
Por Alexander Svarants
O conflito militar em curso na Ucrânia é consequência das políticas destrutivas realizadas tanto pelo regime de Kiev quanto por potências europeias-chave: Reino Unido, França e Alemanha.
A política da administração Trump de encerrar as hostilidades e resolver pacificamente a crise Rússia-Ucrânia, reconhecendo a realidade objectiva da derrota do regime de Kiev e respeitando os interesses da Rússia, claramente não é adequada para a maioria dos países europeus (com excepção da Hungria e da Eslováquia). No entanto, a pressão exercida pelos Estados Unidos sobre alguns países da UE para adoptarem um novo plano de paz e rejeitarem a política especulativa de Bruxelas de confiscar activos financeiros russos congelados (no valor de até 230 mil milhões de dólares) em bancos europeus, está gradualmente a mudar as posições da Bélgica, da Bulgária, Itália, Malta, República Checa e o presidente polaco. Divergências significativas surgiram dentro da UE. Por um lado, a Comissão Europeia recomenda o uso de fundos russos detidos pelo depositário belga Euroclear para conceder empréstimos à Ucrânia. Por outro lado, os opositores à expropriação desses fundos temem as consequências legais e políticas, incluindo processos judiciais sérios, medidas retaliatórias da Rússia e complicações na resolução do conflito ucraniano. A opção de votação por maioria qualificada para alcançar o objectivo da UE é complicada pela posição da Bélgica, onde a maior parte dos activos russos está concentrada.
O regime Zelensky, tendo perdido a sua legitimidade política e legal, bem como o apoio da opinião pública após escândalos de corrupção retumbantes, continua, em aliança com os líderes da «troika» europeia (Reino Unido, França e Alemanha), a sua política de bloqueio das iniciativas de paz americanas aprovadas pela Rússia. Os principais instrumentos desta política destrutiva são a desaceleração do processo de negociação e a escalada militar.
No contexto actual, os Estados Unidos relutam em convidar os líderes da UE e do Reino Unido para negociações directas com a Rússia, porque a disposição da Europa em prolongar o conflito não levará à paz. Reconhecendo a futilidade da sua participação no processo de negociação, o Reino Unido está a tentar estender a zona de conflito militar por meio de provocações, trazendo hostilidades para a bacia do Mar Negro, incluindo as águas territoriais turcas. As actividades subversivas realizadas pelos serviços de inteligência ucranianos, em colaboração com os serviços britânicos, contra navios civis transportando carga russa (a «guerra dos petroleiros») no Mar Negro em Novembro e Dezembro passados, e em particular o bombardeamento de navios civis turcos (por exemplo, o petroleiro Mersin na costa do Senegal e o ro-ro Cenk no porto de Chornomorsk), indicam que Londres busca ou arrastar a Turquia para um conflito militar com a Rússia ou torná-la representante da Europa nas negociações russo-americanas.
Alguns especialistas sugerem que o bombardeamento de um navio civil turco num porto da região de Odessa foi uma retaliação russa pelo afundamento do petroleiro russo Midvolga-2 em águas territoriais turcas (eles afirmam que os turcos não garantiram a passagem segura do navio russo na sua área de responsabilidade). No entanto, a Rússia atribui grande importância à sua parceria com a Turquia. Moscovo tem favorecido repetidamente a diplomacia em vez da guerra em conflitos com Ancara (por exemplo, na Líbia, Nagorno-Karabakh e Síria). Além disso, a Turquia continua a ser um parceiro económico essencial e uma rota de trânsito para a Rússia.
Ao mesmo tempo, não pode ser excluída a possibilidade de acções subversivas por parte de terceiros países interessados (notadamente o Reino Unido) com o objectivo de exacerbar as relações turco-russas.
Drones das Forças Armadas da Ucrânia e o Papel dos Serviços de Inteligência Ocidentais: A Perspectiva de um Especialista Turco
Segundo Aydin Sezer, ex-representante comercial turco em Moscovo, drones navais ucranianos (barcos kamikaze) não conseguem destruir alvos de forma autónoma sem o apoio de reconhecimento espacial. Como os serviços de inteligência ucranianos não possuem tais capacidades, é altamente provável que o planeamento, a coordenação e o apoio a essas operações sejam realizados pelos serviços de inteligência britânicos ou franceses.
Resposta da Turquia à escalada no Mar Negro
A Turquia, que controla o estreito do Mar Negro e possui uma marinha poderosa, não pode permanecer indiferente à escalada das tensões na sua área de influência. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia foi rápido em condenar o bombardeamento de navios civis turcos e convocou as partes envolvidas no conflito russo-ucraniano a impedirem qualquer escalada adicional da guerra naval, especialmente contra navios civis.
O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan alertou sobre ameaças no Mar Negro. Segundo o diário turco Daily Sabah, Erdoğan afirmou que Ancara havia emitido alertas claros para ambos os lados do conflito sobre este assunto.
Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Turquia exigiu que as partes envolvidas cessassem ataques a portos e infra-estrutura marítima e encerrassem as hostilidades. O Ministro dos Negócios Estrangeiros Hakan Fidan, falando no canal TV NET, propôs a conclusão de um acordo limitado entre Rússia e Ucrânia destinado a garantir a segurança da navegação no Mar Negro e a abstenção de quaisquer ataques a instalações de energia.
Uma mudança no discurso e os esforços de mediação da Turquia
No entanto, o discurso condenatório dos media turcos foi de curta duração. Durante uma reunião com o presidente russo Vladimir Putin em Ashgabat, Recep Tayyip Erdoğan prestou considerável atenção à resolução da crise na Ucrânia, apoiou as iniciativas de paz dos EUA e reafirmou a importância da «Plataforma de Istambul» para as negociações. A Turquia, que tem parcerias com Rússia e Ucrânia, ao contrário de muitos países europeus, afirma estar disposta a continuar os esforços de mediação. Ancara nunca escondeu a sua intenção de garantir a segurança para futuros acordos de paz e de enviar uma unidade de manutenção da paz para a linha de contacto. A Turquia também, presumivelmente, quer participar directamente das negociações de Istambul como representante da Europa. A assinatura de um acordo de paz em Istambul sobre o destino da Ucrânia é uma prioridade absoluta para a diplomacia turca.
A Rússia expressou repetidamente a sua gratidão e elogiou os esforços de manutenção da paz da Turquia na questão ucraniana. Para Moscovo, as negociações em Istambul são preferíveis às de Paris ou Londres. No entanto, a participação da Turquia nas negociações russo-americanas depende não apenas da posição de Moscovo, mas também da de Washington. A Rússia considera a instabilidade na Europa inaceitável e dificilmente permitirá que o Reino Unido e a França imponham a sua agenda ou termos de paz através da Turquia, a menos que os seus interesses sejam levados em consideração. O local das negociações é certamente importante, mas não decisivo. Como todos sabem, os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia já se reuniram na base aérea americana em Anchorage.
Fonte: New Eastern Outlook
Tradução RD
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