COMPREENDER O SIGNIFICADO DA CRISE DA VENEZUELA
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quarta-feira, 1 de maio de 2019

COMPREENDER O SIGNIFICADO DA CRISE DA VENEZUELA

Mas acima de tudo o que está em jogo é o controlo e a garantia de obterem oportunidades económicas e lucrativas no sector do petróleo e gás natural da Venezuela em que este país é rico, mais rico que a própria Arábia Saudita. Ora as outras potências têm apostado em políticas de redução da dependência do dólar e elaborado sistemas alternativos ao petrodólar, o que neste contexto é importante estarem presentes na Venezuela. Por outro lado as sanções dos EUA visam sobretudo paralisar a empresa estatal de petróleo da Venezuela Petróleo da Venezuela SA (PDVSA) e que é responsável por 90% das receitas de exportações do país e que a impedem de fazer negócios com os EUA e a UE e outros países que estão interessados em fazer negócios com a PDVSA. 

Por Paulo Ramires

A crise na Venezuela está a assumir preocupações preocupantes para o povo Venezuelano que já passa fome e está sem acesso a medicamentos, e é neste quadro que ontem o auto-proclamado presidente interino da Venezuela Juan Gaidó apelou ao povo Venezuelano que saísse à rua contra o governo de Nicolas Maduro perante reacções dispares da comunidade internacional. 

O que está por de trás desta crise é um confronto geopolítico pelo controlo da América Latina. Os EUA têm acusado Maduro pelo colapso económico e pela destruição da democracia na Venezuela, mas na realidade o que está a destruir a Venezuela e o povo venezuelano são as sanções económicas que já duram desde o ano de 2014 e endureceram em 2017 e em particular em 2018 com a reeleição de Nicolas Maduro. 

O controlo da América do Sul é a principal razão dos EUA para imporem sanções sobre a Venezuela e assim implantarem a Doutrina Monroe que significa que só os EUA podem controlar a América do Sul. Apesar de os EUA terem conseguido uma grande vitória neste sentido  com a eleição de  Jair Messias Bolsonaro, um presidente que se tem revelado fraco ao se mostrar permeável a vários interesses externos, nomeadamente americanos e israelitas, o facto é que os EUA estão a ser desafiados junto da sua própria vizinhança por várias potências, nomeadamente a Rússia, China, Turquia, Índia ou Irão, trata-se de uma poderosa frente que tem mantido Maduro no poder com os militares venezuelanos conscientes disso o que significa que dificilmente abandonarão Maduro e que goste-se ou não tem defendido bem os interesses da Venezuela, um facto que tem irritado bastante os EUA, sobretudo tendo Maduro conseguido uma aliança com esses países e outros na região como o México e a Bolívia. 

E significativamente a Rússia tem cada vez mais se mostrado interessada na Venezuela ao fazer pressão com o objectivo da ganhar cada vez mais influência na região e em particular na Venezuela a par da China e índia que são países que têm investido bastante no país e não querem perder esta posição que actualmente têm na região, tendo a Rússia enviado militares de aconselhamento ao governo de Maduro e para proteger os seus próprios interesses no país. Será também uma resposta que a Rússia e a China em coordenação pretendem dar aos EUA pela expansão da OTAN até às fronteiras da Rússia na Euroásia e pela situação geopolítica na Ucrânia dominada pelos EUA ou ainda pelas provocações dos EUA no mar do Sul da China. 

Mas acima de tudo o que está em jogo é o controlo e a garantia de obterem oportunidades económicas e lucrativas no sector do petróleo e gás natural da Venezuela em que este país é rico, mais rico que a própria Arábia Saudita. Ora as outras potências têm apostado em políticas de redução da dependência do dólar e elaborado sistemas alternativos ao petrodólar, o que neste contexto é importante estarem presentes na Venezuela. Por outro lado as sanções dos EUA visam sobretudo paralisar a empresa estatal de petróleo da Venezuela Petróleo da Venezuela SA (PDVSA) e que é responsável por 90% das receitas de exportações do país e que a impedem de fazer negócios com os EUA e a UE e outros países que estão interessados em fazer negócios com a PDVSA. 

O problema é que as sanções impedem a PDVSA de usarem o sistema financeiro dos EUA, o que significa que a PDVSA não pode ser paga em dólares ou usar os bancos norte-americanos. E como é sabido as transacções internacionais, nomeadamente petróleo e gás natural, por imposição dos EUA só podem ser feitas em dólares o que representa um problema acrescido para a empresa venezuelana. Todavia, o resultado é que a PDVSA está agora pronta em afirmar-se em outros países como a Europa, procurando sair da órbita do dólar. 

A Índia é também particularmente visada por importar petróleo da Venezuela e ao que as empresas deste país informaram, vão ceder às exigências dos EUA e pararem de importar petróleo da Venezuela. Esta cedência deixou vários navios petroleiros sem terem para onde ir tendo outros redefinido as suas rotas. Outro objectivo estratégico dos EUA é desestabilizarem ao máximo a Venezuela e a PDVSA de modo a proteger a sua própria indústria de gás de xisto no que diz respeito às exportações desta matéria prima e neste papel Gaidó e a oposição a Maduro tem uma posição fundamental neste jogo onde os interesses petrolíferos e de gás natural contam mais do que as pessoas.

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