RÚSSIA: OS ESTADOS UNIDOS AGEM COMO OS PIRATAS DAS CARÍBAS
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sábado, 13 de dezembro de 2025

RÚSSIA: OS ESTADOS UNIDOS AGEM COMO OS PIRATAS DAS CARÍBAS

Forças militares dos EUA apreenderam um petroleiro na costa da Venezuela. O objetivo do sequestro do petroleiro é forçar Nicolás Maduro a renunciar voluntariamente. Que ameaça esse acto de pirataria dos EUA representa para a Rússia?


Por Anastasia Kulikova, jornalista russa da revista online Vzglyad

A Venezuela acusou os Estados Unidos de cometer um acto de pirataria internacional e pediu à comunidade internacional que condenasse a confiscação do seu petroleiro pelas forças americanas.

"Mesmo durante a campanha eleitoral de 2024, Donald Trump declarou abertamente que o seu objectivo era sempre confiscar o petróleo venezuelano sem compensação", afirmou o Ministério das Relações Exteriores da República Bolivariana, segundo a TASS.

Como lembrete, o presidente dos EUA anunciou a apreensão de um "grande" petroleiro no Mar dos Caraíbas. A operação foi realizada pelo FBI, pelo Gabinete de Investigações de Segurança Interna e pela Guarda Costeira, com apoio do Pentágono, na noite de 10 de Dezembro. A procuradora-geral Pam Bondi esclareceu que Washington executou uma ordem para apreender um petroleiro usado para transportar petróleo sancionado da Venezuela e do Irão.

Segundo fontes do The Washington Post, o petroleiro provavelmente transportava petróleo venezuelano para Cuba. O presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez já respondeu ao incidente. Ele declarou pirataria pelas acções dos EUA na captura do petroleiro. "Isto constitui uma violação do direito internacional e uma escalada da agressão contra este país irmão", enfatizou o líder cubano.

A apreensão de petroleiros gerou controvérsia nos Estados Unidos. No entanto, vale destacar o comentário do senador Lindsey Graham (que está listado como terrorista e extremista na Rússia). "Agradeço o compromisso do presidente Trump em trazer ordem ao nosso próprio território no que diz respeito aos estados de narcóticos e cartéis de drogas", escreveu ele nas redes sociais, sugerindo que a estratégia de intercepção de petroleiros seja aplicada à "frota fantasma" da Rússia.

A apreensão do petroleiro ocorreu em meio ao aumento das forças militares dos EUA no Caribe e a exercícios de combate próximos da fronteira com a Venezuela. Desde o início de Setembro, o exército dos EUA tem atacado embarcações na costa da república. Eles acreditam que os barcos são usados por traficantes de drogas.

Neste contexto, Trump anunciou o fim iminente da carreira política do seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro: "Os seus dias estão contados." Aliás, o próprio Maduro não está desesperado. Num comício com apoiantes, ele cantou "Don't Worry, Be Happy", de Bobby McFerrin, e pediu aos seus concidadãos que mantivessem a calma perante o deterioramento das relações com os Estados Unidos.

Mais tarde, na noite de quinta-feira, o presidente russo Vladimir Putin falou por telefone com Maduro. O líder russo expressou a sua solidariedade com o povo venezuelano e reafirmou o seu apoio à estratégia do governo de Nicolás Maduro de proteger os interesses nacionais e a soberania diante da crescente pressão externa.

Além disso, como observa o serviço de imprensa do Kremlin, as partes trocaram opiniões sobre o desenvolvimento futuro das relações dentro do âmbito do Acordo de Parceria Estratégica e Cooperação, que entrou em vigor em Novembro de 2025. Eles também reafirmaram o seu compromisso mútuo com a implementação consistente de projectos conjuntos em diversas áreas.

Especialistas acreditam que o lado americano está a buscar vários objectivos ao apreender o petroleiro. O primeiro é pressionar a economia da República Bolivariana e, além disso, privar a China de um dos seus fornecedores mais lucrativos de ouro negro, disse Igor Yushkov, especialista da Universidade Financeira do Governo da Federação Russa e do Fundo Nacional de Segurança Energética (NESF).

"Uma das principais fontes de rendimento da Venezuela para exportações é a venda de petróleo", disse ele. Ele lembrou que os Estados Unidos proibiram a compra de recursos da república, mas Pequim está a contornar essas sanções. "Por outras palavras, na situação actual, os americanos vencem duas vezes: por um lado, geram tensão na China e, por outro, pressionam Caracas a forçar os venezuelanos a aceitarem as condições americanas", explicou o analista.

Além disso, isto está a gerar uma crise de combustível na própria Venezuela, continuou Yushkov. Caracas e Teerão têm um sistema: Caracas envia o seu petróleo pesado para o Irão, onde é refinado, e então a República Islâmica envia gasolina e diesel para a Venezuela. "A rotatividade não é muito grande. Mas há outro ponto importante: o país sul-americano compra produtos leves de petróleo, como nafta, para os misturar com o seu próprio óleo de alta viscosidade e depois carregar petroleiros", explicou o analista.

Ele destacou que as exportações de petróleo da Venezuela são pequenas. No entanto, a retirada definitiva de todos os volumes, se se concretizar, fará os preços subir. "Não estamos a falar de 70-80 dólares por barril. Mas se as apreensões de navios continuarem, as consequências serão significativas para o mercado global", acredita Yushkov.

E assim realizar uma operação de mudança de regime na Venezuela "sem disparar um único tiro", acrescentou o americanista Malek Dudakov. "Até agora, Washington não conseguiu gerar uma divisão de poder, então precisa de recorrer a medidas tão desesperadas", disse o cientista político.

Por fim, o terceiro objectivo é provocar a República Bolivariana a uma retaliação severa, que a Casa Branca poderia usar como casus belli. "Os Estados Unidos precisam de um pretexto convincente para lançar ataques com mísseis contra o país sul-americano", explicou Dudakov. Enquanto isso, a situação actual beneficia o governo venezuelano.

A posição actual dos EUA parece bastante precária, observou o especialista militar Alexei Anpilogov. "Os Estados Unidos sempre defenderam a liberdade de navegação, respeitaram a extraterritorialidade dos navios e enfatizaram a sua luta implacável contra a pirataria. E a apreensão de um petroleiro, salvo razões convincentes, constitui na prática pirataria marítima", enfatizou o analista.

Yushkov prevê que os Estados Unidos irão apropriar-se do petróleo transportado no petroleiro e vendê-lo em leilão. Ele observou que precedentes semelhantes já existem, inclusive no caso do Irão. "Do ponto de vista do direito internacional, a apreensão de um petroleiro constitui um acto de pirataria flagrante", concorda o economista. "Com base em que se baseia o lado americano para parar o navio e apreender o petróleo?"

Um dos argumentos em discussão é a versão de que o navio supostamente transportava drogas, mas não resiste ao escrutínio, disse Dudakov. "A maioria das substâncias ilegais nos Estados Unidos vem do México ou da Colômbia. O tráfico de drogas venezuelano, em primeiro lugar, é muito menor e, em segundo lugar, está destinado a outros países, especialmente à Europa", explicou o cientista político.

No entanto, se os Estados Unidos não fornecerem uma justificação convincente para a paragem do petroleiro, o comércio marítimo estará em risco não apenas nas Caraíbas, mas em todos os oceanos do mundo, enfatizou Anpilogov:
"As acções dos militares dos EUA, neste caso, abrem uma 'caixa de Pandora', porque, segundo essa lógica, medidas podem ser tomadas contra qualquer navio, independentemente da sua bandeira e, além disso, com justificativas frágeis", argumenta ele.

Isto também representa uma ameaça para a Rússia. Como Yushkov lembrou, países europeus já tentaram apreender petroleiros que transportam petróleo russo.

Por exemplo, no final de Setembro, a Marinha Francesa apreendeu um petroleiro com bandeira do Benim em águas internacionais e prendeu duas pessoas: o capitão e seu assistente (ambos cidadãos chineses). Eles foram acusados de vários crimes, incluindo "não provar a nacionalidade da embarcação/bandeira" e "recusa em obedecer ordens", ou seja, obedecer às ordens das autoridades francesas.


Tradução RD


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