julho 2014
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quinta-feira, 31 de julho de 2014

MOSCOVO ACREDITA QUE A EUROPA PERDERÁ MAIS COM AS SANÇÕES

MOSCOVO ACREDITA QUE A EUROPA PERDERÁ MAIS COM AS SANÇÕES


Em Moscovo reagiram de forma surpreendentemente calma à nova “terceira fase” de sanções da União Europeia contra a Rússia. As restrições no sector bancário, da energia, de exportações de armamentos e da chamada produção de “dupla utilização” (civil e militar) entrarão em vigor em 1 de Agosto.



Por Andrei Fedyashin


As medidas foram acordadas por embaixadores da UE em Bruxelas, após horas de debates, em 29 de Julho. Para sua aprovação formal não é necessária a convocação de uma cúpula de líderes da UE. Bastará que a Comissão Europeia obtenha seu consentimento por escrito, o que é uma mera formalidade. Os EUA anunciaram suas próprias sanções adicionais.

Em círculos de negócios da Rússia acreditam que as sanções da UE e dos EUA irão incentivar o desenvolvimento da indústria e tecnologia nacionais. Este processo já começou. O presidente Putin realizou em Moscou a segunda reunião dos principais ministros sobre a substituição de importações. Segundo os cálculos do especialistas do governo, a Rússia necessita de três meses a três anos para substituir totalmente os produtos importados por domésticos em todos os sectores – desde a banca (sistemas de pagamento próprios), até aos militares e à agricultura. Assim, que quem perderá com as sanções serão os próprios países que as estão impondo. Eles perderão os contactos e seus nichos serão ocupados por empresas russas, ou asiáticas ou latino-americanas.

Todas estas sanções que Washington obrigou a UE a impor não são mais que uma vingança política dos EUA em relação à Rússia, e talvez pessoalmente em relação ao seu presidente Vladimir Putin, acredita o presidente do Instituto de Estratégia Nacional, Mikhail Remizov:

“Neste caso, trata-se de uma forma de guerra económica contra a Rússia, país que, do ponto de vista dos Estados Unidos, deve ser punido através de uma evidente infracção dos princípios da nova ordem mundial ditados desde Washington. No início dos anos 90, quando os Estados Unidos se tornaram a única superpotência, eles, de fato, monopolizaram a interpretação do direito internacional, monopolizaram o uso de ferramentas de força na política, monopolizaram o direito de legitimar, de certa forma, regimes políticos. E o comportamento da Rússia na situação da crise ucraniana, do ponto de vista dos Estados Unidos, desafia demasiado descaradamente esse monopólio”.

Na UE parecem entender isso muito bem. Após um exame mais detalhado, essas “sanções sectoriais”, como as chamam a UE e os EUA, parecem mais uma peneira através da qual os países da UE podem, à sua discrição, deixar ou não passar exportações para a Rússia ou importações de Moscovo. Elas não afectam o comércio de petróleo, gás e outras matérias-primas. Serão apenas limitados os fornecimentos à Rússia de tecnologias para mineração a grande profundidade águas do Árctico. Moscovo, a propósito, já adquiriu esse equipamento.

Todos os contratos concluídos por países da UE até 1 de Agosto em todas as áreas, sem excepção, serão cumpridos. Foi a França quem mais que outros insistiu nisso visto que ela que deve fornecer à Rússia dois navios porta-helicópteros Mistral: o valor do contrato é superior a 1,2 biliões de euros. Quaisquer licenças de exportação podem ser obtidas após consideração especial.

O verdadeiro propósito das sanções é mais educacional do que económico, diz a especialista russa em relações internacionais Daria Mitina:

“A própria prática de sanções, apesar de serem usadas bastante activamente tanto pelos Estados Unidos como pela União Europeia, já há muito que está ultrapassada moralmente e economicamente. O mundo é demasiado global e demasiado interligado, de modo que esses mecanismos de sanções são sempre de dois gumes. Elas afectam não só os países contra os quais são dirigidas essas sanções, mas também aqueles estados que as introduzem”.

Apesar da reacção optimista de Washington ao novo pacote de sanções europeu, é evidente que ele não conseguiu que os europeus fizessem o essencial: que deixassem de importar gás russo para substituí-lo pelo seu próprio gás de xisto. As sanções não afectam essas importações de todo, diz o analista político Alexander Gusev:

“Quanto a fornecimentos de gás de xisto dos EUA, isso não é nada plausível. O preço interno do gás de xisto nos EUA já subiu para quase 700 dólares por mil metros cúbicos. Tais compras de gás causariam à Europa grandes prejuízos. Para ela é importante continuar a fazer comércio com a Rússia”.

As sanções são projectadas para um ano, serão revistas a cada três meses, ou podem ser completamente levantadas se a Rússia a passar a se comportar em relação à Ucrânia como Bruxelas e os Estados Unidos querem. Além disso, nas regras de sanções da UE está integrado um “mecanismo de autodefesa” especial. Ele prevê a correcção de certas disposições se elas forem demasiado prejudiciais às economias europeias.

Moscovo admite que o mais doloroso para a Rússia pode ser o encerramento de acesso a mercados de crédito e mercados de valores mobiliários da Europa. A fim de limitar o acesso da Rússia ao mercado de capitais da UE os cidadãos dos países da comunidade serão proibidos de “comprar ou vender títulos, acções ou instrumentos financeiros similares com um prazo de maturidade superior a 90 dias emitidos por bancos estatais russos”.

Mas este problema é só em perspectiva, e somente se acreditarmos que os bancos russos vão aguardar em silêncio quando para eles forem fechados os mercados monetários da Europa. Em particular, os banqueiros russos dizem que já reorientaram suas carteiras de empréstimos para os mercados da Ásia e da América Latina. Ou seja, para China e os países do BRICS, especialmente para o Brasil e a Índia.

Em Moscovo, os serviços de imprensa dos sistemas de pagamento internacionais Visa e MasterCard já anunciaram que não intencionam bloquear os cartões dos bancos VTB, o Banco de Moscovo (Bank Moskvy) e do Banco Agrícola da Rússia (Rosselkhozbank), contra os quais anunciaram sanções os Estados Unidos. Eles têm medo de perder o mercado russo.

Os dirigentes da norte-americana ExxonMobil também anunciaram que não pretendem encerrar qualquer cooperação com a Rússia. A empresa possui cerca de 20 por cento da russa Rosneft.

Peritos da Comissão Europeia da UE calcularam que por causa de sanções a Europa pode perder este ano 40 biliões de euros. Em 2015, essas perdas vão totalizar já uns 50 biliões de euros. Ou seja, cerca de 0,5 por cento do PIB anual de toda a UE. E trata-se somente de produtos das indústrias militar e de dupla utilização exportados para a Rússia. Se considerarmos todas as restantes exportações e a resposta inevitável de Moscovo, as perdas irão aumentar muitas vezes.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

UM PARCEIRO INCÓMODO - O DILEMA FÁUSTICO DA CPLP

UM PARCEIRO INCÓMODO - O DILEMA FÁUSTICO DA CPLP

 


Por Carlos Fino

Carlos FinoSob um coro de protestos e de forma envergonhada (sem votação expressa, por mero “consenso” e escassos aplausos), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, reunida a semana passada em Dili/Timor Leste, na sua X Cimeira, decidiu admitir como membro de pleno direito a República da Guiné-Equatorial.

O processo de adesão, a que inicialmente Portugal se opôs e foi o último a aceitar, prolongou-se por alguns anos, mas tornou-se praticamente inevitável quando os maiores países africanos da CPLP – Angola e Moçambique – o defenderam e passaram depois a ter o parecer favorável do Brasil.

Considerado um dos países mais corruptos do mundo, a Guiné-Equatorial constitui, a mais do que um título – é o mínimo que se pode dizer - um parceiro incómodo.

Governada desde a independência, em 1968, por uma feroz e sanguinária ditadura, a mais antiga do continente, nela reina há dezenas de anos (desde 1979) como senhor absoluto, Teodoro Obiang, que assim procura romper com o ostracismo e a condenação internacionais.

Embora, ao que parece, menos cruel que o presidente que o antecedeu e que ele derrubou e mandou executar num golpe de Estado, Obiang, apesar de algumas mudanças de fachada, concentra nas suas mãos a totalidade do poder e a maior parte da riqueza, tendo-se tornado, segundo a Forbes, o oitavo governante mais rico do mundo, enquanto a grande maioria da população vive na miséria.

Tudo realidades em contradição com os ideais que presidiram à criação da CPLP, em 1996, por iniciativa do embaixador brasileiro José Aparecido de Oliveira, em cujos Estatutos se consagra o primado da paz, da democracia, do Estado de Direito, dos direitos humanos e da justiça social.

Do ponto de vista histórico, a afinidade da Guiné Equatorial com a Luso fonia também é ténue.

Começou, é certo, por ser território de Portugal, mas foi permutada, no final do século XVIII (tratados de Santo Ildefonso e El Pardo, em 1777 e 1778), com a Espanha, em troca da ilha de Santa Catarina, hoje parte integrante do Brasil. Desde então e até à sua independência, a Guiné-Equatorial foi portanto uma colónia espanhola, onde a língua oficial é o espanhol e não o português.

Há, porém, duas excepções importantes - na ilha de Ano Bom, uma das províncias da Guiné-Equatorial, fala-se ainda hoje um crioulo de origem portuguesa. E em Bioko, antiga Fernão Pó, onde está a capital (Malabo), a presença dos portugueses também não acabou com a passagem para a Espanha.

Até antes da independência, houve sempre nessas ilhas muitos portugueses, principalmente à frente das quintas que produziam cacau e café. Daí que, ainda hoje, perdurem aí apelidos de origem lusa como Pintassilgo, Teixeira, Gonçalves, Antunes...

"Existe uma relação antiga com Portugal, que não era de colonização, mas económica e de respeito da população local", confirmou em declarações à agência Lusa Weja Chicampo, dirigente dos bubis, a etnia dominante da ilha de Bioko, que se queixa de ser perseguida pela maioria fang (com base no continente).

Mais, porém, do que esta ligação a Portugal, o que parece ter sido decisivo na decisão de acolher Malabo no seio da CPLP foi a tentação fáustica de sacrificar os princípios estatutários de democracia e direitos humanos às perspectivas de maior riqueza que a integração possa trazer, tendo em conta que a Guiné Equatorial se tornou, desde os anos 1990, o terceiro maior produtor de petróleo do continente africano.

Uma das primeiras decisões logo a seguir à admissão da Guiné Equatorial foi justamente criar um Grupo Técnico de Estudo (GTE) para a exploração e produção conjuntas de hidrocarbonetos no espaço comunitário. Com a integração de Malabo, a CPLP estima que as reservas comprovadas no seu espaço deverão corresponder, em conjunto, ao sétimo maior produtor do mundo de hidrocarbonetos, em 2015, e ao quarto em 2025.

Os defensores da integração justificam o acolhimento do parceiro incômodo afirmando que, dentro da CPLP, Obiang fica mais exposto a escrutínio e o seu regime poderá, de algum modo, evoluir num sentido mais democrático.

Um argumento que a oposição local e as organizações de direitos humanos não aceitam. "Não é possível negociar com um regime como este. Não é possível confiar e esperar que ele mude", afirmou o líder dos bubis, que se opõem a Obiang.

Até que ponto é que, ao admitir este parceiro incómodo, a CPLP perderá em respeitabilidade internacional, o que poderá, a curto prazo, ganhar em mais recursos?

Este era o dilema fáustico com que a Lusofonia se defrontava até meados da passada semana.

Mas agora a escolha está feita, o pacto com o Diabo estabelecido.

Resta esperar que, tal como no Fausto, de Goethe, no final Deus se compadeça e acabe por salvar o que de bom restar da alma da CPLP.







segunda-feira, 21 de julho de 2014

A ENTRADA DA GUINÉ EQUATORIAL NA CPLP LEVANTA DIVERSOS PROBLEMAS TÉCNICOS E RELACIONADOS COM O RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS

A ENTRADA DA GUINÉ EQUATORIAL NA CPLP LEVANTA DIVERSOS PROBLEMAS TÉCNICOS E RELACIONADOS COM O RESPEITO PELOS DIREITOS HUMANOS

Por Paulo Ramires

A CPLP irá realizar a sua cimeira dia 22 e 23 de Julho onde irá admitir quase certamente a Guiné Equatorial como estado membro de pleno direito da comunidade.

A Guiné Equatorial foi descoberta primeiro pelos portugueses, que exploraram o golfo da Guiné em 1471 com Fernão do Pó, tendo depois em 1493, D. João II proclamado-se com "Senhor de Guiné". O território permaneceu em mãos portuguesas até Março de 1778, altura em que foi assinado o Tratado de El Pardo, onde se cedia à Espanha este território. Em contrapartida Portugal recebia garantias de paz em diversos zonas de influência da América do Sul, assim como a retirada espanhola da Ilha de Santa Catarina e a demarcação de fronteiras no Brasil. O território da Guiné Equatorial ficou em poder de Espanha até 1968, altura em que se tornou num país independente.

Mas a adesão da Guiné Equatorial à CPLP está a gerar grande polémica, ela não é aceite pela população de alguns estados membros, nomeadamente Portugal e Timor Leste onde a irritação tem vindo a crescer e a gerar algum incomodo em certos sectores políticos, principalmente em Portugal. O problema é que este país não cumpre os requisitos mínimos necessários para fazer parte da CPLP, porque embora tenha introduzido o português como língua oficial, ela não é falada pela população em geral, nem pelos seus dirigentes, mas é também um país com um regime ditatorial liderado pelo presidente Obiang Nguema que não hesita em oprimir qualquer tipo de oposição ao seu regime, e onde as violações aos Direitos Humanos e tortura são constantes e a corrupção é gigantesca.

A adesão à CPLP de um estado requer uma votação por unanimidade, o que em teoria Portugal poderia vetar a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, todavia não é assim tão simples, o veto de Portugal teria custos políticos bem difíceis de digerir e de contornar por Portugal, dado o empenho de outros estados em integrar este país na comunidade, nomeadamente Angola e Brasil, mas também por razões de interesses petrolíferos que envolvem a Guiné Equatorial e outros países da CPLP e que implicam diversas tomadas de posições politicas no seio da CPLP, por estes motivos Portugal não conseguiu influenciar os restantes países lusófonos nesta questão, mas aqui também se pode verificar a inabilidade ou fraqueza da diplomacia portuguesa e uma clara falta de evolução civilizacional de muitos outros países Lusófonos, que mostram que os interesses económicos estão bastante acima do respeito pelos Direitos Humanos ou tortura, e que particularmente na Guiné Equatorial esses direitos são amplamente violados e as pessoas são detidas sem qualquer culpa formada, como é o caso do empresário italiano Roberto Berardi e outros.

Quando é assim, muitos países lusófonos mostram que têm ainda muito para evoluir, e ao contrário do que disse Murade Muragy, secretário executivo da CPLP, não é verdade que "ninguém tem a folha limpa" ou que "a violação dos Direitos Humanos há em todo o lado", a verdade é que há estados que se preocupam mais com esta questão e outros menos.

Se a CPLP desejar ter algum tipo de credibilidade internacional, ela tem obrigatoriamente de se preocupar no imediato com esta questão e ser implacável com aqueles que de menos se preocupam. A indiferença dos outros países lusófonos - incluindo o Brasil - com esta questão é tal, que mesmo sendo grandes defensores da adesão da Guiné Equatorial na CPLP, não fizeram qualquer tipo de pressão para que o regime do presidente Obiang Nguema alterasse alguma coisa, mesmo a moratória de abolição da pena de morte apresentada pelo regime não significa qualquer tipo de "progressos" ao contrário do que dizem alguns governantes da CPLP, significa antes uma maneira de branquear o regime de Obiang.

Mas integrar a Guiné Equatorial também tem os seus aspectos positivos para as grandes empresas que operam principalmente no ramo petrolífero e podem conseguir nesta adesão melhores negócios e dotar a CPLP de grande importância geopolítica a nível internacional dando maior visibilidade a estes países. Será de supor-se que por estas razões a língua portuguesa possa vir a beneficiar também, nomeadamente como uma das línguas que podem ser usadas na esfera dos grandes negócios, mas não será bem assim, e deve haver aqui algumas cautelas, isto porque a CPLP, hoje é bem mais uma comunidade económica e de negócios do que uma comunidade da língua portuguesa, e não é de querer que uma língua comum a vários países possa ser influenciada positivamente por uma comunidade onde o centro principal são os negócios, por este motivo a CPLP deveria pensar seriamente numa alteração da sua estrutura organizativa, ou seja, separar completamente os assuntos da língua dos assuntos comerciais e de negócios, incluindo as pessoas com funções diversas dentro da comunidade.

Licenciado

sábado, 19 de julho de 2014

ASSALTO A GAZA DAS FORÇAS DE DEFESA DE ISRAEL É PARA CONTROLAR O GÁS PALESTINIANO E EVITAR UMA CRISE DE ENERGIA ISRAELITA

ASSALTO A GAZA DAS FORÇAS DE DEFESA DE ISRAEL É PARA CONTROLAR O GÁS PALESTINIANO E EVITAR UMA CRISE DE ENERGIA ISRAELITA


O ministro da Defesa de Israel confirmou que os planos militares para 'desenraizar o Hamas' são para dominar as reservas de gás de Gaza

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Ontem, o ministro da Defesa israelita e antigo chefe do gabinete de Moshe Ya'alon das Forças de Defesa Israelitas (IDF)  anunciou que a Operação Borda de proteção marca o início de um ataque prolongado sobre o Hamas. A operação "não vai acabar em poucos dias", disse ele, acrescentando que "estamos nos preparando para ampliar a operação por todos os meios que estão à nossa disposição para continuarmos a atacar o Hamas".

Esta manhã, ele disse:

"Continuamos com ataques que impõem um preço muito pesado ao Hamas. Estamos a destruir armas, infra-estruturas de terror, sistemas de comando e controle, instituições do Hamas, edifícios regimentais, as casas de terroristas, e matando terroristas de várias fileiras de comando ... A campanha contra o Hamas vai se expandir nos próximos dias, e o preço que a organização irá pagar será muito pesado."

Mas em 2007, um ano antes da Operação Chumbo Fundido, as preocupações de Ya'alon concentraram-se nos 1,4 triliões de pés cúbicos de gás natural descobertos em 2000 na costa de Gaza, avaliados em 4 biliões de dólares (US $). Ya'alon rejeitou a noção de que "o gás de Gaza possa ser um factor-chave para um estado Palestino economicamente mais viável", e considerou-a como "equivocada". O problema, segundo ele, é este:

"Avançar com a venda de gás palestino a Israel provavelmente não contribuiriam para ajudar uma população palestiniana empobrecida. Pelo contrário, com base na experiência do passado de Israel, o produto provavelmente vai servir para financiar novos ataques terroristas contra Israel ...

Uma transacção de gás com a Autoridade Palestina [AP] irá, por definição, envolver o Hamas. O Hamas quer beneficiar dos royalties, ou irá sabotar o projecto e lançar ataques contra a Fatah, as instalações de gás, Israel - ou todos as três hipóteses ... É claro que, sem uma operação militar global para arrancar o controle de Gaza do Hamas, nenhum trabalho de perfuração pode ser levado a cabo sem o consentimento do movimento islâmico radical."

A Operação Chumbo Fundido não conseguiu desenraizar o Hamas, mas o conflito tirou a vida de 1.387 palestinianos (773 dos quais eram civis) e 9 israelitas (três dos quais eram civis).

Desde a descoberta de petróleo e gás nos territórios ocupados, a concorrência de recursos tem sido cada vez mais no coração do conflito, motivada em grande parte pelo aumento dos problemas de energia domésticos de Israel.

Mark Turner, fundador da Research Journalism Initiative, informou que o cerco a Gaza e consequente pressão militar foi projectada para "eliminar" o Hamas como "uma entidade política viável em Gaza" para gerar um "clima político" propício para um acordo de gás. Isto envolveu a reabilitação da Fatah derrotada como o player político dominante na Cisjordânia, e "aproveitando as tensões políticas entre as duas partes, armando forças leais a Abbas e o recomeço selectivo da ajuda financeira."

Os comentários de Ya'alon, em 2007, mostram que o gabinete israelita não está apenas preocupado com o Hamas - mas preocupado que, se os palestinianos desenvolverem os seus próprios recursos de gás, a transformação económica resultante poderia, por sua vez aumentar fundamentalmente a influência palestiniana.

Enquanto isso, Israel tem feito sucessivas e importantes descobertas nos últimos anos - como as do campo de Leviathan estimadas em 18 triliões de pés cúbicos de gás natural - que pode transformar o país de importador de energia para aspirante a exportador de energia com a ambição de fornecer à Europa, Jordânia e Egipto. Um potencial obstáculo é que grande parte dos 122 triliões de pés cúbicos de gás e 1,6 bilião de barris de petróleo na Bacia da Província do Levante encontra-se em águas territoriais onde as fronteiras são disputada entre Israel, Síria, Líbano, Gaza e Chipre.

No meio dessa disputa regional pelo gás, Israel enfrenta os seus próprios pequenos desafios energéticos. Poderia, por exemplo, levar até 2020, para a maior parte desses recursos internos serem devidamente mobilizados.

Mas isto é a ponta do iceberg. Uma carta de 2012 escrita por dois principais cientistas do governo israelita - que o governo de Israel decidiu não divulgar - advertia o governo de que Israel continuava a ter recursos de gás insuficientes para sustentar as exportações, apesar de todas as enormes descobertas. A carta, de acordo com o que o Ha'aretz referia, afirmava que os recursos internos de Israel eram 50% menos do que o necessário para apoiar exportações significativas, e poderiam ser esgotadas em décadas:

"Acreditamos que Israel deveria aumentar o seu uso [doméstica] de gás natural em 2020 e não deve exportar gás. Segundo estimativas da Autoridade Natural de Gás estão a faltar recursos. Há uma lacuna de 100 a 150 biliões de metros cúbicos entre as projecções da procura que foram apresentados ao comitê e as projeções mais recentes. As reservas de gás tendem a durar ainda menos que 40 anos! "

Como o Dr. Gary Luft - assessor do Conselho de Segurança da Energia dos EUA - escreveu no Journal of Energy Security, "com o esgotamento das fontes de gás doméstico de Israel em acelaração, e sem um aumento iminente na importação de gás do Egipto, Israel poderá enfrentar uma crise energética nos próximos anos ... Se Israel vai continuar a prosseguir com os seus planos de gás natural deve diversificar as suas fontes de abastecimento. "

As novas descobertas internas de Israel ainda não oferecem uma solução imediata enquanto os preços da electricidade atingem níveis recordes, aumentando o imperativo de diversificar o fornecimento. Isto é o que parece estar por trás do anúncio de primeiro-ministro Netanyahu em Fevereiro de 2011, que era já chegada a hora de fechar o negócio do gás de Gaza. Mas mesmo depois de uma nova ronda de negociações foi o pontapé de partida entre a Autoridade Palestiniana liderada pela Fatah e Israel em Setembro de 2012, em que o Hamas foi excluído dessas conversações e, assim, rejeitou a legitimidade de qualquer negócio.

No início deste ano, o Hamas condenou um acordo da AP para comprar 1,2 biliões de dólares (US $ ) de gás do campo de Leviathan de Israel ao longo de um período de 20 anos uma vez que o campo comesse a produzir. Simultaneamente, a AP tem realizado várias reuniões com o British Gas Group para desenvolver o campo de gás de Gaza, embora com o objectivo de excluir o Hamas - e, portanto, os habitantes de Gaza - de acesso ao produto. Esse plano tinha sido fruto da imaginação de enviado para o Quarteto do Médio Oriente Tony Blair.

Mas a AP também estava a seduzir a Gazprom da Rússia para desenvolver o campo de gás marítimo de Gaza, e as negociações foram acontecendo entre a Rússia, Israel e Chipre, embora até agora não se conheça qual o resultado destes. Também por esclarecer fica a questão de que forma a AP irá exercer o controle sobre Gaza, que é governada pelo Hamas.

Segundo Anais Antreasyan do Journal of Palestine Studies, da Universidade da Califórnia, o mais respeitado jornal de língua inglesa dedicado ao conflito Israel-árabe, o estrangulamento de Israel sobre Gaza foi concebido para fazer "o acesso palestiniano ao gás Marine-1 e Marine-2 poços impossíveis". A meta de longo prazo de Israel "além de prevenir que os palestinianos explorarem os seus próprios recursos, é integrar os campos de gás na costa de Gaza nas instalações offshore israelitas adjacentes." Isso faz parte de uma estratégia mais ampla de:

".... separar os palestinianos das suas terras e dos seus recursos naturais, a fim de explorá-los, e, como consequência, bloqueando o desenvolvimento económico palestiniano. Apesar de todos os acordos formais em contrário, Israel continua a gerir todos os recursos naturais nominalmente sob a jurisdição da AP, a partir de terra e água os recursos marítimos e de hidrocarbonetos. "

Para o governo israelita, o Hamas continua a ser o principal obstáculo para a conclusão do negócio de gás. Nas palavras do ministro da Defesa em exercício: "A experiência de Israel durante os anos de Oslo indica que os lucros de gás palestinianos provavelmente acabem por financiar o terrorismo contra Israel. A ameaça não se limita ao Hamas ... É impossível evitar que pelo menos alguns dos lucros do gás cheguem a grupos terroristas palestinianos".

A única opção, portanto, é mais uma "operação militar para erradicar o Hamas".

Infelizmente, para o IDF erradicar o Hamas significa destruir as bases de apoio civil do grupo - que é por isso que as vítimas civis palestinianas maciçamente superam a dos israelitas. Ambos são obviamente repreensíveis, mas a capacidade de Israel de infligir destruição é simplesmente muito maior.

Na esteira da Operação Chumbo Fundido, o Comité Público contra a Tortura em Israel (PCATI) com sede em Jerusalém constatou que a IDF tinha adoptado uma doutrina de combate mais agressivo com base em dois princípios - "zero baixas" para os soldados das FDI com o custo de implantação de cada vez maior poder de fogo indiscriminado em áreas densamente povoadas, e a "doutrina Dahiya" promovendo os disparos sobre infra-estruturas civis para criar um sofrimento generalizado entre a população, com vista a fomentar a oposição aos adversários de Israel.

Isto foi confirmado na prática pela missão de investigação da ONU em Gaza, que concluiu que o IDF tinha seguido uma "política deliberada de força desproporcional", visando a "infra-estrutura de apoio" do inimigo - "isto parece ter implicado a população civil ", refere o relatório da ONU.

O conflito Israel-Palestiniano não é claramente tudo sobre recursos. Mas numa época de energia cara, a concorrência para dominar combustíveis fósseis regionais está cada vez mais a influenciar as decisões críticas que podem inflamar a guerra.


Dr. Nafeez Ahmed é um jornalista da segurança internacional e académico. Ele é o autor do Guia do Utilizador para a Crise de Civilização: E como salvá-la.



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quinta-feira, 17 de julho de 2014

ISRAEL LANÇOU HOJE UMA OFENSIVA MILITAR CONTRA O POVO PALESTINIANO DE GAZA E O HAMAS

ISRAEL LANÇOU HOJE UMA OFENSIVA MILITAR CONTRA O POVO PALESTINIANO DE GAZA E O HAMAS


O Exército israelita lançou hoje uma operação terrestre na Faixa de Gaza, depois de dez dias de ataques aéreos maciços incessante provocando 227 mortos, e mais de 1.600 feridos, a incursão de hoje faz já um total de 326 ataques nas últimas 24 horas em resposta ao lançamento de foguetes a partir de Gaza.





AVIÃO DE PASSAGEIROS DA MALÁSIA ABATIDO NA UCRÂNIA PERTO DA FRONTEIRA RUSSA FAZ 295 MORTOS

AVIÃO DE PASSAGEIROS DA MALÁSIA ABATIDO NA UCRÂNIA PERTO DA FRONTEIRA RUSSA FAZ 295 MORTOS




Um avião de passageiros das linhas aéreas da Malásia, um Boeing 777- 200 MH 017 vindo de Amesterdão foi derrubado sobre a Ucrânia oriental, perto da região de Shakhtersk Donetsk esta quinta-feira, matando todas os 295 passageiros e tripulação, a queda do avião ocorreu onde existe um conflito entre Kiev e os rebeldes pró-Moscovo, em que a Rússia e o Ocidente estão envolvidos. A caixa negra do avião foi encontrada e foi enviada para Moscovo.




sexta-feira, 11 de julho de 2014

ISRAEL COMETE CRIMES DE GUERRA ABOMINÁVEIS CONTRA PALESTINIANOS EM GAZA

ISRAEL COMETE CRIMES DE GUERRA ABOMINÁVEIS CONTRA PALESTINIANOS EM GAZA




Há já pelo menos 105 palestinianos mortos e 700 feridos desde o início dos ataques israelitas, segundo o Ministério da Saúde palestino no bombardeamento à Faixa de Gaza no seu quarto dia. Segundo relatos da Al Jazeera na sexta-feira, pelo menos 200 casas no território foram destruídas na ofensiva, e "mais de 3.000 casas foram parcialmente destruídas pelos ataques aéreos que ocorrem aqui a cada quatro minutos e meio", relatou a correspondente da Al-Jazeera. Segundo Avichay Adraee, porta-voz do Exército israelita, disse que foram já atingidos mais de 1.100 alvos em Gaza desde o início da ofensiva, e que "ainda há centenas para terminar". Sexta-feira 11 de Julho 2014.











quinta-feira, 10 de julho de 2014

O PRÓXIMO PASSO DE ISRAEL: UMA GRANDE INVASÃO DA FAIXA DE GAZA

sábado, 5 de julho de 2014

O QUE ESCONDE A PARCERIA TRANSATLÂNTICA (TTIP) ?

O QUE ESCONDE A PARCERIA TRANSATLÂNTICA (TTIP) ?


De acordo com as notícias das negociações, eis o que está em causa para os países da União Europeia :


PROTECÇÃO AMBIENTAL: Diminuição dos padrões de protecção ambiental. Autorização da exploração de gás de xisto (fracking) . Venda de produtos com químicos não testados. Desregulação dos níveis de emissões no sector da aviação.

SEGURANÇA ALIMENTAR: Concorrência agressiva das empresas agroindustriais dos EUA. Autorização dos Organismos Geneticamente Modificados. Utilização de hormonas de crescimento na carne. Desinfecção de carne com cloro.

EMPREGO: Falsas promessas de um aumento do número de postos de trabalho. Aumento do desemprego em vários sectores, não estando prevista a atenuação dos efeitos negativos da Parceria. Diminuição dos Direitos Laborais e salários. Aumento da precariedade.

SAÚDE: Aumento da duração das patentes dos medicamentos,impossibilitando a venda de genéricos a preços mais acessíveis. Serviços de emergência poderão ser privatizados. Venda de produtos com químicos não testados.

LIBERDADE E PRIVACIDADE: Tentativa de ressuscitar a ACTA. Violação da privacidade e liberdade de expressão. Transformar os fornecedores de internet numa força policial de vigilância privada do sector empresarial. Bloqueio de projectos de investigação. Fortalecimento dos Direitos de Propriedade Intelectual.

SERVIÇOS FINANCEIROS: Liberalização e desregulamentação dos serviços financeiros. Maior participação do sector financeiro no processo legislativo. Maior liberdade na criação de novos produtos financeiros. Maior facilidade de deslocação dos bancos para países com impostos mais baixos.

O TTIP/TAFTA  _____________________________


O TTIP, TAFTA ou Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento é um acordo de livre comércio e investimento entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA) que está neste momento em fase de negociações.

UE e EUA juntos, representam 60% do PIB mundial, 33% do comércio mundial de bens e 42% do comércio mundial de serviços.

A Comissão Europeia estima que a PTCI impulsionará a economia da UE em 120 mil milhões de euros, e a economia dos EUA em 90 mil milhões de euros e no resto do mundo em 100 € mil milhões de euros .

Todavia, os estudos da Comissão baseiam-se em variáveis irrealistas e não tomam em consideração o cálculo do custo-benefício entre os eventuais lucros face ao impacto da harmonização da regulamentação e dos processos de litígio dos investidores contra os Estados.(ver contra-argumentação detalhada aqui)

Mesmo contando com o processo de consulta á sociedade civil, o processo de negociação da Parceria é opaco e anti-democrático, está a decorrer entre empresas e a UE e EUA, longe da vista dos cidadãos europeus.

A Comissão Europeia aconselha aos Estados uma estratégia de divulgação da PTCI “radicalmente diferente” do habitual, “devendo incidir sobre a análise dos aspectos positivos do acordo para cada Estado-Membro”.

Dado o facto de os impostos alfandegários entre UE e EUA já serem baixos, o objectivo das negociações consiste na harmonização de legislação entre UE e EUA.

A harmonização de regulamentação significa harmonizar a regulamentação entre a UE e os EUA no sentido do menor denominador comum, para uma forma de regulamentação mais permissiva.

Para tal, está a ser discutida a criação de um Conselho de Cooperação para a Regulamentação, composto membros não eleitos, que será capaz de criar e substituir a legislação da UE, dando forma, a um “acordo vivo” continuando a legislar para o futuro.

No momento , o objectivo principal é a criação da estrutura da PTCI, todas as medidas que são exigidas pelos intervinientes não serão incluidas no texto do acordo, serão depois discutidas e decididas pelo Conselho de Cooperação para a Regulamentação, por detrás de portas.

A PTCI incluirá também mecanismos para a resolução de conflitos entre Investidor e Estado, permitindo que as empresas transnacionais processem governos, fora dos seus tribunais nacionais, pela perda de lucros futuros resultantes de acções por parte do governo, como por exemplo, uma nova legislação nacional ,votada de forma democrática.

A contestação contra este tipo de mecanismo tem vindo a aumentar, e vários países já abandonaram este mecanismo, por não ser garantida a imparcialidade dos árbitros, pois além de provirem normalmente de grandes escritórios internacionais de advogados e serem pagos principescamente, não existe um código de ética, podendo estes estar a defender num caso um País e em outro ser o advogado da parte contrária a esse mesmo País, sendo que o número de casos em que a empresa ganha o caso é manifestamente superior ao número de casos em que o país ganha o processo.

Os acordos anteriores demonstram que este mecanismo leva, ou a grandes pagamentos por parte dos países às empresas internacionais ou à dissuasão da actividade legislativa.

O Parlamento Europeu só terá o direito de dizer sim ou não ao acordo , sem possibilidade de efectuar qualquer alteração. A PTCI poderá entrar em vigor provisoriamente, antes mesmo de os parlamentos dos Estados-Membros a ratificarem.

Todos os dados existentes advém dos comunicados dos lobbies ou de documentos “leakados” por ONG´s . Os pontos referidos abaixo resumem esses dados, considerando alguns casos internacionais de outros acordos, em que os EUA e UE são parte.

Alguns dos impactos da PTCI não são novidade.

Nos países da UE que foram objecto de programas de ajustamento estrutural da TROIKA, tal como Portugal, a maioria das medidas está em vias de , ou já foi aplicada .

As negociações começaram em Julho de 2013 e prevê-se que o sejam concluidas em meados de 2016.

Fonte: http://parceriatransatlantica.wordpress.com/

sexta-feira, 4 de julho de 2014

GUERRA ENTRE A CHINA E OS EUA SERÁ INEVITÁVEL ?

GUERRA ENTRE A CHINA E OS EUA SERÁ INEVITÁVEL ?

Uma guerra entre os EUA e a China é quase inevitável, considera o professor Michael Vlahos do Instituto de Guerra Naval (Naval War College) dos EUA. Num artigo publicado na revista The National Interest, o autor apresenta 10 argumentos a favor de sua tese.

Por Leonid Kovachich

Outros peritos, contudo, pensam não existir quaisquer fundamentos para uma confrontação entre a China e os EUA.

A luta pelas matérias-primas entre os EUA e a China, o receio de uma expansão económica da China, as crescentes ambições geopolíticas chinesas – tudo isto, na opinião de Michael Vlahos, tem criado ao longo dos anos um terreno fértil para o amadurecimento de um conflito militar. Mas desta vez a situação atingiu o limite.

O professor norte-americano chama a atenção para o facto de a possibilidade de a China participar em guerras futuras já ser abertamente discutido nos principais médias chineses. A televisão estatal transmite séries patrióticas, nos quais o exército chinês desempenha o papel de vingador por todos os séculos de ataques aos interesses chineses e pelos agravos que a China sofreu dos outros países. A guerra é apresentada como a solução para repor a justiça histórica e para o renascimento da grande nação chinesa.

Logo, as autoridades chinesas estão se preparando para uma guerra séria, já que se começou a formar a opinião pública nesse sentido, considera o professor norte americano. Mas Michael Vlahos, por qualquer razão, não dá muita importância ao facto de, no plano técnico-militar, a China continuar a não poder competir com os Estados Unidos. Será que a China iria arriscar tudo com base no princípio que o mais importante não é a força, mas o espírito combativo?

Parecem ainda mais forçados os argumentos do professor norte-americano sobre os objectivos da China numa guerra contra os EUA. Os actuais norte-americanos, escreve Michael Vlahos, perderam com o desmembramento da URSS o seu sonho principal que era derrotar seu inimigo mais perigoso. Depois da Segunda Guerra Mundial nem os japoneses, nem os russos, nem os radicais islâmicos justificaram as esperanças dos EUA em travar uma guerra em grande escala. Já a China satisfaz todos os critérios para ser o “vilão principal”, conclui Vlahos.

Quase simultaneamente com a publicação do artigo do professor norte-americano no The National Interest, o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington divulgou um relatório chamado “Análise da estratégia chinesa para se tornar uma super-potência em desenvolvimento na Ásia”. Esse relatório argumenta o oposto: não existem quaisquer fundamentos para um confronto militar entre a China e os EUA, nem se prevêem nos tempos mais próximos.


Os autores do relatório referem que, em primeiro lugar, nas relações entre os EUA e a China não existem disputas territoriais. Em segundo lugar, apesar de a China aumentar rapidamente o seu potencial militar, a China não tem qualquer capacidade para levar a cabo uma corrida ao armamento como o fazia a União Soviética. Finalmente, um conflito militar entre os EUA e a China é impossível nem que seja por os dois países serem extremamente dependentes um do outro, acrescenta o analista Leonid Ivashov:

“Os norte-americanos não conseguiram reestruturar rapidamente a sua economia, incluindo a indústria, para abastecer o seu mercado de produtos baratos. Os chineses, com os seus volumes de produção, também não conseguirão encontrar outro mercado como esse. Por isso, é inútil falar de qualquer guerra. Nenhuma das partes está interessada em criar problemas com a outra.”

Poderá surgir a questão: por que razão então o presidente chinês Xi Jinping consolida na sua pessoa o poder sobre todas as esferas de actividade do estado, inclusive sobre o exército? Ele lidera mesmo o grupo para a reforma do exército. Os últimos acontecimentos, nomeadamente a detenção do antigo vice do Conselho Central Militar Xi Caihou, apenas alimentam a teoria anti-chinesa da conspiração.

Os peritos do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais referem que essas mudanças só por si não revelam nada de extraordinário. Neste momento a China está concentrada na defesa da soberania do seu território e das vias mais importantes para o transporte de hidrocarbonetos – através do mar da China Meridional e pelo estreito de Malaca. Já a declaração, feita pelo presidente Xi Jinping na 3ª reunião plenária do 18º mandato do Comité Central do Partido Comunista Chinês que a China se deve tornar numa forte potência naval, deve ser analisada como um apelo ao aumento da capacidade de defesa do país e não como uma preparação para um ataque militar, referem os autores do relatório.

Claro que a China está preocupada com a política norte-americana de “regresso à Ásia”, mas a China irá sobretudo combater os EUA pela influência na região da Ásia-Pacífico através do poder económico. Portanto, não existem quaisquer fundamentos para uma agressão militar por parte da China, concluem os especialistas do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

SERÁ QUE O EURO TEM FUTURO ?

SERÁ QUE O EURO TEM FUTURO ?



Por Tatiana Golovanova

Por outro lado, a utilização do dólar significava apoio político a Washington. Passadas décadas, a Europa formou a sua própria união e o dólar obteve uma alternativa em forma do euro. Mas esta moeda também demostrou seus lados fracos.
 
Há muito tempo que os países europeus tentavam criar algo que pudesse substituir o dólar em transacções. A primeira andorinha foi o ECU (European Currency Unit – Unidade de Conta Europeia). Mas a divisa não apoiada económica, geográfica e politicamente não conseguiu ganhar grande envergadura. Ao mesmo tempo, no pano de fundo da unificação da Europa, o surgimento do euro em vez de moedas nacionais, parecia um passo lógico. A União Europeia constituiu também o Banco Central Europeu, estrutura semelhante à Reserva Federal dos EUA, que passou a controlar a vida do euro.

As primeiras moedas da alternativa europeia apareceram em 2002. Actualmente, 18 países da Europa fazem parte da zona do euro. Em Novembro de 2013, circulavam 951 bilhões de euros em dinheiro físico, fazendo com que esta moeda tivesse o maior valor sumário de dinheiro de contado na circulação, superando por este indicador até o dólar americano. Andrei Gritsenko, economista profissional, aponta prós e contras da divisa única:

“A própria divisa permite em primeiro lugar simplificar e regularizar as relações comerciais dentro da Europa. Um dos vários problemas característicos para todos os países da União Europeia, é que o euro é nivelado pela moeda mais forte da zona euro”.

Contudo, o principal problema do euro reside neste último aspecto. Todos os defeitos do sistema financeiro europeu e da divisa europeia única se revelaram na fase crítica da crise do euro. Quando países meridionais da União Europeia ficaram à beira da falência, foi preciso salvá-los envidando também esforços conjuntos. A Alemanha teve de pagar mais que os restantes países, enquanto economia mais forte da Europa. O país foi obrigado a conceder biliões de euros e a perdoar uma parte de dívidas de vários Estados, inclusive de Portugal, Grécia, Espanha e Chipre.

A passagem para o euro dividiu a zona euro em dois campos. Os países ricos tornaram-se ainda mais ricos e os pobres, ainda mais pobres. Comenta o analista Roman Tkachuk:

“Por que razão aconteceu isto? Por exemplo, um país passa da sua moeda para o euro, o que automaticamente encarece a sua produção interna, ou seja os pagamentos aos trabalhadores, os salários e o preço de custo cresce, a rentabilidade cai e o país torna-se ainda mais pobre. Na Alemanha, a locomotiva da economia europeia, tudo acontece ao contrário, a divisa comum permite atrair trabalhadores estrangeiros, torna mais barata a produção, reforçando em resultados a economia alemã”.

Será que o euro conseguiu substituir o dólar em 12 anos da existência? A moeda, sem dúvida, simplificou a vida dos europeus comuns que trabalham num país da zona euro e vivem num outro. Mas a maioria das operações financeiras internacionais da zona do euro continua a ser efectuada em dólares. Contudo, é indiscutível o fato de o euro ter afastado o seu concorrente na posição de liderança, bastando para isso ver a tabela de cotação das divisas, diz Roman Tkachuk:

“É difícil comparar duas divisas. Repare-se contudo que quando surgiu o euro, existiu uma paridade: a cotação do euro foi igual à do dólar. A seguir, a cotação do euro cresceu, chegando até a 1,5 dólares. Por que razão se formou tal cotação? Porque os participantes do mercado e investidores avaliam exactamente assim a economia da União Europeia em relação à economia dos Estados Unidos. Consideramos que esta é uma avaliação objectiva, porque o mercado considera todos os novos pormenores”.

A partir do próximo ano, a zona euro terá um novo membro – a Lituânia. Apesar de os lituanos desaprovarem tal passo, as autoridades do país preparam a passagem para o euro e as lojas terão novas listas de preços.

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