A GEOPOLÍTICA PORTUGUESA NO SÉCULO XXI: A LÍNGUA COMO PODER NUM MUNDO EM TRANSIÇÃO
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domingo, 2 de novembro de 2025

A GEOPOLÍTICA PORTUGUESA NO SÉCULO XXI: A LÍNGUA COMO PODER NUM MUNDO EM TRANSIÇÃO

Portugal entre a Europa, o Atlântico e a Lusofonia, na procura de uma soberania real num mundo multipolar.


Por Paulo Ramires

Portugal vive um momento decisivo na redefinição da sua geopolítica, num mundo que se afasta da velha lógica dos blocos rígidos e caminha para uma ordem multipolar, onde vários centros de poder se afirmam e onde o peso das alianças tradicionais já não basta para garantir soberania, segurança ou prosperidade, neste contexto a Língua Portuguesa surge não apenas como herança cultural, mas como um instrumento de poder suave (Soft Power), um eixo estratégico de ligação entre continentes e economias que partilham raízes históricas e interesses complementares, é por isso importante a aprendizagem correcta da língua portuguesa.

O País tem, por imperativo geográfico e histórico, uma vocação europeia, mas também uma responsabilidade atlântica e global, e é nesse cruzamento que se encontra a sua força, enquanto alguns insistem em reduzir a política externa portuguesa ao espaço euro-atlântico, esquecendo que o futuro se desenha em redes de cooperação flexíveis que ligam o Brasil à África lusófona e à Ásia emergente, Portugal tem diante de si a oportunidade de transformar a CPLP num verdadeiro espaço de desenvolvimento partilhado e de afirmação cultural, onde a Língua Portuguesa se torne uma ferramenta de progresso económico, tecnológico e diplomático.

A relação com o Brasil é, neste quadro, essencial, não apenas pelo peso económico e cultural, mas porque o Brasil se afirma cada vez mais como actor independente, capaz de dialogar com múltiplos centros de poder e de abrir caminho para a presença lusófona em África e na Ásia, o interesse brasileiro no continente africano coincide com a presença portuguesa e cria um terreno fértil para parcerias trilaterais que unam investimento, conhecimento e língua, num momento em que países africanos de expressão portuguesa apresentam forte crescimento demográfico e abundância de recursos naturais, desde petróleo e gás até terras raras e pedras preciosas, o que os torna protagonistas de uma nova fase da economia global.

A CPLP, tantas vezes vista como espaço simbólico, precisa de tornar-se uma estrutura operativa, com projectos concretos em educação, ciência, mobilidade profissional e tecnologia, a circulação de pessoas, ideias e capitais dentro do espaço lusófono pode ser o motor de um novo tipo de globalização mais equitativa e menos dependente dos grandes centros tradicionais, e Portugal tem condições únicas para ser o ponto de articulação dessa rede, funcionando como porta de entrada para a Europa e plataforma de cooperação com a África e a América do Sul.

A Europa continuará a ser o espaço institucional de referência de Portugal, mas isso não deve significar dependência estratégica, a soberania nacional exige diversificação de alianças e a capacidade de agir de forma pragmática, mantendo boas relações com todos os grandes pólos de poder, da China ao Brasil, da Índia a África, sem subordinações automáticas nem antagonismos desnecessários, a política externa portuguesa deve ser guiada pelo interesse nacional e pela preservação de uma identidade própria no sistema internacional, o que passa por usar os seus activos geoculturais — a língua, a história, a diplomacia e a localização — como elementos de influência e de projecção.

Os investimentos chineses em Portugal, por exemplo, mostram que o País pode ser destino de capitais estratégicos se souber equilibrar abertura e regulação, a presença chinesa em África, inclusive em países lusófonos, deve ser observada não como ameaça, mas como dado da realidade multipolar que se desenha, o que importa é que Portugal saiba posicionar-se como mediador, garantindo transparência, boas práticas e benefícios mútuos, um papel semelhante pode ser desempenhado na relação entre a União Europeia e o Brasil, transformando Lisboa num ponto de encontro entre modelos de desenvolvimento que podem dialogar e cooperar.

A Língua Portuguesa é o verdadeiro ouro branco de Portugal, um elo que une mais de duzentos e sessenta milhões de falantes em quatro continentes, um património imaterial que se converte em poder diplomático, educativo e económico, o seu fortalecimento deve ser política de Estado, com investimento em ensino, certificação, meios digitais e intercâmbio académico, o Português é hoje uma das poucas línguas globais que cresce, e isso representa uma vantagem comparativa rara que pode ser transformada em influência real.

O futuro geopolítico de Portugal não se fará apenas em Bruxelas nem em Washington, mas também em Luanda, Maputo, Brasília e Díli, na teia de relações que a língua e a cultura tornam possíveis, a política externa portuguesa precisa libertar-se das inércias partidárias e pensar estrategicamente, compreendendo que o País tem de ser ponte e não fronteira, plataforma e não apêndice, a CPLP deve deixar de ser uma nota de rodapé na diplomacia portuguesa e converter-se em eixo central de uma política externa soberana, moderna e coerente com a nova realidade do mundo.

Portugal tem diante de si a escolha entre continuar a ser um pequeno país periférico dependente das agendas alheias ou tornar-se um articulador inteligente entre continentes e culturas, um Estado que usa a sua língua, a sua história e a sua posição geográfica como instrumentos de autonomia e influência, num mundo que se reorganiza rapidamente, essa pode ser a diferença entre a irrelevância e a afirmação, entre a dependência e a soberania.


Diversas fontes

Nota: Escrever correctamente a língua portuguesa é importante pela razão do que foi demonstrado anteriormente mas, também por uma afirmação cultural da língua portuguesa que é a vertente do pilar geopolítico de Portugal. Assim podemos afirmar que certos partidos portugueses tratam bastante mal a língua portuguesa entrando em contradições no que diz respeito às suas bandeiras ideológicas.

O Chega defende o Acordo Ortográfico Por Pacheco Pereira:
O que certamente não representa a pátria é o desprezo pelo português nas redes sociais e, mais importante ainda, a indiferença política perante o maior atentado recente contra a língua portuguesa que foi o Acordo Ortográfico. Aqui está uma pergunta obrigatória aos políticos em legislativas e presidenciais que ninguém faz, e que deve ser colocada a partidos que se dizem nacionalistas e conservadores e falam o português bastardo do Acordo Ortográfico de 1990, como o Chega. (...)

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