TENSÃO AUMENTA NO MÉDIO ORIENTE MAS UMA GUERRA NÃO ESTÁ PREVISTA
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sábado, 4 de janeiro de 2020

TENSÃO AUMENTA NO MÉDIO ORIENTE MAS UMA GUERRA NÃO ESTÁ PREVISTA

A administração Trump pode estar rodeada de falcões, mas Trump não é um deles, além disso tem sido bastante contido no que diz respeito a desencadear guerras, para mais a aproximação de eleições nos EUA desaconselhariam qualquer início de guerra mas uma acção musculada como este ataque pode ser bem vista por algum eleitorado nos EUA que Trump queira captar.

Por Paulo Ramires

A tensão no Médio Oriente ganhou novos contornos com o assassinato do general Qasssem Soleimani, comandante da força de elite iraniana al-Quds quando este deixava o aeroporto internacional de Bagdad. Com ele morreu Abu Mehdi al-Muhandis, o número dois da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque conhecidos como Mobilização Popular (Hachd al-Chaabi) e outras seis pessoas. O ataque ocorreu três dias depois de um ataque à embaixada dos EUA. O ataque suscitou preocupações e reacções nos outros quatro membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas e com o Irão a prometer vingança por este ataque. Mas levarão estas acções a uma guerra entre Washington e Teerão? Muito dificilmente haverá uma guerra entre Washington e Teerão em termos clássicos até porque Donald Trump avisou já que não quer nenhuma guerra com o Irão. Seria de facto uma imprudência muito grande se tal viesse a acontecer, porque isso implicaria o envolvimento de outros países do Médio Oriente e de fora desta região como a Rússia e a China, que fizeram recentemente manobras militares na região com o Irão e que têm interesses para serem assegurados. 

Ao contrário do Iraque, o Irão é um país mais forte, populoso e geopoliticamente mais relevante contando com 82 milhões de pessoas ao contrário do Iraque que em 2003 contava apenas com 23 milhões, para além disso o Irão detém aliados na região e fora dela enquanto os EUA neste aspecto não tem a mesma capacidade de mobilizar outros países como tiveram na altura da guerra do Iraque. Qualquer medida militar de grande envergadura que os EUA queiram fazer tem hoje de ser mais bem ponderada do que antes. Uma guerra com o Irão é altamente improvável pelo impacto que teria nos mercados financeiros e na economia global, ocupando o Irão duas importantes zonas de mar cruciais para o tráfico marítimo como são o Golfe Pérsico e o Estreito de Ormuz que permite a ligação dos produtores de petróleo e o resto do mundo, além de partilhar fronteiras com vários países onde por exemplo os EUA já intervieram ou intervêm. 

Uma possível guerra com o Irão colocaria também os interesses regionais dos EUA em causa. Estima-se que o Irão possua mais de meio milhão de efectivos militares distribuídos pelo exército, marinha, força aérea, Guarda Revolucionária Islâmica e outros grupos paramilitares. O Irão também possui misseis balísticos de médio alcance capaz de alcançar Israel, Arábia Saudita, outros estados do golfo, bases militares americanas na região e mesmo países europeus. Uma intervenção militar no Irão exigiria uma logística complexa que implicaria 120 000 militares segundo analistas. Os EUA teriam de contar com a oposição de vários próxies no Médio Oriente como é o caso do Hezbollah que combate Israel ou os Houthis do Iémen que lutam contra a Arábia Saudita e que estariam dispostos a cometerem actos de sabotagem em posições chave como o Estreito de Ormuz. Os EUA teriam de lidar com a oposição da China, Rússia e provavelmente de outros países. Uma guerra com o Irão levaria ao envolvimento de vários outros países como a Turquia e a India. Isto não quer dizer que várias crises não possam ocorrer sendo mesmo provável que ocorram.

Não menos relevante seria também necessário saber-se até onde o exército norte-americano estaria disposto a participar num confronto com o Irão onde os aliados participantes seriam bem poucos. A administração Trump pode estar rodeada de falcões, mas Trump não é um deles, além disso tem sido bastante contido no que diz respeito a desencadear guerras, para mais a aproximação de eleições nos EUA desaconselhariam qualquer início de guerra mas uma acção musculada como este ataque pode ser bem vista por algum eleitorado nos EUA que Trump queira captar.

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