
A jornalista freelancer Mariam Dagga, 33, que trabalhava com a Associated Press e outros meios de comunicação desde o início da guerra de Gaza, posa para um retrato em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, em 14 de Junho de 2024. Ela estava entre pelo menos 19 pessoas, incluindo pelo menos quatro[Actual: cinco] jornalistas, mortas na segunda-feira num ataque israelita ao Hospital Nasser em Khan Younis. (Foto AP / Jehad Alshrafi)
Por Wafaa Shurafa e Melanie Lidman
DEIR AL-BALAH, Faixa de Gaza (AP) — Ataques israelitas contra um hospital no sul de Gaza mataram quatro jornalistas na segunda-feira, incluindo uma freelancer que trabalhava para a Associated Press, de acordo com autoridades de saúde.
Mariam Dagga, 33 anos, jornalista visual, trabalhou como freelancer para a AP durante a guerra, bem como para outros órgãos de comunicação. A AP declarou, em comunicado, que ficou chocada e entristecida ao saber da morte de Dagga, juntamente com a de outros jornalistas.
Dois mísseis atingiram o Hospital Nasser, em Khan Younis, disseram responsáveis médicos. No total, 20 pessoas foram mortas, segundo Zaher al-Waheidi, chefe do departamento de registos do Ministério da Saúde de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas tem sido um dos conflitos mais sangrentos para os profissionais da comunicação social, com pelo menos 197 jornalistas mortos em Gaza nos 22 meses de conflito, de acordo com o Comité para a Protecção dos Jornalistas. Em comparação, 18 jornalistas foram mortos até agora na guerra da Rússia contra a Ucrânia, segundo o CPJ.
Dagga, que tem um filho de 12 anos evacuado de Gaza no início da guerra, baseava-se frequentemente no Hospital Nasser, tendo recentemente relatado sobre os médicos que ali lutavam para salvar crianças da fome. O Independent Arabia, versão em árabe do britânico Independent, disse que Dagga também trabalhou com a organização.
«Estamos a fazer tudo o que podemos para manter os nossos jornalistas em Gaza em segurança, enquanto continuam a fornecer relatos cruciais de testemunhas oculares em condições difíceis e perigosas», afirmou a AP.
A Al Jazeera confirmou que o seu jornalista Mohammed Salam também se encontrava entre os mortos no ataque ao Nasser. A Reuters informou que o seu operador de câmara contratado, Hussam al-Masri, foi morto e o fotógrafo contratado Hatem Khaled ficou ferido. Não ficou imediatamente claro quem era o quarto jornalista morto.
Os militares israelitas afirmaram que as suas tropas realizaram um ataque na área do Hospital Nasser e que conduziriam uma investigação sobre o incidente. Acrescentaram que «lamentam qualquer dano causado a pessoas não envolvidas e não têm como alvo jornalistas enquanto tais».
Thibaut Bruttin, director-geral da Repórteres Sem Fronteiras, declarou que os defensores da liberdade de imprensa nunca tinham testemunhado um retrocesso tão severo para a segurança dos repórteres. Observou que jornalistas foram mortos tanto em ataques indiscriminados como em ataques dirigidos que os militares de Israel reconheceram ter efectuado.
«Estão a fazer tudo o que podem para silenciar vozes independentes que tentam reportar sobre Gaza», disse Bruttin.
Em alguns casos, como o do correspondente da Al Jazeera, Anas al-Sharif, que foi alvejado e morto por Israel no início deste mês, Israel acusou jornalistas em Gaza de integrarem grupos militantes. Os militares israelitas afirmaram que al-Sharif liderava uma célula do Hamas — alegação que a Al Jazeera e o próprio al-Sharif rejeitaram anteriormente como infundada.
Além de raras visitas guiadas, Israel proibiu os meios de comunicação internacionais de cobrirem a guerra. Assim, as organizações noticiosas dependem em grande parte de jornalistas palestinianos em Gaza — bem como de residentes — para mostrar ao mundo o que ali se passa. Israel questiona frequentemente as afiliações e os preconceitos dos jornalistas palestinianos, mas não permite a entrada de outros.
Muitos dos jornalistas a trabalhar em Gaza enfrentam as mesmas lutas para encontrar alimentos, para si e para as suas famílias, que as pessoas sobre as quais fazem reportagem.
Numa das últimas publicações em redes sociais de Dagga, no domingo, ela partilhou uma fotografia sua (selfie).
Fonte: AP
Sem comentários:
Enviar um comentário