O CONFRONTO ENTRE POPULISTAS E TRADICIONALISTAS MOLDARÃO A EUROPA
O República Digital faz todos os esforços para levar até si os melhores artigos de opinião e análise, se gosta de ler o RD considere contribuir para o RD a fim de continuar o seu trabalho de promover a informação alternativa e independente no RD. Apoie o RD porque ele é a alternativa portuguesa aos média corporativos.

quinta-feira, 21 de março de 2019

O CONFRONTO ENTRE POPULISTAS E TRADICIONALISTAS MOLDARÃO A EUROPA

A razão de existir esta confrontação acesa entre estes grupos reside no facto de tradicionalistas e populistas terem visões diferentes para a União Europeia. Os tradicionalistas defendem uma Europa burocrática o mais federalista possível, já os populistas defendem uma Europa das Nações onde se preserve a identidade de cada povo, maior democracia e menos imigração. Na verdade, o maior inimigo da União Europeia nem são os populistas, mas sim a sua estrutura burocrática, antidemocrática onde tudo se decide longe do cidadão. 



Paulo Ramires

É um facto que a Europa e os europeus estão cansados da União Europeia tal como ela está organizada, e desta forma corre um risco maior do que é dito pelos partidos tradicionalistas, normalmente pró-europeus. A União Europeia é um produto da globalização que veio beneficiar bastante a elite governativa e financeira, dando espaço aos partidos políticos tradicionais para expandir os seus interesses políticos e as suas clientelas partidárias mas não beneficiou particularmente em nada o cidadão comum, além dos mais, os partidos tradicionalistas parecem não se ter apercebido de que muita coisa está a mudar na Europa e mais ainda irá mudar. Tanto à esquerda como à direita, os partidos políticos tradicionalistas em Portugal não apresentaram um único projecto de reforma para a União Europeia ou ideias para melhorar a vida dos cidadãos. Em Portugal a campanha eleitoral tem sido pior do que paupérrima, ficando a ideia que os candidatos querem ser eleitos mas não querem mudanças. Existe um consenso alargado para que os partidos populistas não possam ser aceites no sistema politico-partidário que existe em Portugal e que é preciso combate-los para que não se desenvolvam ou assumam alguma expressão eleitoral, só por esta razão mostra o quanto democrático são os partidos tradicionalistas portugueses, um deles, o PCP, ainda afirmou que a democracia é uma questão de opinião, isto a propósito do regime da Coreia do Norte. Não, a democracia não é uma questão de opinião e pelos vistos o PCP não sabe o que é uma democracia ou não se identifica com ela. Portugal tem aliás um dos sistemas políticos com menos variedade política e partidária na União Europeia, o que é negativo. Por exemplo, não há partidos alternativos, modernos, populistas e progressistas, e deveria haver, todos eles, da esquerda à direita são tradicionalistas. Não tendo nenhum deles apresentado um projecto de reforma da União Europeia, seria bom que eles entendessem que tal como está a União Europeia arrisca-se a implodir ou a serem os partidos populistas a liderarem essas mudanças na Europa. O edifício político-administrativo é demasiado burocrático servindo em particular uma elite financeira que até está além da politica, mas está bastante longe dos cidadãos sem ter conseguido alcançar os seus objectivos sociais permitindo em vez disso o enriquecimento desmesurado dessa elite.

Essa é uma das razões por estar a surgir uma certa revolta latente contra uma elite corrupta, antidemocrática, partidocrática e plutocrática, que só tende a aumentar com o aumento da iniquidade. 

Alguns destes sinais são o Brexit, os argumentos dos britânicos para terem votado para sair da União Europeia, foram uma maior independência do Reino Unido em relação à União Europeia, o medo da imigração, o relacionamento difícil com a União Europeia e também mais democracia, coisa que os partidos tradicionalistas ao contrário dos populistas não desejam. O surgimento do movimento não orgânico dos Coletes Amarelos em França e a simpatia por eles em outros países como Portugal ou a Bélgica diz-nos precisamente isso, e este movimento é de cariz populista, isto é, assume-se como anti-sistema, anti-neoliberal, anti-globalista, e defende uma democracia mais ampla que possa abranger e beneficiar todos os cidadãos e não só as elites políticas e financeiras como acontece actualmente. Os Coletes Amarelos são formados exactamente pelas camadas populacionais marginalizadas pelas elites partidárias subjugadas ao poder financeiro, nas ruas de Paris, gritam por revolução e pela demissão de Emmanuel Macron que serve as elites financeiras. Mas esta revolta parece estar a ultrapassar o contexto francês, muitos outros cidadãos não franceses estão a identificar-se com esta luta, mostrando o seu apoio nas redes sociais e traduzindo um sentimento de que as elites já não podem representar os cidadãos porque a confiança foi quebrada, a representação não é efectiva, e estando o mundo em crise, o passo necessário a dar é envolver o cidadão nas estruturas de decisão da democracia, caso contrário não será uma democracia, mas uma partidocracia. Este movimento é ainda apoiado por donativos.

A subida ao poder da La Lega e do Movimento 5 estrela em Itália é outro indicador de um grande divórcio das populações pelos partidos tradicionais, a La Lega e o Movimento 5 estrela são partidos populistas, o primeiro de extrema-direita defensor da democracia, da regionalização, eurocéptico, liberal e anti-globalista, o segundo defende um populismo anti-sistema tendo várias causas, nomeadamente a democracia directa, o ambientalismo, e o eurocepticismo. Na Alemanha, forças políticas idênticas destacam-se no panorama político, o AfD( Alternativa para a Alemanha) liderado por Jörg Mouthen e Alexander Gaulana, vão na mesma linha defendendo a democracia directa, o eurocepticismo, o conservadorismo nacional e políticas anti-imigração. O VOX em Espanha, partido de extrema-direita conservadora, neoliberal e eurocéptico, apresenta-se como um partido mais de extrema direita clássica que propriamente populista mas que poderá eleger 7 eurodeputados. Em França as sondagens mostram que a extrema-direita populista e democrática, representada pelo Rassemblement National de Marine Le Pen deverá ter a mesma percentagem que a aliança do Mouvement Democrate e o La République en Marche de Emmanuel Macron. Também os populistas de esquerda da La France insoumise sobem ligeiramente. Na República Checa os populistas (aqui a ideologia de esquerda e direita parece não fazer sentido) governam o país destacadamente em relação ao segundo partido político, o Partido Pirata da Republica Checa. 

No que respeita aos grupos parlamentares europeus, os socialistas têm perdido bastante popularidade, enquanto os populistas de esquerda e direita têm subido significativamente segundo as sondagens. O maior grupo do parlamento europeu, o Grupo do Partido Popular, tem se mantido estável. 

Isto significa que haverá uma maior confrontação entre populistas, a maioria eurocéptica, anti-sistema, soberanista e democrática, e os partidos tradicionais, sistémicos e europeístas. A razão de existir esta confrontação acesa entre estes grupos reside no facto de tradicionalistas e populistas terem visões diferentes para a União Europeia. Os tradicionalistas defendem uma Europa burocrática o mais federalista possível, já os populistas defendem uma Europa das Nações onde se preserve a identidade de cada povo, maior democracia e menos imigração. Na verdade, o maior inimigo da União Europeia nem são os populistas, mas sim a sua estrutura burocrática, antidemocrática onde tudo se decide longe do cidadão. 

No entanto há que se contar com factores externos à própria União Europeia, o americano George Soros suporta esta elite financeira havendo mesmo uma lista da organização de Soros, a Open Society European Policy Institute onde são integrados os partidos de extrema-esquerda e centro esquerda, os populistas têm recebido apoio de um outro bilionário o americano Steve Bannon, ex-conselheiro de Trump, que espera unir todos os populistas sob o seu movimento, 'The Movement' que tem como objectivo dar mais direitos de soberania para os países da UE, fronteiras mais fortes, menos migração e a erradicação da Europa do que chama de islamismo radical. O Open Society European Policy Institute defende justamente o oposto. 

Todo este jogo entre estes dois movimentos não é novo, mas vai definir o futuro da União Europeia à margem do próprio eleitorado europeu. Não é de forma alguma do interesse europeu haver estas intromissões externas na União Europeia, que podem também elas vir a enfraquecer a União Europeia. Ora isto está a ser bastante descurado por aqueles que defendem o status quo da União Europeia.

Assim a transformação recomendada à União Europeia é desburocratizar todo o sistema europeu e construir a democracia mais completa e ampla quanto possível, para isso deve haver partidos políticos com disponibilidade para uma reforma das instituições no sentido de aproximar as pessoas das decisões de Bruxelas.




Este mapa interactivo apresenta uma projecção dos lugares para as eleições para o Parlamento Europeu de 2019 por país e grupo de partidos. 


Sem comentários :

Enviar um comentário

Apoie o RD

Enter your email address:

Delivered by FeedBurner