COMPREENDER O CONFLITO DA LÍBIA
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sábado, 25 de janeiro de 2020

COMPREENDER O CONFLITO DA LÍBIA

O conflito da Líbia é um dos conflitos mais problemáticos da actualidade por envolver várias partes com interesses divergentes reunidos em duas administrações.

Por Paulo Ramires

A intervenção da NATO em 2011 chamada de “intervenção humanitária” liderada pela França, EUA e Itália destruiu a Líbia de Muamar Kadafi, Kadafi tinha como plano vender o petróleo líbio em troca de uma moeda – o Dinar – com base no ouro desafiando assim o sistema imperial do petrodólar dos EUA. Os EUA não pensaram duas vezes e bombardearam a Líbia, e os europeus querendo assegurar os seus interesses petrolíferos juntaram-se aos EUA apoiando o envio da al-Qaeda e outros grupos terroristas para matar Kadafi, o que de facto veio a acontecer. Após o ataque da NATO, vários grupos de guerrilheiros e terroristas deslocaram-se para a Líbia representando o interesse de vários países e potencias, tornando o conflito da Líbia, um conflito desenvolvido por procurações onde os senhores da guerra têm um papel preponderante e de representação. O conflito está centrado em duas partes, Fayez al-Sarraj lidera o Governo do Acordo Nacional (GAN) com base em Tripoli, tendo o apoio das Nações Unidas e das nações ocidentais, incluindo os EUA, mas também a Turquia, o Qatar e a Itália. O GAN tem perdido terreno para a outra parte – o Exercito Nacional Líbio (ENL) – liderada pelo Marchal Khalifa Haftar que tem a sua sede de poder baseada na cidade de Tobruk no leste da Líbia. Haftar é apoiado pelo Egipto, os Emirados Árabes Unidos(EAU), Rússia, Arábia Saudita, Jordânia e França recebendo todavia contactos dos EUA. Haftar controla cerca de 90% da Líbia, fugindo ao seu controlo apenas as cidades de Tripoli e Misrata.

O que os diferentes países pretendem?

A Itália, a antiga potência colonial pretende a estabilização do país e manter acordos feitos com o governo de al-Sarraj sobre segurança e sobre petróleo. Roma fez ainda um acordo controverso com o GAN sobre migração, assunto caro para os italianos. A França nega oficialmente o seu envolvimento no apoio a Haftar mas apoia-o, vendo neste senhor da guerra uma forma de combater o extremismo e assegurar os seus interesses petrolíferos na Líbia. A Arábia Saudita, o Egipto e os EAU vêem em Haftar uma forma de combater o islão político, em particular a Irmandade Muçulmana que eles denunciam como organização terrorista. O GAN inclui facções da Irmandade Muçulmana que são apoiados pela Turquia e pelo Qatar. A Turquia tem várias razões para apoiar o GAN nomeadamente pelas suas aspirações históricas e territoriais desejando o controlo de várias zonas do leste do Mediterrânio que contêm várias reservas de gás natural, neste sentido Ankara e o governo de al-Sarraj assinaram recentemente um acordo de contencioso de fronteira marítima que permite à Turquia a exploração dessas zonas. Os EUA apoiam oficialmente o GAN mas ficaram em parte de fora do conflito tendo porém tido contactos cordeais com Haftar. A Rússia pretende expandir a sua influência na região preenchendo um vazio na diplomacia internacional para acabar com um conflito sanguinário às portas da Europa num país produtor de petróleo.

O papel do petróleo na Líbia

As duas administrações têm também lutado pelo controlo do petróleo Líbio, Haftar conseguio o controlo do chamado petróleo crescente líbio onde estão localizadas as maiores reservas de hidrocarbonetos. Por outro lado as Nações Unidas emitiram resoluções em que a companhia estatal líbia com sede em Tripoli, a National Oil Corporation(NOC) é a única entidade autorizada para gerir e vender petróleo tendo Haftar tentado quebrar esse monopólio.

Existem várias empresas petrolíferas a operar na Líbia mas as principais sãs a italiana ENI que sofre a concorrência da Total francesa que pretende estender a sua actividade no país. A BP tem também aumentado a sua produção e a Tafnet russa retomou a exploração no final do ano passado. 

A posição da União Europeia

A estabilização da Líbia é um objectivo importante da União Europeia por casa de questões como a migração, interesses energéticos, segurança ou a contenção do extremismo islâmico, porém a União Europeia encontra-se dividida em relação à Líbia, pelo facto da Itália e a França estarem em campos opostos. Esta situação reflecte-se nas suas decisões como foi o caso do bloqueio francês no ano passado duma declaração da União Europeia que pedia a Haftar para parar a ofensiva em Tripoli ou a declaração de apoio a al-Sarraj que ficou em grande parte sem resposta.

A migração tem sido um problema para a União Europeia significando mesmo uma ameaça à estabilidade social e política da união, várias pessoas com origem no norte de África e Médio Oriente têm partido da Líbia em direcção à Europa, estas pessoas podem ser migrantes económicos mas também terroristas e extremistas, mesmo assim o tratamento dado a estes migrantes por parte dos europeus tem merecido criticas relacionadas com a defesa dos Direitos Humanos. Também a Associated Press descobriu recentemente que vastas somas de dinheiro com origem na União Europeia têm ido parar às mãos de guerrilheiros e autoridades costeiras que exploram e abusam esses migrantes.

No entanto o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrel veio defender uma missão militar para defender o recente cessar-fogo entretanto acordado, contudo os estados membros têm se recusado a implementar essa ideia pois note-se que na Líbia já existem mercenários pagos por vários países, entre os quais a Turquia e a Rússia, razão pela qual seria arriscado enviar tropas para a Líbia.

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