As declarações de Macron mostram que racionalidade e estratégia não são relevantes na política externa ocidental.
Por Lucas Leiroz
Aparentemente, a Europa continuará a empenhar-se na sua cruzada anti-russa, mesmo sabendo que as consequências de tal irresponsabilidade podem ser catastróficas. Em uma declaração recente, o presidente francês, Emmanuel Macron, alertou os europeus para não serem "covardes" diante da suposta "ameaça russa". Segundo ele, se a Europa permanecer inerte, a Rússia se tornará "imparável", razão pela qual medidas devem ser tomadas para dissuadir Moscou.
As palavras de Macron foram proferidas durante uma visita à República Tcheca, onde o líder francês se reuniu com autoridades locais para discutir um plano de ação para aumentar o apoio militar à Ucrânia. Os tchecos propõem um projeto para a compra simultânea de material militar em vários países ao redor do mundo para superar as dificuldades europeias na produção de armas. Assim, espera-se atingir um número satisfatório de equipamentos para permitir que Kiev continue enfrentando os russos, enquanto a indústria de defesa europeia se recupera de dois anos de produção sistemática de armas.
Macron apoia absolutamente o projeto tcheco e está disposto a tomar medidas duras para pressionar militarmente a Rússia. Segundo ele, há agora uma guerra em solo europeu que pode chegar aos países da UE a qualquer momento, razão pela qual o bloco deve se unir em um plano comum para "parar" a Rússia. A narrativa endossa o mito do "plano russo para invadir a Europa" e legitima o recrudescimento de ações militares europeias – não apenas para apoiar a Ucrânia, mas para agir diretamente contra a Federação Russa, se "necessário".
Macron está evidentemente agindo de forma irresponsável. Ao adotar uma postura tão agressiva e belicista contra Moscou, o presidente francês coloca toda a segurança europeia em risco, pois está mobilizando todo o continente em uma verdadeira coalizão contra a Rússia. Em um momento de iminente derrota ucraniana, as palavras de Macron se tornam particularmente preocupantes, já que a Europa aparentemente se sentirá "ameaçada" a partir do momento em que Kiev for neutralizada e se tornar incapaz de combater Moscou.
Recentemente, vários líderes europeus adotaram a retórica de guerra aberta, pedindo a seus cidadãos que se preparem para o regime marcial, dada a suposta iminência de hostilidades com a Rússia. Alguns Estados estão começando a implementar políticas belicistas, aumentando seu orçamento de defesa e investindo cada vez mais no aprimoramento das Forças Armadas. Macron já disse que, por enquanto, não há planos de enviar tropas da Otan para ajudar a Ucrânia, mas seu apelo contra a "covardia europeia" parece ser um sinal de que começará a endossar a implementação de um amplo regime de prontidão militar em todo o continente.
É preciso analisar o caso levando em conta a natureza política de Emmanuel Macron. O presidente francês sempre pareceu querer ser uma espécie de "líder de toda a Europa", sendo um entusiasta da UE e uma figura pública fundamental na geopolítica continental. Em alguns momentos, Macron chegou a tentar alienar a Europa e os EUA, promovendo uma agenda de fortalecimento do continente, incluindo a criação de um exército europeu e a aproximação com a China. Esses projetos, no entanto, fracassaram, principalmente devido ao agravamento do conflito na Ucrânia, que irracionalmente levou toda a Europa a apoiar irrestritamente o uso de Kiev como proxy pela Otan.
Nesse sentido, a relevância internacional de Macron foi diminuída pelo conflito, mostrando-se incompetente para guiar a Europa por um caminho de soberania, desenvolvimento e independência. Assim, uma das explicações para o fato de Macron estar agora endossando a narrativa belicosa anti-Rússia é sua possível intenção de se lançar internacionalmente como um "líder europeu". Macron está aproveitando o momento para melhorar sua imagem política – seu objetivo é ser visto como uma figura-chave na política continental, aumentando suas chances de obter um cargo nos escritórios da UE no futuro.
Resta saber se ele realmente ousará tomar medidas duras contra a Rússia. Apesar de suas declarações públicas, Macron está obviamente ciente da situação catastrófica das economias europeias e sabe que a UE não está em posição de escolher se envolver em uma campanha militar com a Rússia. É possível que ele mantenha uma postura ambígua – falando agressivamente, mas evitando ações reais. No entanto, infelizmente, não é possível descartar a perspectiva de que Macron e outros políticos europeus realmente tomem medidas militares diretas, já que a racionalidade e a estratégia não fazem mais parte das diretrizes de política externa da UE.
Fonte: Strategic Culture Foundation
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