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Posted on 03:55 by Paulo Ramires
Na terra do nunca
sábado, 06-10-2012
Público
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Domingos Ferreira
A revista Forbes publicou recentemente a lista dos 400 homens mais ricos
do mundo. Em primeiro lugar está Bill Gates, logo seguido de Warren
Buffet. E, como já era de esperar, também lá estavam: Michael Bloomberg,
George Soros, The Kock Brothers, etc. Até aqui, nada de novo. A única
novidade é o facto de estas 400 fortunas terem crescido cerca de 6% face
ao ano anterior, enquanto o rendimento médio da classe média nos EUA
caiu aproximadamente naquele valor. Confirma-se, assim, a tendência dos
últimos 30 anos de transferência de riqueza dos mais vulneráveis para 1%
da população mais rica.
Vem isto a propósito das afirmações do adviser do Governo quando afirma
que "os empresários portugueses são ignorantes", pois estes não
perceberam o alcance dos benefícios da TSU. Muito embora quer o adviser
do Governo, quer o próprio primeiro-ministro conhecessem um excelente
estudo realizado por vários investigadores da EEG da Universidade do
Minho, onde se demonstravam os efeitos profundamente recessivos desta
medida, optaram lamentavelmente por ignorá-lo. António Borges mostra uma
profunda ignorância acerca da evolução da ciência económica quando
defende a implementação destas medidas de austeridade. De facto, não só
Ben Bernanke e Christy Romer, prestigiados economistas, como também o
MIT, a Universidade de Harvard e de Princeton, a FED e o próprio FMI
constituem-se hoje como os "novos keynesianos". Curiosamente duas das
maiores autoridades mundiais em política monetária da Universidade de
Chicago, designadamente Milton Freedman (em A Theorical Framework for
Monetary Analysis), bem como Anna Jacobson Schwartz (em A Monetary
History of the United States) acabaram por partilhar posições comuns com
Keynes no que se refere às recessões. A tudo isto soma-se uma vaga de
estudos produzidos por uma imensa plêiade de jovens excelentes
economistas sobre política orçamental que no geral confirmam que o
estímulo orçamental é eficaz e determinante na retoma económica. Por
conseguinte, a solução para a resolução da crise deverá ser efectuada
através do foco no crescimento e no emprego e não no défice como defende
António Borges. Talvez valesse a pena a este fundamentalista do mercado
estudar o manual Economics, de Paul Samuelson. Escandalosamente, este
Governo e o seu adviser pretendem também a privatização da lucrativa
CGD, apesar desta nada ter a ver com a crise do país. Os tubarões,
cheirando-lhes a sangue na água, posicionam-se já para retalhar a presa.
Tudo com a cumplicidade de gente "muita séria" que expressa opiniões
que são consideradas muito respeitáveis (todavia, ao serviço dos mais
poderosos e influentes), subtraindo aos portugueses, através de
duvidosos processos de privatização, um lucrativo espólio. Claro! Tudo
em nome da competitividade e do reajustamento.
Como é possível que os portugueses permitam isto? Mas vale a pena
colocar a questão: por que razão este economista defende estas posições?
Pela simples razão que os economistas da esfera dos partidos
conservadores não querem ver os Governos envolvidos na economia. De
acordo com esta perspectiva, as recessões resolvem-se naturalmente pelas
leis do mercado. O que é absurdo, como mostrou a crise financeira de
2008. Porém, o que eles não querem dizer é que o sucesso da intervenção
do Estado na resolução da crise (à semelhança de 1930), para além de
provar que estes sempre estiveram errados, representa também uma ameaça
aos seus interesses. Por conseguinte, combatem ferozmente as
intervenções do Estado nem que isso represente lançar milhões de pessoas
no desemprego com o falso argumento de que as medidas de austeridade
irão estabelecer a confiança nos mercados.
Todavia, não só a confiança dos mercados não foi restabelecida como
também a economia se encontra em depressão acelerada. A cegueira
ideológica é tal que os líderes da UE insistem no caminho para a "terra
do nunca" com mais um pacote de brutais medidas que resultará
inevitavelmente em novos impostos no próximo ano. Assim, dado que
programa de reajustamento falhou, o Governo devia apresentar de imediato
a sua demissão, bem como os líderes da UE e os alemães deviam deixar
Mario Draghi e o BCE fazer aquilo que deve ser feito. O mais grave é
que, em resultado do desespero da populações, os populistas e demagogos
não perdem tempo e ameaçam já tornar independente a Catalunha, a região
mais rica de Espanha, e a Baviera, a zona mais rica da Alemanha, o que
abrirá uma caixa de Pandora que implodirá a UE, colocando sérios riscos
quer à paz na Europa, quer à paz mundial.
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