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domingo, 9 de novembro de 2025

LÍDERES ABANDONAM CIMEIRA UE-CELAC NA COLÔMBIA MARCADA POR NOVA PRESSÃO DOS EUA SOBRE A AMÉRICA LATINA

Apenas 12 dos 60 líderes estarão presentes no Santa Marta. Pela União Europeia, Antonio Costa estará presente, enquanto Ursula von der Leyen pediu à Alta Representante, Kaja Kallas, que a substituísse. Lula pronto para expressar "solidariedade regional" com a Venezuela.


Por Simone De La Feld

Apenas 12 líderes em 60, e a mais recente deserção da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Estes são os números impiedosos que rebaixam uma cimeira — a que reúne os 27 países da UE e os 33 países latino-americanos e caribenhos da Celac — carregada de expectativas. Embora Bruxelas afirme que von der Leyen (já na América do Sul, em Belém, Brasil, para a COP30) renunciou à paragem na Colômbia devido à “fraca participação de chefes de Estado e de Governo”, a sombra que paira sobre a cimeira é a dos Estados Unidos, da sua pressão renovada sobre o continente e do inevitável atrito em torno deste assunto delicado.

Da última vez, em Bruxelas, em Julho de 2023, quase todos estavam presentes: celebrava-se a primeira cimeira UE-CELAC em oito anos, e Ursula von der Leyen jogava em casa para prosseguir as negociações que, um ano depois, levariam ao encerramento do acordo comercial com os quatro países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai). No domingo, 9 de Novembro, em Santa Marta, Colômbia, estará presente António Costa, presidente do Conselho Europeu, enquanto von der Leyen pediu à Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, que participe em seu lugar.

Bogotá confirmou a participação de 12 chefes de Estado e de Governo, seis vice-presidentes e 23 ministros dos Negócios Estrangeiros. Do velho continente chegarão o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, ligados por laços históricos, linguísticos e comerciais com a América Latina. Estarão presentes o primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, e o da Croácia, Andrej Plenković. Ausentes da lista, entre muitos outros, estão o chanceler alemão Friedrich Merz, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e o presidente francês Emmanuel Macron. E mesmo entre os 33 da CELAC há deserções importantes: Javier Milei, presidente da Argentina, não estará presente, nem Claudia Sheinbaum, presidente do México.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, estará presente. Fez saber que não deixará de expressar “solidariedade regional” com a Venezuela: o regime autoritário de Nicolás Maduro é cada vez mais abertamente ameaçado pelos Estados Unidos, que em Setembro realizaram manobras militares nas águas do Mar das Caraíbas em frente a Caracas. O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Mauro Vieira, explicou desde Belém que essa é “a posição da nossa política externa”, ou seja, que “a América Latina e, sobretudo, a América do Sul, em que nos encontramos, é uma região de paz e cooperação”.

A agressão renovada de Washington contra aquilo que, há duzentos anos, era chamado o “quintal” dos Estados Unidos não se limita à Venezuela, o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, mas afecta também a Colômbia e o seu presidente, Gustavo Petro, que presidirá à cimeira. Há apenas duas semanas, Donald Trump acusou o presidente colombiano de ser “o líder dos traficantes de droga” e anunciou a suspensão de toda a ajuda dos EUA ao país.

É neste contexto que os debates sobre a transição energética e digital, a cooperação e a integração comercial correm inevitavelmente o risco de ficar em segundo plano. Embora as chancelarias europeias tenham justificado as ausências dos líderes delineando a agenda carregada de Novembro (além da COP30 no Brasil, haverá o G20 na África do Sul e a cimeira UE-União Africana em Angola), o receio de se verem na posição desconfortável de ter de condenar publicamente o Governo dos EUA pode ter desempenhado o seu papel. Por outro lado, mesmo que a própria Comissão Europeia tenha recordado que “as relações UE-CELAC são muito importantes neste contexto de desafios e divisões geopolíticas”, é inútil pedir à UE que escolha entre os Estados Unidos e qualquer outro parceiro no mundo.

Olhando mais de perto, os próprios países latino-americanos poderão não escolher a UE se confrontados com a mesma questão. A ausência de Sheinbaum, por exemplo, mostra que a prioridade do México, em vez de aprofundar as relações com o clube das doze estrelas, é renegociar as tarifas com os Estados Unidos, destino de mais de 80% das exportações do país. É precisamente neste cenário de “desafios e divisões geopolíticas” que todos — especialmente os actores menores, como a UE e a América Latina — se comprometem em alianças, mas estão prontos para se ligar às grandes potências. Foi neste contexto que, em Maio passado, se realizou em Pequim o quarto fórum entre os 33 países latino-americanos e caribenhos e a China, na presença de Xi Jinping.


Fonte: https://www.eunews.it/en

Tradução RD





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