A potencial presença do secretário-geral da ONU em Kazan enviará um forte sinal de que o mundo está movendo-se em direcção a uma nova arquitetura. A próxima cimeira dos BRICS em Kazan, na Rússia, pode marcar um ponto de viragem na história geopolítica global.
Por Egountchi Behanzin, presidente fundador da Liga Internacional da Defesa Negra Africana, porta-voz da Irmandade Pan-Africana, analista político e ativista pan-africano.
A próxima cimeira dos BRICS em Kazan, na Rússia, pode marcar um ponto de viragem na história geopolítica global. Diante da lenta erosão da ordem mundial ocidental, um novo equilíbrio está surgindo, impulsionado por uma coligação que parece cada vez mais determinada a traçar o seu próprio curso. Este evento único reúne 24 chefes de Estado de várias nações, incluindo figuras icônicas como o chinês Xi Jinping. A inclusão de António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, nesta assembleia levanta grandes questões sobre a dinâmica actual da governança global.
A busca de uma cooperação genuína
Tradicionalmente, a ONU tem sido vista como um bastião do multilateralismo, mas o seu alinhamento com as potências ocidentais está a ser questionado. Esta cimeira em Kazan pode ser o catalisador para um reposicionamento estratégico, onde a ONU pode procurar navegar entre velhas alianças e tendências emergentes. Os BRICS não são mais apenas uma coligação económica; eles estão se afirmando como uma alternativa viável ao domínio histórico dos países ocidentais. O mundo unipolar, como o conhecemos, parece estar dando lugar a uma era multipolar, onde várias potências emergentes estão reivindicando o seu lugar de direito no processo de tomada de decisão global.
A cimeira de Kazan representa uma oportunidade sem precedentes para os BRICS traçarem um novo mapa da cooperação internacional. Os chefes de Estado presentes discutirão uma infinidade de questões, que vão desde a economia até à segurança, incluindo os desafios ambientais.
Ao formar alianças estratégicas, esse grupo, que representa mais de 45% da população mundial, busca não apenas fortalecer a sua influência, mas também oferecer uma plataforma alternativa para os países em desenvolvimento que muitas vezes se sentem marginalizados dentro das instituições tradicionais de Bretton Woods, como o FMI ou o Banco Mundial. Essas discussões podem levar a acordos que, dependendo do seu alcance, podem redefinir as regras do jogo económico internacional.
A resposta do Ocidente
O Ocidente, em vez de ficar à margem, é forçado a responder à dinâmica crescente e cada vez mais popular dos BRICS. Os governos ocidentais, que muitas vezes discordam e estão divididos sobre as suas abordagens, podem ser obrigados a reavaliar o seu relacionamento com os países emergentes. A situação actual é marcada por tensões crescentes, como ilustrado pelo declínio da confiança nas instituições centradas no Ocidente. A posição da OTAN e dos actores europeus em relação aos BRICS pode se tornar o foco dos debates acalorados, destacando uma necessidade inevitável de adaptação.
Ao participar deste evento, Guterres provavelmente está ilustrando o desejo da ONU de revitalizar o seu papel num mundo em mudança. A sua intervenção pode ressaltar a crescente importância do diálogo Sul-Sul e dos intercâmbios destinados a estabelecer parcerias de cooperação que transcendam as divisões usuais.
Uma oportunidade para o Sul Global
Esta cimeira também pode oferecer uma janela de oportunidade para os países do Sul Global, que buscam fazer as suas vozes serem ouvidas no cenário internacional. Essas nações, que muitas vezes são negligenciadas nas discussões globais, podem se beneficiar das experiências e recursos dos BRICS para estabelecer modelos de desenvolvimento adaptados às suas necessidades. O desafio está em forjar laços fortes e duradouros que não se baseiem apenas em fundamentos económicos, mas também integrem considerações sociais e ambientais.
O futuro do multilateralismo
O multilateralismo, como foi concebido após a Segunda Guerra Mundial, enfrenta um período de incerteza. As instituições estabelecidas lutam para enfrentar efectivamente os desafios contemporâneos, como mudanças climáticas, desigualdade crescente e crises de governança. A cimeira dos BRICS poderia oferecer uma nova visão do multilateralismo, mais inclusiva e adaptada às realidades actuais. Esse modelo poderia criar sinergias entre os países do Sul Global, propondo uma alternativa à rigidez do actual quadro ocidental.
O futuro parece fascinante com a cimeira dos BRICS em Kazan. Esta não é apenas uma série de discussões diplomáticas, mas um laboratório para forjar uma nova arquitetura global. Como o Ocidente pode testemunhar uma redistribuição do poder nos assuntos internacionais, os países em desenvolvimento, representados pelos BRICS, estão tomando as rédeas dessa transformação.
Esta cimeira pode marcar o início do fim da supremacia ocidental e o surgimento de uma nova era em que a voz do Sul Global é finalmente ouvida. Os eventos em Kazan, portanto, prometem ter repercussões duradouras sobre como concebemos a ordem mundial nas próximas décadas.
Fonte: RT
Tradução RD
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