FRANCESCA ALBANESE, RELATORA DA ONU PARA A PALESTINA SANCIONADA PELOS EUA: "DENUNCIEI O GENOCÍDIO, NÃO VAMOS PARAR"
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sábado, 12 de julho de 2025

FRANCESCA ALBANESE, RELATORA DA ONU PARA A PALESTINA SANCIONADA PELOS EUA: "DENUNCIEI O GENOCÍDIO, NÃO VAMOS PARAR"

O primeiro funcionário da ONU a ser sancionado pelos Estados Unidos não recua: "Os poderosos punem aqueles que defendem os que não têm voz. Eu não vou parar." | Foto: Jure Makovez / AFP


Francesca Albanese, relatora especial da ONU para a situação nos territórios palestinianos ocupados, reagiu à imposição de sanções por parte do governo Trump com uma publicação na plataforma X: "Os poderosos punem aqueles que falam pelos que não têm voz, não é um sinal de força, mas de culpa"

Na quarta-feira, numa tentativa de atingir opositores da ofensiva militar de Israel em Gaza — já com 21 meses de duração — o Departamento de Estado dos EUA impôs sanções contra Albanese, que desempenha um papel independente na monitorização de violações dos direitos humanos na Cisjordânia e em Gaza.

Na quinta-feira, através de novas publicações, Albanese apelou à união e à solidariedade internacional: "Vamos permanecer unidos, de cabeça erguida.". Pediu ainda que o mundo não desvie a atenção da crise humanitária em Gaza: "Todos os olhos devem permanecer focados em Gaza, onde crianças morrem de fome nos braços das suas mães, enquanto pais e irmãos são despedaçados por bombas enquanto procuram comida."

Em entrevista ao vivo ao Middle East Eye, Albanese afirmou: "Parece ter tocado num nervo. Mas minha preocupação é que as pessoas continuem morrendo em Gaza enquanto falamos, e a ONU é totalmente impotente para intervir."

Jurista especializada em direitos humanos, Albanese tem-se destacado como uma das críticas mais contundentes da atuação israelita, que ela classifica como “genocídio” — uma acusação firmemente rejeitada tanto por Telavive quanto por Washington. Apesar disso, Israel enfrenta actualmente processos no Tribunal Internacional de Justiça por genocídio, bem como no Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra.

As medidas sancionatórias contra Albanese representam um precedente preocupante, segundo um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, recordando que os relatores especiais não são subordinados ao secretário-geral e exercem as suas funções de forma totalmente independente. Também o presidente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Jürg Lauber, lamentou a posição dos EUA, apelando aos Estados-membros para que respeitem e colaborem com os mandatos dos relatores, sem recorrer a intimidações.

Volker Türk, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, solicitou que cessem os ataques e ameaças dirigidos a funcionários da ONU e de outras entidades internacionais, como o TPI, cujos magistrados também foram alvo de sanções por parte dos EUA.

Nas últimas semanas, Albanese tem defendido a aplicação de sanções contra Israel como forma de pôr fim aos bombardeamentos em Gaza. Tem também apoiado publicamente o pedido de emissão de mandado de captura internacional contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, por crimes de guerra. Num relatório recente, denunciou ainda o envolvimento de algumas empresas norte-americanas no apoio à ocupação israelita.

O secretário de Estado norte-americano justificou as sanções alegando que as declarações de Albanese constituem "uma campanha de guerra política e económica contra os Estados Unidos e Israel". O governo Trump tem promovido, há meses, uma ampla estratégia de repressão contra vozes críticas a Israel, incluindo detenções e expulsões de estudantes e docentes norte-americanos que participaram em manifestações pró-Palestina.

Numa declaração divulgada pela AFP, Albanese comentou: "É um recorde: sou a primeira pessoa da ONU a sofrer sanções... Para quê? Por denunciar um genocídio? Por ter desmascarado um sistema? Eles nunca contestaram o que eu disse sobre o mérito. Dei a essas empresas a oportunidade de me negar ou corrigir-me. Em vez disso, eles foram reclamar com o governo dos EUA, pedindo-lhes que me tratassem como eles fazem. Está tudo bem. Isso diz muito sobre quem eu sou. Vou continuar a fazer o que tenho que fazer. Claro, será um desafio. Mas o que eu quero dizer é: eu sou apenas um ser humano. Eu nem sou paga para fazer o que faço. Estou a colocar tudo o que tenho em risco. Se eu posso fazer isso, então você, seu povo, seus políticos, meu povo podem fazer pelo menos isso. Juntos, podemos suportar essa pressão."

A jurista italiana e relatora da ONU para a Palestina, disse ainda que o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu deve ser julgado pelo TPI.

No último relatório sobre a situação em Gaza, Francesca Albanese referiu que 45 empresas privadas obtêm lucros à custa da destruição de vidas inocentes, entre as quais as companhias norte-americanas Google, Microsoft, Amazon e IBM.

A organização não-governamental Amnistia Internacional considerou vergonhosa e vingativa a aplicação de sanções contra Francesca Albanesa.

Em Itália, uma petição através da internet de apoio à relatora obteve 15 mil assinaturas em apenas duas horas, segundo os promotores.

Os peticionários pedem que seja garantida a proteção diplomática da relatora da ONU e que o nome de Albanese seja apresentado oficialmente como candidata ao Prémio Nobel da Paz.

"As pessoas em Gaza morrem de fome, de miséria ou debaixo de bombas", disse Albanese recordando que no enclave foram mortas 60 mil pessoas, entre as quais 18 mil crianças.







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