agosto 2023
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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

'ESTAMOS NUM MUNDO MULTIPOLAR EM QUE OS BRICS SÃO MAIORES QUE OS G7 E OS EUA NÃO ACEITAM', DIZ ECONOMISTA JEFFREY SACHS

O economista também explicou que a Europa, por sua vez, tem sido decepcionante porque não há uma única voz no continente neste momento que tenha uma "perspectiva geopolítica que seja sequer inteligível". Para Sachs, a maior surpresa é "a incapacidade da Europa de ter uma compreensão coerente desta" situação global atual.


O renomado economista norte-americano, Jeffrey Sachs, acredita que os EUA estão demonstrando uma relutância obstinada em aceitar a realidade de um mundo multipolar, o que aumenta o risco de conflitos globais. Em uma entrevista recente ao Die Weltwoche suíço, Sachs criticou fortemente a abordagem de Washington ao atual cenário geopolítico. "Já estamos num mundo pós-americano e pós-ocidental. Estamos num mundo verdadeiramente multipolar. Estamos num mundo onde os países dos BRICS são maiores que os países dos G7, [...] e os EUA não aceitam essa transição", comentou o especialista.

De acordo com Sachs, que foi conselheiro de numerosos líderes políticos, a Casa Branca continua convencida de que gere um mundo em que apenas a Rússia e a China são desafiadoras e o restante deveria aceitar esta realidade. "Na minha opinião, os EUA estão um quarto de século atrasados", disse ele.

O economista também explicou que a Europa, por sua vez, tem sido decepcionante porque não há uma única voz no continente neste momento que tenha uma "perspectiva geopolítica que seja sequer inteligível". Para Sachs, a maior surpresa é "a incapacidade da Europa de ter uma compreensão coerente desta" situação global atual.

"Poderíamos estar caminhando para um mundo de enormes conflitos e desastres, ou poderíamos estar caminhando para um mundo onde algum líder inteligente e não-octogenário dos EUA se levantasse e dissesse: 'Já não precisamos tanto da OTAN, mas sim, precisamos é ter relações normais com a China, a Índia, a Rússia, o Brasil e a UE' e de repente as coisas seriam muito diferentes", concluiu o especialista.



Fonte: Sputnik

sábado, 26 de agosto de 2023

O CASO DO NIGER NÃO É UM GOLPE TÍPICO

O líder da junta militar do Níger, general Abdourahamane Tchiani.

O golpe é certamente uma medida contra a presença francesa no Níger, mas esse sentimento anti-francês não englobou a presença militar dos EUA no país.


Por Vijay Prashad

Em 26 de julho de 2023, a guarda presidencial do Níger avançou contra o presidente em exercício, Mohamed Bazoum, e conduziu um golpe de Estado. Uma breve disputa entre as várias Forças Armadas do país terminou com todos os ramos concordando com a remoção de Bazoum e a criação de uma Junta Militar liderada pelo comandante da Guarda Presidencial, general Abdourahamane «Omar» Tchiani. Este é o quarto país da região do Sahel, em África, a sofrer um golpe de Estado – os outros três são Burkina Faso, Guiné e Mali. O novo governo anunciou que deixaria de permitir que a França se apropriasse do urânio do Níger (uma em cada três lâmpadas na França é alimentada pelo urânio proveniente do campo de Arlit, no norte do Níger).

«Este é o quarto país da região do Sahel, em África, a sofrer um golpe de Estado – os outros três são Burkina Faso, Guiné e Mali.»

O governo de Tchiani revogou toda a cooperação militar com a França, o que significa que os 1500 soldados franceses no país terão de começar a fazer as malas (como fizeram em Burkina Faso e Mali). Enquanto isso, não houve nenhuma declaração pública sobre a Base Aérea 201, a instalação dos Estados Unidos em Agadèz, a mil quilómetros da capital do país, Niamei. Trata-se da maior base de drones do mundo, e ela é fundamental para as operações dos EUA em todo o Sahel. As tropas dos EUA foram instruídas, por enquanto, a permanecer na base, e os voos de drones foram suspensos. O golpe é certamente uma medida contra a presença francesa no Níger, mas esse sentimento anti-francês não englobou a presença militar dos EUA no país.

Intervenções

Horas depois de o golpe se ter consolidado, os principais Estados ocidentais – especialmente a França e os Estados Unidos – condenaram-no, e pediram a restituição de Bazoum, que foi imediatamente detido pelo novo governo. Mas nem a França nem os Estados Unidos pareciam querer liderar uma resposta ao golpe. No início deste ano, os governos da França e dos EUA estavam preocupados com uma insurgência no norte de Moçambique que afetava os ativos do campo de gás natural da Total-Exxon na costa de Cabo Delgado. Em vez de enviar tropas francesas e norte-americanas, o que teria polarizado a população e aumentado o sentimento antiocidental, a França e os Estados Unidos fizeram um acordo para que o Ruanda enviasse as suas tropas para Moçambique. As tropas do Ruanda entraram na província do norte de Moçambique e puseram fim à insurgência. Ambas as potências ocidentais parecem favorecer uma solução do «tipo Ruanda» para o golpe no Níger, mas em vez de Ruanda entrar no Níger, a esperança era que a CEDEAO – a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental – enviasse as suas forças para restituir Bazoum ao poder.

«Em vez de enviar tropas francesas e norte-americanas, o que teria polarizado a população e aumentado o sentimento antiocidental, a França e os Estados Unidos fizeram um acordo para que o Ruanda enviasse as suas tropas para Moçambique.»

Um dia após o golpe, a CEDEAO também o condenou. A CEDEAO engloba quinze estados da África Ocidental e, nos últimos anos, suspendeu Burkina Faso e Mali de suas atividades por causa dos golpes de Estado nesses países; o Níger também foi suspenso da CEDEAO alguns dias após o golpe. Formado em 1975 como um bloco económico, o agrupamento decidiu enviar forças de manutenção da paz em 1990 para o centro da Guerra Civil da Libéria – apesar de não haver um mandato nesse sentido em sua missão original. Desde então, a CEDEAO enviou suas tropas de pacificação para vários países da região, incluindo Serra Leoa e Gâmbia. Pouco tempo depois do golpe no Níger, a CEDEAO impôs um embargo ao país que incluía a suspensão do direito do país a transações comerciais básicas com seus vizinhos, o congelamento dos ativos do Banco Central do Níger mantidos em bancos regionais e a interrupção da assistência externa (que representa 40% do orçamento do Níger). A declaração mais marcante foi a de que a CEDEAO tomaria «todas as medidas necessárias para restaurar a ordem constitucional». O prazo de 6 de agosto dado pela CEDEAO expirou porque o bloco não conseguiu chegar a um acordo sobre o envio de tropas para o outro lado da fronteira. A CEDEAO solicitou que uma «força de prontidão» fosse formada e estivesse pronta para invadir o Níger. Em seguida, a CEDEAO disse que se reuniria em 12 de agosto em Acra, Gana, para analisar suas opções. Essa reunião foi cancelada por «razões técnicas». Manifestações em massa nos principais países da CEDEAO, como Nigéria e Senegal, contra uma invasão militar da CEDEAO no Níger induziram seus próprios políticos a apoiar uma intervenção. Seria ingénuo sugerir que nenhuma intervenção é possível. Os acontecimentos estão a ocorrer muito rapidamente e não há motivo para suspeitar que a CEDEAO não intervirá antes do final de agosto.

Golpes no Sahel

Quando a CEDEAO aventou a possibilidade de uma intervenção no Níger, os governos militares de Burkina Faso e Mali disseram que isso seria uma «declaração de guerra», não apenas contra o Níger, mas também contra os seus países. Em 2 de agosto, um dos principais líderes do golpe no Níger, o general Salifou Mody, viajou para Bamako (Mali) e Ouagadougou (Burkina Faso) para discutir a situação na região e coordenar uma resposta à possibilidade de uma intervenção militar da CEDEAO – ou do Ocidente – no Níger. Dez dias depois, o general Moussa Salaou Barmou foi para Conacri (Guiné) para buscar o apoio desse país ao Níger junto ao líder do governo militar do país, Mamadi Doumbouya. Já foram apresentadas sugestões para que o Níger – um dos países mais importantes do Sahel – faça parte das conversas para a formação de uma federação que inclua Burkina Faso, Guiné e Mali. Essa seria uma federação de países que sofreram golpes para derrubar o que foram considerados governos pró-ocidentais que não atendiam às expectativas de populações cada vez mais empobrecidas.

A história do golpe no Níger torna-se, em parte, a história do que a jornalista comunista Ruth First chamou de «o contágio do golpe» em seu notável livro, The Barrel of the Gun: Political Power in Africa and the Coup d’états (O cano das armas: poder político na África e os golpes de Estado, em tradução livre), de 1970. Ao longo dos últimos trinta anos, a política nos países do Sahel deteriorou-se seriamente. Partidos com histórico nos movimentos de libertação nacional, até mesmo os movimentos socialistas (como o partido de Bazoum), entraram em colapso, tornando-se representantes de suas elites, que são intermediárias de uma agenda ocidental. A guerra entre a França, os EUA e a NATO na Líbia em 2011 permitiu que grupos jihadistas saíssem da Líbia e se dirigissem para o sul da Argélia e para o Sahel (quase metade do Mali está nas mãos de formações ligadas à Al-Qaeda). A entrada dessas forças deu às elites locais e ao Ocidente a justificativa para restringir ainda mais as limitadas liberdades sindicais e extirpar a esquerda das fileiras dos partidos políticos consolidados. Não é que os líderes dos principais partidos políticos sejam de direita ou de centro-direita, mas sim que, independentemente de sua orientação, eles não têm independência real diante da vontade de Paris e Washington. Eles se tornaram – para usar um termo local – «fantoches» do Ocidente.

«Ao longo dos últimos trinta anos, a política nos países do Sahel deteriorou-se seriamente. Partidos com histórico nos movimentos de libertação nacional, até mesmo os movimentos socialistas (como o partido de Bazoum), entraram em colapso, tornando-se representantes das suas elites, que são intermediárias de uma agenda ocidental.»

Sem nenhum instrumento político confiável, os setores rurais e pequeno-burgueses desprezados do país recorrem a seus filhos nas Forças Armadas em busca de liderança. Pessoas como o capitão Ibrahim Traoré (nascido em 1988), de Burkina Faso, que foi criado na província rural de Mouhoun, e o coronel Assimi Goïta (nascido em 1988), que vem da cidade do mercado de gado e reduto militar de Kati, representam perfeitamente essas frações de classe mais amplas. As suas comunidades foram totalmente abandonadas pelos duros programas de austeridade do Fundo Monetário Internacional, pelo roubo de seus recursos pelas multinacionais ocidentais e pelos pagamentos para as guarnições militares ocidentais no país. Conformando populações abandonadas, sem uma plataforma política real para falar em seu nome, essas comunidades se uniram em torno dos seus jovens militares. Tratam-se de «golpes de coronéis» – agrupamentos de pessoas comuns que não têm outra opção – e não de «golpes de general» – agrupamentos das elites para impedir o avanço político do povo. É por isso que o golpe no Níger está sendo defendido em manifestações de massa, de Niamei às pequenas e remotas cidades que fazem fronteira com a Líbia. Quando viajei para essas regiões antes da pandemia, ficou claro que o sentimento anti-francês não encontrava outro canal de expressão a não ser a esperança de que um golpe militar trouxesse de volta líderes como Thomas Sankara, de Burkina Faso, que havia sido assassinado em 1987. O capitão Traoré, de fato, usa uma boina vermelha como Sankara, fala com a franqueza esquerdista de Sankara e até imita a sua dicção. Mas seria um erro considerar esses homens como sendo de esquerda, pois eles são movidos pela raiva em relação ao fracasso das elites e da política ocidental. Eles não chegam ao poder com uma agenda bem elaborada, construída a partir de tradições políticas de esquerda.

Os líderes militares do Níger formaram um gabinete de 21 pessoas chefiado por Ali Mahaman Lamine Zeine, um civil que foi ministro das Finanças num governo anterior e trabalhou no Banco Africano de Desenvolvimento no Chade. Os líderes militares são proeminentes no gabinete. Resta saber se a nomeação desse gabinete liderado por civis dividirá as fileiras da CEDEAO. Certamente, as forças imperialistas ocidentais – principalmente os Estados Unidos, com tropas no território do Níger – não gostariam de ver esse torque de golpes manter-se vigente. A Europa – por meio da liderança francesa – deslocou as fronteiras do seu continente do norte do Mar Mediterrâneo para o sul do Deserto do Saara, subornando os estados do Sahel num projeto conhecido como G-5 Sahel. Agora, com governos anti-franceses em três desses estados (Burkina Faso, Mali e Níger) e com a possibilidade de problemas nos dois estados restantes (Chade e Mauritânia), a Europa terá de se retirar para o seu litoral. As sanções para esvaziar o apoio de massas aos novos governos aumentarão, e a possibilidade de intervenção militar pairará sobre a região como um abutre faminto.

Fonte: globetrotter.media

domingo, 20 de agosto de 2023

A UE NÃO TEM FORÇA DE VONTADE POLÍTICA PRÓPRIA

A situação da Ucrânia é clara. Washington vai garantir a segurança militar, fazendo com que as suas empresas beneficiem de um grande número de encomendas europeias de armas, enquanto os europeus vão suportar os custos da reconstrução pós-guerra, algo para o qual a Alemanha está mais bem preparada do que para aumentar as suas forças militares. A guerra é também uma espécie de ensaio geral para uma confrontação dos Estados Unidos com a China, na qual não será fácil contar com o apoio europeu.


Na véspera da cimeira da NATO, o The New York Times publicou um artigo da autoria de Gray Anderson e Thomas Meaney  intitulado “A NATO não é o que diz ser”. (Ver aqui).

No início do artigo abordam-se acontecimentos recentes, incluindo a admissão da Finlândia na NATO e o convite da Suécia, seguido de uma revelação extremamente importante:

 “Desde o início da sua existência, a NATO nunca se preocupou primordialmente com o reforço militar. Com 100 divisões em plena Guerra Fria sob o seu controlo, uma pequena fração dos efetivos do Pacto de Varsóvia, a organização não podia descartar a possibilidade de ter de repelir uma invasão soviética e mesmo as armas nucleares do continente estavam sob o controlo de Washington. Pelo contrário, o seu objetivo era atrair a Europa Ocidental para um projeto muito mais vasto, liderado pelos EUA, de uma ordem mundial em que a proteção americana servisse de alavanca para obter concessões noutras questões, como o comércio e a política monetária. Foi surpreendentemente bem-sucedida no cumprimento dessa missão”.

O artigo conta ainda como, apesar da relutância de alguns países da Europa de Leste em aderir à NATO, estes foram arrastados para tal, tendo sido usados todo o tipo de truques e manipulações. Os ataques a Nova Iorque em 2001 serviram os interesses da Casa Branca, que declarou uma “guerra global contra o terrorismo”, estabelecendo, de facto, esse mesmo terror, tanto literalmente (Iraque, Afeganistão) como figurativamente, encurralando com pontapés os novos membros da NATO. Isto foi feito porque estes países eram mais fáceis de controlar através da NATO.

Os autores também mencionam tarefas mais estratégicas dos EUA, dizendo que “a NATO está a funcionar exatamente como pretendido pelos planificadores norte-americanos do pós-guerra, levando a Europa a depender do poder dos EUA, o que reduz o seu espaço de manobra. Longe de ser um programa de caridade dispendioso, a NATO assegura a influência dos EUA na Europa a um preço barato. As contribuições dos EUA para a NATO e outros programas de ajuda à segurança na Europa constituem uma pequena fração do orçamento anual do Pentágono, menos de 6%, de acordo com uma estimativa recente.

A situação da Ucrânia é clara. Washington vai garantir a segurança militar, fazendo com que as suas empresas beneficiem de um grande número de encomendas europeias de armas, enquanto os europeus vão suportar os custos da reconstrução pós-guerra, algo para o qual a Alemanha está mais bem preparada do que para aumentar as suas forças militares. A guerra é também uma espécie de ensaio geral para uma confrontação dos Estados Unidos com a China, na qual não será fácil contar com o apoio europeu.

Para além da NATO, há um segundo elemento-chave controlado por Washington. É a União Europeia. Há mais de sete anos, o British Telegraph revelou que a UE não passava de um projeto da CIA (Ver aqui).

Nesse artigo afirmava-se que a Declaração Schuman, que deu o mote para a reconciliação franco-alemã e que conduziu gradualmente à criação da União Europeia, foi inventada pelo Secretário de Estado americano Dean Acheson durante uma reunião no Departamento de Estado.

O Comité Americano para a Europa Unida, presidido por William J. Donovan, que durante os anos de guerra dirigiu o Gabinete de Serviços Estratégicos, com base no qual foi criada a Agência Central de Informações, era a principal organização de fachada da CIA. Outro documento mostra que, em 1958, este comité financiou o movimento europeu em 53,5%. O seu conselho incluía Walter Bedell Smith e Allen Dulles, que dirigiram a CIA nos anos cinquenta.

Por último, é igualmente conhecido o papel dos Estados Unidos na criação e imposição do Tratado de Lisboa à UE. Washington precisava dele para facilitar o controlo de Bruxelas através dos seus fantoches.

Mas, atualmente, nem isso parece ser suficiente para os Estados Unidos. No dia anterior, num artigo publicado no The Financial Times, o antigo embaixador dos EUA na União Europeia, Stuart Eizenstat, foi citado como tendo dito que era necessária uma nova estrutura transatlântica entre os EUA e a UE, comparável à NATO, para resolver os problemas modernos. (Ver aqui).

Ele apontou para a necessidade de criar um novo formato de coordenação, ou seja, de facto, a criação dos Estados Unidos da América e da Europa, onde os Estados europeus seriam, por todos os meios, apêndices dos Estados Unidos, cumprindo a vontade política de Washington.

Por conseguinte, todas as declarações e afirmações da Alemanha e da França sobre a sua autonomia estratégica podem ser consideradas palavras ocas de sentido.

Ducunt Volentem Fata, Nolentem Trahunt (“os destinos conduzem os que querem e arrastam os que não querem”), como se dizia na Roma antiga. Pode ser desagradável para muitos europeus aperceberem-se deste facto. No entanto, o facto é que os países da Europa estão a ser arrastados pelos colarinhos para onde não querem ir.


Original aqui.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

PARA ALÉM DO NÍGER: COMO A CEDEAO SE TORNOU UM INSTRUMENTO DO IMPERIALISMO OCIDENTAL EM ÁFRICA




Por Alan Macleod [*]

De modo surpreendente, o Níger está a transformar-se na linha de frente da nova Guerra Fria. Ontem, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), composta por 15 membros, ordenou a "ativação" e o "destacamento" de forças militares "de prontidão" no país, uma medida que ameaça desencadear uma guerra internacional de grandes proporções, capaz de fazer a Síria parecer mais pequena.

Em 26 de Julho, um grupo de oficiais nigerinos derrubou o governo corrupto de Mohamed Bazoum. A ação, que a junta apresenta como uma revolta patriótica contra um fantoche ocidental, é amplamente popular no país e muitos dos vizinhos do Níger declararam que qualquer ataque será considerado como um ataque a toda a sua soberania. Os EUA e a França também estão a considerar uma ação militar, enquanto muitos no Níger apelam à ajuda russa.

Assim, o mundo espera para ver se a região será arrastada para uma guerra que promete atrair muitas das grandes potências mundiais. Mas o que é a CEDEAO e porque é que tantos em África vêm a organização como um instrumento do neocolonialismo ocidental?

"PARTE DE UMA CABALA CORRUPTA

Mesmo antes de a poeira assentar no Níger, a CEDEAO entrou em ação, impondo uma zona de exclusão aérea e duras sanções económicas, incluindo o congelamento dos bens nacionais do Níger e a suspensão de todas as sanções financeiras. A Nigéria suspendeu o fornecimento de eletricidade ao seu vizinho do norte. O bloco regional também veio imediatamente em defesa de Bazoum, emitindo uma declaração ameaçadora a afirmar que iria "tomar todas as medidas necessárias", incluindo "o uso da força", para restaurar a ordem constitucional. A CEDEAO também deu ao novo governo militar um prazo para se retirar ou enfrentar as consequências. Esse prazo já passou e as tropas da CEDEAO a preparar-se para entrar em ação.

Os Estados membros da CEDEAO podem, portanto, ser forçados a enviar as suas tropas para o Níger. No entanto, muitos países estão a resistir a essa perspetiva. No entanto, o bloco parece ainda inflexível quanto à possibilidade de uma ação militar a qualquer momento. "Estamos decididos a pôr cobro a esta situação, mas a CEDEAO não vai dizer aos golpistas quando e onde vamos atacar. Essa é uma decisão operacional que será tomada pelos chefes de Estado", explicou Abdel-Fatau Musah, o comissário do grupo para os assuntos políticos, paz e segurança.

Apesar de ainda não ter atuado, a ameaça de invasão está longe de ser inócua. Desde 1990, a CEDEAO lançou intervenções militares em sete países da África Ocidental, a última das quais na Gâmbia, em 2017.

Esta resposta desiludiu muitos observadores. O jornalista Eugene Puryear, por exemplo, descreveu o bloco como "parte de uma camarilha corrupta que está diretamente ligada às potências imperiais ocidentais para manter os africanos pobres".

Essas potências ocidentais alinharam-se imediatamente com a posição da CEDEAO. "Os Estados Unidos saúdam e elogiam a forte liderança dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO na defesa da ordem constitucional no Níger, ações que respeitam a vontade do povo do Níger e se alinham com os princípios consagrados da CEDEAO e da União Africana de 'tolerância zero para mudanças inconstitucionais'", diz um comunicado de imprensa do Departamento de Estado

África prepara-se para a guerra
Na sequência do golpe de Estado no Níger e da destituição do fantoche francês do cargo presidencial, a organização da África Ocidental CEDEAO, que está sob o controlo total dos EUA e da França, anunciou que iria atacar o Níger.... Países que pretendem atacar o Níger.
- Megatron (@Megatron_ron) August 1, 2023

O governo francês considerou o golpe "completamente ilegítimo" e afirmou que "apoia com firmeza e determinação os esforços da CEDEAO para derrotar esta tentativa de golpe". "A UE também se associou à primeira resposta da CEDEAO a esta questão", declarou Josep Borrell, Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, dando sinal verde à intervenção.

A subsecretária interina dos EUA, Victoria Nuland, também deu a entender que os EUA estão a considerar a possibilidade de invadir o próprio Níger. "Não é nosso desejo ir para lá, mas eles [a nova junta militar] podem levar-nos a esse ponto", disse Nuland sobre a sua recente viagem ao Níger, onde, segundo ela, teve uma reunião "extremamente franca e por vezes bastante difícil" com os novos dirigentes.

Uma medida da proximidade entre a CEDEAO e os Estados Unidos é o apoio contínuo de Washington à organização. Ao longo de 2022, o Departamento de Estado emitiu declarações apoiando a posição da CEDEAO sobre o Mali (outro país onde o exército depôs um governo impopular apoiado pelo Ocidente). "Os Estados Unidos elogiam as fortes ações tomadas pela CEDEAO em defesa da democracia e da estabilidade no Mali", escreveu o Departamento de Estado. Também emitiu memorandos semelhantes reafirmando o seu apoio inabalável às ações da CEDEAO contra os golpes militares na Guiné e no Burkina Faso. Este facto tem levado muitos críticos a encarar a CEDEAO como pouco mais do que um peão dos EUA.

Embora Washington tenha apresentado a situação como a defesa da democracia pela CEDEAO contra o autoritarismo, a realidade é mais complexa. Em primeiro lugar, muitos dos governos dos seus Estados membros têm credenciais democráticas decididamente duvidosas. O Presidente Alassane Ouattara da Costa do Marfim, por exemplo, violou a lei do limite de mandatos do país e foi controversamente empossado para um terceiro mandato no ano passado. Os protestos contra a sua tomada de poder foram reprimidos, causando dezenas de mortos. Entretanto, o governo do Presidente do Senegal, Macky Sall, proibiu o principal partido da oposição e aprisionou o seu líder.

Além disso, a reação da CEDEAO aos golpes de Estado está longe de ser uniforme. Depois de Paul-Henri Sandaogo Damiba ter tomado o poder no Burkina Faso em 2022, a CEDEAO recusou-se sequer a impor sanções, quanto mais a considerar uma invasão. Em vez disso, limitou-se a pedir a Damiba que apresentasse um calendário para um "regresso razoável à ordem constitucional". A sua indiferença face aos acontecimentos pode dever-se à sua visão firmemente pró-ocidental e ao facto de ter sido treinado pelos militares e pelo Departamento de Estado dos EUA.

A liderança sénior da CEDEAO está também profundamente ligada ao poder dos EUA. Como observaram os jornalistas Alex Rubinstein e Kit Klarenberg, o presidente do bloco, Bola Tinbu, "passou anos a lavar milhões para traficantes de heroína em Chicago" e depois tornou-se uma fonte chave do Departamento de Estado para analisar a África Ocidental. O antigo presidente da CEDEAO, Mahamadou Issoufou, era também um "firme aliado do Ocidente", nas palavras da revista The Economist, embora muitos em África possam utilizar uma linguagem menos neutra para o descrever.

Neste sentido, pode ser aplicável comparar a CEDEAO a outros organismos regionais dominados pelos EUA, como a Organização dos Estados Americanos (OEA). Embora a OEA seja formalmente independente, tem-se alinhado consistentemente com Washington e atacado países inimigos como a Venezuela e Cuba. Um documento da USAID (uma organização governamental dos EUA) assinalava que a OEA era um instrumento crucial para "promover os interesses dos EUA no hemisfério ocidental, contrariando a influência de países anti-EUA" como Cuba e a Venezuela.

DOMINAÇÃO ECONÓMICA

A CEDEAO faz remontar o seu projeto de integração africana a 1945 e à criação do franco CFA, uma medida que juntou as colónias africanas de França numa única união monetária. A moeda, ainda hoje utilizada por 14 países africanos, estava artificialmente indexada ao franco francês e depois ao euro, o que significava que importar e exportar para França (e mais tarde para a zona euro) era muito barato, mas importar e exportar para o resto do mundo era proibitivamente caro.

Assim, mesmo após a independência formal, o franco CFA prendeu os países africanos [francófonos] à subserviência económica de Paris. Como resultado, muitos governos africanos continuam impotentes para promover mudanças políticas e económicas sérias, uma vez que não controlam a sua própria política monetária.

Do ponto de vista económico, esta situação tem sido uma bênção para a França, que beneficia de uma enorme base de recursos a partir da qual pode extrair matérias-primas a preços artificialmente baixos, bem como de um mercado de exportação cativo. Significou também que a França manteve um bom grau de controlo sobre as suas antigas colónias. Sem África", disse o antigo presidente francês François Mitterrand, "a França não terá história no século XXI".

Mas este sistema económico injusto também beneficiou as elites africanas, que podem importar os luxos franceses e europeus a uma taxa de câmbio anormal. Permitiu-lhes também desviar dinheiro africano para bancos europeus, e as autoridades francesas não hesitam em fechar os olhos a esta prática. A França continua a deter metade das reservas de ouro dos países do franco CFA.

O resultado foi a estagnação e o subdesenvolvimento da África francófona. Atualmente, o PIB real per capita do Níger é significativamente mais baixo do que na altura da sua independência formal de França, em 1960. A França continua a ser, de longe, o seu maior parceiro comercial e a economia do Níger gira em torno da exportação de urânio para Paris. Este é utilizado para fornecer energia nuclear barata ao país. No entanto, o cidadão comum nigerino vê poucos ou nenhuns benefícios deste acordo. Como afirmou a Oxfam em 2013: "Em França, uma em cada três lâmpadas é acesa com urânio do Níger. No Níger, quase 90% da população não tem acesso à eletricidade. Esta situação não pode continuar. Assim, em grande medida, a prosperidade da França baseia-se no sofrimento africano e vice-versa.

Isto explica o sentimento anti-colonial generalizado na África Ocidental. O golpe militar de Julho foi desencadeado por manifestações públicas contra a decisão do governo de Bazoum de acolher tropas francesas no país, mesmo depois de a sua presença no Mali ter precipitado um golpe no ano passado. A nova junta do Níger suspendeu as exportações de ouro e urânio para França. "Abaixo a França, fora as bases estrangeiras" foi o grito de guerra dos manifestantes que saíram às ruas da capital, Niamey, e de outras cidades do país.

Bazoum, no entanto, manteve-se firmemente leal à França. Numa entrevista ao Financial Times, em maio, defendeu Paris com o argumento de que "a França é um alvo fácil para o discurso populista de certas opiniões, especialmente nas redes sociais entre os jovens africanos". Assim, sem Bazoum, o Níger pode deixar de ser o aliado número um do Ocidente na região para se tornar um adversário.

INTEGRAÇÃO REGIONAL, GUERRA REGIONAL?

A CEDEAO impõe aos seus Estados membros medidas económicas rigorosas aprovadas pelo Ocidente, obrigando-os a obedecer a leis económicas neoliberais que dificultam a saída do ciclo da dívida e do subdesenvolvimento e que contribuíram para dificultar a realização de mudanças pacíficas e democráticas e, ironicamente, estimularam uma vaga de insurreições militares em toda a região.

O golpe de Estado no Níger segue-se a ações semelhantes no Mali em 2020 e 2021, no Burkina Faso (duas em 2022) e na Guiné (2021). Todos se posicionaram como revoltas progressistas, patrióticas e anti-imperialistas contra uma ordem económica criada pelo Ocidente. Os quatro países estão atualmente suspensos da CEDEAO.

Um grande número de Estados rejeitou a posição do Ocidente e da CEDEAO. "As autoridades da República da Guiné desvinculam-se das sanções impostas pela CEDEAO", escreveu o governo guineense, qualificando-as de "ilegítimas e desumanas" e "exortando a CEDEAO a refletir".

Os governos do Mali e do Burkina Faso foram muito mais longe. Num comunicado conjunto, estes países saudaram a destituição de Bazoum, descrevendo o acontecimento como o facto de o Níger "tomar o seu destino nas suas próprias mãos e responder perante a história pela sua total soberania". Em conjunto, denunciaram as "organizações regionais" [i.e. a CEDEAO] por imporem sanções que "aumentam o sofrimento das populações e põem em perigo o espírito do pan-africanismo". Mas, talvez o mais importante, declararam sem rodeios que viriam em auxílio militar do Níger em caso de invasão da CEDEAO. "Qualquer intervenção militar contra o Níger significaria uma declaração de guerra contra o Burkina Faso e o Mali", escreveram. A Argélia, que partilha uma longa fronteira com o Níger, também avisou que não ficará de braços cruzados se o Ocidente ou os seus fantoches atacarem o Níger.

O pan-africanismo, o projeto anti-imperialista que procura criar uma irmandade de nações em África para se desenvolverem de forma independente, tem experimentado um renascimento na África Ocidental nos últimos tempos. O Burkina Faso e o Mali, vizinhos do Níger a oeste, estão em fase avançada de fusão numa federação. "O processo está em curso", disse Ibrahim Traoré, o carismático líder militar do Burkina Faso, revelando que os seus exércitos estão agora tão integrados que "é realmente o mesmo exército". O líder militar carismático do Burkina Faso revelou que os seus exércitos estão atualmente tão integrados que "são realmente o mesmo exército":

Não podemos excluir a ideia de outro Estado se juntar a nós... Se houver outros Estados interessados (iremos certamente abordar a Guiné) e se outros estiverem interessados, temos de aderir. É isso que os jovens exigem.

A CEDEAO manifestou-se fortemente contra a ideia, mas Traoré manteve-se desafiante. "Vamos lutar, mas África tem de se unir. Quanto mais unidos estivermos, mais eficazes seremos", disse. Traoré tem-se apresentado como um líder radical ao estilo de Thomas Sankara, o líder revolucionário marxista do Burkina Faso entre 1983 e 1987. Com uma boina vermelha, como Sankara, Traoré coloca questões como "Porque é que a África rica em recursos continua a ser a região mais pobre do mundo?" e descreve muitos dos seus colegas líderes africanos como "fantoches nas mãos dos imperialistas". Gosta de citar o líder cubano Che Guevara e aliou o seu país à Nicarágua e à Venezuela.

POSTO AVANÇADO COLONIAL

Os nigerinos, apoiem ou não o golpe, estão fartos de serem tratados como um posto avançado colonial. Bazoum, que chegou ao poder numa eleição controversa e disputada em 2021, viu os seus índices de aprovação caírem a pique depois de ter sido anunciado que o Níger iria acolher milhares de tropas francesas anteriormente expulsas do Mali e do Burkina Faso. A presença destes soldados precipitou golpes de Estado em ambos os países e desencadeou imediatamente manifestações de cólera no Níger. Bazoum, descrito pela BBC como um "aliado ocidental fundamental", não percebeu o ambiente e deu as boas-vindas às tropas. Atualmente, o Níger alberga cerca de 1.500 soldados franceses, bem como muitos outros das forças armadas alemãs, italianas e americanas. O novo governo militar deu instruções à França para retirar as suas tropas.

O Níger é a pedra angular da operação militar dos EUA em África e acolhe cerca de 1100 pessoas em seis bases. Em 2019, os EUA abriram a Base Aérea 201, um enorme aeródromo de 110 milhões de dólares que utiliza para realizar operações de drones em toda a região do Sahel. A razão declarada para as tropas estrangeiras é ajudar a região a lidar com o terrorismo islâmico. Mas a ameaça do terrorismo islâmico só surgiu com a destruição da Líbia pela NATO em 2011 (outro país com o qual o Níger faz fronteira). O ataque da aliança militar transformou a Líbia, de uma nação com um dos mais elevados padrões de vida de África, num Estado falhado dirigido por jihadistas, repleto de mercados de escravos a céu aberto.

Por isso, o golpe goza de um apoio generalizado no país. Uma sondagem publicada pela revista The Economist no início desta semana revelou que 73% dos nigerinos querem que a junta militar permaneça no poder e apenas 27% querem o regresso de Bazoum.

Dezenas de milhares de pessoas encheram o estádio Seyni Kountché em Niamey para exprimir o seu desejo de independência e denunciar as ameaças de intervenção americana ou francesa. "Se as forças da CEDEAO decidirem atacar o nosso país, antes de chegarem ao palácio presidencial, terão de passar por cima dos nossos corpos, derramar o nosso sangue. Fá-lo-emos [dar a vida] com orgulho porque não temos outro país, só temos o Níger. Desde 26 de julho que o nosso país decidiu assumir a sua independência e soberania", afirmou o manifestante Ibrahim Bana.

O PAPEL DA RÚSSIA

Enquanto a Rússia é vista no Ocidente como um regime autoritário e nefasto que interfere noutras nações, grande parte de África vê Moscovo de forma positiva. A União Soviética apoiou geralmente as lutas pela independência de África e a Federação Russa nunca invadiu qualquer nação africana. Quase todos os Estados africanos participaram na cimeira Rússia-África em Julho, ao passo que apenas quatro líderes africanos participaram numa reunião oficial com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no ano passado. A mesma sondagem do Economist perguntou aos nigerinos em que potência estrangeira confiavam mais. Sessenta por cento escolheram a Rússia. Apenas cerca de 1 em cada 10 escolheu os EUA, um número ainda menor escolheu a França e nenhum escolheu a Grã-Bretanha.

Bandeiras russas são agora uma visão comum em Niamey e muitos esperam algum tipo de ajuda de Moscovo. No entanto, o Presidente deposto Bazoum foi às páginas de The Washington Post a fim de apelar à ajuda dos EUA, advertindo que "toda a região central do Sahel pode cair sob influência russa através do Grupo Wagner". De facto, o Wagner foi convidado por vários governos africanos, incluindo o Mali, que vêm a força mercenária russa como um contrapeso às tropas ocidentais. O líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, aprovou recentemente o golpe, embora Moscovo tenha sido muito mais relutante em tomar partido.

A grande preocupação de muitos é que os combates no Níger desencadeiem uma guerra mais vasta entre as nações da África Ocidental que, sem dúvida, pedirão ajuda à Europa e aos Estados Unidos. Se isso acontecer, os governos militares do Mali, do Burkina Faso e do Níger irão sem dúvida pedir ajuda à Rússia, transformando a situação em algo semelhante à guerra civil síria, mas em grande escala.

Na sequência da invasão russa da Ucrânia, a França cortou as importações de energia da Rússia, tornando mais crucial o urânio do Níger para as suas envelhecidas centrais nucleares. No entanto, qualquer tentativa de mudança de regime no Níger para retomar o fornecimento de urânio irritará a Argélia, com a qual assinou recentemente um acordo de importação de gás natural. A posição francesa está, portanto, repleta de contradições e complicações.

À medida que o poder ocidental diminui, começa a nascer um mundo multipolar. Neste nascimento, os povos da África Ocidental sonham com um futuro diferente. O tempo dirá se os golpes militares se revelam uma força libertadora ou ações que em nada ajudam os povos oprimidos da região. No entanto, uma coisa é certa: os EUA e a França não estão satisfeitos com as mudanças que estão a ocorrer e vão lutar para manter o seu controlo sobre África. Para o efeito, a CEDEAO tem-se revelado um importante instrumento ao seu dispor. No entanto, com tantos interesses em conflito e tantas forças relutantes em chegar a um compromisso, a situação no Níger ameaça tornar-se uma guerra internacional que chamará a atenção do mundo para uma das regiões mais negligenciadas do planeta.



[*] Redator sénior da MintPress News. Doutorou-se em 2017, publicou dois livros, Bad News From Venezuela: Twenty Years of Fake News e Misreporting e Propaganda in the Information Age: Still Manufacturing Consent e uma série de artigos académicos. Contribuiu para FAIR.org, The Guardian, Salon, The Grayzone, Jacobin Magazine e Common Dreams.


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