COMO COMEÇOU, COMO TERMINARÁ
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sexta-feira, 18 de março de 2022

COMO COMEÇOU, COMO TERMINARÁ


Por Daniel Vaz de Carvalho, in Resistir, 16/03/2022

“Trinta anos após o fim da Guerra Fria, estamos enfrentando um esforço determinado para redefinir a ordem multilateral.

É um ato de desafio. É um manifesto revisionismo, o manifesto para rever a ordem mundial”

Josep Borell, Alto Representante da UE

“Nós não aceitamos ser dominados pela NATO”

S. Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia

1 – Os contextos

Com o fim da URSS, os EUA declararam-se vencedores da Guerra Fria. Detêm mais de 750 bases militares em 80 países diferentes, o dólar reserva monetária global. Desde então acharam poder definir as regras de governo de todos os países e sancioná-los, agredi-los ou mesmo invadi-los se as violassem. Criaram-se assim duas suposições que se mostraram fatalmente erradas: que o monopólio dos EUA sobre o uso da força duraria para sempre e que os EUA poderiam continuar a impor uma ordem mundial “baseada em regras”, as suas.

Estas ilusões terminaram com a intervenção da Rússia na Síria. Os EUA enfrentam uma nova era em que não podem mais mudar os regimes pela força das armas ou sanções, depois dos danos causados pelos conflitos EUA/NATO no Afeganistão, Iraque, Síria, Iémen, Líbia, Jugoslávia, etc, ou as sanções a Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Rússia, China, etc.

O estatuto a que os EUA se promoveram não comporta nem admite potências como a Rússia e a China. O ressurgimento da Rússia não estava nos planos imperialistas. A Rússia foi buscar ao seu passado soviético na cultura, ciência, avanços militares, a força para se libertar do estatuto de colónia que lhe queriam impor e ser desmembrada.

Salientamos três contextos desta crise. A primeira reflexão é sobre a tese Leninista de que capitalismo e guerra são inseparáveis. Um mundo de paz só é possível em socialismo. Os propagandistas do sistema capitalista argumentam que o comércio livre e a democracia são obstáculos às guerras: as democracias nunca se atacaram e o comércio livre acaba por sobrepor-se a quaisquer outros interesses. Esquecem que a maioria das guerras do mundo moderno e mesmo antes tiveram origem precisamente no desejo ou necessidade de expandir e dominar mercados. Quanto à democracia o raciocínio está certo quando por democracia se define o que os EUA entendem como tal, a partir daqui tudo passa a ser possível contra os “outros”.

A segunda reflexão é a diabolização dos que são designados adversários. Assim acontece a todos que defendem a soberania, escolhem outro modelo de sistema político e/ou económico, que pretendam controlar transnacionais ou movimentos financeiros no seu país. Como disse o antigo diplomata Alastair Crooke, com a incapacidade de escutar o “outro”, de compreender as suas razões e interesses próprios, fecha-se a via diplomática. A negociação e a diplomacia ficam comprometidas com a diabolização dos interlocutores e a fraseologia maniqueísta. A liderança dos EUA perdeu quase inteiramente a capacidade de empatia, a capacidade de “ouvir o outro”, tornou-se “um livro fechado”. Toma então lugar a tese de Clausewitz: a guerra é a política por outros meios.

Note-se que Hitler e o nazismo nunca foram diabolizados antes da guerra se iniciar. Mesmo depois de 1939, a França e a Inglaterra preparavam-se para alinhar com a Alemanha contra a URSS no caso da Finlândia.

A terceira reflexão é o papel dos media. Para controlar as pessoas fazem com que percam a memória, ignorem factos passados e impõem uma narrativa. Desde que a Rússia começou a libertar-se do pesadelo instituído por Ieltsin e pretendeu assumir um papel de igualdade na cena internacional, à semelhança de Roma relativamente a Cartago, foi desencadeado o clamor de Delenda est Rússia. Atualmente, no espaço EUA/NATO a desinformação atingiu um nível inaudito de falsidades e absurdos, agravada com o bloqueio da informação russa.

Diz Caitlin Johnstone, durante cinco anos fomos bombardeados com narrativas histéricas anti-russas. Os falsos escândalos da Rússia foram inventados pela inteligência dos EUA para fabricar consentimento para um confronto com a Rússia e preservar a hegemonia unipolar dos EUA.

Há dois pesos e duas medidas conforme as agressões são cometidas “por nós” (EUA/NATO) ou “por eles”. Quando misseis Patriot caiam sobre uma indefesa Bagdade o que passou nos media não foi revolta, nem empatia pelo sofrimento e morte de civis, foi a contemplação admirativa pelo poder militar e tecnológico dos EUA. Quando a Sérvia foi bombardeada durante 78 dias, para o atual secretário-geral da ONU, A. Guterres, tratava-se de defender os “direitos humanos.”

Com este argumento (ou outro) desde 2001 a 2018 as guerras EUA/NATO teriam morto pelo menos 2 milhões de pessoas, tudo pelas “boas causas” da NATO. Cidades como Fallujah, Ramadi, Sirte, Kobane, Mosul e Raqqa reduzidas a escombros, guerras que mergulharam sociedades inteiras em violência e caos sem fim.

Não se trata da parte dos EUA/NATO de defender a Ucrânia, se não teria sido aceite o tratado de segurança coletivo na Europa, proposto por Putin, posto de parte com evasivas e exigências sobre a Rússia quanto à movimentação de tropas no seu território, enquanto informalmente a Ucrânia era alinhada com a NATO.

Um texto do jornal Guardian recordava, citando numerosas personalidades que desde os anos 1990 advertiam que expandir a NATO para Leste conduziria à guerra. Estas advertências foram ignoradas. Agora o projeto “Mobilidade Militar” obriga a Áustria, a Suécia e a Finlândia a fornecer capacidades de transporte para que a NATO possa transferir suas forças armadas.

Com as agressões pós 2001 a NATO mostrou que não é uma organização defensiva: é um dos meios militares para os EUA imporem o poder global. Quebrando o acordo com Gorbachov, a NATO expandiu-se para 14 países do Leste. A Rússia ficou confinada nas suas fronteiras, Moscovo a minutos de ser atingida a partir de bases da NATO e as suas relações externas condicionadas por sanções desde que a Rússia renasceu do abismo para onde as camarilhas de Gorbatchov e Ieltsin a tinham levado. (ver textos de Dimitri Rogozin aqui e aqui). Com novas expansões previstas na Ucrânia, Geórgia, falhadas na Bielorrússia e Cazaquistão, estavam criadas as condições para “uma tempestade perfeita”.

A Ucrânia tornou-se a frente avançada contra a Rússia. Os EUA entregaram à Ucrânia, desde 2014, 2,4 mil milhões de dólares em material militar, incluindo 450 milhões em 2021 (agora destruído). Desde 2014, a UE e instituições financeiras europeias entregaram mais de 17 mil milhões de euros à Ucrânia, e um plano de investimentos de 6 mil milhões de euros, sem condições, o que não foi feito para Portugal ou a Grécia. O FMI, violando as suas próprias regras de garantias financeiras, proporcionou 1,7 mil milhões de dólares em 2015, e estava a preparar-se com o BM para entregar mais 5,2 mil milhões. [NR]

Estavam previstos exercícios militares com cinco potências da NATO nas regiões orientais da Ucrânia e realizar “ações defensivas, a fim de restaurar a fronteira do Estado.” Claro que “restaurar as fronteiras do Estado” nunca seria com ações “defensivas”.

2 – A Situação

Que ganhou a Ucrânia, pacífica até então, com o golpe de 2014? Foi usada contra a Rússia, mostrando que o imperialismo apenas consegue espalhar o caos onde intervém, criando esta situação ao recusar os direitos da Rússia na segurança europeia. O que se passa tem pouco a ver com a Ucrânia, em si, mas na obsessão dos falcões de Washington com a Rússia e Putin, nunca aceitando a ascensão da Rússia que eclipsaria o controlo dos EUA sobre a restante Europa.

O acordo de Minsk (2014), nunca cumprido pela Ucrânia com apoio da NATO, foi uma forma de ganhar tempo, para ser rearmada e treinada pela NATO para voltar a atacar o Donbass. Na primavera de 2021, Zelensky anunciou que a Ucrânia retomaria a Crimeia à força. A Rússia então organizou grandes manobras militares. Em novembro, a Ucrânia declarou que retomaria o Donbass à força. A Rússia novamente encenou manobras militares, mas desta vez a situação piorou ainda mais. A partir de meados de fevereiro, os monitores da OSCE em torno de Donbass relatavam um aumento das violações do cessar-fogo e explosões.

A “operação especial da Rússia para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia” começou após um pedido de assistência militar feito pelas recém-reconhecidas repúblicas populares de Lugansk e Donetsk. O presidente russo salientou que os habitantes russófonos têm sido sujeitos a um genocídio nessa região. “A Rússia não começou ações militares, está a terminá-las após oito anos de guerra no Donbass. “Durante todos esses oito anos, tentámos apelar à consciência do Ocidente e lidar com esse regime, que adquiriu todos os traços do ultra-radicalismo e do neonazismo. Durante esse tempo, 13 a 14 mil pessoas foram mortas. Mais de 500 crianças foram mortas ou feridas. Os EUA/NATO nada fizeram, limitaram-se a olhar para o lado.

Note-se que o Donbass recusou-se a aceitar a violação da Constituição ucraniana pelo golpe de Estado fomentado pelos EUA. A Ucrânia após 2014, não passou de um peão sacrificado no tabuleiro internacional (Caitlin Jonhstone). O que a situação atual mostra é que os EUA provocam problemas globalmente, mas são incapazes de os resolver.

Em primeiro lugar, a Rússia não podia ficar ociosa diante da situação em que a NATO controla a sua zona estratégica circundante, expandindo-se mesmo para os países da Comunidade de Estados Independentes (CEI) ameaçando a sua segurança. Acima de tudo, a Rússia não permite que a Ucrânia sirva de base militar para ameaçá-la com armas nucleares, agravada com a descoberta (certamente já de conhecimento dos serviços secretos russos) de laboratórios de armas biológicas na Ucrânia.

Nos dois primeiros dias da operação de “desmilitarizarão e desnazificação” da Ucrânia, o exército russo tinha destruído 821 alvos da infraestrutura militar da Ucrânia, aeródromos militares, postos de comando, centros de comunicação, sistemas de mísseis antiaéreos S-300 e Osa, estações de radar, aviões de combate, helicópteros, veículos aéreos não tripulados, assim como veículos blindados, sistemas de foguetes de lançamento múltiplo e veículos militares especiais. Foram destruídas oito embarcações militares da Marinha Ucraniana” e estabelecido o controlo total sobre a cidade de Melitopol, no sul do país. Em 01 de março, o acesso ao mar de Azov pelas tropas ucranianas ficou completamente bloqueado. Em 05 de março, o total de alvos da infraestrutura militar da Ucrânia destruídos era de 2 037, segundo o Ministério da Defesa russo.

Na RTP-3 (25/fev/21h30) o general Cunha dos Santos, expôs, com a competência que não existe nos “comentadores”, que sem cobertura aérea o exército ucraniano deixa de fazer sentido em termos militares modernos. O apelo à população civil para se armar e lutar é mandar essas pessoas para a morte. É um sinal de fraqueza, não uma atitude digna. Colocar artilharia pesada e lança foguetes no interior de cidades é proibido pela convenção de Genebra. (criar escudos humanos). Os líderes ocidentais incentivaram este governo ucraniano (…) tiveram um comportamento no limite do criminoso.

E este comportamento persiste. A UE vai dar 500 milhões de euros em armas e combustível para a Ucrânia, embora os apoios sociais e a empresas em dificuldades devido às sanções à Rússia tenham de sair dos Orçamentos de Estado – mais endividamento…

O dilema para os russos é a luta nas cidades. Eles querem que no fim haja ucranianos amigos. Isto complica-se com o problema de limpar os nazis de Mariupol sabendo que usam as pessoas da cidade como reféns. O mesmo problema existe, em menor grau, noutras cidades. Em 11 de março, 12 corredores humanitários estavam ativos em quatro regiões para permitir retirar civis. Entretanto fechava-se o cerco a Kiev e Kviv.

As sanções, usadas indiscriminadamente pelos EUA contra quem não lhe agrada, não resultaram com Cuba, Coreia do Norte, Venezuela, Irão, Rússia ou China, etc, o que mostra os limites de poder e o declínio do império incapaz de levar de vencida os que não se lhe submetem.

O atual plano de “sanções do inferno“, proibindo exportações de energia da Rússia é um tiro nos pés, ou mesmo mais acima, para a UE. Cerca de 45% do gás natural da UE veio da Rússia em 2021, a Rússia também é o maior fornecedor de petróleo da Europa. Washington está a aproveitar o sentimento de insegurança que reina na UE para intensificar em seu benefício a crise. As consequências das sanções foram com detalhe analisadas por Pepe Escobar, Irina Slav, Michael Hudson.

Nesta situação a UE coloca-se ao nível do Egito aquando protetorado britânico em que quem mandava eram os Altos Comissários Gerais britânicos, que acumulavam a função de cônsules gerais do Império Britânico no Egito. A NATO tornou-se um órgão de formulação de política externa da UE que aceita ser um “apêndice” obediente ao ponto de não dominar os seus interesses económicos.

3 – Cenários

No I Ching, livro das adivinhações chinês, há um capítulo sobre as crises. Ali diz-se que quando uma crise está iminente há sempre três avisos, quando chega o último já nada a impede. Os dois primeiros avisos foram desprezados pelos EUA/NATO, o terceiro identificamo-lo no discurso de Putin de 21 de fevereiro. Antes Vladimir Putin comunicou aos EUA/NATO os limites das suas linhas vermelhas, esperando uma resposta concreta desde novembro de 2021, após o que, tomaria contra medidas. Podemos agora distinguir três cenários e mais um:

– Um acordo de segurança na Europa entre a NATO e a Rússia, mas tal será improvável tanto na visão da Rússia como da China até que surja uma nova ordem mundial. Concluíram que não é mais possível partilhar uma sociedade global com os EUA, determinados a impor ao mundo uma hegemonia em que as suas leis e determinações se sobrepõem à soberania, decisões de outros países e mesmo da ONU.

– Os custos económicos e humanos das sanções serão tão catastróficos que Putin seria deposto por pró-oligarcas ocidentais. Desde 2014 são aplicadas sanções à Rússia. A economia russa provou ser notavelmente à prova de sanções. Hoje a economia da Rússia é muito mais resiliente a sanções do que era em 2014. A história das “sanções do Inferno” não é credível. O resultado pode bem ser a desdolarização da economia global e uma escassez maciça de matérias-primas à escala mundial. Neste cenário a UE é o perdedor económico e político principal.

A votação na ONU contra a Rússia mostra que a “comunidade internacional” liderada pelos EUA encolhe: embora tenha recolhido 141 votos a favor, 5 votos contra e 35 abstenções (a Venezuela perdeu direito de voto por dívidas à ONU) mostrou que em temos populacionais a maioria do globo não alinha com os EUA. Quanto às “sanções do inferno” são seguidas somente pela UE, Albânia, Reino Unido, Islândia, Canadá, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Macedónia do Norte, Singapura, EUA, Ucrânia, Montenegro, Suíça, Japão e Taiwan, mais cinco mini-Estados: Andorra, Liechtenstein, Micronésia, Mónaco, San Marino. Veja-se que nesta conjuntura África, América Latina, Ásia, se afastam da chamada “comunidade internacional”. A propaganda diz: “a Rússia está isolada”…

– Outro cenário que os EUA/NATO preparam é envolver a Rússia numa guerra de guerrilha tornando os custos da invasão proibitivos em termos de perdas militares e económicas. Segundo a Rússia os mercenários enviados pelo Ocidente não serão considerados combatentes. Segundo o direito internacional, eles não têm direito a receber o estatuto de prisioneiro de guerra e “o melhor que pode acontecer em caso de serem presos é enfrentar responsabilidade criminal.”

No caso de a Rússia expulsar o governo Zelensky do país, os EUA, como nada aprenderam com a “experiência” Guaidó e outras, podem preparar um governo ucraniano no exílio e uma longa rebelião apoiada por milhares de milhões de dólares.

Neste cenário os “comentadores” acham que quanto mais longo for o conflito mais difícil será a China apoiar a Rússia. Mas têm pouco a que se agarrar. A “amizade China-Rússia é sólida como a rocha e livre de interferências de quaisquer terceiras partes”, disse o conselheiro de Estado e ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi. “Como membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China e Rússia são importantes vizinhos e parceiros estratégicos um do outro. Estes laços são uma das relações bilaterais mais cruciais do mundo, a nossa cooperação não só traz benefícios e bem-estar para nossos povos, mas também contribui para a paz, estabilidade e desenvolvimento mundial.”

– Uma guerra mundial não é um cenário que possa ser posto de parte. A Rússia afirma lutar pela sua existência, mas também os EUA como império global. Sem esta condição em que se tornariam os EUA, um país ultra endividado?

Vladimir Putin avisou que quem tentasse impedir a Rússia de atingir os seus objetivos na Ucrânia iria sofrer “consequências nunca vistas na sua história”, dias mais tarde, perante a hipótese de intervenção direta da NATO, foi ordenado que as forças de dissuasão nucleares russas fossem colocadas em modo especial de serviço de combate. A Rússia é uma das duas potências nucleares mais poderosas, tendo vantagens numa gama de armas de última geração.

Em vez de ter o realismo de reconhecer os interesses russos ao longo de sua fronteira ocidental – e buscar um terreno comum de colaboração sobre os problemas mundiais e não intervenção nas políticas internas de cada Estado, os EUA escolheram o confronto, com o risco de um conflito militar crescente.

O fim da invasão e da guerra na Ucrânia só pode ser garantido se a própria segurança da Rússia for garantida. A segurança é em grande parte indivisível. Este é um princípio fundamental em que a Rússia insiste com razão. Porém o Ocidente recusou-se a reconhecer os direitos iguais da Rússia na organização da segurança europeia – que levaria ao fim do controlo dos EUA sobre a Europa.

Após uma luta dolorosa a Europa buscará a reconciliação. A América será mais lenta: os falcões de Washington tentarão redobrar esforços. E será a situação económica que poderá em última análise determinar o “quando”. (Alastair Crooke)

A questão é: como terminará este conflito. Tal como as paixões (no dizer dos psicólogos) ou termina na loucura ou pelo esgotamento. De qualquer forma, o império ao levar a Ucrânia à destruição para submeter a Rússia, já garantiu o fim do mundo unipolar. Destruídas infraestruturas militares ucranianas criadas pela NATO e os batalhões nazis como o Azov, que mantêm refém o povo de Mariupol, capturando os seus líderes, vivos ou mortos. A Rússia está em condições de negociar uma nova arquitetura política para a Ucrânia, libertada de fascistas poderosos e sendo restauradas políticas pacíficas. Os próprios ucranianos devem decidir, como continuar a viver. Uma Ucrânia Federal reconhecendo a independência das Republicas de Lugansk e de Donetsk incluíndo Mariupol tal como após a proclamação desta República em 2014, perdida depois para as forças ucranianas, será o plano russo. Funcionará?

O verdadeiro terrorismo mediático desencadeado – em contradição com o que enviados especiais relatam no terreno! – encobre a impotência ocidental, impedindo a tomada de consciência dos povos para as crises e perigos existentes. É urgente um novo padrão de política externa de cooperação internacional e desmilitarização.

O empenho dos EUA em criar um conflito na Ucrânia foi um erro estratégico que pode bem ser o fim da Europa da NATO. A situação permanecerá com todos os perigos latentes até os povos se questionarem por que terão de pagar por armas dos EUA que apenas os colocam em perigo, pagar preços mais altos pelo GNL e petróleo, pagar mais por cereais e matérias-primas antes produzidas na Rússia e perder exportações.

Outros teatros de confronto geostratégico desenrolam-se com a China no Mar do Sul da China, com Taiwan e no Médio Oriente. No Médio Oriente há uma tentativa de contenção do Irão e da China. O ataque de drones aos Emirados Árabes Unidos, aliados dos EUA, em janeiro (reivindicado pelos hutis) está ligado ao controlo do estreito de Bab al Mandeb, essencial para a Nova Rota da Seda Marítima da China. O seu controlo pelos EUA compromete os objetivos chineses e enfraquece a Comunidade Económica do Leste Asiático. Justificativa suficiente de Washington para o apoio à guerra no Iémene. Mas os hutis dão aos Emirados Árabes uma escolha amarga: atacar suas cidades ou ceder no estratégico Bab al-Mandeb.

Tudo isto faz parte do evoluir de uma nova ordem mundial, um novo modelo geostratégico, cuja evolução depende de quanto os protagonistas (EUA e aliados versus Rússia e China) possam resistir nos conflitos atuais.

[NR] Aos valores mencionados devem-se acrescentar os US$13,6 mil milhões aprovados por Biden em 24/Fev/2022 de ajuda militar e humanitária à Ucrânia.   A soma dos valores dados a fundo perdido para a Ucrânia é superior à soma dos valores emprestados a Portugal + Grécia durante o período em que estiveram sob a tutela de Troikas (UE, FMI e BCE).


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