ELEIÇÕES DE AMANHÃ NA ARGENTINA COM JAVIER MILEI EM XEQUE
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sábado, 25 de outubro de 2025

ELEIÇÕES DE AMANHÃ NA ARGENTINA COM JAVIER MILEI EM XEQUE

A oposição, liderada por figuras tradicionais do peronismo e por alguns sectores da esquerda moderada, apresenta-se agora como o principal contraponto ao radicalismo de Milei, defendendo um modelo de reconstrução do Estado e de recuperação do poder de compra, e acusa o presidente de estar a transformar a Argentina num laboratório de experiências económicas ao serviço do capital estrangeiro e dos grandes investidores


As eleições legislativas que terão lugar amanhã realizam-se num momento de grande incerteza política e económica para a Argentina, o presidente Javier Milei, que subiu ao poder com um discurso de ruptura total com o sistema e de promessa de libertar o país daquilo a que chamou “casta política”, vê agora a sua própria base de apoio vacilar perante a dureza das suas medidas e o impacto social das políticas de austeridade que tem imposto

Quando Milei assumiu a presidência em finais de 2023, o país vivia um colapso económico e uma inflação que parecia fora de controlo, e muitos argentinos, fartos de décadas de promessas peronistas não cumpridas, viram no seu discurso agressivo e liberal uma última esperança de mudança, contudo, as reformas aplicadas — cortes na despesa pública, privatizações aceleradas e desmantelamento de programas sociais — provocaram um mal-estar generalizado e uma crescente rejeição popular, sobretudo nas regiões mais pobres e nas classes médias urbanas

O entusiasmo inicial que cercou a sua vitória evaporou-se rapidamente, e nas últimas semanas o clima eleitoral tornou-se desfavorável, as sondagens apontam para um recuo acentuado do apoio à coligação presidencial e para um fortalecimento das forças opositoras, em particular da coligação peronista, que, embora dividida internamente, tem conseguido reorganizar-se sob a bandeira da defesa dos direitos sociais e da soberania nacional

A oposição, liderada por figuras tradicionais do peronismo e por alguns sectores da esquerda moderada, apresenta-se agora como o principal contraponto ao radicalismo de Milei, defendendo um modelo de reconstrução do Estado e de recuperação do poder de compra, e acusa o presidente de estar a transformar a Argentina num laboratório de experiências económicas ao serviço do capital estrangeiro e dos grandes investidores, os quais, dizem, beneficiam do caos interno e da desvalorização do peso, enquanto o povo argentino paga a factura da crise

Os opositores denunciam ainda a crescente concentração de poder no executivo, o uso excessivo de decretos presidenciais e a perseguição a sindicatos e movimentos sociais, práticas que, segundo vários juristas, colocam em risco a própria democracia argentina e recordam períodos sombrios da história do país, o peronismo, apesar de desgastado, surge assim como um movimento de resistência e de tentativa de reorganização institucional, e os seus líderes esperam que as eleições legislativas sirvam para travar a ofensiva ultraliberal do governo e abrir um novo ciclo político

No plano económico, Milei apresenta como trunfo o abrandamento da inflação e o controlo relativo das contas públicas, mas esses números, embora positivos em aparência, escondem o agravamento da pobreza e o aumento do desemprego, a promessa de estabilidade transformou-se numa realidade de estagnação, e as famílias argentinas enfrentam hoje uma carestia sem precedentes, enquanto os grandes sectores exportadores continuam a beneficiar das políticas de desregulação

Além da crise económica e social, o presidente enfrenta também o desgaste político dentro do Congresso, onde a sua coligação não dispõe de maioria sólida e depende de alianças frágeis para aprovar reformas, o que o tem levado a confrontos constantes com deputados provinciais e com o Senado, e a uma tensão institucional que ameaça paralisar o governo, a falta de diálogo e o estilo confrontacional do presidente, aliado à sua tendência para insultar adversários, agravam o isolamento político de Milei e afastam possíveis aliados

Amanhã, os argentinos irão às urnas com um sentimento misto de desencanto e de expectativa, conscientes de que estas eleições podem definir o rumo do país nos próximos anos, se Milei perder peso parlamentar, verá reduzida a capacidade de continuar com o seu programa de choque, se, pelo contrário, conseguir reforçar a sua posição, poderá avançar com medidas ainda mais duras e com um projecto de privatizações em larga escala, num contexto em que o descontentamento popular já se manifesta nas ruas e nas redes sociais

A oposição peronista aposta na recuperação de um discurso social que volte a dar esperança aos trabalhadores e aos sectores mais castigados pelas políticas de ajuste, enquanto novos movimentos cívicos e universitários começam a surgir em defesa da educação pública e dos direitos laborais, mostrando que, apesar do ambiente de descrença, há na Argentina uma resistência viva que tenta preservar o tecido democrático e a dignidade nacional, num momento em que o país parece dividido entre a promessa de uma modernidade sem freios e o risco de uma fragmentação social profunda


Várias fontes



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