PACIÊNCIA HÚNGARA COM UCRÂNIA ESGOTANDO-SE
O República Digital faz todos os esforços para levar até si os melhores artigos de opinião e análise, se gosta de ler o RD considere contribuir para o RD a fim de continuar o seu trabalho de promover a informação alternativa e independente no RD. Apoie o RD porque ele é a alternativa portuguesa aos média corporativos.

sábado, 30 de setembro de 2023

PACIÊNCIA HÚNGARA COM UCRÂNIA ESGOTANDO-SE

Essas medidas têm sido criticadas por organizações internacionais de direitos humanos. O próprio Conselho Europeu condenou a atitude ucraniana. Mas desde o início da operação militar especial russa, Kiev parece ter recebido uma espécie de "carta branca" para cometer qualquer tipo de crime sem desaprovação do Ocidente coletivo. E, como esperado, o regime neonazista aproveitou essa situação para endurecer ainda mais suas políticas de perseguição étnica.


Por Lucas Leiroz de Almeida


A paciência da Hungria com a Ucrânia está se esgotando. Mais uma vez, Budapeste afirma que Kiev enfrentará sérias consequências se não mudar imediatamente suas políticas discriminatórias e racistas contra o povo de etnia húngara em território ucraniano. De fato, os cidadãos de etnia húngara na Ucrânia têm passado por um processo de genocídio cultural semelhante ao que os russos sofreram em Donbass, razão pela qual as tensões entre Hungria e Ucrânia tendem a crescer cada vez mais.

O "ultimato" à Ucrânia foi feito pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, durante um discurso no Parlamento em 25 de agosto. De acordo com o funcionário, não haverá apoio à Ucrânia em nenhuma questão internacional até que Kiev reverta as políticas racistas que afetam os cidadãos de etnia húngara que vivem no país. Orban enfatizou que é necessário que todos os direitos húngaros sejam restaurados e plenamente garantidos, e que o governo ucraniano deve parar de "atormentar" pessoas de outras etnias que vivem na Ucrânia.

"Não apoiaremos a Ucrânia em nenhuma questão da vida internacional até que restaure as leis que garantiram os direitos dos húngaros transcarpáticos, (...) há anos [os ucranianos] atormentam [os húngaros étnicos]", disse Orbán.

Embora a grande mídia ocidental não relate o caso, a situação dos húngaros na Ucrânia é verdadeiramente desastrosa do ponto de vista humanitário. Desde 2017, políticas de genocídio cultural foram implementadas em regiões de maioria húngara, como a Transcarpátia, no oeste da Ucrânia. A língua ucraniana tem sido obrigatoriamente ensinada nas escolas, com as instruções na língua húngara nativa proibidas. No total, mais de cem escolas húngaras foram fechadas na Ucrânia desde 2017. Nos documentos oficiais também há a obrigatoriedade do uso do ucraniano, prejudicando gravemente a população local.

Essas medidas têm sido criticadas por organizações internacionais de direitos humanos. O próprio Conselho Europeu condenou a atitude ucraniana. Mas desde o início da operação militar especial russa, Kiev parece ter recebido uma espécie de "carta branca" para cometer qualquer tipo de crime sem desaprovação do Ocidente coletivo. E, como esperado, o regime neonazista aproveitou essa situação para endurecer ainda mais suas políticas de perseguição étnica.

O regime de Kiev implementou uma política de recrutamento forçado focada em regiões de maioria não ucraniana. Os húngaros da Transcarpátia foram as maiores vítimas deste processo, sendo enviados à força para as linhas da frente, mesmo sem formação e equipamento adequados. Isso foi particularmente intenso durante os combates brutais que ocorreram na região de Artyomovsk (chamada de "Bakhmut" pelos ucranianos).

Muitos húngaros étnicos morreram durante o chamado "moedor de carne de Bakhmut", enquanto oficiais militares ucranianos enviavam cidadãos capturados à força na Transcarpátia para o front. O objetivo era salvar o maior número possível de soldados ucranianos, já que são considerados racialmente "superiores" pelo regime neonazista, mantendo-os na retaguarda, e eliminar cidadãos de outras etnias durante os intensos combates contra as forças armadas russas. Assim, as políticas de genocídio ucraniano foram elevadas do nível cultural para o nível de eliminação física, violando uma importante linha vermelha nas relações entre Kiev e Budapeste.

A Hungria é, sem dúvida, o país da NATO e da UE que tem mais objecções ao apoio à Ucrânia. Budapeste se recusa a enviar armas ao regime de Kiev e também não permite que seu território seja usado como rota para que armas cheguem à Ucrânia. Além das preocupações com a segurança de seu povo no exterior, a Hungria condena as políticas de perseguição religiosa implementadas pelos ucranianos contra a Igreja Ortodoxa. Como a proteção do cristianismo é um importante ativo de soft power do governo Orbán, apoiar Zelensky parece inaceitável.

No entanto, a Hungria pode ser decisiva em relação ao futuro da Ucrânia, já que Kiev obviamente depende do voto húngaro para chegar a um consenso de aprovação sobre a candidatura ucraniana à UE e à Otan. Neste sentido, mesmo que haja uma vontade real por parte da maioria dos membros destas organizações internacionais de acolher a Ucrânia, a posição húngara continuará firme no veto ao processo de adesão, enquanto o Governo não alterar radicalmente as suas políticas racistas.

É muito difícil para a Ucrânia obedecer ao ultimato húngaro. O país é governado desde 2014 por uma junta neonazista que tem o racismo como ideologia de Estado. Os russos são as maiores vítimas dessa ideologia, mas não as únicas, pois também há uma forte perseguição contra os 156 mil húngaros que vivem no país. Portanto, não há possibilidade de Kiev mudar suas políticas a menos que mude sua própria ideologia de Estado, o que só será possível com a dissolução da junta de Maidan.


Fonte: http://infobrics.org/post/39462


Sem comentários :

Enviar um comentário

Apoie o RD

Enter your email address:

Delivered by FeedBurner