A DESTRUIÇÃO DA LÍBIA É UM AVISO PARA O EGIPTO, SÍRIA E UCRÂNIA
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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A DESTRUIÇÃO DA LÍBIA É UM AVISO PARA O EGIPTO, SÍRIA E UCRÂNIA

A DESTRUIÇÃO DA LÍBIA É UM AVISO PARA O EGIPTO, SÍRIA E UCRÂNIA

EAU & Egipto supostamente por de atrás de ataques aéreos à Líbia: "Há um motivo político"


Na Líbia, a NATO efectivamente desorganizou e destruiu uma nação inteira. A acção da NATO na Líbia reduziu o país a pilhas de ruínas fumegantes, para que empresas ocidentais possam, não só pilhar os recursos nacionais, mas, também, usar o ‘modelo líbio’ com o padrão para futura acção extraterritorial na Síria, Egipto, Ucrânia e agora novamente no Iraque.


Por Tony Cartalucci, New Eastern Outlook (NEO)


“A Líbia está a considerar um deslocamento de forças internacionais para restabelecer a segurança, agora que a violência recomeçou em Tripoli, e dezenas de foguetes destruíram a quase toda a frota de aviação civil naquele aeroporto internacional.

‘O governo analisa a possibilidade de solicitar que forças internacionais sejam enviadas para actuar em solo, restabelecer a segurança, e ajudar o governo a impor a sua autoridade’ – disse um porta-voz do governo na Líbia, Ahmed Lamine, em declaração.”

 OS "PROXIES" DA NATO CANIBALIZAM-SE ENTRE SI

Milícia de Misrata toma e incendeia o aeroporto internacional de Trípoli, na Líbia

Em maio de 2014, a luta na cidade de Benghazi no leste da Líbia já deixara incontáveis mortos, muitos e muitos feridos e legiões de moradores obrigados a abandonar as próprias casas para não morrer, quando um “general renegado” fazia guerra contra “militantes islamistas” dentro da cidade. Num artigo intitulado “Famílias evacuam Benghazi, e general renegado ameaça com novos ataques“, a agência Reuters escreveu:

O auto-declarado Exército Nacional Líbio, liderado por um general renegado, disse a civis no sábado que abandonassem bairros de Benghazi antes de ele iniciar ali mais um ataque contra militantes islamistas, um dia depois de ali ter havido dezenas de mortos, nos mais violentos confrontos na cidade em meses.

O general renegado é Khalifa Haftar (às vezes também referido como “Hifter”), que morou durante anos nos EUA, nos arredores de Langley Virginia, ao que se crê sendo treinado pela CIA, até que retornou à Líbia em 2011 para comandar as forças de invasão da NATO. Num artigo de 2011, o Business Insider informava:  “O general Khalifa Hifter é o homem da CIA na Líbia?“:

"Desde que chegou aos EUA, no início dos anos 1990s, Hifter morou no subúrbio de Virginia, próximo de Washington, DC. Badr disse que nunca entendeu exactamente o que Hifter fazia para viver, e que a principal preocupação de Hifter sempre fora ajudar a sua grande família.

Quer dizer: trata-se de um ex-general de Kaddafi, que muda de lado e passa a trabalhar assumidamente para os EUA, instala-se na Virginia nos arredores de Washington, D.C. e consegue apoiar a própria grande família na Líbia, de modo que alguém que o conheceu ao longo de toda a vida diz que ‘nunca o entendeu exactamente ? Hmm.

É altíssima a probabilidade de que Hifter tenha sido comprado para trabalhar a favor dos EUA. Assim como figuras como Ahmed Chalabi foram ‘cultivadas’ para um Iraque pós-Saddam, Hifter pode perfeitamente ter desempenhado um papel semelhante como activo da inteligência dos EUA, à espera de um momento para agir na Líbia."

A ironia desse ‘arranjo’ é que muitos dos guerrelheiros sectários contra os quais Hafter está em luta em Benghazi são os mesmos guerrilheiros contra os quais Muammar Kaddafi se opôs ao longo de décadas como líder da Líbia; e são os mesmos guerrilheiros que a NATO armou e organizou, com Hafter, para induzir a queda de Kaddafi em 2011.

Sobre sua própria guerra em Benghazi,  Hafter disse que ela continuará “até que não reste nenhum terrorista em Benghazi”; e que “começamos essa batalha, que prosseguirá até alcançarmos os nossos objectivos. A rua e o povo líbio estão do nosso lado.” Os sentimentos de Hafter fazem perfeito eco ao que dizia Muammar Kaddafi em 2011. De diferente, só, que a imprensa ocidental negou, ao longo de décadas, que houvesse qualquer terrorista em Benghazi; e sempre apresentou as operações de Kaddafi em Trípoli como “massacre” de “pacíficos manifestantes pró-democracia.”

 A NATO DESTRUIU A LÍBIA

 


As mesmas atrocidades que a NATO listou, de início, como ‘causa’ para a sua “intervenção humanitária” na Líbia, imediatamente passaram a aparecer como práticas da própria NATO e das forças que a NATO ou mantém. Cidades inteiras foram cercadas levadas à fome, e bombardeadas por ar até capitularem. Em outras cidades, populações inteiras foram, ou exterminadas ou evacuadas ou em alguns casos, ‘empurradas’ para fora das fronteiras líbias. A cidade de Tawarga, onde viviam cerca de 10 mil líbios, foi totalmente destruída, a ponto de o London Telegraph referir-se a ela hoje como “cidade fantasma”.

Desde a queda de Tripoli, Sirte, e de outras cidades líbias que resistiram à invasão dos proxies da NATO, pouco sobrou em termos de estabilidade básica, muito menos da prometida "revolução democrática" da NATO e dos seus colaboradores que voltaram para a Líbia. O governo em Tripoli continua num caos, as forças de segurança divididos entre si, e agora um "rogue" agente da CIA está a realizar uma operação militar em larga escala contra Benghazi, incluindo o uso de aeronaves militares, aparentemente sem a aprovação de Trípoli.

Anos depois da conclusão da dita ‘revolução’, a Líbia continua sua trajectória forçada na direcção do mais completo atraso. As grandes realizações do governo de Muammar Kaddafi já foram desmontadas há muito tempo e é pouco provável que venham a ser restauradas, e muito menos resolvidas num em futuro previsível. A NATO efectivamente desorganizou e destruiu uma nação inteira, deixando-a não só a arder enquanto as corporações ocidentais saqueiam os seus recursos, mas também para ser usada como um modelo para futuras aventuras extra-territoriais na Síria, Egipto, Ucrânia, e agora o Iraque.

O MODELO LÍBIO: EGIPTO, SÍRIA, UCRÂNIA CUIDADO



Tal como foi feito na Líbia, também se tentou fazer ‘revoluções’ semelhantes no Egipto, na Síria e na Ucrânia. As mesmas narrativas, palavra a palavra, inventadas nos think-tanks políticos; nas redações da imprensa; e nas ‘análises’ dos especialistas acadêmicos ocidentais, para a Líbia, estão sendo agora reutilizadas para o Egipto, Síria e Ucrânia. As mesmas organizações não-governamentais (ONGs) estão a ser usadas como meio para fazer chegar dinheiro, equipamento e outras modalidades de apoio aos grupos de oposição, em cada um desses países. Termos como “democracia”, “progresso”, “liberdade” e luta contra a "ditadura” são frequentes. Não houve protestos que não tenha sido acompanhados por guerrilheiros armados e sempre, apoiados pelo Ocidente.

Na Síria, os protestos foram instrumentalizados e vendidos como acção de “combatentes da liberdade”. Os media ocidentais consomem agora muito do seu tempo, spinning and justifying why NATO and its regional partners are funding and arming sectarian militants inclusive a Al Qaeda, para que tentem derrubar o governo sírio.

No Egito, ainda há alguma ambiguidade, tal como houve também em 2011 no caso da Síria, sobre quem realmente são os manifestantes, o que realmente querem e de que lado do conflito cada vez mais violento estão ‘as simpatias’ do ocidente. Mas numa análise atenta mostra que, assim como a Irmandade Muçulmana foi usada na Síria para montar o cenário para a guerra devastadora que se seguiu, a Irmandade Muçulmana no Egipto também está a ser usada, praticamente do mesmo modo, contra o Cairo.

Finalmente, na Ucrânia, os manifestantes apresentados no ocidente como “pró-democracia”, “pró-União Europeia”, “Euromaidan” já foram revelados como neo-nazistas ultras da direita e nacionalistas, conhecidos por recorrer regularmente à violência e à intimidação política. Exactamente como se viu na Síria em 2011 e no Egipto agora, confrontos armados de baixa intensidade em direcção ao que pode acabar como uma guerra por procuração entre a NATO e a Rússia na Europa Oriental.

Mas para estas três nações, e os participantes de todos os lados, o estado actual da Líbia deve ser examinados. Essas "revoluções" têm apenas uma conclusão lógica e previsível - o saque, divisão e destruição de cada respectivo país, antes de serem embrulhados na crescente ordem supranacional de Wall Street e Londres a ser explorado indefinidamente tanto pelos EUA, Reino Unido e UE como já o são hoje. Para os que quiserem saber o que será do Egipto, Síria e Ucrânia bastará olhar para o caso de sucesso da NATO na Líbia. E para aqueles que apoiaram a "revolução" na Líbia, devem-se perguntar se estão satisfeitos com o seu resultado final. Será que eles desejam este resultado para o Egito, Síria e Ucrânia também? Será que eles imaginam que os planos da NATO para cada um destes países vai acabar de forma diferente? Por quê?


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