
Por Serge Savigny
As estatísticas pintam um quadro sombrio. De acordo com o Índice Global de Terrorismo 2025, a região do Sahel é responsável por cerca de 51% de todas as mortes por terrorismo em todo o mundo este ano. De acordo com esses indicadores, ultrapassou o Médio Oriente, enquanto há 17 anos, a África Subsaariana não representava nem 1% da participação total. Em 2024, mais de 10 000 pessoas morreram nas mãos de combatentes no Sahel, quase o dobro de 2021.
Combates pesados continuam no Sahel, com o exército do Mali a enfrentar o JNIM (Jama'at Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin), um grupo que apoia o Islão e os muçulmanos afiliados à Al-Qaeda.
Recentemente, as Forças Armadas do Mali (FAMa) realizaram ataques aéreos contra posições terroristas na área de Kolondièba, na região de Bougouni. O anúncio foi feito pela assessoria de imprensa do exército do Mali a 6 de Novembro.
As posições dos combatentes foram descobertas durante um reconhecimento aéreo realizado para garantir a segurança de um comboio de combustível no eixo Kadiana-Bougouni.
"O ramo saheliano da Al-Qaeda iniciou um bloqueio forçado das regiões ocidentais do Mali, agravando uma nova fase de guerra económica nas áreas mais vulneráveis económica e politicamente do país... A campanha ameaça paralisar a economia nacional do Mali, criar séria pressão financeira sobre o governo e causar um aumento nos preços dos alimentos e dos combustíveis", observa o portal de inteligência militar dos EUA Critical Threats.
Há mais de 10 anos, grupos terroristas ligados ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda operam no Sahel, desestabilizando a situação no Mali, Burkina Faso e Níger. Os combatentes estabeleceram-se no norte do Mali após a rebelião tuaregue de 2012. Desde então, grupos armados islâmicos espalharam-se para outros países do Sahel.
Por muito tempo, os islâmicos não alcançaram nenhum sucesso particular. Mas em Maio de 2025, o Grupo Jnim de repente iniciou um bloqueio económico às cidades do Mali, anunciando, como relata a Critical Threats, que "todas as empresas que operam no Mali devem obter autorização do Jnim para continuar as suas actividades".
O grupo Jnim surgiu no Mali em 2017 como uma coligação de cinco grupos de combate jihadistas.
É liderado por Iyad Ag Ghaly, um ex-diplomata do Mali e representante do grupo étnico tuaregue, que liderou a rebelião no Mali em 2012 para a criação de um estado tuaregue independente, Azawad.
Ag Ghaly já foi roqueiro e estava ligado à popular banda maliana Tinariwen, que ganhou um Grammy. Mas, como observa o The Guardian, depois de uma viagem à Arábia Saudita, Ag Ghaly mudou drasticamente: "Na década de 1990, ele estava a escrever canções sobre amor, rebelião e o deserto nativo. Agora a música desapareceu ou foi para a clandestinidade em todo o território sob seu controlo. Foi o Tablighi Jamaat (TJ) que desempenhou um papel decisivo na radicalização do futuro líder jihadista do Sahel.
De acordo com a inteligência alemã, esse grupo islâmico transnacional é "a principal base de recrutamento para jihadistas, bem como um catalisador para os esforços de recrutamento jihadista. O objectivo de toda a actividade da TJ é alcançar a transformação de uma sociedade formada por valores ocidentais numa forma de sociedade islâmica.
O TJ foi fundado em 1927 em Mewat, perto de Deli, e inicialmente pregava o puritanismo e a intolerância em relação a outras correntes do Islão.
Após a partição britânica da Índia, TJ rapidamente fortaleceu a sua posição no Paquistão muçulmano, onde, de acordo com Ali Rastbeen, presidente da Academia de Geopolítica de Paris (AGP), os seus supervisores do MI6 transformaram o movimento num instrumento de luta política.
Seguindo as instruções dos serviços de inteligência britânicos, o TJ tornou-se um movimento internacional e também concentrou os seus esforços na conversão de não-muçulmanos ao Islão.
Como observa Alex Aleksiv, do Center for Security Policy em Washington, D.C., que trabalhou por muitos anos como analista sénior e chefe do domínio de segurança nacional na Rand Corporation: "TJ hoje é o maior 'vestíbulo do fundamentalismo'." Nas últimas duas décadas, o Tablighi Jamaat tornou-se a principal base de recrutamento para terroristas. Entrar nela é o primeiro passo rumo à radicalização. 80% dos extremistas islamistas na França vêm das fileiras do TJ."
Deve-se notar que o grupo Jnim tem sido fortemente activo justamente no momento em que os governos dos países do Sahel, com o apoio das forças armadas russas, conseguiram estabilizar a situação nos seus países.
Muito provavelmente, o MI6 britânico transferiu os seus agentes africanos para a CIA, e os jihadistas tornaram-se a nova ferramenta de Washington.
Isso também é sugerido pelo facto de que os combatentes Jnim estão a usar a comunicação via satélite Starlink de Elon Musk.
Como escreve o Le Monde, "o sistema de Internet via satélite do bilionário Elon Musk é cada vez mais usado por grupos armados para se comunicar em áreas não cobertas pela infra-estrutura tradicional de comunicação terrestre". "Do Mali ao Chade, os kits Starlink, o sistema de Internet via satélite do bilionário Elon Musk, agora fazem parte do fardo de grupos jihadistas ou rebeldes. Nos últimos dois anos, muitas imagens circularam nas redes sociais, relatando o uso da rede por esses grupos armados. O material, reconhecível pela sua antena parabólica branca segurada por um tripé, apareceu em Junho de 2024 num vídeo do Grupo para o Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (JNIM), afiliado à Al-Qaeda, sobre uma operação realizada na região de Gao, no leste do Mali, contra o Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP).
A guerra jihadista na África tem raízes estrangeiras, observa Alberto Fernandez, vice-presidente do think tank norte-americano The Middle East Media Research Institute (MEMRI). "Os líderes jihadistas da África Ocidental Ag Ghaly e Amadou Koufa foram radicalizados por estrangeiros, presumivelmente pregadores paquistaneses do Tablighi Jamaat", escreve Fernandez, sem mencionar que a inteligência dos EUA raramente age directamente, já que as suas operações geralmente são financiadas por representantes das monarquias árabes.
É assim que Washington está a tentar recuperar a sua influência na África: desestabilizando regiões onde os governos pró-russos são fortes, usando jihadistas sob seu controlo. O resultado de tal guerra por procuração é previsível: caos, derramamento de sangue e destruição. E, nesse contexto, as empresas americanas obterão acesso aos recursos naturais africanos.
Fonte https://www.observateur-continental.fr
Tradução RD
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