
Maduro ridicularizou Guaidó por ser um "presidente virtual" sem oficiais, e Guaidó respondeu designando altos executivos para a companhia estatal de petróleo e gás natural da Venezuela PDVSA e a sua subsidiária norte-americana Citgo que trabalharia no exterior, bem como os seus representantes, aos quais ele chamou "embaixadores" na Organização dos Estados Americanos e nos países que o reconheceram. No entanto, ele não nomeou um gabinete ministerial.
Por Santiago Pena Aranza*
Bogotá, Colômbia
Cem dias é tempo suficiente para avaliar um novo governo e ver se cumpriu suas promessas.
Cem dias é tempo suficiente para avaliar um novo governo e ver se cumpriu suas promessas.
Na quarta-feira, o auto-proclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, completa 100 dias “no comando” dum mandato que parece mais uma tentativa de derrubar o presidente Nicolas Maduro do que governar efectivamente o país.

Os primeiros 100 dias
Guaidó, um desconhecido virtual na política venezuelana, declarou-se presidente interino a 23 de Janeiro e ganhou apoio de grandes potências, incluindo os EUA e o grupo de países de Lima, deixando claro que era parte de uma estratégia apoiada para destituir Maduro.
Embora o Plano A devesse convocar a comunidade internacional para deslegitimar o governo de Maduro e pressionar os militares a rebelarem-se contra ele, o Plano B foi uma intervenção militar liderada pelos EUA. Mas o último foi apenas uma farsa.
A Venezuela tem sido abalada por protestos desde Janeiro, quando Maduro foi empossado para um segundo mandato após uma votação boicotada pela oposição.
Guaidó proclamou-se “presidente interino” com base no artigo 231 da Constituição. No entanto, ele não pediu eleições 30 dias após a mudança, conforme a lei exige, porque nenhuma instituição o reconheceu como líder do país, excepto a Assembleia Nacional, controlada pela oposição.
Como resultado, ele foi forçado a criar uma campanha internacional para enviar camiões para a Venezuela com “ajuda humanitária” a 22 de Fevereiro, na esperança de criar um movimento de “poder do povo” de apoiantes da oposição que levaria os militares a mudar de lado e a derrubar Maduro, algo que nunca aconteceu.
Maduro ridicularizou Guaidó por ser um "presidente virtual" sem oficiais, e Guaidó respondeu designando altos executivos para a companhia estatal de petróleo e gás natural da Venezuela PDVSA e a sua subsidiária norte-americana Citgo que trabalharia no exterior, bem como os seus representantes, aos quais ele chamou "embaixadores" na Organização dos Estados Americanos e nos países que o reconheceram. No entanto, ele não nomeou um gabinete ministerial.
Até agora, o trabalho de Guaidó tem sido mais eficaz dentro da Assembleia Nacional, o único lugar onde ele foi democraticamente eleito.
Lopez liberado
A 30 de Abril, apenas alguns dias antes dos primeiros 100 dias de seu auto-proclamado mandato, Guaidó fez a sua segunda acção política: ele apareceu na Base Militar de La Carlota, em Caracas, juntamente com o líder da oposição, Leopoldo Lopez.
A 2015, Lopez foi condenado a 14 anos de prisão pelo seu envolvimento na violência que eclodiu no ano anterior durante as manifestações contra Maduro. Ele estava em prisão domiciliar desde o verão de 2017, mas escapou com a ajuda de Guaidó.
A libertação de Lopez só foi possível através da traição de um grupo de soldados e mostrou que o ex-líder do Partido da Vontade Popular é também um dos principais actores apoiados pelo governo dos EUA.
Essa mudança política de alto nível não poderia ocorrer sem a aprovação de Washington e sem consultar os países do Grupo Lima.
Guaidó reiterou - novamente sem sucesso - o seu apelo ao exército para parar de apoiar o governo de Maduro. Ele conseguiu reunir o entusiasmo dos opositores do governo, que tomaram as ruas, mas não em números esperados.
Guerra de perseguição
Enquanto o governo de Maduro sofreu sanções internacionais e sabotagem pelos EUA e outros países que o querem fora do poder, Guaidó e os seus colaboradores próximos também foram sancionados pelo governo venezuelano.
O procurador-geral da Venezuela congelou as contas bancárias de Guaidó e proibiu-o de deixar o país, uma restrição que ele não cumpriu. O controlador do estado também o desqualificou politicamente por 15 anos com o argumento de que as suas viagens ao exterior não eram autorizadas pela Assembleia Nacional e havia inconsistências entre os seus rendimentos e "gastos exagerados".
A Assembleia Nacional Constituinte retirou a sua imunidade parlamentar na sequência de uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça, que o deixa sem protecção antes de uma possível detenção.
O seu círculo próximo também foi alvo. Por exemplo, Roberto Marrero, um de seus colaboradores, foi preso e acusado de terrorismo.
Guaidó também foi acusado de traição, apropriação indébita de funções e apropriação indevida de activos da nação. O procurador-chefe da Venezuela, Tarek William Saab, disse que a prisão pode ocorrer "no devido tempo".
Durante o seu discurso no Dia do Trabalhor na frente de milhares de seguidores, Maduro disse que aqueles que estiveram por trás da tentativa de golpe irão para a prisão "mais cedo ou mais tarde" e isso inclui, é claro, Juan Guaidó.
No entanto, a prisão de Guaidó poderia ser uma faca de dois gumes para o Chavismo porque, embora o presidente auto-proclamado tenha feito coisas que justifiquem uma pena de prisão, poderia radicalizar ainda mais a oposição, produzindo resultados imprevisíveis.
Por enquanto, enquanto os primeiros 100 dias da auto-proclamação estão a ser cumpridos, Guaidó propôs uma greve escalonada que se transformaria numa greve geral, enquanto Maduro convocou organizações sociais, governadores de estado e o congresso do Partido Socialista Unido da Venezuela para propor ideias concretas que levarão a uma "melhoria na vida das pessoas".
Enquanto isso, as tentativas de golpe continuarão ...
*Santiago Pena Aranza é um cientista político da Universidade Nacional da Colômbia com mestrado em teoria e crítica da cultura pela Universidade Carlos III de Madrid
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