AS QUESTÕES NÃO DISCUTIDAS PELOS CANDIDATOS EUROPEUS
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sexta-feira, 24 de maio de 2019

AS QUESTÕES NÃO DISCUTIDAS PELOS CANDIDATOS EUROPEUS

A construção da Rota da Seda chinesa, uma estratégia globalista da China, terá um impacto enorme no continente europeu e é justamente o oposto da estratégia divisória da Europa que os EUA sempre se empenharam em implementar no continente europeu, sobretudo com a visão de Zbigniew Brzezinski que consistia em criar fronteiras na Europa e isolar a Rússia. A Rota da Seda trará outra realidade diferente para o continente europeu com modificações no âmbito da geopolítica europeia e mundial, estará a União Europeia preparada para um projecto de dimensão mundial? E que impacto na sua economia? 

Por Paulo Ramires

Os candidatos europeus tiveram muito tempo para apresentar os seus projectos e visões para a Europa, tiveram muito tempo para debater a Europa, mas o que todos vimos foi que isso não aconteceu, vimos uma pobre performance de candidatos de uma partidocracia sem ideias para a Europa e muitas tentativas de discutir a política nacional por parte dos partidos tradicionalistas, tiveram um desempenho bastante medíocre, fracamente não era esperado tanto amadorismo político, fizeram dos potenciais eleitores pessoas menores sem capacidade para discutir a Europa e o projecto europeu e assustaram os portugueses com os populistas que seguramente terão um grande grupo no parlamente europeu, todavia não serão eles que representam uma séria ameaça à União Europeia, este papel está a ser desempenhado curiosamente por quem mais defende a Europa, os partidos tradicionalistas pró-europeus. 

Explica-se assim: sem soberania, representatividade, igualdade, democracidade, participação directa e identidade cultural, não existirá projecto europeu, e na verdade tudo isso está a ser posto em causa com a conivência justamente dos partidos tradicionalistas. 

A política externa da união europeia deixa muito a desejar, talvez porque muitos candidatos e governos identificam a Rússia de Putin como a maior ameaça à União Europeia a julgar pelas suas palavra e posições, não que a Rússia simpatize com a União Europeia, mas não é ela a maior ameaça ao projecto europeu, mas sim os EUA e a OTAN, aquele país não permite uma independência efectiva dos estados europeus que hoje gravitam em torno da OTAN e dos EUA. Como é possível a construção de uma União Europeia com centenas de base militares da OTAN espalhadas por toda a Europa? E aqui se chega á questão falada de um exército europeu, nunca discutida na campanha eleitoral. Fará sentido um exército europeu? Para quem defende uma União Europeia e federal, faz de facto sentido. É por esta razão que este assunto tão sensível como de maior importância não deveria ser tratado com uma incoerência extraordinária de alguns candidatos ditos pró-europeus, como é o caso de serem contra o exército europeu, mas depois são favoráveis e defendem acções militares integradas no quadro da OTAN, o que significa dependência total dos EUA e das industrias militares americanas ai representadas, veja-se o que acontece aqueles países da OTAN que tentam comprar activos militares à Rússia, como é o caso da Turquia. Faz falta à União Europeia independência na sua política externa sem se submeter á visão hegemónica dos EUA. 

Outra questão não discutida é a possibilidade de um salário mínimo e um rendimento básico universal europeu. Serão estas ideias justas, sim são, sobretudo para quem quer defender o combate ás desigualdades que vão sendo gradas na economia global e nas sociedades tecnológicas de hoje em que as grandes empresas absorvem a maior parte de capital no mercado, sendo depois distribuído pelos seus maiores accionistas, ora isto provoca desigualdades muito grandes. 

Em temos organizativos a União Europeia deveria repensar-se de forma a eleger um presidente europeu assim como os deputados europeus são eleitos para o parlamento europeu e fundir o Conselho Europeu e a Comissão num único órgão onde os estados membros possam estar representados ao mesmo nível. A União Europeia deve ter uma forte política externa e afirmar-se como uma união em que também pudesse ter a influência necessária no palco internacional à semelhança dos EUA, China e Rússia, mas para isso é bom recordar que um exercito europeu e uma forte economia são factores necessários. É neste sentido que a posição anti-Rússia da UE ou pelo menos da maioria dos estados membros por ordem dos EUA é insensata, alguns candidatos ao parlamento europeu também deixaram transparecer esta mesma posição hostil. Além de ser uma subserviência e servilismo em relação aos EUA é uma posição perigosa. 

Ainda em política externa, a União Europeia deverá ter atenção ao incluir no seu seio , países nada europeus ou mesmo de uma matriz não europeia como é o caso da Turquia, se isso acontecer a União Europeia arrisca-se a transformar-se numa mera Organização de Cooperação, como é hoje a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). 

A União Europeia deverá ainda lidar com o Brexit que como tudo indica irá mesmo acontecer, e no caso de o Reino Unido sair de facto de uma ou outra maneira deverá ser visto como uma oportunidade para rever os tratados e se democratizar. A União Europeia deveria ainda acabar com privilégios que os políticos recebem desnecessariamente. 

A construção da Rota da Seda chinesa, uma estratégia globalista da China, terá um impacto enorme no continente europeu e é justamente o oposto da estratégia divisória da Europa que os EUA sempre se empenharam em implementar no continente europeu, sobretudo com a visão de Zbigniew Brzezinski que consistia em criar fronteiras na Europa e isolar a Rússia. A Rota da Seda trará outra realidade diferente para o continente europeu com modificações no âmbito da geopolítica europeia e mundial, estará a União Europeia preparada para um projecto de dimensão mundial? E que impacto na sua economia? 

A construção do pilar social europeu até agora não foi discutido pelos candidatos europeus e continua sem um modelo para ser implementado numa estrutura essencialmente financeira e esquecendo as pessoas, pensou-se no euro mas deixou-se para trás este pilar tão importante para elas o qual deveria ter determinados critérios sociais obrigatórios como aliás acontece com o pilar financeiro da União Europeia. 

Não menos importante para os europeus é a imigração e o emprego, não é possível receber um número tão elevado de imigrantes na União Europeia sem haver consequências para as sociedades europeias, goste-se ou não, um excesso de imigrantes nos países europeus põe em causa a coesão da própria União Europeia, por esta razão a imigração deveria ser limitada. 

São estas algumas questões importantes que deveriam ter sido discutidas e não o foram, isto porque os candidatos apresentaram um desinteresse indisfarçável no projecto europeu, assim como actuaram como amadores perante o eleitorado, assim, se a abstenção for elevada no Domingo, os partidos políticos não têm razão para se queixarem.

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