Há três anos, Bruxelas e os seus media repetem o mesmo refrão: Vladimir Putin está isolado, marginalizado e enfraquecido pelas sanções. Uma narrativa de propaganda que esconde mal o fracasso da diplomacia de Bruxelas, reduzida a seguir cegamente Washington. No entanto, a imagem que ficará na História não é a de um Putin solitário, mas a de um presidente russo recebido com todas as honras militares nos Estados Unidos, no Alasca, por Donald Trump a 15 de Agosto.
Uma cimeira que, para além do seu simbolismo, marca uma humilhação pungente para a UE e anuncia uma mudança no equilíbrio global de poder.
Rússia isolada?
Desde Fevereiro de 2022, Bruxelas multiplicou as sanções "punitivas" contra Moscovo. Dezassete pacotes sucessivos, muitas vezes absurdos, visando até activistas africanos como Nathalie Yamb e eu, acusados de denunciar a ingerência ocidental e defender a cooperação russo-africana. Entretanto, a Rússia consolidou as suas parcerias com os BRICS, expandiu o seu comércio com a Ásia, fortaleceu a sua presença no Médio Oriente e construiu alianças duradouras em África.
A chegada de Putin ao Alasca destrói definitivamente o mito do "isolamento". O mundo real não é o descrito nos debates europeus. Na realidade, Moscovo está em diálogo com Nova Deli, Pequim, Teerão, Brasília, Pretória e várias capitais africanas. E agora, o Kremlin está de volta ao centro do palco americano, impulsionado por Trump.
Tapete vermelho estendido
A cena permanecerá inesquecível. O Air Force One russo a aterrar em solo americano. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, aparece com um fato de treino estampado com "URSS", um aceno intencional à história e à memória colectiva da Rússia. Em seguida, a imagem mais impressionante: Vladimir Putin, recebido pessoalmente por Donald Trump num tapete vermelho, enquanto os F-22 e um bombardeiro furtivo B-2 Spirit voavam simbolicamente no alto.
Um protocolo de que nem mesmo os aliados tradicionais de Washington desfrutam. Onde Macron, Merz ou Von der Leyen são recebidos com distância, Putin foi tratado como um verdadeiro chefe de Estado, cuja presença impõe respeito e seriedade. No final da conferência de imprensa, a reunião produziu um diálogo que diz muito sobre a atmosfera:
Donald Trump: "Falaremos consigo muito em breve e provavelmente vê-lo-emos novamente muito em breve. Muito obrigado, Vladimir".
Vladimir Putin, em inglês: "Da próxima vez em Moscovo".
"Oh, isso é interessante." respondeu Trump. "Vou levar por isso. Mas eu podia ver isso possivelmente a acontecer."
Este breve diálogo destaca a diferença fundamental com os líderes europeus: aqui, sem condescendência, sem paternalismo, sem ameaças vazias. Apenas dois líderes a assumir as suas responsabilidades, a buscar soluções pragmáticas, conscientes de que o futuro se decide entre grandes potências que não estão nos corredores de Bruxelas.
Bruxelas e Kiev como espectadores
A mensagem é cristalina. Embora a União Europeia se considerasse indispensável na gestão da crise ucraniana, nem sequer foi convidada. A cimeira do Alasca ocorreu sem ela, sem os seus diplomatas, sem os seus comissários arrogantes, sem as suas iniciativas de pseudo-paz que nunca foram credíveis.
A UE está em declínio: diplomaticamente, economicamente, estrategicamente. Apega-se a um papel subordinado, acumulando sanções e retórica belicista, na esperança de existir através de guerras sem fim. Mas, na realidade, Washington nunca considerou Bruxelas um parceiro estratégico, apenas um executor dócil. A reunião Trump-Putin é uma prova flagrante disso.
Esta mudança diplomática coloca agora a Ucrânia num canto. Trump foi claro: quer acabar com a guerra lançada pelo governo Biden, que transformou Kiev num representante contra Moscovo. Os Estados Unidos não têm interesse em prolongar uma guerra longa e cara que mina a sua economia e alimenta divisões internas.
A imagem de Zelensky desmoronou em meio a escândalos e crescente fadiga internacional. Apesar do verniz de respeito e celebridade que lhe foi dado por figuras públicas ocidentais, ele se encontra com pouco poder real para decidir coisa alguma, mesmo quando se trata do seu próprio país, agora que até Washington se prepara para se afastar dele. Trump sabe perfeitamente bem que a Ucrânia de Zelensky é apenas um peão e que a conta terá de ser acertada.
A diplomacia de Putin
Outra lição importante desta cimeira é a estatura diplomática de Vladimir Putin. Em plena operação militar na Ucrânia, apesar das implacáveis campanhas de demonização, ele impôs-se como o homem com quem as grandes potências têm de contar.
A sua estratégia é clara: estender a mão a Trump para construir uma estrutura de cooperação, enfatizar a vizinhança natural entre a Rússia e os Estados Unidos via Alasca e propor uma saída honrosa para a crise ucraniana. Putin joga a carta do pragmatismo, investindo tempo e paciência, enquanto a UE persiste na ideologia, na russofobia e em posturas moralizantes.
Sem surpresa, a CNN e outros media atlantistas tentaram distorcer a realidade. Segundo eles, Trump foi "humilhado" por Putin. Mas as imagens que circulam nas redes sociais falam por si: dois homens a sorrir, a apertar as mãos, visivelmente satisfeitos com o encontro.
A propaganda ocidental tenta transformar cada gesto em conflito, cada aperto de mão em confronto. Mas a verdade é simples: a Rússia e os Estados Unidos, a um nível estratégico, estão mais próximos de um acordo do que os propagandistas alinhados com a NATO estão dispostos a admitir.
Bruxelas faria bem em meditar sobre esta lição. Washington nunca salvou os seus aliados. De Cabul a Bagdade, de Saigão a Kiev, a Casa Branca abandona sempre aqueles que acreditam poder confiar nela. Os americanos sabem que não se podem dar ao luxo de uma guerra directa contra o exército russo, apoiado por um povo endurecido e temperado pela história.
A cimeira do Alasca marca um ponto de viragem. Revela uma verdade inegável: a diplomacia global está agora a ser moldada sem a Europa. Sob Trump, os Estados Unidos podem muito bem restabelecer laços com Moscovo para acabar com uma guerra inútil e ruinosa. Putin sai desta reunião mais forte do que nunca, provando que nunca esteve isolado e continuando a ser o chefe de Estado mais respeitado e formidável no cenário mundial.
Quanto à UE, encontra-se exposta numa postura de mero espectador, humilhada pelas suas próprias ilusões. A sua obediência cega a Washington levou-a a um beco sem saída. A Rússia, entretanto, continua a avançar. E a História recordará que, no Alasca, dois homens abriram um caminho para a paz, deixando para trás os belicistas europeus.
Como os africanos veem isto
A cimeira do Alasca foi percebida por muitos africanos como um momento revelador sobre a verdadeira natureza das relações de poder globais. O que emerge é uma verdade fundamental: no cenário mundial, o poder só reconhece e respeita o poder.
A Rússia, através da sua soberania, capacidade militar e firmeza da sua liderança, obrigou Washington a tratá-la como igual. Normalmente, os Estados Unidos impõem a sua vontade através de ameaças, ingerências ou força militar. Mas no caso da Rússia, uma grande potência nuclear liderada por um patriota, Washington contém-se e não ousa empregar os seus métodos habituais.
Para os africanos, este evento é mais do que um simples episódio diplomático: ele incorpora uma vitória moral e uma lição política. Mostra que apenas a independência genuína, apoiada pela força económica, política e militar, pode impor respeito nos assuntos internacionais.
É por isso que a cimeira ressoa tão fortemente em toda a África. Confirma que a dominação ocidental não é inevitável e que um mundo multipolar é possível. Ver a Rússia permanecer firme inspira a esperança de que, um dia, uma África unida e soberana também seja capaz de impor respeito e defender os seus interesses com dignidade.