CHINA E PORTUGAL - O TAMANHO CONTA!
Só com o tamanho certo seremos um parceiro para a China. Há 500 anos, como agora.
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Em 1513, Jorge Alvares saiu de Malaca rumo à China, tendo-se tornado no primeiro português a contactar directamente esse país. O sucesso comercial levou a novas viagens, pois a China fazia então parte de um objectivo estratégico de Portugal de definição das suas rotas comerciais.
Um pouco mais de 500 anos depois desta primeira viagem, com igual objectivo, o Presidente da República fez uma nova viagem à China, a qual tivemos a oportunidade de acompanhar, inserido na comitiva de empresários. E então como agora a questão da enorme diferença de tamanho entre os dois países não pode deixar de colocar-se.
Para a China de hoje, uma cidade considerada pequena pode atingir um ou dois milhões de habitantes, uma cidade média aproxima-se dos dez milhões e uma grande tem mais de vinte milhões. Assim considerado, Portugal inteiro poderia, no máximo, almejar qualificar-se como uma cidade média da China.
Isto retrata bem a diferença de tamanho entre Portugal e a China, tamanho populacional, mas também económico, geográfico, político e tudo o mais. Economicamente, a China é hoje a segunda potência económica mundial, apenas atrás dos EUA.
Face a estas diferenças, como pode Portugal pretender ser ouvido pela China com algum grau de atenção? O mesmo é dizer das empresas portuguesas face às suas congéneres chinesas.
Da história do relacionamento de Portugal com a China, da nossa experiência de negócios na China de alguns anos e do que pudemos assistir durante esta visita de Estado, Portugal consegue realmente ser ouvido em Pequim e os nossos empresários têm sabido ter sucesso nos seus negócios chineses. O recente investimento chinês em activos estratégicos em Portugal – na REN, na EDP, etc. – é sinal disso mesmo.
Para nós, é inegável que assume relevância o facto de Portugal ser um país da União Europeia, mas, mais até do que isso, entendemos que são as especiais relações económicas que temos com Angola, Brasil e Moçambique, locais onde a China tem interesses estratégicos, que realmente fazem a diferença. São essas relações que nos dão a dimensão certa para que Portugal conte para a China.
A China vê em Portugal uma possível porta de entrada para a Europa, mas, especialmente, para os países de expressão portuguesa com recursos naturais estratégicos. E vê muito bem! Esperemos que possa continuar a vê-lo durante muito mais tempo. E foi isso que o nosso Presidente da República, o Governo, o AICEP e os nossos empresários que integraram a comitiva foram evidenciar nesta visita.
No nosso entender, para Portugal, não há China sem Angola, Brasil e Moçambique, ou pelo menos, sem eles, haverá muito menos China. As empresas portuguesas poderão beneficiar ainda mais nas suas relações económicas se se souber ser o facilitador chinês nos países de expressão portuguesa, para o que podemos estar especialmente qualificados. Mas isto significa também que Portugal tem que manter bem presente e viva, na sua política externa e económica, a relação com o Brasil, Angola e Moçambique, o que nem sempre tem sido fácil.
A relevância dos países africanos de expressão portuguesa para a China, por exemplo, é bem atestada pela existência de um fundo soberano especial para investimentos, que abrange Angola e Moçambique, com mais de 4 biliões de dólares disponíveis para investimentos, a subir nos próximos anos para mais de 6 biliões!
Na China, o tamanho conta, e Portugal só terá o tamanho mínimo para poder contar para a China se souber aproveitar, para além da integração na União Europeia, especialmente, a sua relação privilegiada, de história, de língua, de cultura – a presença das universidades na comitiva presidencial foi por isso também uma excelente ideia –, de direito e de economia, com Angola, Brasil e Moçambique.
Isso ficou mais uma vez demonstrado nesta visita presidencial, em que a vontade chinesa ficou patente e as portas bem abertas, também ainda bem reconhecidos da forma como Portugal soube negociar a transição de Macau.
Bem andou o Presidente com a marcação oportuna desta visita e bem andará o Governo se mantiver a ligação com os países de expressão portuguesa bem viva.
Só assim, com o tamanho certo, seremos um parceiro para a China. Há 500 anos, como agora.
Advogado, sócio SRS Advogados, RL
Público de 24/05/2014
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