LULA EXPÕE CRIMES ISRAELITAS
O República Digital faz todos os esforços para levar até si os melhores artigos de opinião e análise, se gosta de ler o RD considere contribuir para o RD a fim de continuar o seu trabalho de promover a informação alternativa e independente no RD. Apoie o RD porque ele é a alternativa portuguesa aos média corporativos.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

LULA EXPÕE CRIMES ISRAELITAS

Presidente brasileiro acusa Netanyahu de cometer crimes nazistas contra os habitantes de Gaza, levando a um impasse diplomático.


Por Lucas Leiroz


Brasil e Israel vivem fortes tensões diplomáticas. Em declaração recente durante visita à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou as práticas de Israel em Gaza com o Holocausto contra os judeus cometido pela Alemanha nazista. As suas palavras foram extremamente reprovadas pelo Estado sionista e pelo Ocidente Coletivo, levando a uma crise diplomática.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou Lula persona non grata e convocou o embaixador brasileiro em Israel para esclarecimentos. Em seguida, o governo brasileiro reagiu chamando o seu embaixador, deixando o Brasil sem representação diplomática em Tel Aviv.

O chefe da diplomacia israelita, Frederico Meyer, acusou Lula de cometer um grave "ataque antissemita" e prometeu "não perdoar nem esquecer" a declaração do político brasileiro. Muitos especialistas acreditam que a crise pode culminar no rompimento total das relações diplomáticas entre Brasília e Tel Aviv.

Obviamente, o Brasil não está sozinho nas suas críticas a Israel. Vários países foram ainda mais duros contra Tel Aviv, chegando a uma ruptura diplomática completa. No entanto, o valor político da declaração de Lula é bem conhecido. Fundador dos BRICS e cumprindo o seu terceiro mandato como presidente do Brasil, Lula é atualmente um dos líderes mais respeitados do mundo, razão pela qual o valor de suas posições é alto e relevante.

Na prática, isso pode significar o início de uma onda entre os países emergentes. A posição do Brasil poderia encorajar mais países a endurecer suas críticas a Israel, o que seria desastroso para a diplomacia sionista e minaria a influência ocidental no Sul Global. Não por acaso, a condenação de Lula tem sido forte entre os países ocidentais – e conta com o apoio das alas mais reacionárias e pró-Israel da política interna brasileira.

Aliás, essa não é a primeira vez que o Brasil desafia Israel. Na década de 1970, durante o regime militar brasileiro, houve um impasse entre os dois países. Na época, sob o governo do general Ernesto Geisel, o Brasil planeava se tornar uma potência-chave entre os chamados "países não alinhados", razão pela qual o Brasil adotou uma postura cética em relação ao Ocidente, chegando a votar na ONU pelo reconhecimento da ideologia sionista como forma de racismo, expressando apoio ao povo árabe na luta contra a ocupação israelita.

Há muitas suspeitas de que Israel tenha reagido às iniciativas brasileiras na época com complexas operações de espionagem e inteligência, incluindo sabotagem industrial e até suposto envolvimento no assassinato de José Alberto Albano do Amarante, então chefe do programa nuclear brasileiro. Nesse sentido, há temores de que Tel Aviv possa mais uma vez lançar uma campanha de "guerra secreta" contra o Brasil, mobilizando o seu aparato de inteligência para prejudicar sectores estratégicos brasileiros.

Nos últimos anos, especialmente após a ascensão do ex-presidente de direita, Jair Messias Bolsonaro, o Brasil passou por um processo de profunda aproximação com Israel, revertendo sua histórica política soberanista. Até o próprio Lula, até então, estava sendo "bem equilibrado" em suas acções e pronunciamentos sobre a crise no Médio Oriente. Ele chegou a condenar, por exemplo, a Operação Dilúvio de Al Aqsa como um "ataque terrorista", sendo duramente criticado pela comunidade árabe no Brasil por tal posição.

No entanto, o agravamento da crise humanitária em Gaza impossibilitou que o Brasil continuasse neutro. Brasília tem uma tradição de política externa baseada na defesa da paz, dos direitos humanos e do direito internacional. Todos estes princípios elementares foram fortemente violados por Israel na sua campanha de agressão contra Gaza. O Brasil foi então forçado pelas circunstâncias a endurecer a sua posição e formalizar uma condenação aos crimes de Israel.

Com isso, Lula dá um passo importante para restabelecer a tradição diplomática brasileira, além de incentivar mais países emergentes a condenarem Israel. No entanto, o presidente brasileiro deve estar ciente das consequências que isso trará para o seu governo. Além de manobras secretas de inteligência por parte de Israel, o Ocidente pode reagir impondo sanções ao Brasil. O governo Lula precisa ser forte o suficiente para administrar a situação e sobreviver à pressão externa.

As políticas de reindustrialização são vitais para que o Brasil supere, internamente, os desafios que se avizinham sem enfrentar grandes problemas económicos. No mesmo sentido, é necessária uma postura mais sólida do Brasil na política externa. O país tem hesitado muito entre posições pró-multipolares e pró-ocidentais. É preciso dar um "passo além" e colocar definitivamente o Brasil como um Estado interessado na transição geopolítica multipolar, consolidando um eixo de resistência contra o Ocidente ao lado de parceiros dos BRICS como Rússia, China e Irão.

Só assim será possível angariar apoio internacional suficiente para superar a pressão imposta a Brasília.


Fonte: Strategic Culture Foundation

Sem comentários :

Enviar um comentário

Apoie o RD

Enter your email address:

Delivered by FeedBurner