novembro 2018
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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A UNIÃO EUROPEIA CRIA A SUA PRÓPRIA ESCOLA DE ESPIÕES


A União Europeia tem agora um programa chamado "Cooperação Estruturada Permanente" (PESCO). Embora tenha sido incluído no Tratado de Lisboa, a PESCO não entrou em vigor até 2017. O seu objectivo é criar capacidades comuns, mesmo que não exista um exército europeu. A PESCO não funciona por consenso, mas de acordo com um sistema complexo de maioria qualificada que concede um poder de veto ao conjunto franco-alemão.

É neste quadro que os países membros da União Europeia - com excepção da Dinamarca, Malta e Reino Unido - decidiram, em 19 de Novembro de 2018, criar uma escola de espionagem baseada em Chipre e sob a direcção da Grécia. .

Esta decisão é tomada precisamente no momento em que o Reino Unido deixa a União Europeia. Antes, Londres bloqueou o projecto porque, em vez de integrar-se na UE, preferiu manter o seu corpo de inteligência na grande corporação anglo-saxónica de espionagem, chamada «The Five Eyes» (os "Cinco Olhos"), que reúne as agências. de inteligência da Austrália, Canadá, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido.

Os diferentes países membros da União Europeia terão agora que ir além das suas culturas nacionais e partilhar os seus vários métodos de espionagem. Este processo promete ser muito complicado, especialmente porque alguns participantes estimam que uma escola de espionagem baseada em Chipre será muito vulnerável aos serviços de inteligência do Reino Unido, Turquia, Israel e Rússia.



domingo, 18 de novembro de 2018

ITÁLIA DE LUVA BRANCA DESAFIA O SISTEMA DE BRUXELAS



Por Arkady Savitsky

A UE teve muitos problemas em suas mãos, pois os seus membros, como a Polónia e a Hungria, estão a desafiar abertamente a ordem estabelecida. Desta vez é uma situação muito grave, porque Bruxelas está a enfrentar o desafio da Itália, a terceira  maior economia nacional na zona do euro e a 8 ª maior economia mundial em termos de PIB nominal.Tem uma população de mais de 60 milhões. É também um país da Europa e membro fundador do bloco.

O governo italiano rejeitou os apelos da UE para rever o seu projecto de orçamento para 2019, que inclui um deficit de 2,4% do PIB, o que poderia aumentar perigosamente a dívida pública do país. A coligação governamental de Roma, formada pela Liga e pelo populista Movimento das Cinco Estrelas, decidiu aumentar os empréstimos para financiar as suas promessas de campanha, como a redução da idade de reforma e o aumento dos pagamentos de previdência social.

No mês passado, a Comissão Europeia alegou que essas metas de gastos iam contra as regras da UE. Roma está sobrecarregada com a segunda maior quantia de dívida pública na zona do euro. Há uma diferença de 131,8% entre os empréstimos e a produção económica, mas o governo acredita que alcançará um crescimento económico substancial, enquanto as previsões da UE para a Itália são bastante sombrias. 13 de Novembro foi o prazo para a apresentação de um projecto de orçamento revisto. Roma não cumpriu. Agora, a liderança da UE ameaça-a com sanções até que ela esteja alinhada. A Itália pode ser multada em 3 mil e 400 milhões de euros.

O governo italiano assume uma postura independente numa infinidade de questões. É vista como favorável à Rússia nos seus pedidos de levantamento, ou pelo menos facilitar, as sanções contra a Federação Russa. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, acredita que Moscovo deveria ser readmitida no G7. O primeiro-ministro italiano visitou Moscovo no final de Outubro, saudando a Rússia como um jogador global essencial e convidando Putin para visitar a Itália. Apesar das medidas punitivas impostas pela UE que estão em vigor, o Sr. Conte assinou uma série de acordos de comércio e investimento. No ano passado, o partido da maioria parlamentar russa, Rússia Unida, e a Lega Nord (Liga do Norte) da Itália, um membro da coligação governamental, assinaram um acordo de cooperação. O conselho regional em Veneto, onde o vice primeiro-ministro Matteo Salvini detém uma posição forte, reconheceu a Crimeia como parte da Rússia em 2016.

A Áustria é outro membro da UE amiga da Rússia. Mesmo o recente "escândalo de espionagem" que foi obviamente encenado por forças externas para estragar essa relação bilateral, não conseguiu prejudicar essa relação. "Somos um país que tem bons contactos com a Rússia, estamos voltados para o diálogo, isso não mudará no futuro", disse o chanceler austríaco, Sebastian Kurz, falando aos repórteres em 14 de Novembro. O conservador Partido do Povo e a extrema-direita O Partido da Liberdade - os membros da coligação dominante - estão bem dispostos em relação a Moscovo e não apoiam a política de sanções da UE.

A Hungria é outro membro da UE amiga da Rússia. No mês passado, o parlamento europeu votou para iniciar o procedimento de sanções do Artigo 7 contra a Hungria. O governo liderado pelo primeiro-ministro Victor Orban foi acusado de silenciar os media, atacar ONGs e remover juízes independentes. O lançamento dos procedimentos estipulados no artigo abre as portas para sanções. A Hungria poderia eventualmente ser temporariamente privada dos direitos de voto na UE. Na realidade, o país está a ser punido por se recusar a receber imigrantes.

Esta é a segunda vez que os procedimentos do artigo 7º são activados. A primeira vez foi no ano passado, quando a Comissão Europeia colocou esse artigo em acção contra a Polónia sobre as suas reformas judiciais. É necessária uma votação unânime para suspender os direitos de voto da Hungria e introduzir sanções. Esse movimento provavelmente será bloqueado pela Polónia. Por sua vez, a Hungria disse que aguentaria Varsóvia se a UE lançasse procedimentos para puni-la. As duas nações estão unidas nos seus esforços para se apoiarem mutuamente e se defender das invasões de Bruxelas num momento em que o bloco está a passar pelos momentos mais difíceis de sua história.

A Hungria, a Polónia e a Rússia estão a tentar chamar a atenção da Europa para a ameaça à democracia e à paz que emana da Ucrânia - um problema que foi em grande parte abafado pela liderança da UE.

A Eslováquia é outro estado membro da UE para nutrir o que alguns chamam de "laços especiais" com a Rússia. Nunca ficou contente com as sanções contra Moscovo e disse isso abertamente. No mês passado, o seu novo primeiro-ministro, Peter Pellegrini, pediu à UE que revisse a política de sanções.

Uma disputa diplomática também foi encenada na Grécia, mas, como no caso da Áustria, pode ter obscurecido esses laços históricos, mas não conseguiu cortá-los. Chipre sempre foi amigável em relação a Moscovo, mas Nicósia e Atenas não estão em posição de proteger a sua independência, já que ambos estão endividados e dependentes de empréstimos externos.

A batalha entre Bruxelas e Roma acontece num momento em que a Europa se prepara para as eleições para o Parlamento Europeu em Maio de 2019. Medidas punitivas tomadas pela UE contra a Itália certamente levarão a um crescente apoio público àquele governo que enfrenta pressões para defender o seu povo. Aumentará o número de eurocéticos italianos que ganham lugares. Com tantos países insatisfeitos com a liderança da UE, é difícil prever o resultado. Em breve haverá outras pessoas no comando que têm pontos de vista bastante diferentes sobre os problemas enfrentados pela UE, bem como sobre o futuro do bloco. Tudo pode mudar, incluindo o relacionamento com a Rússia e as sanções que se tornaram tão impopulares que resultaram que muitos líderes nacionais desafiam abertamente a sabedoria de tal política imposta por alguns poucos poderosos.

sábado, 17 de novembro de 2018

A REALIDADE INCERTA DO BREXIT

O desfecho do divórcio entre Reino Unido e União Europeia será decisivo para definir o futuro do nacionalismo populista não apenas na Europa, mas em todo o mundo.

Por Helio Gurovitz

O Brexit tornou-se o evento mais importante para definir o futuro, na Europa e em todo o mundo, dos movimentos nacional-populistas que prometem o resgate da soberania, que julgam sob ameaça, real ou imaginária, da “globalização”.

A União Europeia (UE) é o projecto de integração mais bem-sucedido no planeta e o maior símbolo da globalização. O seu arcabouço institucional e progresso paulatino – da integração comercial à financeira, monetária, jurídica e política – são vistos como modelo por líderes interessados em promover a integração noutras regiões.

A decisão pela saída do Reino Unido da UE foi o primeiro recuo concreto nesse projecto de integração continental, em marcha desde o final da Segunda Guerra, cujo objectivo era preservar a paz e trazer prosperidade ao continente. A UE pode sobreviver sem os britânicos, mas enfraquece.

É ameaçada também pela ascensão do nacional-populismo em países do Leste Europeu recém-integrados, como Hungria ou Polónia, e pela coligação que governa a Itália, cuja política orçamental entra em conflito com as regras de austeridade que tentam preservar a estabilidade monetária na Zona do Euro.

No Reino Unido, a tentativa de resgate da soberania esbarrou desde o início na realidade de cadeias de produção integradas, fluxo incessante de mão-de-obra e normas e legislação comuns em sectores que vão da pesca às telecomunicações.

O processo de divórcio resultou numa negociação exaustiva e complexa, repleta de detalhes e grupos de interesse a agradar. Não havia como a primeira-ministra Theresa May satisfazer a todas as exigências.

Não é um acaso que o Brexit tenha esbarrado no maior símbolo de transformação da Europa: a fronteira entre a Irlanda, país da UE, e a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido. Depois de décadas de terrorismo e morticínio, a UE trouxera de presente a solução ideal ao conflito que opunha católicos e protestantes norte-irlandeses.

A abertura das fronteiras garantia a união almejada pelos primeiros com a Irlanda, sem deixar de assegurar aos segundos o status dos súbditos britânicos. A paz política derivava da integração económica, como pregavam os ideólogos do bloco europeu.

A manutenção da fronteira aberta na ilha irlandesa é a condição do Partido Unionista Democrático (DUP) para manter o seu apoio ao governo May. Os líderes da UE souberam usar essa fragilidade para extrair, nas negociações, um acordo que sabiam ser inaceitável aos soberanistas que venceram o plebiscito do Brexit.

Pelo acordo, apresentado por May a gabinete e Parlamento esta semana, o Reino Unido permanece numa união aduaneira com a UE, ainda que de forma temporária enquanto negocia um acordo de livre-comércio com o bloco. A união aduaneira mantém em vigor normas comerciais e regras económicas da UE, além da submissão à Justiça europeia em casos de disputa. Implica abrir mão da soberania.

Caso os britânicos e o bloco não logrem um acordo de livre-comércio ao final do período de transição que sucede o Brexit (e termina em 2020), o acordo procura preservar a fronteira aberta na Irlanda por meio de um mecanismo complexo baptizado “rede de segurança” (“backstop”).

Embora não implemente o controle alfandegário ou de passaportes nas Irlandas, cria empecilhos ao fluxo de mercadorias entre a ilha irlandesa e a Grã-Bretanha. A solução desagradou, ao mesmo tempo, aos parlamentares do DUP e aos defensores da ruptura radical com a UE, sem acordo, conhecida como Brexit versão “hard”.

Desde Agosto, o governo britânico publicou mais de cem alertas para o cenário catastrófico do Brexit “hard”. Entre as consequências estão: perda de validade das cartas de condução na UE, imposição de tarifas comerciais e procedimentos alfandegários, taxas de roaming sobre os telemóveis, cobranças adicionais por serviços de vídeo, restrições à circulação de sangue, órgãos e tecidos para transplantes. O impacto estenderia-se por finanças, agricultura, aviação, navegação, pesca, energia, satélites, educação, justiça e dezenas de áreas.

Diante da proposta de acordo, quatro integrantes do gabinete deixaram o governo May, entre eles o próprio secretário para o Brexit, Dominic Raab. O seu antecessor no cargo, David Davis, já abandonara o gabinete há poucos meses, insatisfeito com o rumo das negociações com a UE.

Dos 29 ministros de May, 11 fizeram reservas ao texto. Ela recebeu uma moção de desconfiança do líder do movimento que defende o Brexit “hard", Jacob Rees-Moog. Se apoiada por 48 parlamentares conservadores, o governo terá de enfrentar um voto de desconfiança e poderá cair. Há 68 parlamentares favoráveis ao Brexit “hard” no partido de May. No pior cenário para ela, enfrentaria o voto de desconfiança já no início da próxima semana.

No dia 25, o acordo será levado para a apreciação dos representantes dos 27 países da UE. Se aprovado e se May ainda estiver no cargo, deverá ir então a votação no Parlamento britânico. A hipótese de aprovação é ínfima. A oposição trabalhista, o DUP e 51 conservadores já declararam que votarão contra. May precisa de 325 votos para obter a maioria. Pelas contas do Guardian, tem 224.

Em caso de derrota, ela teria três semanas para apresentar um novo plano, ou para retirá-lo e tentar renegociar os termos com a UE. Uma alternativa é pedir uma extensão do prazo final para o acordo, dia 29 de Março de 2019. Estão ainda na mesa a possibilidade de novas eleições, que ela arriscaria perder, ou mesmo de um novo referendo para referendar os termos do acordo ou até permanecer na UE. Tudo, enfim, se tornou possível nesta altura.

A confusão do Brexit pode ser o sinal do arrefecimento na onda nacional-populista que vinha crescendo pelo planeta. A outra é a redução da representação de Donald Trump na Câmara dos Estados Unidos, a derrota do Partido Lei e Justiça (PiJ) nas eleições municipais polacas e a decepção com o desempenho do Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições regionais da Baviera. O alcance da onda continua imprevisível. O certo é que o desfecho do Brexit, primeiro evento de vulto a encapelá-la, poderá ser decisivo para quebrá-la.

g1.globo.com

terça-feira, 13 de novembro de 2018

CONFRONTOS ATINGEM RUAS RESIDENCIAIS EM HODEIDA NO IÉMENE

A luta pelo controle da cidade de Hodeida, controlada pelo grupo rebelde do Iémene, alcançou as ruas residenciais no domingo, enquanto os insurgentes Huthis montavam uma feroz resistência às tropas do governo apoiadas pela Arábia Saudita, referiram fontes militares.

Várias tropas entraram nas ruas residenciais no leste de Hodeida com o objectivo de "expurgá-las de insurgentes", segundo um oficial militar pró-governo.

Os temores de segurança civil aumentaram desde que as forças leais ao governo renovaram uma operação para tomar a cidade de Hodeida, que está sob o controle dos rebeldes huthis do Iémene desde 2014.

Mais de 400 combatentes foram mortos em 10 dias de confrontos na cidade do litoral do Mar Vermelho, no Iémene, que abriga o porto mais importante do país empobrecido.

Combatentes pró-governo mudaram-se para o bairro entre o hospital de 22 de Maio - o maior em Hodeida - e a Sanaa Road, que liga a cidade portuária ao interior do Iémene.

Os combatentes entraram em confronto em volta do Al-Waha (Oasis) Resort, aproximando-se dum distrito civil localizado ao sul do hospital e ao norte de Sanaa Road.

A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 10 mil pessoas tenham morrido desde 2015, quando a Arábia Saudita e seus aliados se juntaram à guerra do governo contra os huthis, expulsando os insurgentes da costa do Mar Vermelho, mas não retomando Hodeida.

Outros grupos de direitos humanos acreditam que o preço pode ser cinco vezes maior.

O conflito provocou o que a ONU chama de pior crise humanitária do mundo, com 14 milhões de iemenitas em risco de fome.

AFP

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A QUALIDADE DA DEMOCRACIA ESTÁ EM DECLÍNIO EM MUITOS ESTADOS INDUSTRIALIZADOS

Um estudo publicado pela Fundação Bertelsmann conclui que a qualidade da democracia está em declínio em muitos estados industrializados, tendo os seus padrões de qualidade vindo a ser deteriorados ao longo dos anos.

Globalização, desigualdade social e protecção do clima - dados os enormes desafios enfrentados pelos países da OCDE e da UE, é de se esperar reformas mais vigorosas. No entanto, como as nossas conclusões mostram, a erosão dos padrões de democracia e a crescente polarização política estão a dificultar a implementação de reformas sustentáveis.

A qualidade da democracia na OCDE e na UE diminuiu nos últimos anos. Ao mesmo tempo, a crescente polarização política tornou o trabalho quotidiano da governação e, portanto, a capacidade de reforma dos estados membros mais difícil. Os governos de vários países, como os Estados Unidos, a Hungria e a Turquia, estão deliberadamente a alimentar as tensões sociais em vez de procurar consenso num esforço para negociar soluções inovadoras - essas são as conclusões dos 2018 Sustainable Governance Indicators (SGI). Num estudo transnacional de governanção, a SGI examina 41 países em termos dos seus padrões democráticos, qualidade de governação e resultados de políticas nas áreas de economia, assuntos sociais e meio ambiente. Usamos o índice regularmente desde 2011 para analisar a viabilidade futura dos estados da OCDE e da UE.

"Os governos precisam encontrar fórmulas para combater efectivamente o aumento da polarização. Se quiserem combater a apatia política, devem oferecer soluções projectadas para garantir sucesso e resoluções a longo prazo, em vez de reforçar as linhas de conflito." - Presidente do Conselho Executivo Bertelsmann Stiftung

Ainda mais preocupante é a tendência apontada pelos autores do estudo: paralelamente ao declínio dos padrões democráticos, muitos países estão a perder terreno em relação a aspectos-chave da "boa governação". Como resultado, as capacidades de resolução de problemas dos países da OCDE e da UE caíram em média nos últimos anos.

Padrões democráticos em declínio em 26 dos 41 países

No que diz respeito à governação e à qualidade dos resultados das políticas, os países nórdicos, a Suíça e a Alemanha continuam a receber as notas mais altas. Aqui também, no entanto, a polarização partidária está em ascensão e enfraquece as reformas orientadas para o futuro. No geral, 26 países mostram um declínio nos padrões democráticos e constitucionais desde o SGI de 2014. Desenvolvimentos particularmente negativos podem ser observados em países como Hungria, Polónia, México e Turquia - mas também nos Estados Unidos. A maior economia nacional do mundo caiu nove lugares em questões de democracia e qualidade de governação, enquanto a Polónia caiu 29 lugares em termos de padrões democráticos. "O modelo de democracia liberal também está sob crescente pressão na OCDE e na UE", explica Daniel Schraad-Tischler, analista sénior e co-autor do estudo. "

Também é alarmante, ele enfatiza, que, apesar do declínio da qualidade na democracia, a confiança dos cidadãos no governo na verdade aumentou em países como Polónia, Hungria e Turquia. "Esse desenvolvimento ilustra que, nesses países, os valores democráticos fundamentais não parecem estar suficientemente ancorados na consciência política de grande parte da população", diz Schraad-Tischler.

Gráfico para o SGI 2018, critérios gráficos da democracia.

Campanha ininterrupta em vez de governar

A polarização político-partidária entre "a esquerda" e "a direita" aumentou em quase todos os países. Os partidos populistas estão intensificando ainda mais essa tendência em muitas legislaturas nacionais. Os autores criticam alguns governos pelo seu papel no endurecimento, em vez de suavizar ou quebrar linhas de conflito na sociedade. Relacionado a isso, o relatório afirma, é o facto de que muitos governos estarem cada vez menos inclinados a se envolver na ampla consulta dos actores sociais durante a fase de planeamento das reformas. Dezoito países - incluindo os Estados Unidos, a Polónia e a Hungria, mas também países como a Islândia e a República Checa - tiveram desempenho mais fraco nessa área, alguns significativamente, desde o SGI de 2011 e 2014. Apenas dez países, incluindo a Coreia do Sul, Irlanda e Malta, melhoraram de fato aqui. Alguns governos, como os da Hungria, Polónia ou Turquia, estão deliberadamente a contornar procedimentos de consulta legalmente estabelecidos ou excluindo actores-chave no processo. 

Juntamente com a margem mais estreita da inclusão das partes interessadas, as habilidades de comunicação e a eficiência da implementação dos governos também estão em declínio. "Em muitos países, estamos a testemunhar uma espécie de campanha eleitoral permanente", explica Schraad-Tischler. "Os governos não conseguem mais comunicar seus objetivos de forma coerente ou construir um consenso em torno dos factos. No final, a implementação e a qualidade das soluções políticas de longo prazo sofrem." 

Tendo em conta os desafios políticos prementes, esta capacidade diminuída de resolver problemas pesa sobre estes estados: "Apesar da estabilização económica desde a crise financeira, a inclusão social em muitos países da OCDE e da UE - especialmente nos países do sul da Europa - ainda não retornou aos níveis anteriores ", diz Schraad-Tischler. "Diante do fraco investimento em P & D, ou da falta de esforços para lidar com a mudança demográfica, também vemos inúmeras áreas de problemas políticos e económicos em que o progresso é frequentemente muito lento".

sábado, 10 de novembro de 2018

UM SISTEMA POUCO DEMOCRÁTICO, POPULISTAS E A DEMOCRACIA

Que visão deverá haver para a Europa? Para quem irá dar o seu voto nas eleições de Maio de 2019 deverá ter esta questão respondida pelos partidos políticos ou será melhor não votar, lembre-se que não deve oferecer gratuitamente o seu voto a quem quer que seja sem que haja aqui uma oferta de princípios que represente as suas ideias e princípios ― o voto é exactamente uma troca por estes princípios que têm de ser cumpridos. Existem duas correntes opostas e possivelmente incompatíveis: ― mais ou menos Europa. Os partidos populistas defendem menos Europa, mas mais democracia, enquanto os partidos tradicionais defendem mais Europa e menos democracia nas instituições europeias.

Paulo Ramires | Opinião


OS PARTIDOS TRADICIONAIS CONTRA OS PARTIDOS POPULISTAS

O debate sobre as eleições europeias está ao rubro, os partidos populistas, tanto os de esquerda como os de direita oferecem propostas bastante atractivas e interessantes ao eleitorado e ao povo ― maior proximidade dos cidadãos, maior participação, mais e maior democracidade ( apostam no desenvolvimento e reforço da democracia ), maior igualdade entre os cidadãos, retorno ao estado social, reforço das identidades nacionais e culturais, redução da imigração, maior integração social, combate ao terrorismo, combate aos efeitos discriminatórios e desigualdades da globalização ou ainda propostas inovadoras como as que propõe a La France  Insoumise (extrema esquerda populista francesa) de uma nova «assembleia constituinte do povo e para o povo» em que pretende «reconquistar a sua soberania» ― deixando os oligarcas bastante assustados.

As propostas são variadas e todas elas vão de encontro ao que o povo pede contrariamente aos partidos sistémicos que progressivamente ao longo dos anos se afastaram dos cidadãos com as suas políticas muito centradas nos pontos de vista das elites partidárias, que deste modo levaram a democracia liberal/representativa ao descalabro, rejeitando por completo os ideais da democracia directa e participativa. Embora hoje haja mais democracias liberais e iliberais no mundo, em boa verdade, elas têm vindo a entrar em crise devido a três factores principais ― afastamento dos cidadãos das decisões na democracia liberal/representativa, a não evolução da democracia em conformidade com as sociedades tecnológicas tendo-se registado mesmo um retrocesso substancial na democracia liberal/representativa e a desigualdade que a globalização criou entre os oligarcas do sistema (1%) e os restantes cidadãos (99%). Não é pois de admirar que os populistas de direita e de esquerda estejam a ganhar cada vez mais a simpatia do eleitorado europeu ou mesmo não europeu. Perante este avanço dos populistas ― só Portugal e a Irlanda não têm partidos populistas ― que devem crescer substancialmente nas próximas eleições de Maio de 2019, os partidos do sistema ou sistémicos ― principalmente socialistas e sociais democratas ― deram o alerta e investiram numa estratégia de demonização dos partidos populistas, anti-sistema e nacionalistas, colocando-lhes epítetos pouco simpáticos e quase sempre sem razão, e não têm razão quando culpam o eleitorado por ele simpatizar com as propostas destes partidos populistas, não têm razão porque se há um forte desgaste e cansaço com os partidos tradicionais (mainstream), a responsabilidade é só sua, afinal são eles que ao longo de muitas décadas têm estado no poder alternando-se uns aos outros, não dando lugar a outros com novas ideias, uma democracia necessita sempre de ser revitalizada caso contrário entra em disrupção como acontece na Europa e em particular em Portugal ― chamam-lhe o momento de pós-democracia e pós-política ( a oferta de princípios políticos tornou-se a mesma para os partidos sistémicos da esquerda à direita ). A retórica anti-populismo dos partidos sistémicos chega mesmo a baixar de nível ou assumir uma forma soberba ou desonesta como a táctica de provocar medo no eleitorado. Alexander Stubb, antigo primeiro ministro finlandês do centro direita e que foi um dos candidatos para substituir Jean-Claude Juncker na comissão europeia avisa: "Não culpem o eleitorado por ele preferir os populistas."

Os partidos sistémi
cos ― em Portugal todos os partidos com representação parlamentar ― não apresentaram até ao momento uma única ideia ou proposta para modernizar e democratizar as instituições da União Europeia, tudo o que até aqui apresentaram é muito vago e incipiente, nada de concreto, nada de substancial foi apresentado à opinião pública. Eles que se lembrem que o voto não é oferecido, é uma troca por uma oferta politica.

Lembremo-nos de que vivemos tempos de crise democrática ( o pós-democracia e o pós-política) e em Portugal a situação não é de forma alguma satisfatória, é muito grave, os partidos políticos assumiram uma visão muito semelhante no que pretendem por exemplo para a União Europeia, para a democracia, para a economia, para a sociedade, tudo decidido à margem da participação dos cidadãos.

DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E DIRECTA


É por estes motivos que é urgente repensar-se a democracia e a forma de ela evoluir de acordo com os tempos actuais nas sociedades tecnológicas, das redes e plataformas sociais. É importante chamar a atenção que uma rede social oferecer aos cidadãos aquilo que uma democracia liberal não pode mas devia oferecer  ― participação directa, direito a manifestar a sua opinião e a ser ouvido, debate e trocas de opinião, tomadas de posições, etc. sem ou pouca censura. Não é pois por acaso que as elites que ocupam o poder não gostem das redes sociais, fazendo transparecer uma forte antipatia por elas e desejado-as censurar e silenciar, elas, as elites não gostam da ideia de partilhar o poder com o povo. Mas as redes sociais vieram para ficar existindo mesmo uma tendência das pessoas que a partir delas desejam uma participação efectiva e activa na democracia, mas aqui existe um problema, a existência de uma forte oposição das elites a essa participação que deveria ser ultrapassada.

Todavia com o evoluir dos tempos a democracia liberal/representativa deixará de corresponder às necessidades de participação dos cidadãos/eleitorado, eles querem participar nas decisões dos seus próprios destinos e para isso eles têm de se envolver nas decisões politicas da democracia, sem as quais não há verdadeira democracia


Para que isso seja possível será necessário repensar-se a democracia e voltar a inventa-la, a democracia não é uma construção estática, é uma construção dinâmica, tem de se  adaptar às realidades e exigências actuais e à sociedade, dar voz e participação politica aos cidadãos, não chega hoje em dia a representação democrática no parlamento, até porque é sabido que ai quem está representado não é o povo, são as estruturas hierárquicas dos partidos políticos. Falar-se da representação do cidadão é portanto um completo mito. Assim a criação de uma outra câmara constituída com determinadas especificidades e regulamentados para o cidadão seria a solução.


O FALHANÇO DO NEOLIBERALISMO E A INSISTÊNCIA NELE


Em termos económicos os partidos políticos, convergiram e acordaram em defender o neoliberalismo reformulado nos anos 80 por Margaret Thatcher e Ronald Reagan, mas esta teoria nascida na escola austríaca viria a falhar mais uma vez nos EUA em 2007 com a eclosão da crise do "subprime" caracterizada pela falência das instituições financeiras que um ano mais tarde levou à grande crise sistémica do capitalismo global e do monetarismo com graves consequências para a economia e para os cidadãos nomeadamente a concentração da riqueza no grupo dos 1% ― sistema e oligarcas ― com políticas de maiores rendimentos para este grupo onde se inserem os políticos e o empobrecimento dos restantes, incluindo a classe média ― os 99% . Este fosso tem sido alargado com a explosão e evolução de novas tecnologias que não só trouxeram eficiência e redução de custos incluindo os custos com o pessoal como também trouxeram efeitos perversos como o desemprego, precariedade e exclusão social, há quem defenda perante este cenário a aplicação fiscal a tecnologias com estes efeitos perversos, repare-se que existem algumas funções que no passado exigiam grande quantidade de funcionários e hoje um basta. A este respeito também existe uma péssimo exemplo por parte da União Europeia de se recusar a taxar as grandes empresas tecnológicas como a Google ou o Facebook, é de facto um mau exemplo e um péssimo sinal dado.

Para dar resposta a estas crises as instituições financeiras alegando serem grandes demais para falharem fizeram convencer os regimes políticos do ocidente e em particular a União Europeia a adoptarem políticas de austeridade que tinham como objectivo financiar os passivos gigantescos destas instituições financeiras através dos impostos do contribuinte comum ― os 99%. Os partidos políticos e a União Europeia em particular deram prioridade à sanidade financeira destas instituições financeiras afastando-se assim do cidadão e abrindo uma tremenda crise na sociedade, social e económica com impacto nas ditas democracias liberais. O modelo neoliberal falhava assim mais uma vez levando a duas principais consequências: A concentração da riqueza nas elites dominantes fez-se mais uma vez através da carga fiscal e das altas taxas de juros impostas aos empréstimos das famílias e empresas aumentando ainda mais a dimensão das grandes empresas financeiras demasiado grandes para falharem. A segunda consequência foi a perda de democracidade, representatividade e o afastamento dos partidos políticos tradicionais do seu próprio eleitorado seguida de uma crise substancial e continua na democracia liberal/representativa. O aumento das desigualdades e a perda de democracidade nas democracias liberais/representativas deram um bom folgo ao surgimento de novos partidos políticos com uma visão diferente da sociedade, os partidos populistas.

A INSATISFAÇÃO DA POPULAÇÃO COM OS PARTIDOS TRADICIONAIS

Para controlar esta insatisfação e evitar revoltas na sociedade, os governos passaram a controlar os órgãos de comunicação social, colocando directores de informação da sua confiança, silenciando vozes criticas incomodas, afastando os comentadores e opinion makers críticos do regime e substituindo-os por comentadores dóceis ao sistema ou do sistema, pessoas incapazes de apontar um dedo ao regime, manipulando imagens e informações, perseguindo pessoas com ideias diferentes do regime, etc.. O entretimento passou também a ser usado para este fim, no passado o humor visava sobretudo as políticas de quem estava no governo, hoje ridiculariza quem o critica, servindo de certa maneira os interesses do governo e do sistema. A acção do governo começa a não se limitar aos media tradicionais, pretende agora intervir e censurar nas redes sociais com o pretexto de combater as fake news, as fake news são um problema e uma praga que o República Digital tem combatido desde o início, mas não podem ser combatidas desta forma ou seja encaputado de iniciativas reguladoras o que já por si é preocupante, executa um exercício de censura e condicionamento a vozes incômodas para o regime, devemos resistir completamente a estas iniciativa perigosas, sendo bem preferível as fake news à censura e condicionamento de vozes criticas
  ― a caça às bruxas por parte do governo nas redes sociais começou.

O PAPEL DA COMUNICAÇÃO SOCIAL NA DEMOCRACIA

A comunicação social tem um papel de relevo na democracia, promover a formação e a informação de qualidade junto da população assim como permitir que haja confrontos de ideias entre pessoas, partidos políticos, organizações, etc., a discussão e debates de ideias têm uma centralidade importante no desenvolvimento da democracia, essa centralidade produz uma dinâmica de evolução e modernização da democracia, mas quando a comunicação passa a ser controlada pelo regime partidário afastando vozes criticas então entramos num dilema ― que função deve ter a comunicação social na democracia  ―  não se estará aqui a comprometer o papel de independência e as suas funções que a comunicação social deveria ter na democracia? O que se passa em Portugal é justamente o oposto com o que se passa nos EUA em que os media têm um papel "excessivamente" conflitual com o poder político, o que não é de facto muito mau, bem preferível a um controlo efectivo por parte do regime como acontece em Portugal. A comunicação social ainda tem de se reinventar perante o uso mais frequente que as pessoas dão às redes e plataformas sociais, uma diferença importante entre as redes sociais e os órgãos de comunicação social é que esta é unidireccional, enquanto as redes sociais são bidireccionais, ou seja permitem a interacção imediata de qualquer pessoa. 

QUE VISÃO DEVERÁ HAVER PARA A EUROPA


Para quem irá dar o seu voto nas eleições de Maio de 2019 deverá ter esta questão respondida pelos partidos políticos ou será melhor não votar, lembre-se que não deve oferecer gratuitamente o seu voto a quem quer que seja sem que haja aqui uma oferta de princípios que represente as suas ideias e princípios ― o voto é exactamente uma troca por estes princípios que têm de ser cumpridos. 

Existem duas correntes opostas e possivelmente incompatíveis: ― mais ou menos Europa. Os partidos populistas defendem menos Europa, mas mais democracia, enquanto os partidos tradicionais defendem mais Europa e menos democracia nas instituições europeias, por exemplo, até agora, o presidente da comissão europeia não conseguiu ser eleito directamente pelos eleitores europeus e deveria ser eleito em conformidade com as propostas políticas dos partidos políticos europeus (grupos políticos) aos eleitores europeus e todos os partidos políticos (grupos políticos) deveriam fazer a sua campanha em todos os países da união, isso não acontece, além disso, o que se passa no parlamento europeu é tudo menos transparente, havendo mesmo listas que representam interesses económicos ou interesses de países estrangeiros que nem fazem parte da Europa. Por outro lado os populistas parecem falar numa sociedade de nações com um parlamento democraticamente eleito, mas que não impliquem a diminuição da soberania dos estados membros.


Emmanuel Macron veio recenteme
nte defender um exercito europeu, é uma proposta interessante para quem defende mais Europa, mas não será uma ideia perigosa para uma União Europeia envolta de uma nebulosa obscura e nada democrática composta por tantos países com uma animosidade e um sentimento anti-russo? É uma questão que deveria ser reflectida. Para quem quer uns Estados Unidos da Europa, eu recomendaria a essa ou a essas pessoas que aprofundem a democracia até à completa participação do cidadão e sem exclusão de ninguém. Mas afinal fará sentido os Estados Unidos da Europa ou uma sociedade das nações constituída por um parlamento como defendem os populistas? Bem eu diria que perante uma globalização selvagem e sem controlo, seria mesmo recomendado que se pensa-se de facto e a sério nos Estados Unidos da Europa, temos múltiplos factores geopolíticos que irão acontecer com forte impacto em todo o mundo por exemplo este, a ascensão de uma poderosa China, e do surgimento de uma Rússia nacionalista com fortes meios militares e de influência, ou mesmo a índia com uma população de 1,339 biliões darão cartas possivelmente mais importantes do que os próprios Estados Unidos da América que tenderá progressivamente a perder influência geopolítica por todo o mundo. Além disso os EUA já não estão muito interessados em proteger uma União Europeia de qualquer ameaça que possa surgir na sequência do aprofundamento de uma globalização já sem controlo onde as grandes potências estarão mais protegidas.


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

EMMANUEL MACRON PEDE PARA A FORMAÇÃO DE UM "VERDADEIRO EXÉRCITO EUROPEU" À SEMELHANÇA DOS ESTADOS UNIDOS E DA RÚSSIA


Uma coligação de militares europeus prontos para reagir a crises perto das fronteiras do continente foi lançada na quarta-feira com a Finlândia a se tornar o décimo país a se juntar a esta força, depois de pedidos do presidente francês Emmanuel Macron para que se constitua um "verdadeiro exército europeu".
A iniciativa liderada pela França não entraria em conflito com a aliança da OTAN, de quase 70 anos, dominada pelos EUA, afirmam os defensores, mas reflecte em parte preocupações sobre uns Estados Unidos mais isolados com o governo do presidente Donald Trump.
A Iniciativa Europeia de Intervenção tomou forma oficial em Paris após meses de negociações com a Alemanha, que a França quer no centro da força.
Macron propôs a ideia há mais de um ano, mas foi recebida com cepticismo por outras nações da União Europeia, coincidindo a ideia com o lançamento de um pacto de defesa que promete investimentos militares conjuntos.

A Alemanha, a Bélgica, a Grã-Bretanha, a Dinamarca, a Estónia, os Países Baixos, a Espanha e Portugal deram o seu sinal verde para o movimento liderado pelos franceses. Os membros colaborarão no planeamento, na análise de novas crises militares e humanitárias e em eventuais respostas militares a essas crises.
"Num ambiente onde as ameaças e convulsões de natureza geopolítica ou climática multiplicam-se, a iniciativa deve enviar a mensagem de que a Europa está pronta, que a Europa é capaz", disse uma autoridade do Ministério da Defesa da França.
A iminente saída da Grã-Bretanh da UE, que há muito se opõe à colaboração militar da UE fora da OTAN, reavivou o diálogo sobre a cooperação na defesa - e teme que Trump possa se mostrar menos disposto do que os seus antecessores a defender a Europa diante de uma Rússia recentemente assertiva.
A iniciativa não “contradiz ou contorna os esforços históricos de defesa da UE, nem os da OTAN”, disse o oficial de defesa. "Pelo contrário, só melhorará a interoperabilidade entre os países participantes".
Na terça-feira, Macron pediu um "verdadeiro exército europeu" para reduzir a dependência dos Estados Unidos.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tem defendido há muito tempo a ideia de que a UE deveria ter mais capacidade de defesa comum, separada da OTAN.
Nem toda a gente está convencida.
"Progressos pragmáticos e construção paciente com aqueles que estão prontos e dispostos a uma convergência política na defesa são infinitamente preferíveis a slogans e encantamentos totalmente ilusórios e até mesmo contraproducentes", disse Arnaud Danjean, membro do comité de defesa no Parlamento Europeu.

© 2018 Reuters

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

REFLEXÃO SOBRE A ATRACTIVIDADE DOS PARTIDOS POLÍTICOS POPULISTAS

A desigualdade económica, a globalização e os fracassos dos políticos dominantes foram todos apresentados como factores potenciais que facilitam o surgimento da política populista. Mas, ao lado desse contexto político e económico, existe também um contexto psicológico que pode ajudar a explicar o sucesso dos políticos populistas? John Dreijmanis escreve sobre o que o trabalho de Carl Jung pode nos dizer sobre a atracção pelo populismo.

Nos últimos anos, os sucessos eleitorais de políticos populistas em algumas democracias ocidentais foram atribuídos a vários factores socioeconómicos e políticos. Isso é amplamente verdade, mas há também uma dimensão psicológica significativa que tem sido negligenciada como um factor contribuinte.

O psicólogo e psiquiatra suíço Carl G. Jung (1875-1961) fundou a psicologia analítica, uma parte importante da qual é o conceito do inconsciente colectivo . Resumidamente, além do inconsciente de um indivíduo, Jung acreditava que também existe um inconsciente universal e colectivo em todos os indivíduos, derivado da experiência e memória ancestral. Consiste em arquétipos, ou formas persistentes, que se tornam conscientes e tomam a forma de uma consciência individual.

O número de arquétipos depende do número de experiências típicas da vida. Quando surge uma situação correspondente a um arquétipo particular, aquela é activada. Também pode haver arquétipos concorrentes. As neuroses sociais são forças perigosas presentes nos arquétipos; elas podem ser activadas com consequências imprevisíveis por indivíduos cuja consciência tem um acesso notável ao inconsciente.

A atracção das massa pelos políticos populistas baseia-se na sua capacidade de propor acções que muitas pessoas apoiam, mas têm medo de propor. Prometem mudanças fundamentais e são capazes de assegurar apoio eleitoral substancial. O próprio Jung citou os líderes do fascismo italiano e do socialismo nacional alemão como evidência da sua teoria, por exemplo, em relação ao reaparecimento da antiga saudação romana. Deve-se notar, é claro, que as consequências desse estilo de política nem sempre precisam ser tão calamitosas quanto nesses dois casos.

O inconsciente colectivo em acção

Líderes populistas

As eleições presidenciais de 2016 em França e na América 2016 apresentaram interessantes estudos de casos sobre o papel do inconsciente colectivo na política populista. A eleição anterior ocorreu dentro do contexto de desemprego persistentemente alto e perda de confiança no sistema político existente. Marine Le Pen, da Frente Nacional, denunciou a globalização financeira e relacionou-a à globalização islâmica.

Houve paralelos aqui com experiências históricas das invasões muçulmanas do sul e leste da Europa a partir do século VII até o final do século XVII. Esta experiência foi activada no inconsciente colectivo e dirigida contra imigrantes e refugiados muçulmanos no início do século XXI. Para lidar com esses e outros assuntos, Le Pen prometeu suspender o Espaço Schengen, enquanto expulsava os estrangeiros que eram monitorados pelos serviços de inteligência e por aqueles com condenações criminais. Ela também argumentou que a UE deveria ser reestruturada como uma entidade muito menos conexa - na falta disso, deveria haver um referendo sobre a sua saída. Le Pen finalmente perdeu para Emmanuel Macron, mas mesmo assim recebeu 33,9% dos votos no segundo turno, quase o dobro do que o seu pai, Jean-Marie Le Pen, recebeu em 2002.

Nos Estados Unidos, Donald Trump, um candidato com pouca experiência política, derrotou um campo de políticos muito mais experientes para garantir a indicação presidencial do Partido Republicano. Trump construiu a sua campanha em torno do uso do Twitter e, assim como Le Pen, num momento de crescente desigualdade económica e declínio do optimismo em relação ao futuro, ele fez declarações contundentes e sucintas articulando o que muitos pensam que deveria ser dito e feito numa ampla gama de assuntos.

A sua mensagem era similarmente anti-islâmica e anti-imigrante, chegando ao ponto de prometer construir um muro impenetrável ao longo da fronteira dos Estados Unidos com o México. O proteccionismo económico foi proposto como uma solução para o problema do desemprego, assim como um importante programa de obras públicas, enquanto o seu slogan "Torne a América Grande Novamente" prometia efectivamente devolver o país à glória de uma era anterior. Como sabemos agora, essa estratégia de activar o inconsciente colectivo, construída como foi nas experiências históricas americanas, teve grande sucesso em levar Trump à Casa Branca.

Tanto para Le Pen quanto para Trump, o contexto socioeconómico da crescente desigualdade económica, juntamente com o contexto político - notadamente as políticas dos seus oponentes - tiveram um impacto no seu sucesso. O desempenho de Macron no cargo será crucial para ditar as oportunidades disponíveis para Le Pen ganhar futuras eleições, enquanto o desempenho de Trump no cargo terá um impacto importante nas suas oportunidades de reeleição. No entanto, também é importante reconhecer o contexto psicológico no qual tais campanhas operam. Compreender o inconsciente colectivo de Jung, e as experiências ancestrais e a memória que o moldam, podem de algum modo ajudar-nos a compreender os sucessos futuros dos políticos populistas.

http://blogs.lse.ac.uk

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

PORTUGAL REGRESSA CAUTELOSAMENTE A ÁFRICA

Décadas depois de perder o seu império colonial em África, Portugal está comprometido com forças para uma variedade de missões de combate em todo o continente. As novas missões vêm com a sua própria quota de controvérsia. 

Por Joseph Hammond

De 1474 a 1975, Portugal manteve um dos maiores impérios coloniais em África. No entanto, após a Revolução dos Cravos de 1974, a política portuguesa tomou um rumo abrupto para a esquerda e, como resultado, o país rapidamente descolonizou após mais de uma década de guerras brutais para manter o controle colonial em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Desde então, Portugal tem sido cauteloso sobre o seu papel em África, mas essa timidez começa a mudar.

No ano passado, um soldado português foi morto e outro ferido durante um ataque a um resort no Mali. A morte foi a primeira de um soldado português em África desde o colapso do seu império colonial. Os dois soldados faziam parte de uma operação de manutenção da paz da UE e desfrutavam de algum descanso e relaxamento no momento do ataque. Portugal realizou missões semelhantes em outros lugares no continente e a sua marinha esteve envolvida em operações anti-pirataria no Chifre da África.

Uma unidade de 40 soldados portugueses lidera a missão de formação da UE na República Centro Africana (RCA). Além disso, cerca de 160 forças especiais portuguesas do 1º Batalhão Paras estão presentes na RCA como parte da resposta de Portugal a um pedido da França. A sua unidade de Forças Especiais na RCA representa os primeiros soldados portugueses a participarem em combates de fogo e condutas substanciais. Décadas depois de perder o seu império colonial em África, Portugal está comprometido com forças numa variedade de missões de combate em todo o continente. As novas missões vêm com a sua própria parcela de controvérsia. Relato de Joseph Hammond. Portugal dá passos cautelosos em África com Soldados integrados na Força de Tarefa Terrestre para Propósitos Especiais dos EUA[US’s Special Purpose Marine Air-Ground Task Force] - Resposta a Crises - África (SP-MAGTF-CRAF), concebida para proteger o pessoal dos EUA em África, trabalhando com fuzileiros navais portugueses durante um exercício em África e em missões mundiais de combate no continente desde o fim da era colonial em 1974.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, tornou-se o primeiro presidente da nação ibérica a visitar a RCA quando fez uma visita às tropas no início deste ano. A França solicitou assistência na RCA sob um acordo de defesa da UE em 2015, que invocou após ataques terroristas em Paris naquele ano. A força portuguesa permite que a França liberte as tropas francesas para realizar outras missões de segurança.

A força portuguesa, que iniciou a sua missão em Janeiro, inclui cerca de 160 soldados das Forças Especiais (incluindo 111 comandos e 11 oficiais do exército). Apenas a força menor de 40 formadores faz parte da missão da UE. A maior parte da força na República Centro Africana faz parte de uma missão das Nações Unidas no país conhecida pelas suas iniciais como MINUSCA.

A comunidade internacional, apoiada pela ONU, enviou cerca de 13 mil pessoas para restaurar a estabilidade depois que uma rebelião de 2013 viu o governo derrubado por rebeldes da Seleka. Apesar das eleições de 2016, o governo controla pouca área fora da capital do RCA, Bangui. Pelo menos 14 facções armadas, muitas organizadas segundo linhas étnicas, operam no país.

Nenhuma advertência política


"Ao lidar com situações no Kosovo ou no Afeganistão, Portugal usou as suas forças especiais como uma reserva estratégica de 2018", disse Bruno Cardoso Reis, assessor do Instituto Nacional de Defesa de Portugal e membro visitante sénior do King's College, em Londres: Elas têm sido usadas para a imposição da paz e não para a manutenção da paz. Essa é uma maneira visível e valiosa de contribuir para essas missões internacionais e, ao contrário de outros aliados, não enviamos muitas advertências políticas.” 

No RCA, as forças portuguesas participaram em pelo menos dois grandes combates com milícias locais. A situação de segurança deteriorou-se nos últimos meses, o que colocou em risco a vida dos 
soldados de manutenção da paz. As forças da ONU foram alvo de uma série de emboscadas nos últimos meses. Uma emboscada em 2017 matou um soldado de manutenção da paz marroquino e feriu outros três.

A MINUSCA contava com forças especiais americanas que trabalhavam de perto com os aliados ugandeses para ajudar a manter a estabilidade no sudeste da RCA como parte de uma campanha para impedir os exércitos dos senhores da resistência e o seu carismático líder, Joseph Kony. No entanto, o presidente Trump irá enviar soldados para a RCA - aguardando aprovação do Congresso. Essa força ainda não chegou, mas não será a única, um país da América Latina entrou na força. Actualmente, o Peru forneceu 200 tropas para a força de paz. 

“Portugal, sendo um país mediterrânico, europeu e católico, desempenha um papel importante como 'bom mediador' na região”, diz Amish Laxmidas, presidente da Associação Portuguesa do Tratado da Juventude Atlântica. "Houve uma percepção no início de que certas forças de paz na MINUSCA favoreciam os muçulmanos."

Analistas dizem que a missão do RCA faz parte de uma maior zona de alcance do português para a África dentro de uma política externa que seria pouco alterada se a política dos EUA fosse alterada. “Portugal esteve muito activo na tentativa de resolver questões africanas durante a sua presidência da UE e teve a cimeira conjunta UE-África durante este período. O interesse na região vai além das antigas colónias portuguesas ”, diz Reis.

Um contingente de forças portuguesas foi atacado a 1 de Abril na capital, Bangui. A força havia sido enviada para o PK5, um bairro historicamente muçulmano da nação de maioria cristã, quando ficou sob fogo. Esse incidente provocou outras operações de manutenção da paz para desarmar grupos criminosos no bairro. No total, a operação deixou mais de 21 civis mortos e feridos - assim como os soldados da paz.

“O que mudou é que estes acordos internacionais pediram a Portugal para se deslocar para a África de forma diferente. É uma era diferente; antes de 1974, havia partes da África que os portugueses consideravam de alguma forma nossa ”, diz Artur Jorge Girão, ex-vice-presidente da Associação do Tratado do Atlântico. Embora os EUA fossem um aliado de Portugal na OTAN durante este período, muitos diplomatas e políticos dos EUA consideraram as guerras de Portugal em África desagradáveis. Em determinado momento, o presidente Kennedy até enviou ajuda a rebeldes em Moçambique e Angola, que combatiam o governo fascista de Portugal, António Salazar, durante grande parte desse período.

Mais tarde, os EUA reverteram essa posição, mas a substância muitas vezes importa em relação à política dos EUA em África. Por exemplo, os caças F-86 Sabre já estavam desactualizados no serviço dos EUA quando Portugal os implantou na Guiné-Bissau e eles foram usados ​​numa variedade de missões de combate. Os aviões foram retirado em 1964 após a pressão dos EUA de que os Sabre só deveria ser usado dentro da área de influência da OTAN - embora aviões mais antigos dos EUA, como os F-84, continuassem a realizar missões de combate em África.

Multiplicando os compromissos diplomáticos

A nova intervenção militar de Portugal em África não está isenta de críticas. “Ao inserir-se num ecossistema geopolítico estrangeiro, Portugal está a multiplicar as suas responsabilidades diplomáticas sem obter qualquer contrapartida de benefícios em troca”, afirma Miguel Nunes Silva, um analista português de política externa.

“Além disso, quando Portugal enfrentou desafios internacionais no passado, como foi o caso de Timor Leste e a tensão com a Indonésia, Lisboa encontrou-se sozinha a nível europeu. Não há quid pro quo[troca de favores] para Portugal honrar ”, acrescenta.

Embora no início dos anos 1990, Portugal estivesse envolvido em algumas operações de manutenção da paz nas suas antigas colónias, a missão de Portugal no RCA, que envolve uma componente de formação e uma unidade de forças especiais, é de natureza completamente diferente.

O último oficial português a ter experiência em África durante as guerras coloniais há muito que se aposentou - levando consigo muita experiência em operações de contra-insurgência. “Para países como Angola, Moçambique e as suas antigas colónias, Portugal não está na sua lista como nação com a qual podem contar para resolver ou estabilizar uma situação de destruição num país”, diz Edmilson Angelo, investigador angolano em relações internacionais na Universidade de Londres. Ainda assim, esta é uma contribuição importante para a luta contra o terrorismo, que é realmente importante não apenas para a África, mas também globalmente ”.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A ROTA DA SEDA DA CHINA

Pequim desenvolve sem cessar o seu projecto da «Rota da Seda». O seu Vice-presidente, Wang Qishan, empreende uma digressão pelo Próximo-Oriente que o conduziu a, nomeadamente, quatro dias em Israel. Segundo os acordos já assinados, a China controlará em dois anos o essencial do agro-alimentar israelita, da sua alta tecnologia e das suas trocas internacionais. Deverá seguir-se um acordo de livre comércio. Toda a geopolítica regional se verá, assim, virada do avesso.

Por Thierry Meyssan

A visita do Vice-presidente chinês, Wang Qishan, a Israel, à Palestina, ao Egipto e aos Emirados Árabes Unidos visa desenvolver a «Nova Rota da Seda».

No Outono de 2013, a China tornou público o seu projecto de criação de vias de comunicação marítimas e, sobretudo, terrestres através do mundo. Ela desbloqueou somas colossais e começou a concretizá-lo a toda a velocidade. Os principais eixos passam tanto pela Ásia, como pela Rússia, em direcção à Europa Ocidental. Mas ela planifica (planeja-br) também vias através da África e da América Latina.

Os obstáculos à Nova Rota da Seda


Este projecto encontra dois obstáculos, um económico, o outro estratégico.

De um ponto de vista chinês, este projecto visa exportar os seus produtos segundo o modelo da antiga «Rota da Seda», que, do século II ao XVº , ligava a China à Europa através do Vale de Ferghana, do Irão e da Síria. Tratava-se da época do transporte de produtos de cidade em cidade, de modo que em cada etapa eles eram trocados por outros de acordo com as necessidades dos comerciantes locais. Pelo contrário, hoje em dia, a China ambiciona vender directamente na Europa e no mundo. No entanto, os seus produtos já não são exóticos (sedas, especiarias, etc.), mas, sim idênticos aos dos Europeus e, muitas vezes, de qualidade superior. A rota comercial transforma-se em auto-estrada. Se Marco Polo ficou deslumbrado pelas sedas do Extremo Oriente, sem equivalente em Itália, Angela Merkel está em pânico com a ideia de ver a sua indústria automóvel esmagada pelos seus concorrentes chineses. Os países desenvolvidos terão pois, ao mesmo tempo, que negociar com Pequim e preservar as suas indústrias do choque económico.

Ao exportar maciçamente a sua produção, a China irá assumir o lugar comercial que o Reino Unido primeiro só depois com os Estados Unidos ocupam desde a revolução industrial. Foi precisamente para conservar esta supremacia que Churchill e Roosevelt assinaram a Carta do Atlântico e que os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial. É, portanto, provável que os Anglo-Saxões não hesitem em empregar a força militar para obstruir o projecto chinês [1], tal como fizeram em 1941 face aos projectos alemão e japonês.

Desde logo, em 2013, o Pentágono publicou o Plano Wright, que previa criar um novo Estado a cavalo sobre o Iraque e a Síria para cortar a Rota da Seda entre Bagdade e Damasco. Esta missão foi concretizada pelo Daesh (E.I.) de tal modo que a China modificou o traçado da sua rota. Finalmente, Pequim (ou Beijing- ndT) decidiu fazê-la passar pelo Egipto e, assim, investiu na duplicação do Canal de Suez e na criação de uma vasta zona industrial a 120 quilómetros do Cairo [2]. Identicamente, o Pentágono montou uma «revolução colorida» na Ucrânia para cortar a Rota europeia, ou ainda distúrbios na Nicarágua para criar obstáculos à construção de um novo canal ligando os oceanos Pacífico e Atlântico.

Apesar da importância, sem precedentes, dos investimentos chineses na Nova Rota da Seda, é preciso lembrar que no século XV a China lançou uma formidável frota para proteger o seu comércio marítimo. O Almirante Zheng He, «o eunuco das Três Joias», combateu os piratas do Sri Lanka, construiu pagodes na Etiópia e foi em peregrinação a Meca. No entanto, após o seu retorno, por razões de política interna, o Imperador abandonou a Rota da Seda e queimou a frota. A China fechou-se então sobre si mesma. Não se deve, portanto, considerar que, de um ponto de vista chinês, o projecto actual está de antemão garantido .

Num passado recente, a China investiu no Médio-Oriente com o único fito de se aprovisionar em petróleo. Construiu refinarias no Iraque, que foram infelizmente destruídas pelo Daesh (EI) ou pelas Forças Ocidentais que fingiam combater os islamitas. Pequim tornou-se, igualmente, o principal comprador do ouro negro saudita. Assim, construiu no Reino o gigantesco complexo petrolífero de Yasref-Yanbu por 10 mil milhões (bilhões-br) de dólares.

Israel e a Nova Rota da Seda

Os laços entre Israel e a China datam do mandato do Primeiro-ministro israelita, Ehud Olmert, cujos pais fugiram dos nazis para se instalarem em Xangai. O predecessor de Benjamin Netanyahu tentara estabelecer relações fortes com Pequim. Os seus esforços foram apagados pelo seu apoio a um dos grupos de piratas na Somália, encarregado por Washington de perturbar o tráfego marítimo russo e chinês à saída do Mar Vermelho [3]. O escândalo foi evitado à justa. A China foi autorizada a estabelecer uma base naval em Djibuti e Ehud Olmert foi afastado da política.

Desde 2016, a China negocia com Israel um acordo de livre comércio. Neste contexto, o Shanghai International Port Group comprou a concessão de exploração dos portos de Haifa e Ashdod de modo que, em 2021, a China controlará 90% do comércio israelita. A Bright Food adquiriu já 56% da cooperativa dos kibutz Tnuva, e poderia aumentar a sua participação, de tal modo que a China controlaria o essencial do mercado agrícola israelita. O fundador da loja “em linha” Alibaba, Jack Ma, que veio a Telavive incluído na delegação oficial chinesa, não escondeu a sua intenção de comprar muitas “start up” israelitas afim de incorporar a sua alta tecnologia.

O armamento é o único sector importante da economia israelita preservado do apetite chinês. Em Setembro, o Professor Shaul Horev organizou uma conferência na Universidade de Haifa, com a ajuda do norte-americano Hudson Institute, para alertar os oficiais-generais do Pentágono sobre as consequências dos investimentos chineses. Os intervenientes sublinharam, nomeadamente, que estes contratos expunham o país à uma espionagem intensiva, tornavam difícil a utilização do seu porto para os seus submarinos lançadores de engenhos nucleares, e os seus laços com a Sexta frota norte-americana.

O antigo Director da Mossad, Ephraim Halevy, a quem se reconhece a proximidade com os Estados Unidos, sublinhou que o Conselho de Segurança Nacional jamais havia deliberado sobre estes investimentos. Eles haviam sido decididos unicamente segundo uma lógica de oportunidade comercial. Coloca-se, pois, a questão de saber se Washington autorizou, ou não, esta reaproximação entre Telavive e Pequim.

Ninguém se deve iludir sobre as razões que permitiram à China estabelecer uma base militar em Djibuti, e parece pouco provável que Pequim tenha concluído um acordo secreto com Washington para este novo traçado da Rota da Seda. É claro, os Estados Unidos não estariam preocupados quanto a um colapso económico da União Europeia. No entanto, a longo prazo, a China e a Rússia são forçadas a entender-se para se preservar dos Ocidentais. A história mostrou que estes últimos tudo fizeram, e continuam a tudo fazer, para desmantelar estas grandes potências. Por conseguinte, se uma aliança sino-americana seria a curto e a médio prazo favorável a Beijing, depois ela conduziria à eliminação subsequente da Rússia e da própria China.

Os acordos sino-israelitas levam sobretudo a pensar que, de acordo com a fórmula de Lenine, «Os capitalistas venderam a corda com que virão a ser enforcados»

voltairenet.org
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1] “The Geopolitics of American Global Decline”, by Alfred McCoy, Tom Dispatch (USA) , Voltaire Network, 22 June 2015.
[2] “A China implanta-se no Próximo-Oriente”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 25 de Janeiro de 2016.
[3] «Piratas, corsarios y filibusteros del siglo XXI», por Thierry Meyssan, Red Voltaire , 1ro de julio de 2010.

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