Por Paulo Ramires
Como se tem vindo a dizer a Ucrânia não é uma questão isolada ou estanque, depende também de outras negociações que não estão a resultar, ou simplesmente o seu fracassa deve-se também a outros conflitos onde jogam os mesmos "player" da Ucrânia isto é a Síria e o árctico que detém 25% das reservas mundiais de petróleo e gás natural e onde se prevê uma militarização e disputas muito acesas.
No que concerne à situação na Ucrânia começa a preocupar pela concentração de tropas na região - tropas ucranianas, forças da NATO e tropas russas, estas estimadas em cerca de 40 000 - e pelo desenvolvimento de uma guerra civil pelo território da Ucrânia em particular nas partes sul e leste onde já morreram dezenas de pessoas, pelo menos 42 pessoas perderam as suas vidas e mais de 130 foram detidas na cidade de Odessa, situada a sul do país, após um grupo de pró-russos ter atacado uma manifestação de 1500 pessoas que defendiam a integridade do país. Em Slaviansk, dois helicópteros MI-24 foram abatidos e dois militares ucranianos foram mortos. Alguma observadores da OSCE foram detidos na Ucrânia entretanto já libertados. Estes desenvolvimentos mostram o início de uma guerra civil já a alastrar pelo país e que muito bem pode acontecer aquilo que vimos no passado e em 2011 na Síria. No caso desta zona de conflito se se desenvolver poderá ser primeiro uma guerra civil por "proxies" - exercito ucranianos de um lado e pró-russos do outro, com a possibilidade das tropas russas descaracterizadas situadas na Crimeia poderem intervir no conflito. No entanto no passado dia 23 de Abril, o ministro dos negócios estrangeiros russo, Sergey Lavrov disse que a Rússia irá "retaliar se os seus legítimos interesses fossem atacados directamente." Especialistas alertam que a declaração de Moscovo significa que a Rússia pode militarmente intervir na Ucrânia.
A esta situação poderá levar depois à divisão e ao sacrifício da Ucrânia, muito á semelhança do que se tem passado na Síria, aliás a situação actual na Ucrânia torna-se assim muito semelhante ao início do conflito naquele país. Mas no entanto na Ucrânia tudo isto tem fortes implicações para a Europa, não é só em termos de prestígio mas também a nível político. Além do mais a divisão da Ucrânia pode ditar a fragmentação da UE, ou então como alguns analistas referem o reforço da sua coesão, cenário que parece se vislumbra muito distante neste momento, até pela acção dos EUA na Europa mas também pela impreparação e inabilidade dos políticos europeus, em particular pela chanceler alemã, Angela Merkel, Durão Barroso, e pela presidente da Lituania Dalia Grybauskaite, que, como titular da presidência da UE no segundo semestre de 2013 foi encarregada da tarefa de supervisionar a assinatura do acordo comercial com a Ucrânia e que acabou por falhar. Para Justinas Valutis, um analista experiente em assuntos UE-Rússia, concorda com esta ideia: "Não há dúvida de que a recusa da Ucrânia a assinar o tratado de livre comércio com a UE em Vilnius foi um grande golpe para o prestígio da UE. O evento em si e as suas consequências imediatas também desmascarou a arrogância doentia, a dupla moral e a influência política limitada da elite de Bruxelas."
Também é bom lembrar que para muitos analistas, esta situação faz parte de um cerco à Rússia, com vários objectivos, primeiro tornar o enfraquecimento desta, atingindo-a nas suas forças vitais que são a distribuição do gás natural e petróleo, principalmente para o mercado europeu. Em segundo posicionar os EUA como fornecedor de gás natural para o mercado europeu, em que a pareceria entre a UE e os EUA são importantes para a implantação desta filosofia de influência dos EUA. Desta forma se destrói qualquer possibilidade de aproximadamente entre a UE e a Euroásia, para o estabelecimento de um espaço comum como muitos desejariam, isto apesar do prejuízo para a Europa do acordo comercial com os EUA. Com os diplomatas da UE pressionados pelos EUA para o alargamento das sanções sobre a Rússia, o debate sobre o futuro da política da Parceria Oriental da UE (POU) - ENP na sigla inglesa - foi um total fisco. Deve-se lembrar que a POU é um programa multilateral da UE com o objectivo para o desenvolvimento da cooperação regional com seis ex-repúblicas soviéticas, o Azerbaijão, a Arménia, a Bielorrússia, a Geórgia, a Moldávia e a Ucrânia.
Mas também os EUA não querem ficar isolados perante a Rússia, mas também na Ásia onde a China surge cada vez mais como potencia influente. Segundo Noam Chomsky, as linhas vermelhas da Rússia foram ultrapassadas na vizinhança da Ucrânia com a expanção da Nato, e as linhas vermelhas dos EUA foram ultrapassadas na Ásia com a "primazia económica" na Ásia por parte da China e na região leste da Europa com as "ambições expansionistas" da Rússia na sua própria vizinhança.
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