BANKSTER
O favorecimento ao sector financeiro só é possível porque os banqueiros dominam a vida política em Portugal
Por: Paulo Morais, professor universitário
Os bancos portugueses estão sem dinheiro e perderam a
credibilidade. Limitam-se agora a sugar os recursos duma economia que
deviam apoiar mas apenas parasitam.
Estão hoje, na
generalidade, descapitalizados. A abarrotar com créditos incobráveis,
os bancos escondem ainda uma bolha imobiliária gigantesca, resultante de
empréstimos mal concedidos e até arbitrários.
Depois
de anos de má gestão e escândalos, os bancos estão agora de mão
estendida. Mais uma vez, o estado português virá em seu auxílio,
desviando recursos da economia real. Dos 78 mil milhões recebidos da
troika, cerca de quinze por cento destinam-se a apoiar a banca. E
adivinha-se que nem sequer será pela via de empréstimos, pois os bancos
não quererão devolver o dinheiro. Será em alguns casos sob a forma de
aumento de capital, mas sem que o estado sequer intervenha na gestão. O
estado paga, mas não manda.
Estas situações de
favorecimento ao sector financeiro só são possíveis porque os banqueiros
dominam a vida política em Portugal. É da banca privada que saem muitos
dos destacados políticos, ministros e deputados. E é também nos bancos
que se asilam muitos ex--políticos.
Alguns, mais
promíscuos, mantêm ligações ao sector financeiro em simultâneo com o
desempenho de funções públicas. Há situações que assumem mesmo foro de
indecência, como a de Vera Jardim, que acumulava a presidência da
comissão parlamentar de combate à corrupção com a superintendência do
Banco Bilbao Viscaya; ou a do deputado Frasquilho, que integra o grupo
encarregado de fiscalizar o plano de assistência financeira e trabalha
no BES, potencial beneficiário desse mesmo programa. Até na supervisão, o
insuspeito Banco de Portugal acolhe nos seus órgãos sociais
celebridades ligadas à banca privada, como António de Sousa ou Almerindo
Marques. Incumbidos de se pronunciarem sobre a actividade do banco
central, controlam a entidade que supervisiona o sector onde trabalham.
Com
estas artimanhas, os banqueiros dominam a vida política, garantem
cumplicidade de governos, neutralizam a regulação. Têm o caminho livre
para sugar os parcos recursos que restam. Já não são banqueiros, parecem
gangsters, ou seja, banksters.
In Correio da Manhã
19 de Junho de 2012