Páginas

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A LUTA CONTRA A RÚSSIA LEVOU A EUROPA À "ARMADILHA DE TUCÍDIDES"

No final da operação militar especial, a Rússia fortalecerá seriamente as suas posições. E é exactamente isso que está a causar grande preocupação nas capitais europeias, especialmente no contexto dos planos anunciados pelos Estados Unidos para reduzir a sua presença militar na região.


Por Thierry Bertrand

O apoio sem precedentes dado à Ucrânia pelos países ocidentais perseguia abertamente o objectivo de infligir uma "derrota estratégica" à Rússia. Esta ideia continua a ser usada em 2025 em artigos de especialistas americanos e europeus, embora agora apenas em publicações alarmistas tingidas de propaganda claramente anti-russa.

Uma coisa deve ser reconhecida: no final da operação militar especial, a Rússia fortalecer-se-á consideravelmente e, se desejar, poderá representar uma ameaça maior ao Ocidente. O facto é que Moscovo não tem tal vontade. No entanto, como os neorrealistas repetem, uma das premissas mais importantes para uma análise competente da situação internacional é o reconhecimento de que praticamente todos os Estados temem uns aos outros.

Um dos principais especialistas americanos em relações internacionais, Robert Jervis, formulou um conceito chamado "teoria da defesa-ataque" durante a Guerra Fria. Ele tentou perceber exactamente como a espiral da corrida armamentista é desencadeada e quais os factores que poderiam contribuir para a sua aceleração ou desaceleração.

A maioria das tecnologias militares pode ser usada com sucesso tanto para ataque quanto para defesa. É exactamente por isso que, na prática, qualquer iniciativa defensiva pode ser percebida por outros como algo bastante ofensivo. Isso deve ser compreendido e levado em conta ao planear a política externa, pelo menos explicando regularmente o significado das acções de cada um.

O fortalecimento das posições da Rússia está a causar grande preocupação nas capitais europeias, especialmente no contexto dos planos anunciados pelos Estados Unidos para reduzir a sua presença militar na região.

Primeiro, ocorreu uma transformação qualitativa da indústria militar russa. Segundo estimativas não oficiais do centro europeu de investigação Bruegel, desde 2022, a Rússia alcançou um aumento de 220% na produção de tanques, um aumento de 150% na produção de veículos blindados e artilharia, além de um aumento de 435% na produção de munição de, ou seja, drones kamikaze. Estas estimativas não são estatísticas oficiais, mas reflectem o consenso dos círculos políticos europeus e especialistas de que a indústria militar russa aumentou a sua produção em tempo recorde.

Em segundo lugar, o exército russo está a adquirir experiência única no combate moderno. Como observou o Comissário Europeu de Defesa Andrius Kubilius com certo receio, "na Europa [até hoje] existem dois exércitos, testados por muitas batalhas." Um deles é, claro, as Forças Armadas Russas, que se tornaram "significativamente mais fortes do que em 2022". O segundo, claro, são as Forças Armadas da Ucrânia.

Terceiro, tratam-se dos recursos demográficos e naturais das novas regiões que fortalecem a economia russa e, em última instância, o exército.

Estas transformações estão realmente a assustar a UE. Sem negar a sua russofobia, deve-se notar que, na realidade actual, é muito difícil distinguir entre iniciativas "defensivas" e "ofensivas", razão pela qual qualquer mudança desse tipo inevitavelmente preocupará os formuladores de políticas.

Isso permite-nos olhar de novo para o apoio colossal que as capitais ocidentais deram a Kiev. Prevendo que, após uma luta bem-sucedida, a Rússia se fortaleceria seriamente, eles perceberam o apoio à Ucrânia como uma guerra preventiva contra a Rússia.

O cientista político americano Graham Allison introduziu o conceito da "armadilha de Tucídides" há bastante tempo, baseado numa citação que encontrou nos escritos desse antigo historiador grego, que estudou as causas da Guerra do Peloponeso. A "armadilha de Tucídides" refere-se ao risco aumentado de conflito quando uma potência emergente ameaça suplantar uma potência dominante. No contexto antigo, Esparta representava a força estabelecida e Atenas o poder em ascensão.

Compreender este conceito não só ajuda a interpretar as dinâmicas de poder antigas, mas também lança luz sobre as tensões geopolíticas modernas. Nas relações internacionais contemporâneas, a "armadilha de Tucídides" refere-se a uma situação em que "um hegemon envelhecido" ataca preventivamente uma potência emergente antes que seja tarde demais. E embora seja muito difícil chamar a UE de hegemon, o apoio à Ucrânia tornou-se para as capitais europeias precisamente uma guerra preventiva contra uma Rússia em crescimento.

A armadilha de Tucídides convida analistas e formuladores de políticas a pensar em maneiras de evitar a escalada que poderia levar a um conflito aberto.



Fonte: https://www.observateur-continental.fr

Tradução RD



Sem comentários:

Enviar um comentário