NA TERRA DO NUNCA
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domingo, 7 de outubro de 2012

NA TERRA DO NUNCA

Na terra do nunca
sábado, 06-10-2012
Público

Domingos Ferreira

A revista Forbes publicou recentemente a lista dos 400 homens mais ricos do mundo. Em primeiro lugar está Bill Gates, logo seguido de Warren Buffet. E, como já era de esperar, também lá estavam: Michael Bloomberg, George Soros, The Kock Brothers, etc. Até aqui, nada de novo. A única novidade é o facto de estas 400 fortunas terem crescido cerca de 6% face ao ano anterior, enquanto o rendimento médio da classe média nos EUA caiu aproximadamente naquele valor. Confirma-se, assim, a tendência dos últimos 30 anos de transferência de riqueza dos mais vulneráveis para 1% da população mais rica.

Vem isto a propósito das afirmações do adviser do Governo quando afirma que "os empresários portugueses são ignorantes", pois estes não perceberam o alcance dos benefícios da TSU. Muito embora quer o adviser do Governo, quer o próprio primeiro-ministro conhecessem um excelente estudo realizado por vários investigadores da EEG da Universidade do Minho, onde se demonstravam os efeitos profundamente recessivos desta medida, optaram lamentavelmente por ignorá-lo. António Borges mostra uma profunda ignorância acerca da evolução da ciência económica quando defende a implementação destas medidas de austeridade. De facto, não só Ben Bernanke e Christy Romer, prestigiados economistas, como também o MIT, a Universidade de Harvard e de Princeton, a FED e o próprio FMI constituem-se hoje como os "novos keynesianos". Curiosamente duas das maiores autoridades mundiais em política monetária da Universidade de Chicago, designadamente Milton Freedman (em A Theorical Framework for Monetary Analysis), bem como Anna Jacobson Schwartz (em A Monetary History of the United States) acabaram por partilhar posições comuns com Keynes no que se refere às recessões. A tudo isto soma-se uma vaga de estudos produzidos por uma imensa plêiade de jovens excelentes economistas sobre política orçamental que no geral confirmam que o estímulo orçamental é eficaz e determinante na retoma económica. Por conseguinte, a solução para a resolução da crise deverá ser efectuada através do foco no crescimento e no emprego e não no défice como defende António Borges. Talvez valesse a pena a este fundamentalista do mercado estudar o manual Economics, de Paul Samuelson. Escandalosamente, este Governo e o seu adviser pretendem também a privatização da lucrativa CGD, apesar desta nada ter a ver com a crise do país. Os tubarões, cheirando-lhes a sangue na água, posicionam-se já para retalhar a presa. Tudo com a cumplicidade de gente "muita séria" que expressa opiniões que são consideradas muito respeitáveis (todavia, ao serviço dos mais poderosos e influentes), subtraindo aos portugueses, através de duvidosos processos de privatização, um lucrativo espólio. Claro! Tudo em nome da competitividade e do reajustamento.

Como é possível que os portugueses permitam isto? Mas vale a pena colocar a questão: por que razão este economista defende estas posições? Pela simples razão que os economistas da esfera dos partidos conservadores não querem ver os Governos envolvidos na economia. De acordo com esta perspectiva, as recessões resolvem-se naturalmente pelas leis do mercado. O que é absurdo, como mostrou a crise financeira de 2008. Porém, o que eles não querem dizer é que o sucesso da intervenção do Estado na resolução da crise (à semelhança de 1930), para além de provar que estes sempre estiveram errados, representa também uma ameaça aos seus interesses. Por conseguinte, combatem ferozmente as intervenções do Estado nem que isso represente lançar milhões de pessoas no desemprego com o falso argumento de que as medidas de austeridade irão estabelecer a confiança nos mercados.

Todavia, não só a confiança dos mercados não foi restabelecida como também a economia se encontra em depressão acelerada. A cegueira ideológica é tal que os líderes da UE insistem no caminho para a "terra do nunca" com mais um pacote de brutais medidas que resultará inevitavelmente em novos impostos no próximo ano. Assim, dado que programa de reajustamento falhou, o Governo devia apresentar de imediato a sua demissão, bem como os líderes da UE e os alemães deviam deixar Mario Draghi e o BCE fazer aquilo que deve ser feito. O mais grave é que, em resultado do desespero da populações, os populistas e demagogos não perdem tempo e ameaçam já tornar independente a Catalunha, a região mais rica de Espanha, e a Baviera, a zona mais rica da Alemanha, o que abrirá uma caixa de Pandora que implodirá a UE, colocando sérios riscos quer à paz na Europa, quer à paz mundial.

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