CRIMEIA PODE TRANSFORMAR-SE NA SEGUNDA CRISE DAS CARAÍBAS POR JOSÉ MILHAZES
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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

CRIMEIA PODE TRANSFORMAR-SE NA SEGUNDA CRISE DAS CARAÍBAS POR JOSÉ MILHAZES


CRIMEIA PODE TRANSFORMAR-SE NA SEGUNDA CRISE DAS CARAÍBAS POR JOSÉ MILHAZES

Os tártaros, que foram vítimas de perseguições terríveis na era de Estaline: 40 foram exterminados. É mais um dos genocídios comunistas. Hoje, eles são apoiados pela Turquia e a Arábia Saudita. São uma das minorias na Crimeia que não pode ser esquecida. 


Por José Milhazes


Quantos povos não passaram pela Península da Crimeia ao longo da sua longa história? Cimerianos, Citas, Gregos, Romanos, Godos, Hunos, Cazares, Bizantinos, Kiptchakes, Genoveses, Venezianos, Turcos, Russos, Ucranianos, Juseus, etc., etc.

As datas mais importantes para a história desta atual república autónoma da Ucrânia são:

1478-1783 – anos em que a Crimeia era habitada principalmente por Tártaros e dependia do Império Otomano.

Em 1777, o generalíssimo russo Suvorov derrota os turcos e, em 1783, a Crimeia passa a fazer parte do Império Russo.

(É de salientar que entre os combates do lado russo estiveram nomes importantes da história portuguesa como Gomes Freire de Andrade e outros militares).

Existiram outras grandes peripécias: Guerra da Crimeia (1854-1856); revolução comunista na Rússia em 1917; Segunda Guerra Mundial, mas nada disso impediu que a Crimeia continuasse a fazer parte do Império Russo e, depois, da União Soviética.

Em 1954, Nikita Khrutchov, secretário-geral do Partido Comunista da URSS, decidiu oferecer a Crimeia à Ucrânia, pois era, tal como todos os comunista, uma pessoa que não acreditava numa das previsões de Fátima, ou seja, que o regime comunista iria ruir um dia.

Quando a União Soviética caiu, em 1991, quase todos os dirigentes das repúblicas que faziam parte dela aceitaram fazer das fronteiras administrativas, fronteiras estatais, para evitar um sem número de guerras. Como é sabido, não se evitaram conflitos, ainda hoje congelados, como o de Nagorno-Karabakh, Transdnistria, Ossétia do Sul, Abkházia.

Além disso, a Ucrânia foi alvo de um tratado especial. Em 1994, quando Kiev aceitou entregar à Rússia as armas nucleares que tinha no seu território, Rússia, EUA, França e Grã-Bretanha assinaram o Acordo de Bucareste, que garante a “independência” e a “integridade territorial”.

Porém, depois dessa data, ocorreram muitas coisas graves na política internacional: desintegração caótica e sangrenta da Jugoslávia, Kosovo, invasão da Geórgia pela Rússia em 2008, etc.

Com base nesses e noutros acontecimentos, nomeadamente no rasgar do acordo entre Victor Ianukovitch e a oposição, intermediado pela UE e que acabou como todos sabemos, Rússia pode alegar que “se os outros não respeitam, porque devemos nós respeitar?”

Para alguns pode ser surpreendente, o facto de o Kremlin, oficialmente, não ter comentado o assalto armado do edifício do Soviete Supremo e do Governo da Crimeia, mas não é. Moscovo não pode apoiar semelhante acto terrorista, pois pode-se colocar a questão: se a Rússia defendeu a sua integridade territorial matando milhares e milhares de tchetchenos, porque é que Kiev não poderá fazer o mesmo na Crimeia?

Mas o Kremlin pode ser tentado a seguir a sua táctica de 2008 em relação à Geórgia. Ou seja, como é costume numa situação destas, todos arranjam argumentos a seu favor. Porém, esta política vai levar ao “vale tudo e até tirar olhos”.

Não se pode esquecer que na Ucrânia existem 5 centrais nucleares.

E mais um pormenor: na Ucrânia vive o povo autóctone da região: os tártaros, que foram vítimas de perseguições terríveis na era de Estaline: 40 foram exterminados. É mais um dos genocídios comunistas. Hoje, eles são apoiados pela Turquia e a Arábia Saudita. São uma das minorias na Crimeia que não pode ser esquecida.

E para terminar, gostaria de sublinhar um momento: se a Rússia se envolver militarmente na Ucrânia, isso será o fim do país com as fronteiras actuais. As aventuras em Angola, no Afeganistão, etc. levaram ao fim da URSS e, como a sabido, a história tem tendência a repetir-se.

Quanto às consequências para a UE e para as relações entre a UE e a Rússia, a minha colega e amiga Helena Ferro de Gouveia deve saber mais do que eu.

*Correspondente da Agência LUSA, RDP e SIC em Moscovo (Rússia), Consultor de empresas portuguesas na Rússia e Ucrânia. Docente no Centro de Cultura Portuguesa, Moscovo (Rússia).

http://www.darussia.blogspot.pt/2014/02/crimeia-pode-transformar-se-na-segunda.html

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