
A ONU, através da MINUSCA (Missão Multidimensional Integrada de Estabilização na República Centro-Africana), e a União Europeia têm tentado evitar que o país mergulhe numa guerra civil prolongada. Portugal tem desempenhado um papel relevante nestas missões.
1. Integração nas missões de paz internacionais
A República Centro-Africana (RCA) vive, há décadas, sob um ciclo de instabilidade política, violência de milícias e exploração de recursos naturais. A ONU, através da MINUSCA (Missão Multidimensional Integrada de Estabilização na República Centro-Africana), e a União Europeia têm tentado evitar que o país mergulhe numa guerra civil prolongada. Portugal tem desempenhado um papel relevante nestas missões, enviando contingentes militares altamente preparados, sobretudo forças especiais.
No entanto, a presença portuguesa ocorre num terreno cada vez mais disputado. Rússia e Ruanda reforçam o seu controlo direto sobre a segurança do regime, enquanto os europeus e a ONU são muitas vezes empurrados para papéis mais marginais ou simbólicos. Assim, a contribuição portuguesa, embora significativa em termos de prestígio internacional, enfrenta limitações práticas e estratégicas.
2. Política de recursos naturais
A RCA é riquíssima em ouro, urânio, ferro, diamantes e madeira tropical, recursos que se tornaram a principal moeda de troca para garantir apoio militar estrangeiro. O pedido recente da Rússia para substituir o grupo Wagner pelo chamado “Africa Corps”, controlado diretamente pelo Ministério da Defesa russo, veio acompanhado da exigência de pagamento em dinheiro vivo. O governo de Touadéra, porém, prefere liquidar dívidas e serviços militares com concessões mineiras.
Este modelo cria uma forma de neo-colonialismo económico, onde potências externas controlam setores inteiros em troca de “segurança”. Para países como Portugal, que participam em missões internacionais, isso coloca desafios éticos e políticos: até que ponto a presença portuguesa está a contribuir para a estabilização ou, indiretamente, a legitimar um sistema onde recursos são apropriados por potências externas?
3. Dinâmica do poder local e legitimação
O presidente Faustin-Archange Touadéra procura um terceiro mandato, algo que depende de manipulações constitucionais e do uso da força para sufocar oposição. A dependência crescente de tropas estrangeiras (russas e ruandesas) mostra que o poder do governo central é frágil e profundamente condicionado por apoios externos.
Para Portugal, a questão central é diplomática: como alinhar a sua presença no terreno com os princípios europeus de promoção da democracia e direitos humanos? Ao participar nas missões de paz, Lisboa projeta uma imagem de estabilidade e compromisso com a segurança internacional, mas inevitavelmente choca com a realidade de um governo local cada vez menos democrático.
4. Pressões internacionais e alinhamentos diplomáticos
A geopolítica da RCA tornou-se um campo de competição direta entre grandes potências: Rússia, França (antiga potência colonial), China e, em menor escala, os EUA. Cada intervenção externa molda não só o equilíbrio interno, mas também as perceções internacionais.
Portugal, como membro da União Europeia e aliado da NATO, tem de se posicionar cuidadosamente. A nível da UE, Lisboa participa nos debates sobre sanções, financiamento de missões e direitos humanos na RCA. No Conselho de Segurança da ONU, onde muitas vezes apoia resoluções sobre paz e segurança africana, Portugal tenta manter um equilíbrio entre defesa de valores democráticos e necessidade de pragmatismo no terreno.
Este posicionamento dá visibilidade internacional a Portugal, mas também pode expô-lo a pressões, especialmente se o conflito se transformar em palco para a rivalidade direta entre Moscovo e Bruxelas.
República Digital
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