PRESSÃO INTERNA SOMA-SE À DA COMUNIDADE INTERNACIONAL PARA QUE ESTADOS UNIDOS COLOQUEM FIM ÀS SANÇÕES CONTRA CUBA
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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

PRESSÃO INTERNA SOMA-SE À DA COMUNIDADE INTERNACIONAL PARA QUE ESTADOS UNIDOS COLOQUEM FIM ÀS SANÇÕES CONTRA CUBA

PRESSÃO INTERNA SOMA-SE À DA COMUNIDADE INTERNACIONAL PARA QUE ESTADOS UNIDOS COLOQUEM FIM ÀS SANÇÕES CONTRA CUBA


Por Salim Lamrani | Paris - 12/12/2014

Durante a cimeira regional daS Caraíbas (Comunidade das Caraíbas), que aconteceu em Havana em Dezembro de 2014, os quinze Estados membros clamaram unanimemente aos Estados Unidos pelo fim das sanções contra Cuba. Mediante o seu presidente, Gaston Browne, o primeiro-ministro de Antígua e Barbuda, a Caricom incitou Washington a abandonar a mentalidade da Guerra Fria. “Peço ao presidente Obama que revogue imediatamente esse embargo absurdo”. [1]

Há mais de meio século os Estados Unidos impõem a Cuba sanções económicas sumamente severas que afectam todas as categorias da população cubana e todos os sectores da sociedade. Dotadas de um carácter extraterritorial e retroactivo, constituem uma grave violação do direito internacional e representam o principal obstáculo ao desenvolvimento económico da ilha.

Em Outubro de 2014, pelo vigésimo terceiro ano consecutivo, 188 países votaram a favor da revogação das sanções contra Cuba na reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas. Washington, outra vez, sofreu uma estrepitosa derrota política e encontrou-se isolado no cenário internacional. Só Israel deu o seu apoio aos Estados Unidos. 

Numerosas vozes fizeram-se ouvir nos Estados Unidos para reclamar uma mudança de política à administração democrata. Hillary Clinton, secretária de Estado durante o primeiro mandato de Barack Obama, pediu ao actual presidente que aliviasse o estado de sítio contra Cuba, e inclusive que eliminasse completamente as sanções por seu carácter anacrónico, cruel e ineficaz.

“O embargo não alcançou os seus objectivos”, ressaltou, no seu livro Hard Choices (Escolhas Difíceis, em tradução livre), acrescentando que a hostilidade contra a ilha não era do agrado da América Latina e constituía um obstáculo ao desenvolvimento dos intercâmbios com os países do Sul. [2].

Charlie Crist, o ex-governador democrata da Flórida, onde reside a maior comunidade cubana-americana dos Estados Unidos, também se mostrou cauteloso em relação à manutenção das sanções. “Cheguei à conclusão que necessitamos revogar o embargo [...]. A definição de loucura é o fazer o mesmo uma e outra vez e esperar resultados diferentes”, enfatizou, recordando o carácter irracional da polícia exterior dos Estados Unidos em relação a Cuba.[3] 

A Câmara de Comércio dos Estados Unidos, que representa o mundo dos negócios e quase três milhões de empresas, pediu que a Casa Branca estabelecesse uma nova relação com Havana. Thomas Donohue, o seu presidente, viajou para Cuba e fez um chamado aos responsáveis políticos americanos: “Durante demasiados anos, a relação entre as nossas nações definiu-se por nossas diferenças. É tempo de abrir um novo capítulo nas relações entre Estados Unidos e Cuba, e esse momento chegou [...]; é tempo de eliminar as barreiras políticas que se estabeleceram há muito tempo e apagar as nossas diferenças. Isso está no interesse do povo americano e das empresas americanas [4]” . Donohue ficou encantado com a beleza da ilha: “Cuba é um lugar maravilhoso”. Pediu que Obama revogasse as restrições que pesam sobre os cidadãos dos EUA, aos quais se proíbe viajar para Cuba, quando podem ir a qualquer outro país do mundo. “Esperamos que os americanos que não tenham família em Cuba possam viajar também”.[5]

Num longo editorial, o New York Times pediu a Washington que mudasse a sua política e estabelecesse uma relação mais apaziguada com Havana:

“Pela primeira vez em mais de meio século, mudanças na opinião pública americana  e uma a série de reformas em Cuba fizeram com que seja politicamente viável retomar as relações diplomáticas e acabar com um embargo insensato [...]. Obama deve aproveitar a oportunidade para dar um fim à uma larga era de inimizade e ajudar um povo que sofreu enormemente [...]. O governo [cubano] afirma que reestabeleceria com gosto as relações diplomáticas com os Estados Unidos sem condições prévias. Como primeiro passo, a Casa Branca deve retirar Cuba da lista que o Departamento de Estado mantém para penalizar países que apoiam grupos terroristas [...]. Actualmente, o governo americano reconhece que Havana tem um papel construtivo no processo de paz da Colômbia, servindo de anfitrião aos diálogos entre o governo colombiano e os líderes da guerrilha. As sanções dos Estados Unidos à ilha começaram em 1961 com o objectivo de tirar Fidel Castro do poder. Ao longo dos anos, vários líderes americanos concluíram que o embargo foi um fracasso [...]. Segundo uma pesquisa recente, 52% dos americanos de origem cubana em Miami pensam que é necessário acabar com o embargo. Uma ampla maioria quer que os países voltem a ter relações diplomáticas, uma posição que é compartilhada pelo eleitorado americano em geral.”[6] 

Até a Igreja Católica cubana criticou a política dos Estados Unidos durante a Conferência dos Bispos Católicos de Cuba (COCC, por sua sigla em espanhol). “A população sofre o isolamento do qual Cuba é objecto por parte dos Estados Unidos porque essa política contribui para aumentar as dificuldades dos mais fracos”. [7] 

Ao persistir na aplicação de uma política obsoleta que remonta à Guerra Fria, que afecta os sectores mais frágeis da sociedade cubana, Washington encontra-se isolado na comunidade internacional, que não compreende a crueldade de manter um estado de sítio ineficaz e contraproducente. Agora, o único país da América que não tem relações diplomáticas e comerciais normais com Cuba são os Estados Unidos. A dois anos do final de seu segundo mandato, seria sensato que Barack Obama desse ouvidos à essa reivindicação unânime e aceitasse o ramo de oliveira que Havana está a oferece.

*Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV,  Salim Lamrani é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. O seu último livro chama-se The Economic War Against Cuba. A Historical and Legal Perspective on the U.S. Blockade, New York, Monthly Review Press, 2013, com prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.



http://monthlyreview.org/press/books/pb3409/
Contacto: lamranisalim@yahoo.fr ; Salim.Lamrani@univ-reunion.fr



[1] Le Monde, «Les pays des Caraïbes appellent à lever l’embargo ‘absurde’ contre Cuba», 8 de dezembro de 2014
.
[2] Matthew Lee, «Hillary Clinton pidió fin de embargo a Cuba», The Associated Press, 6 de junho de 2014.
 
[3]   Agence France Presse, «Charlie Crist critica el embargo y desea viajar a Cuba», 17 de maio de 2014.
 
[4]RTL, «La Chambre de commerce américaine souhaite une nouvelle relation USA-Cuba», 30 de maio de 2014; AFP, «La relation USA-Cuba doit changer maintenant, selon le président de la Chambre de commerce américaine», 30 de maio 2014.
 
[5]Cubainformación, «Thomas J. Donohue: ‘Cuba es un lugar maravilloso. La Cámara de Comercio de EEUU defiende la libertad de viajar a Cuba’», 30 de maio de 2014. http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&view=article&id=56740&Itemid=200700  (site consultado no dia 8 de dezembro de 2014)
 
[6]The New York Times, «Obama Should End the U.S. Embargo on Cuba», 11 de octubre de  2014.
 
[7]Nora Gámez Torres, «Iglesia Católica cubana critica política de EEUU hacia la isla», El Nuevo Herald, 9 de septiembre de 2014.


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