
A verdade é que a Rússia tem dinheiro para combater pelo tempo que for necessário e a Ucrânia não, escreve Ian Proud.
Por Ian Proud
Num novo volte-face dos líderes europeus, a estratégia agora em relação à guerra é “manter a Ucrânia no combate”. Contudo, o desfecho — a ocupação russa de toda a região de Donetsk — parece inevitável, quer isso aconteça agora ou mais tarde. Assim, se os eurocratas não conseguirem forçar a Bélgica a permitir a expropriação ilegal dos activos russos, serão os contribuintes europeus comuns que terão de pagar pela guerra de Zelensky.
Depois de ter sido rejeitado por Donald Trump na sua mais recente tentativa de obter mísseis Tomahawk, Zelensky deslocou-se rapidamente a Londres a 24 de Outubro, onde foi recebido com pompa por Keir Starmer e um punhado de líderes de mentalidade semelhante, incluindo o Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, e os primeiros-ministros dos Países Baixos e da Dinamarca. Desde então, tenho ouvido repetidamente uma nova linha vinda dos líderes europeus: que o Ocidente deve fazer tudo “para manter a Ucrânia na guerra”.
Não é explicado porque motivo a Ucrânia desejaria continuar a combater, já que continua a perder pequenas porções de território todos os dias.
A verdade é que, sob a liderança de Zelensky, a Ucrânia tem de continuar a combater, apoiada pelos líderes europeus, por recusar aceitar os termos de um acordo de paz com a Rússia que implicaria a cedência das suas últimas cidades em Donetsk.
Todavia, uma certeza permanece em tudo isto: a região de Donetsk está perdida para a Ucrânia — mais cedo, se por acaso se alcançar agora um improvável acordo de paz, ou mais tarde, se a Rússia mantiver a guerra pelo tempo que for necessário para a conquistar. O Presidente Putin fixou como meta tomar toda a região de Donetsk e, até ao momento, a maior probabilidade é de vir a consegui-lo.
Se as posições da Ucrânia e da Rússia não mudarem — e não há indícios de que tal venha a acontecer —, isso significa que a Ucrânia ficará obrigada a permanecer na guerra por pelo menos mais um ano, ou até que as forças armadas russas ocupem toda a região de Donetsk, o que acontecer primeiro.
A mentira no cerne da expressão “manter a Ucrânia no combate” é a crença — ou melhor, a simulação — em Kiev de que as forças armadas ucranianas são capazes de impedir a ocupação total de Donetsk.
E Zelensky conseguiu claramente persuadir o sempre crédulo Keir Starmer e outros disso. Durante o seu encontro em Londres, Zelensky afirmou que Putin não queria a paz, mas a verdade é que ele próprio não a quer. Porque paz, para a Ucrânia, significaria o suicídio político de Zelensky.
Talvez o seu cálculo seja o de que, se a Ucrânia atrasar a conquista total de Donetsk por mais um ou dois anos, então poderá apresentar-se perante os eleitores ucranianos como um heróico líder de guerra que conseguiu resistir à Rússia durante seis anos, com perdas territoriais relativamente limitadas. Politicamente, parece-lhe uma opção melhor do que ceder Donetsk agora.
E, como tem vindo a reprimir cada vez mais os opositores políticos internos, sancionando-os ou retirando-lhes a cidadania, é possível que venha a candidatar-se de novo a eleições num futuro próximo praticamente sem concorrência.
Mas é aí que reside a presunção. Zelensky está a tornar-se maior do que a própria Ucrânia, pensando apenas na sua ambição pessoal.
E apesar da repressão crescente contra os opositores políticos, não é claro que a paciência dos cidadãos ucranianos resista a mais um ou dois anos de uma guerra desgastante, quando tudo o que vêem são derrotas militares. É certo que a informação aberta sobre o desempenho militar da Ucrânia é fortemente censurada dentro do país. Ainda assim, o espaço digital continua vivo, oferecendo análises mais rigorosas e críticas sobre o sofrimento do exército ucraniano.
Kupiansk e Pokrovsk aproximam-se da ocupação total pelas forças russas após mais de um ano de sangrentos combates. Há progressos noutros pontos da linha da frente. Em parte alguma parece provável que a Ucrânia possa infligir um golpe militar decisivo. E, como já referi, a infra-estrutura energética e agora também a rede ferroviária ucranianas serão duramente atingidas com a chegada do Inverno, quando o ritmo do combate terrestre abrandar temporariamente.
Assim, que benefícios existem para a própria Ucrânia em continuar a guerra? Nenhum.
Os aspectos negativos são óbvios: potencialmente centenas de milhares de baixas militares e a continuação da erosão de uma já catastrófica situação demográfica. Mais destruição de cidades, infra-estruturas energéticas e de transporte, trazendo sofrimento e vítimas entre a população civil. Uma bancarrota permanente para um país totalmente dependente das esmolas dos seus patrocinadores ocidentais. E um atraso adicional na suposta aspiração da Ucrânia em tornar-se um dia Estado-Membro da União Europeia (mesmo que essa perspectiva pareça cada vez mais inalcançável, à medida que Zelensky aliena alguns membros da UE, como a Hungria, e os governos europeus se tornam crescentemente nacionalistas).
E, naturalmente, o grande risco é o de que, se o Ocidente decidir intensificar ainda mais a sua guerra económica contra a Rússia durante o período entre a ocupação total de Donetsk, o Presidente Putin volte a escalar e continue a combater com o objectivo de ocupar toda a região de Zaporizhia e Kherson. A minha avaliação é que ele o fará.
Tudo isto volta a colocar a pressão sobre a própria Europa. Ao comprometer-se a manter a Ucrânia no combate, a Europa compromete-se a pagar pela determinação de Zelensky em adiar o desfecho inevitável da guerra: o de que a Rússia e a Ucrânia apenas chegarão a acordo quando Donetsk tiver caído.
Apesar das profecias recorrentes de que a economia russa está prestes a colapsar, a verdade é que a Rússia tem meios para continuar a combater o tempo que for necessário — e a Ucrânia não.
Assim, todas as atenções voltam-se para a Bélgica, enquanto a Comissão Europeia se apressa desesperadamente a fabricar uma justificação legal para a expropriação ilegal dos activos russos imobilizados na Euroclear. Cento e quarenta mil milhões de dólares permitiriam, de facto, a Zelensky continuar a combater pelo menos mais dois anos.
Contudo, como o primeiro-ministro belga Bart de Wever deixou recentemente bem claro, o seu país não concorda com tal medida. E, a menos que Rutte, Von der Leyen ou qualquer outro dos eurocratas pró-guerra o forcem a recuar, caberá aos contribuintes europeus manter Zelensky no combate — o que apenas acelerará o colapso da elite internacionalista em todo o continente.
Fonte SCF
Tradução RD
 
 
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