no Verão de 2021", informou a ARD. Os cidadãos do Reich querem derrubar a democracia alemã e o governo que está atualmente no poder. Eles não reconhecem a entidade alemã que foi criada após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em Agosto de 2021, o grupo do príncipe Reuß começou a planear uma invasão do prédio do Reichstag em Berlim com um grupo armado que incluía policiais e ex-militares. As autoridades alemãs encontraram armas e munições na casa do Reichsbürger e temem que haja uma ligação entre ativistas da AfD e o Reichsbürger. Isso prova um profundo mal-estar na Alemanha para parte da população. A importação em massa de migrantes em 2015 concedida por Angela Merkel, a queda do poder de compra, o aumento da precariedade, dos preços, da incivilidade, da agressão e a ameaça de uma extensão do conflito ucraniano explicam o sucesso da AfD junto dos eleitores, mesmo que, segundo as sondagens actuais, o partido classificado como extremista pela autoridade central esteja perdendo força.

Entre os presos estava a deputada Birgit Malsack-Winkemann, membro da AfD no Bundestag. E deu outras visitas Reichsbürgers ao parlamento. Abaixo do Bundestag há uma enorme estrutura de túnel que permite o tráfego entre vários edifícios administrativos e políticos no distrito político de Berlim.

"Estamos testemunhando uma rápida transgressão das fronteiras em termos de violência de extrema direita", relata o meio de comunicação de extrema esquerda Luxemburgo, que diz que a situação actual corresponde à da era Weimar, quando milícias armadas de extrema direita mataram e espancaram opositores políticos. Um observador, que conhece bem a Alemanha, vê desde os anos 2000 uma ascensão da extrema-direita e um desejo de lutar contra o regime político que foi posto em prática pelos aliados após a guerra. A OTAN e o sistema político europeu são vistos como uma ocupação para patriotas e nacionalistas alemães.

Recentemente, os ataques físicos a políticos têm aumentado. Em Maio de 2024, Matthias Ecke, eurodeputado do SPD de Dresden, foi derrotado. A senadora da Economia de Berlim, Giffey (SPD), também foi atacada, levemente ferida: um homem a atacou numa biblioteca. As estatísticas mostram que a criminalidade com motivação política está aumentando", aponta Deutschlandfunk. "Outros ataques ocorreram contra um político verde em Dresden e dois deputados da AfD no parlamento estadual de Stuttgart", acrescenta a média alemã, descrevendo uma situação na República de Weimar, onde a extrema esquerda e a extrema direita se enfrentaram em sangrentas lutas de rua. "Um discurso apaixonado que se deslocou para a direita está na raiz do aumento da violência contra os políticos", dizem os sociólogos Wilhelm Heitmeyer e Harald Welzer. Em 2019, o deputado estadual da CDU, Walter Lübcke, foi morto a tiros. Ele defendeu a política de acolhimento de refugiados decidida pela chanceler alemã. Stephan Ernst, ex-membro do partido neonazista NDP, admitiu os factos.

A raiva é palpável na Alemanha entre o povo e só aumenta. Os confrontos físicos comprovam a tendência.

Califado. Uma manifestação organizada pela organização Muslim Interaktiv, que ocorreu em Hamburgo em 27 de Abril, acrescentou argumentos a favor do voto extremista ao pedir o estabelecimento de um califado na Alemanha.

O interesse actual da população alemã em votar nas eleições europeias é de 49%, segundo o instituto de pesquisas Infratest Dimap, que alerta que "a AfD se sairia melhor do que há cinco anos". "É claro que a política da UE deixa expectativas por cumprir. Dois terços dos eleitores estão bastante insatisfeitos com a política a nível europeu, enquanto um terço está um pouco satisfeito", diz o investigador. "Do ponto de vista dos cidadãos, os maiores problemas da UE são os conflitos e ameaças na imigração e na política externa, seguindo-se o clima e a proteção ambiental e as questões económicas. Os acordos de refugiados, que prometem um financiamento significativo da UE se os Estados desacelerarem os movimentos migratórios, convencem uma em cada duas pessoas na Alemanha", continua o dimapa.

Os partidos políticos estabelecidos na Alemanha, mas também em Bruxelas, estão preocupados com a mudança no cenário político na Alemanha porque, como indica a sondagem, a maioria dos apoiantes da AfD não vê razão para reposicionar o seu partido, especialmente em relação à Rússia. A AfD é, de facto, a favor da paz com a Rússia e da estreita cooperação com Vladimir Putin. A vitória da Rússia no terreno contra a Ucrânia, que é apenas um representante da OTAN e da actual elite em Bruxelas, fortalece ainda mais o apoio dos eleitores ao voto da AfD.

O voto alemão pode aumentar o peso político da extrema-direita no Parlamento Europeu.


Fonte: https://www.observateurcontinental.fr