ALGUNS ELEMENTOS DE ANÁLISE ACERCA DA SITUAÇÃO PALESTINIANA
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domingo, 15 de outubro de 2023

ALGUNS ELEMENTOS DE ANÁLISE ACERCA DA SITUAÇÃO PALESTINIANA

O massacre selvagem desencadeado pelo estado de Israel sobre a população civil de Gaza que se seguiu foi acompanhado pelo infame apoio ao estado sionista por parte dos EUA e da UE, bem como por todos os meios de comunicação “ocidentais”.

Veja o vídeo abaixo

Tudo o que publicam os grandes meios de comunicação, desde a primeira letra até a última, e hoje mais do que nunca, é propaganda de guerra. Sabemos, ou deveríamos saber, que os seus proprietários são os grandes fundos de investimento, as empresas multinacionais e os principais bancos, todos eles em grande medida penetrados pelo grande capital sionista. Por outro lado, os meios alternativos, muitos deles bem intencionados, dão crédito a ficções propagadas por aqueles mesmos meios, ou a análises falsas que contribuem para estender a confusão e, em definitivo, tentar minar a solidariedade com a Palestina. Essas “notícias” centram-se hoje em atribuir exclusivamente ao Hamas – organização islamita e portanto pouco confiável – as acções militares palestinianas do dia 7 de Outubro contra o estado sionistas e em difundir que o governo de Netanyahu estava a par de tudo e que teria facilitado o ataque para distrair a atenção das suas dificuldades internas.

A confusão subjacente a estas análises e consequência dessa tendência tão extensa de analisar os acontecimentos a partir do instantâneo do momento, ignorando ou afastando os processos históricos que os explicam.

A linha geral que forjou o plano político implementado pelo imperialismo sionista no Oriente Próximo foi aplicar o “divide e impera” para submeter e dominar seus povos. Seu instrumento foi a instigação das diferenças religiosas, étnicas ou estatais, em virtude de, nestas últimas, de fronteiras desenhadas pelas potências coloniais. Além disso, sua nova estratégia foi armar, organizar e por ao seu serviço o islamismo mais integrista e retrógrado (Al Qaeda, ISIS, Boko Haram, etc). Estas organizações funcionaram como milícias subcontratadas para destruir e saquear esses países. Esta estratégia foi aplicada na guerra Irão-Iraque, na ocupação do Iraque, Líbia, Iémen, Síria, muito antes na Jugoslávia e agora na Ucrânia.

A vitória do Líbano, a primeira de um país árabe contra Israel, no ano de 2006, marca um ponto de ruptura. O Hezbollah foi capaz de promover uma aliança com forças cristãs, comunistas e de outros credos e ideologias para confrontar e vencer o estado sionista. Além disso, começou a erigir, na base desta vitória histórica, o Eixo da Resistência Anti-imperialista e Anti-sionista, como Bloco Histórico – explicitamente relacionaram-no com o conceito de bloco histórico gramsciano – laico, em escala regional. Fizeram-no na base, profundamente inscrita no sentimento árabe e muçulmano, de considerar a luta do povo palestiniano contra o estado sionista, como coluna vertebral de toda a sua estratégia.

Sobre estes fundamentos, estritamente políticos, começou-se a articular o Eixo da Resistência. Este posicionamento político levou-o a apoiar militarmente a Síria, o Iémen e qualquer povo, sobretudo o palestiniano, actuando como uma frente comum a partir da qual se lutava contra o imperialismo sionista. Este processo permitiu algo inédito na Palestina, que se foi forjando ao longo dos anos.

Forças que se haviam enfrentado, inclusive militarmente, como o Hamas, a Jihad Islâmica ou a Frente Popular para a Libertação da Palestina, foram superando suas diferenças para conseguir articular uma frente comum contra o inimigo sionista e desmascarar a cumplicidade com o ocupante da Autoridade Nacional Palestina praguejada de corrupção.

Foi esta nova perspectiva histórica que permitiu esta nova vitória da Resistência Palestina. A unidade política e militar da Resistência é o produto necessário do desenvolvimento deste caminho de confluência árabe e muçulmana, anti-imperialista e anti-sionista que, obviamente, se vê favorecido pelas mudanças no cenário internacional que representam o apoio da Rússia ao governo sírio ou a nova incorporação aos BRICS do Irão, Egipto ou Emirados Árabes Unidos. Tal como o que ocorreu em 2006, e como ocorre em qualquer vitória de um povo contra um inimigo potencialmente mais poderoso, a capacidade da Resistência Palestiniana para levar a cabo acções da envergadura que temos visto representa, sobretudo, o mito da invulnerabilidade do inimigo. A demonstração prática de que é possível vencer o exército mais poderoso da região, e um dos mais fortes do mundo, é a maior potência que estrutura e se incorpora à luta de massas, antes esmagadas pelo sentimento de impotência.

Mas qualquer um que assuma a determinação de lutar contra uma força incomparavelmente maior, não o faz de peito descoberto, frontalmente. Um dos elementos fundamentais é conhecer as contradições internas do inimigo e atacar quando a sua debilidade é maior. O ataque da Resistência Palestiniana preparado desde há tempos, que também tem os seus serviços de inteligência, verificou-se no momento mais adequado, quando o Estado de Israel estava mais debilitado.

O massacre selvagem desencadeado pelo estado de Israel sobre a população civil de Gaza que se seguiu foi acompanhado pelo infame apoio ao estado sionista por parte dos EUA e da UE, bem como por todos os meios de comunicação “ocidentais”.

Durante 75 anos o estado de Israel martirizou o povo palestiniano, apesar de 60% das Resoluções da Assembleia da ONU desde 1948 serem de condenação ao estado sionista e de apoio aos direitos do povo palestiniano, inclusive o seu direito à defesa militar. Nenhuma foi cumprida, mas cumpre-se sim o infame Acordo Comercial Preferencial entre a UE e Israel de 1997, subordinado em teoria ao respeito dos Direitos Humanos do povo palestiniano.

O povo palestiniano e as suas organizações compreenderam que o direito internacional não existe e que só a sua unidade, a sua determinação de combater a qualquer preço e a sua inscrição num processo mais amplo de luta regional contra a dominação e o saqueio dos seus recursos, abre caminhos de vitória.

A resposta solidária que se está a verificar em todos os países do mundo e, sobretudo nos povos árabes e muçulmanos, é um abalo e uma ameaça contra os governos subornados cúmplices do imperialismo sionista. Agora não se trata só de denunciar os reiterados massacres e de solidariedade com as vítimas. Na base da demonstração de que é possível efetuar ataques como o que foi efetuado pela Resistência Palestiniana, o qual mostra que inimigo supostamente todo-poderoso não é invulnerável, a solidariedade internacional tem um novo alcance. É o apoio à luta armada de um povo contra a ocupação.

Compreender no seu conjunto, na sua totalidade, os processos históricos é condição indispensável para que os povos não sejam cúmplices, involuntários ou não, da propaganda do inimigo. Os tempos estão a mudar. Regados com o sangue dos mártires que os povos demonstraram ao longo de tantos anos de luta e de resistência, o palestiniano sobretudo, mas também os de outros lugares, estão a abrir-se caminhos de esperança que só são possíveis mediante a luta decidida – também frente à sua propaganda – contra o imperialismo sionista.

Fonte: resistir.info

















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