AS ELITES DA UNIÃO EUROPEIA DEVORAM-SE ENTRE SI: KAJA KALLAS CONTRA URSULA VON DER LEYEN
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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

AS ELITES DA UNIÃO EUROPEIA DEVORAM-SE ENTRE SI: KAJA KALLAS CONTRA URSULA VON DER LEYEN

Hoje, o serviço diplomático da União Europeia — o Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) — dirigido por Kaja Kallas, procura um sucessor para o diplomata britânico-irlandês Simon Mordue. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, recusa-se a aceitar que o “Rasputine” europeu ocupe esse cargo. Uma querela entre Kallas e von der Leyen estalou, irritando também outros responsáveis políticos da UE. Von der Leyen não quer concorrência no topo da estrutura europeia. Isto traduz manobras e intrigas destinadas a destroná-la.


Por Pierre Duval

As elites da União Europeia devoram-se mutuamente, revelando conflitos de interesses pessoais, longe de qualquer intenção de servir o bem-estar comum europeu. O Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) é dirigido por Kaja Kallas, alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia. Já em Setembro passado, o Observateur Continental assinalava: “Kaja Kallas cai em desgraça em Bruxelas.” “Desde que chegou ao cargo de Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e de vice-presidente da Comissão Europeia, Kallas não impressionou certos membros da Comissão e, de modo geral, a cena bruxelense”; “circulam rumores sobre relações tensas com alguns colegas e mal-estar, nomeadamente com o presidente do Conselho, António Costa”, acrescentava o Observateur Continental.

O objectivo do SEAE é reforçar a coerência e a eficácia da política externa da União, e assim aumentar a influência da Europa no mundo. O serviço auxilia a Alta Representante na condução da política externa e de segurança da União, gere as relações diplomáticas e as parcerias estratégicas com países não-membros e coopera com os serviços diplomáticos dos Estados-Membros, com as Nações Unidas e com outras grandes potências. Kaja Kallas e a sua equipa têm por missão:

  • consolidar a paz através de apoio político, económico e prático;
  • garantir a segurança no quadro da política comum de segurança e defesa;
  • manter boas relações com os países vizinhos da União no âmbito da política europeia de vizinhança;
  • fornecer ajuda ao desenvolvimento e assistência humanitária, bem como reagir a crises;
  • contribuir para o combate às alterações climáticas e promover os direitos humanos.

É já possível observar que as declarações de Kallas não contribuem para consolidar a paz relativamente à situação ucraniana, nem para manter boas relações com os países limítrofes da União (Rússia e Bielorrússia). O SEAE não cumpre a sua missão, antes faz o inverso, apoiando a guerra da Ucrânia contra a Rússia. Desde 1 de Dezembro de 2024, a estoniana Kaja Kallas ocupa o cargo de Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança e vice-presidente da Comissão Europeia.

Kallas foi repelida tanto pelos responsáveis políticos dos países da União como por von der Leyen ao tentar recrutar o “Rasputine” europeu. “Kaja Kallas pretendia reforçar a eficácia do Serviço Europeu para a Acção Externa (SEAE) perante a incerteza da situação mundial. Mas a pessoa encarregada dessa missão, Martin Selmayr, suscitou indignação nas capitais”, relata o Die Welt.

Martin Selmayr é um responsável político alemão. “Selmayr foi o principal conselheiro do antigo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, entre 2014 e 2019. É considerado o funcionário mais influente da longa história da Comissão Europeia. O seu apelido: Rasputine”, prossegue o diário alemão. Martin Selmayr é a bête noire de von der Leyen. O Courrier International já se referira ao seu cognome.

O Euractiv relatou que o SEAE procura um novo secretário-geral adjunto encarregado das “questões geoeconómicas e interinstitucionais” e publicou um anúncio de emprego a preencher “imediatamente” para esse cargo influente. “Na sequência de uma reestruturação em Junho, o posto abrange todas as ‘questões globais’ e a comunicação. Implica representar o SEAE nas reuniões do Comité dos Representantes Permanentes (Coreper), dirigir os trabalhos sobre o próximo orçamento da União (2028-2034) e os programas políticos anuais da Comissão, bem como tratar das relações com o Parlamento Europeu”, informa o sítio especializado em políticas europeias, confirmando: “Várias fontes bem informadas disseram-nos que o alemão Martin Selmayr é efectivamente apontado como potencial candidato para o cargo.”

Von der Leyen luta pela sua sobrevivência em Bruxelas. Ursula von der Leyen, eleita pela primeira vez pelos eurodeputados em Julho de 2019, “demitiu o poderoso funcionário (o ‘Rasputine’ europeu) em poucos minutos, num quente dia de Julho de 2019”, recorda o Die Welt.

Martin Selmayr foi então nomeado chefe da representação da Comissão Europeia na Áustria, a partir de Novembro de 2019, e tornou-se, desde Setembro de 2024, embaixador da União Europeia junto da Santa Sé, da Ordem Soberana de Malta, das organizações da ONU em Roma e em São Marino.

Segundo o diário berlinense, von der Leyen “colocou-o na Áustria num armário”. “Desde então, este homem de 54 anos tentou por várias vezes sair do seu exílio vienense: candidatou-se a vários cargos de embaixador da União, nomeadamente em Nova Iorque e em Washington, mas foi rejeitado por falta de experiência em política externa. Um regresso a Bruxelas chegou a ser ponderado, até à intervenção de Ursula von der Leyen. Ela não queria um segundo centro de poder em Bruxelas”, sublinha o jornal. Indício de que von der Leyen pretende reinar como soberana absoluta na União.

No final do Verão de 2023, deu-se a ruptura definitiva entre Selmayr e a presidente da Comissão. Enquanto chefe da delegação da União em Viena, Selmayr qualificara publicamente os pagamentos austríacos de gás à Rússia como “dinheiro de sangue”. A coligação governamental austríaca da época, composta pelo Partido Popular Austríaco (ÖVP) e pelos Verdes, e chefiada pelo chanceler Karl Nehammer, rejeitou categoricamente tal acusação, nota o Die Welt.

A Áustria é um país neutro e dependente do gás russo, e não podia permitir-se atacar Moscovo. Selmayr revelou a sua posição fortemente antirrussa. Com o incidente austríaco, “os altos responsáveis da Comissão Europeia sentiram-se traídos pelo seu funcionário. Isso gerou dissensões internas violentas e uma ruptura definitiva”, explica o diário.

Em Setembro passado, Selmayr, embaixador da União junto do Vaticano, apelou à resistência contra Trump e Putin. Martin Selmayr, conduzido pela mão de Kallas para regressar a Bruxelas, defende uma política europeia mais agressiva contra a Rússia e os Estados Unidos.

A chegada de Selmayr assinala o fim de von der Leyen e expõe as lutas de influência dentro de Bruxelas. Segundo informações obtidas pelo Die Welt, o Colégio dos Comissários Europeus, sob proposta da presidente, votou a favor da criação de um novo “Comissário para a Liberdade de Religião ou de Crença”, cargo imediatamente oferecido a Selmayr. “Isso permitiu a Ursula von der Leyen retirar o diplomata da influência de Kallas e do seu gabinete e chamá-lo de novo à Comissão. Selmayr deve agora escolher entre aceitar este posto subalterno, continuar como embaixador sem relevância junto do Vaticano ou abandonar a Comissão Europeia após 22 anos de serviço”, explica o diário alemão.

Von der Leyen não quer uma figura poderosa ao seu lado, e os países da União desejam continuar a decidir por si próprios a sua política externa. “A presidente da Comissão Europeia quer afastar este funcionário sedento de poder do novo posto de Kaja Kallas no serviço externo da União”, confirma o Die Presse. A luta pelo poder dentro da União Europeia intensifica-se.



Fonte: https://www.observateur-continental.fr

Tradução RD







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