O que importa é entender que desferir golpes no imperialismo, de onde quer que venha, significa abrir a oportunidade para processos revolucionários, significa se aproximar da possibilidade do socialismo, continuar a luta de classes numa etapa mais madura...
Por Paulo Ramires, adaptado de Nico Maccentelli, comunicador italiano
A esquerda hoje como está não vai fazendo sentido, ela tem abandonado os valores e princípios da verdadeira esquerda marxista e abraçado os ideais neoliberais da direita liberal. Em França apesar da vitória eleitoral da Nova Frente Popular, Melenchon não contava com a influência maçónica no golpe permanente de Davos que fez com que Emmanuel Macron escolhece para primeiro-ministro o ex-negociador da União Europeia no Brexit e conservador Michel Barnier, foi uma derrota para toda a esquerda que venceu as eleições recentemente em França. Todavia a esquerda tinha sofrido uma nova derrota no passado quando Blair transformou a esquerda marxista e depois keynesiana numa esquerda liberal que assumiu o papel internacional de ser a expressão máxima da supremacia atlantista com laços estendidos aos Estados Unidos e à OTAN. Esta esquerda liberal estendeu-se a outros países sobretudo na Europa e na América do Norte que aceita bem o imperialismo, o uniteralismo e uma ordem com base em regras que nasce nos Estados Unidos. No entanto uma nova esquerda nasce na Alemanha, a BSW de Sahra Wagenknecht. As eleições regionais na Turíngia e na Saxônia mostram este facto baseado em:
A) os partidos que recolocam a soberania nacional no centro vencem porque fica claro para os sectores populares que as necessidades e interesses sociais da população passam por essa soberania.
B) o declínio da esquerda neoliberal nas suas variantes é determinado pelo seu posicionamento como capacho contra o neoliberalismo atlantista, pró-Bruxelas e belicista.
C) se a extrema direita se afirma, é porque a esquerda não faz o que as massas populares esperam, ou seja, proteger as suas necessidades colocando-as no centro.
D) grande parte do eleitorado, assim como os que se abstêm, quebraram os bolsos devido a uma política servil da esquerda liberal e "progressista".
E) uma esquerda que não nega a sua vocação, ou seja, a justiça social e a luta de classes para alcançá-la, também vence e não pratica os truques habituais como em França, identificando bem quem é o principal inimigo e sabendo que não é a direita, uma força que é favorecida pelos imperialistas em Washington e Bruxelas.
F) ter jogado o jogo de forma coerente, sem pretensões demagógicas, produzirá na esquerda soberanista um crescimento que abre novas perspectivas.
E) se compararmos a estratégia da frente popular que em França favoreceu a recuperação de Macron em nome da oligarquia atlantista e a estratégia soberanista de Sahra Wagenknecht, entenderemos qual é o caminho certo para a esquerda europeia. No caso da alemã, é uma nova esquerda que não se vendeu e que entendeu qual é a essência do poder dominante, além da velha visão de um fascismo que agora está morto, está ressurgindo com outras modalidades e alinhamentos de mãos dadas com a OTAN.
Não há dúvida de que, se quisermos reconstruir uma esquerda antiliberal que retome a sua antiga vocação de sujeito combativo pelos direitos e necessidades sociais das massas populares, tornando-se a sua voz e expressão política, duas decisões irreversíveis devem ser tomadas:
1. Abandonar qualquer hipótese de unidade da esquerda que inclua a esquerda neoliberal com a ilusão de influenciar a sua política tanto no nível central quanto no periférico-administrativo.
2. Abandonar a dicotomia mecanicista direita-esquerda e uma visão retro do antifascismo que agora se tornou comum e eleitoralista, enquanto o verdadeiro fascismo, ou em qualquer caso o autoritarismo, está em outro lugar ... talvez precisamente no sector que você considera como parceiro.
Esta operação foi muito bem feita por Wagenknecht, que soube levantar a bandeira da justiça social, do repúdio à guerra liderada pelos Estados Unidos e pela NATO e da valorização da identidade nacional.
Esta última vai contra os princípios para os seguidores do cancelamento e para qualquer "revolução colorida" a serviço de Washington, das suas agencias de inteligência, dos seus influenciadores, fundações e ONGs e qualquer golpe de estado que surja pela mão de Washington. Mas Sahra explica eficientemente que o conceito de soberania popular é de esquerda, destingindo-se do nacionalismo vulgar de direita que também inclui o racismo e o clássico supremacismo nazi-fascista.
Na sua obra CONTRA A ESQUERDA NEOLIBERAL, toda acusação de "vermelho e branco" retorna ao remetente, uma vez que a identidade de uma população num determinado território é uma cola social contra o turbofinanciamento e um sistema que regula as cadeias de suprimentos e o fluxo de mercadorias conforme necessário ao capital.
E que, em todo caso, a integração está no equilíbrio dos fluxos em relação às possibilidades de integração e serviços para todos (bem-estar universal, o oposto da especulação privada...) e não nos objectivos de uma burguesia capitalista que usa os imigrantes para ganhar dinheiro, provocar guerras entre os pobres, competição entre trabalhadores, etc. sem integrar nada, e depois usando as habituais almas inocentes com lágrimas falsas.
O que há de progressista em impor novas discriminações reversas, em tagarelar sobre os direitos das minorias, em apoiar as formas e não a substância do direito à moradia e ao trabalho para todos? Essa esquizofrenia deve acabar enviando os "progressistas" para o seu lugar dentro dos neoliberais. E os eleitores alemães entenderam isso.
Soberanismo é internacionalismo, porque libertar um país da devastação anarcoliberal significa enfraquecer a frente capitalista e fortalecer os movimentos de massas anticapitalistas de outros países.
Ainda mais quando a questão da soberania nacional foi abordada em situações específicas por grande parte da esquerda anti-imperialista e anticolonialista global: América Latina, as guerras populares na China e no Vietname, Argélia, Nicarágua, na Europa os bascos, os irlandeses, catalães, corsos... Esses são apenas os exemplos mais óbvios, mas todo o século XX foi moldado por essas revoluções nacional-anticolonialistas.
Mas actualmente a esquerda liberal, os falsos anticapitalistas e os falsos verdes e municipalistas estão com a Ucrânia dos nazistas bandeiristas, não com os povos do Sahel. Portanto hoje a revolução pós-soviética passa por duas posições:
- Multipolarismo
- Descolonização
No momento, não importa que tipo de sistema esteja nesta frente de luta. O que importa é que estas frentes acelerem a queda do dólar e do imperialismo atlantista e que representam factores de injustiça social e desestabilização no mundo, para isso, há que convencer as massas sociais da importância de as decisões globais serem tomadas por vários países do mundo, acabar com o colonialismo dos povos bem como prestar ajudas sociais às populações e a luta de classes não cessa, é parte da batalha política pela hegemonia,
Por trás do mundo que Wagenknecht nos abre não há nada de vermelho e branco, mas a reafirmação dos interesses de 90% da população, a afirmação do Estado social, dos comuns, de uma redistribuição mais equitativa da riqueza social, de uma cooperação pacífica entre povos e países, respeitando a sua história e a sua identidade comunitária.
Cabe agora aos partidos de esquerda abandonarem o liberalismo atlantista e optarem por um combate mais soberanista e desligarem-se do apoio ao imperialismo voltando à sua vocação original optando por ferramentas políticas revolucionárias que amenizem o diferencial entre explorados e exploradores sem esquecer a importância dos serviços públicos e o financiamento da segurança social.
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