
Emir Sader, filósofo brasileiro
A lista de países invadidos ou atacados pelos Estados Unidos durante o século passado é longa e afecta quase todos os países latino-americanos.
A última obsessão é a intervenção na Venezuela e o derrube do governo de Nicolás Maduro. Essa obsessão começou muito antes das primeiras eleições presidenciais de Hugo Chávez.
A preocupação dos EUA com um líder que ganhou influência continental é agravada pelo facto de que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo conhecidas do mundo. Isso torna o país ainda mais perigoso, dadas as suas reservas auto-suficientes de petróleo e receitas de exportação.
Os argumentos usados para justificar a intervenção foram os de supostos terroristas, de acordo com a proposta de Tony Blair. Todos os prisioneiros palestinianos, por exemplo, são acusados de serem terroristas, sem nenhuma evidência. Mas isso foi verdade para a intervenção de Tony Blair e a destruição do Iraque, sem qualquer prova de que o país tivesse armas nucleares.
Os Estados Unidos vêm bombardeando e destruindo embarcações em águas territoriais venezuelanas há vários meses, alegando que estavam a transportar drogas para o mercado norte-americano. Em vez de atender às recomendações da presidente mexicana Claudia Sheinbaum para limitar o uso de drogas nos Estados Unidos - o maior mercado de drogas do mundo - o governo Trump está a concentrar-se em ameaças de intervenção em países que, segundo ele, canalizam drogas para o mercado dos EUA.
O governo Trump não se atreve a intervir no México, para onde transitam carregamentos de drogas produzidos na Bolívia, Peru, Colômbia e outros países sul-americanos, dada a postura do líder mexicano. Em vez disso, concentra-se na Venezuela. Ele atrever-se-á a assumir essa nova intervenção?
A China e a Rússia reafirmaram os seus acordos mútuos de segurança com a Venezuela. Além da ampla solidariedade que a Venezuela receberia de vários países do continente,
Uma invasão mostraria que os Estados Unidos esqueceram o fracasso retumbante da tentativa de invasão de Cuba. Os americanos esperavam que, assim que anunciassem a invasão de Cuba, recebessem amplo apoio do povo cubano. Nada disso aconteceu e, em 72 horas, eles tiveram que se retirar de Playa Girón e Cuba, derrotados.
O mesmo aconteceria, sem dúvida, ao contrário da previsão da recente ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, que incita os Estados Unidos a invadir a Venezuela, onde supostamente seria recebida com o apoio do povo venezuelano.
A administração de Donald Trump arriscaria todos esses riscos? Talvez, mas ele pagaria um preço alto, tanto pela provável derrota quanto pela condenação generalizada no continente e em todo o mundo.
Donald Trump acostumou-nos a ameaças que nunca se materializam, mesmo uma das mais absurdas, a de incorporar o Canadá como mais uma estrela na bandeira americana. Poderia ser mais uma dessas ameaças?
A mobilização de navios dos EUA perto da costa venezuelana e a decisão de desembarcar tropas parecem minar a palavra do presidente dos EUA. Mais uma vez.
Espero que sim, porque as consequências de outra aventura imperialista dos EUA seriam desastrosas para eles e para a própria América Latina. Nas próximas semanas saberemos se essa nova loucura se materializará ou se o é simplesmente mais um discurso inconsequente de Donald Trump.
Fonte: https://observatoriocrisis.com
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