abril 2021
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terça-feira, 13 de abril de 2021

RIVALIDADES INTRA-EUROPEIAS E EVOLUÇÃO DAS INSTITUIÇÕES


Por Thierry Meyssan

As agências de imprensa difundiram amplamente imagens da Cimeira União Europeia/Turquia em Ancara, em 6 de Abril de 2021. Nelas vê-se o Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, receber o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Layen. Há apenas dois cadeirões para três pessoas. A Srª von der Layen, após ter ficado um momento de pé vai sentar-se num sofá.

Os média europeus interpretaram estas imagens como um insulto dirigido pelo autocrata turco à União Europeia. Alguns viram nisso uma confirmação do seu machismo. Ora, isso é absolutamente falso e mascara um grave problema no seio da União Europeia.

A entrevista deveria ter tido lugar em Bruxelas, e o Presidente Erdoğan fez tudo o qu era possível para que se realizasse em sua casa, em Ancara. Ela foi preparada telefonicamente pelos serviços do protocolo de ambas as partes. A disposição da sala de audiências estava em conformidade com as exigências da União Europeia. Não foi o Presidente Erdoğan quem quis humilhar Ursula von der Layen.

Para compreender o que se passou, é preciso situar o acontecimento no contexto da evolução das instituições da União.

Em 25 de Março, ou seja treze dias antes da reunião de Ancara, o Conselho de Chefes de Estado e de Governo europeu esteve em sessão. Devido à epidemia de Covid, a reunião não foi física, mas por videoconferência. Ela juntou os 27 Chefes de Estado sob a presidência de Charles Michel, mais o seu verdadeiro Chefe: o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden [1]. Este confirmou, sem rodeios, que Washington precisava de uma União Europeia forte às suas ordens. Deu várias instruções, nomeadamente a de manter boas relações com a Turquia apesar dos diferentes litígios actuais (delimitação de fronteiras no Mediterrâneo oriental; ocupação militar em Chipre, no Iraque e na Síria; violação do embargo onusino na Líbia; interferência religiosa na Europa).

É claro que o Presidente Trump tinha a intenção de substituir as relações imperiais dos EUA por relações comerciais. Ele pusera em causa tanto a OTAN como a União Europeia. Ele colocara os Europeus perante as suas responsabilidades. Ora, a tentativa de voltar a devolver os Estados Unidos à organização do mundo herdada da Segunda Guerra Mundial não encontrou oposição. Todos os dirigentes europeus acham mais confortável colocar a sua Defesa sob o «guarda-chuva americano», e pagar o preço por isso.

A União Europeia foi construída em várias etapas.

- No início, em 1949, os Estados Unidos e o Reino Unido colocaram toda a Europa Ocidental no seio de uma aliança desigual, a OTAN. Eles pretendiam reger a zona de influência que tinham negociado com a União Soviética. Posteriormente, em 1957, encorajaram os seis Estados membros da OTAN (dos quais um ocupado militarmente por eles) a concluir o Tratado de Roma que deu origem à Comunidade Económica Europeia, ancestral da União Europeia. Esse novo órgão deveria estruturar um mercado comum impondo normas comerciais fixadas pela OTAN. Foi por isso que a CEE foi organizada em volta de dois Poderes: uma burocracia, a Comissão, encarregada de traduzir em legislação local as normas anglo-saxónicas da OTAN e um Conselho de Chefes de Estado e de Governo encarregue de por em prática essas decisões nos seus próprios países. Tudo sob o controle de uma Assembleia Parlamentar composta por delegados dos parlamentos nacionais.

- Tendo este dispositivo da Guerra Fria sido concebido contra a URSS, a sua finalidade foi posta em questão com o desaparecimento desta, em 1991. Depois de muitas peripécias, Washington impôs uma nova arquitectura: o Secretário de Estado James Baker anunciou, antes da realização do Conselho de Chefes de Estado e de Governo europeus-ocidentais, que a OTAN e a CEE, renomeada União Europeia, aceitariam no seu seio todos os Estados do antigo Pacto de Varsóvia, excepto a Rússia. As instituições, imaginadas para 6 Estados membros, tiveram de ser reformadas para poder ser utilizadas a 28, ou até mais.

- Quando o Presidente Trump decidiu desvincular o seu país das suas obrigações imperiais, alguns responsáveis europeus pensaram transformar a União Europeia numa superpotência independente e soberana, modelada à imagem dos Estados Unidos, em detrimento dos Estados membros. Censuraram o orçamento da Itália e colocaram a Hungria e a Polónia em julgamento. Mas encontraram muita resistência e não conseguiram transformar a Comissão num superestado. O retorno do padrinho EUA com o Presidente Biden permite vislumbrar um novo resultado institucional: a Comissão continuará a traduzir em legislação europeia as normas cada vez numerosas da OTAN e o Conselho a implementá-las nosrepectivos Direitos nacionais, mas dado o número dos Estados membros, uma função executiva deverá ser outorgada ao seu Presidente (agora Charles Michel).

Até à data, os presidentes da Comissão e do Conselho estavam em igualdade. Se o Presidente da Comissão estava à cabeça de uma imponente burocracia, o do Conselho era uma personagem sem envergadura, apenas responsável por definir a ordem do dia e registar (registrar-br) as decisões. No entanto, nenhum dos dois é eleito, são apenas funcionários. Tendo ambos protocolarmente o mesmo estatuto.

Assim, Charles Michel indicou ao seu comparsa Recep Tayyip Erdoğan que ambicionava tornar-se o super-chefe de Estado da União, enquanto a Presidente da Comissão, Ursula von der Layen, não passaria da sua super- «Primeira-Ministro».

Foi Charles Michel, e apenas ele, quem provocou o «incidente protocolar» de Ancara. O Presidente Erdoğan ficou muito feliz em prestar-lhe este favor porque assim dividiu os Unionistas europeus. Se virem os vídeos com muita atenção, constatarão que Charles Michel sobe os degraus do Palácio Branco sem esperar por Ursula von der Leyen, depois precipita-se para o cadeirão disponível e agarra-se a ele em vez de deixar o lugar para a Srª von der Leyen ou deixar a sala com ela se não lhe trouxessem um cadeirão extra. Se lerem a declaração dele depois de sair da reunião, vereis que nem sequer evoca o incidente [2]. Se observarem os vídeos turcos do mesmo incidente, constatarão que o sofá em que se senta a Presidente da Comissão está voltado para um outro onde se senta o Ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br) turco, Mevlüt Çavuşoğlu, de acordo com as instruções do Protocolo Europeu. Com efeito, já não há Primeiro-Ministro na Turquia uma vez que o regime se tornou presidencialista. O Sr. Çavuşoğlu, senta-se, portanto, legitimamente face à «Primeira-Ministra» europeia.

Não se trata de um incidente diplomático, mas de uma tentativa de Charles Michel se arrogar um poder dentro da União em detrimento desta. A batalha está apenas a começar.

Fonte: Rede Voltaire

domingo, 4 de abril de 2021

ENQUANTO OS TANQUES RUSSOS SE MOVEM EM DIRECÇÃO À UCRÂNIA, O MUNDO PREPARA-SE PARA A POSSIBILIDADE DA 3ª GUERRA MUNDIAL


Por Michael Snyder

A esta hora, mais forças militares russas estão concentradas perto das fronteiras da Ucrânia do que jamais vimos. Os líderes militares ocidentais dizem que estão preocupados que os movimentos de tropas que testemunhamos nos últimos dias possam estar levando a uma invasão e, se uma invasão acontecer, será um grande teste à determinação do governo Biden, dos líderes da UE e do alto escalão da OTAN. Em particular, os falcões do governo Biden quase certamente não estariam dispostos a simplesmente sentar e deixar os russos conquistarem toda a Ucrânia. Provavelmente haveria uma grande resposta por parte dos Estados Unidos, e isso poderia desencadear uma reacção em cadeia que acabaria por desencadear a 3ª Guerra Mundial.

Então, o que fez os russos moverem repentinamente uma força de invasão maciça para a Ucrânia?

Bem, acontece que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky essencialmente assinou uma declaração de guerra contra a Rússia em 24 de Março. O documento que ele assinou é conhecido como Decreto nº 117/2021, e você não vai ler nada sobre ele na média corporativa.

Realmente tive que cavar para encontrar o Decreto nº 117/2021, mas acabei encontrando . Peguei vários dos parágrafos do início do documento e os corri no Google Translate ...

De acordo com o Artigo 107 da Constituição da Ucrânia, decreto:

1. Para colocar em vigor a decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia de 11 de Março de 2021 "Sobre a Estratégia de desocupação e reintegração do território temporariamente ocupado da República Autónoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol" (anexo) .

2. Aprovar a Estratégia de desocupação e reintegração do território temporariamente ocupado da República Autónoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol (anexo).

3. O controle sobre a implementação da decisão do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, promulgada por este Decreto, caberá ao Secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia.

4. O presente Decreto entra em vigor na data da sua publicação.

Presidente da Ucrânia V.ZELENSKY

24 de Março de 2021

Basicamente, este decreto torna a política oficial do governo da Ucrânia a retomada da Crimeia da Rússia.

É claro que os russos nunca entregarão a Crimeia de bom grado porque a consideram território russo e, portanto, a Ucrânia teria de tomá-la à força.

Esta é essencialmente uma declaração de guerra contra a Rússia, e Zelensky nunca teria assinado tal documento sem a aprovação do governo Biden.

Após a assinatura do Decreto nº 117/2021, começamos a ver as forças russas entrando na Crimeia e em áreas mantidas pelos separatistas no leste da Ucrânia em um ritmo impressionante.

Por exemplo, você pode assistir a uma coluna de tanques russos sendo transportados por ferrovia bem aqui .

Os russos estão levando a declaração de guerra de Zelensky muito a sério, mas a média corporativa do mundo ocidental está culpando a “agressão russa” pelo aumento das tensões na região.

Mas a verdade é que os russos nunca teriam feito nenhuma dessas manobras se os fomentadores de guerra no governo Biden não tivessem dado luz verde a Zelensky para assinar o Decreto nº 117/2021.

E o que a maioria das pessoas no mundo ocidental não sabe é que a luta já começou na Ucrânia. O cessar-fogo acordado em Julho de 2020 foi violado centenas de vezes na semana passada ...

A missão civil de monitoramento especial da OSCE na Ucrânia relatou centenas de violações do cessar-fogo nos últimos dias. Em 26 de Março, quatro soldados ucranianos foram mortos e outros dois ficaram feridos na parte oriental do país.

Os militares ucranianos disseram que seus soldados foram atingidos por um ataque de morteiro que atribuiu às tropas russas. A Rússia nega ter presença militar no leste da Ucrânia, onde apoia forças separatistas.

Neste ponto, o cessar-fogo de Julho de 2020 está completamente morto.

Em resposta aos combates renovados, o Comando Europeu dos EUA “elevou seu status de alerta ao mais alto nível” ...

O Comando Europeu dos EUA elevou seu status de alerta ao mais alto nível após o recomeço dos combates entre separatistas apoiados pela Rússia e soldados ucranianos na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, marcando o fim de um cessar-fogo de Junho de 2020, e as forças russas começaram a construir equipamento militar ao longo do fronteira.

E acabamos de saber que o presidente dos chefes conjuntos, na verdade, teve uma ligação telefónica com seu homólogo na Rússia na quarta - feira para abordar a situação cada vez pior ...

Em nota divulgada no Facebook na quarta-feira, o Ministério da Defesa russo disse que, por iniciativa dos Estados Unidos, o presidente do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, conversou por telefone com seu homólogo. “Foram discutidas questões de interesse mútuo”, disse o comunicado.

Nos próximos dias, a média corporativa do mundo ocidental continuará falando sobre a “agressão russa”, e os russos continuarão culpando Zelensky e o governo Biden pelo aumento das tensões na região.

No final das contas, poderíamos passar incontáveis ​​horas debatendo quem está certo e quem está errado.

Mas o que realmente importa é evitar que isso se transforme em um conflito global. Porque se alguém fizer algo realmente estúpido e os russos sentirem necessidade de enviar sua força de invasão à Ucrânia, nunca haverá mais volta.

Eu tenho sido aviso sobre um futuro conflito entre os Estados Unidos e a Rússia para um tempo muito longo , e nós nunca ter sido mais perto do que estamos agora.

Com Trump na Casa Branca, as relações com a Rússia eram relativamente estáveis, mas agora Joe Biden está no comando.

Biden é um cabeça quente que mostra sinais de declínio cognitivo avançado e está cercado por uma equipe de fomentadores de guerra que estão determinados a colocar o presidente russo, Vladimir Putin, em seu lugar.

Os presidiários estão administrando o asilo, e não será preciso muito engano para que as coisas dêem terrivelmente, terrivelmente errado.

Fonte: Global Research

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