A GUERRA SECRETA NA LÍBIA: O LEVANTAMENTO DA RESISTÊNCIA VERDE POR ERIC DRAITSER
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A GUERRA SECRETA NA LÍBIA: O LEVANTAMENTO DA RESISTÊNCIA VERDE POR ERIC DRAITSER

A GUERRA SECRETA NA LÍBIA: O LEVANTAMENTO DA RESISTÊNCIA VERDE POR ERIC DRAITSER

 



Por Eric Draitser

As violentas batalhas que actualmente se registam no sul da Líbia não são meros conflitos tribais. Pelo contrário, elas representam uma possível tendência crescente para a aliança entre os grupos étnicos líbios negros e pró-Kaddafi, forças decididas a libertar o seu país de um governo da NATO-instalado e neocolonial.

No Sábado, 18 de Janeiro, um grupo de combatentes fortemente armados invadiram uma base da força aérea fora da cidade de Sabha, no sul da Líbia, expulsando as forças leais ao "governo" do primeiro-ministro Ali Zeidan, e ocupando a base. Ao mesmo tempo, relatos de dentro do país começaram a surgir, na qual a bandeira verde do Grande Povo Socialista da Líbia, Jamahiriya Árabe estava a esvoaçar sobre um certo número de cidades em todo o país. Apesar da escassez de informação verificável - o governo em Trípoli forneceu apenas vagos detalhes e confirmações - uma coisa é certa: a guerra na Líbia continua.

No terreno

Primeiro Ministro Ali Zeidan

O primeiro-ministro da Líbia Ali Zeidan convocou uma sessão de emergência do Congresso Nacional Geral para declarar o estado de emergência para o país após a notícia da tomada da base aérea. O primeiro-ministro anunciou que ordenou tropas para o sul para conter a rebelião, dizendo a jornalistas que, "Este confronto continua, mas em poucas horas ele será resolvido." Um porta-voz do Ministério da Defesa mais tarde afirmou que o governo central tinha recuperado o controle da base aérea, afirmando que "A força[aérea] foi preparada, e em seguida, as aeronaves levantaram voo e concentraram-se nos alvos ... A situação no sul abriu uma oportunidade para alguns criminosos ... leais ao regime de Kaddafi para explorar esta [base] e para atacar a base de Tamahind da força aérea ... Vamos proteger a revolução e o povo líbio ".

Além do ataque à base aérea, houve outros ataques a membros individuais do governo em Trípoli. O incidente mais grave foi o recente assassinato do vice-ministro da Indústria, Hassan al-Droui na cidade de Sirte. Embora ainda não esteja claro se ele foi morto por forças islâmicas ou combatentes da resistência Verde, o facto inegável é que o governo central está sob ataque e não é capaz de exercer a real autoridade ou garantir a segurança no país. Muitos começaram a especular que a morte do vice-ministro, mais que um acto isolado, um assassinato planeado, é parte de uma tendência crescente da resistência de figuras proeminentes da guerrilha pró-Kaddafi e Verdes.

 

O crescimento das forças de resistência Verdes em Sabha e por todos os outros lugares é apenas uma parte dum maior e complexo cálculo político e militar no Sul, onde uma série de tribos e vários grupos étnicos têm-se levantado contra o que eles consideram ser correctamente a sua marginalização política, económica e social. Grupos como as minorias étnicas Tawergha Tobou, sendo que ambos são grupos negros africanos, têm sofrido ataques brutais nas mãos de milícias árabes, sem qualquer apoio do governo central. Não só têm sido estes e outros grupos vitimas de limpeza étnica, como também são sistematicamente impedidos na participação da vida política e económica da Líbia.

As tensões vieram à tona no início deste mês, quando um chefe rebelde da tribo árabe Awled Sleiman foi morto. Ao invés de uma investigação oficial ou processo legal, os homens da tribo Awled atacaram os seus vizinhos negros Toubou, acusando-os de envolvimento no assassinato. Os confrontos resultantes, desde então, fizeram dezenas de mortos, demonstrando mais uma vez que os grupos árabes dominantes, continuam ainda a ver os seus vizinhos de pele escura como qualquer outra coisa, menos do que seus conterrâneos. Sem dúvida, isso tem levado a uma reorganização das alianças na região, com os Toubou, Tuareg e outros grupos minoritários negros que vivem no sul da Líbia, no norte do Chade e no norte do Níger aproximando-se das forças pró-Kaddafi. Se essas alianças são formais ou não continua a ser pouco claro, no entanto, é evidente que muitos grupos na Líbia têm chegado à conclusão de que o governo instalado pela NATO não cumpriu as suas promessas, e que algo deve ser feito.

A Política Racial na Líbia

Apesar da retórica bem pensante de intervencionistas ocidentais sobre a "democracia" e "liberdade" na Líbia, a realidade está longe disso, especialmente para os líbios de pele escura que viram o seu estatuto sócio-económico e político diminuir com o fim do governo da Jamahiriya de Muammar Kaddafi. Enquanto esses povos desfrutaram em boa medida de políticas de igualdade e protecção estabelecidas na lei de uma Líbia de Kaddafi, a era pós-Kaddafi veio a despoja-los de todos os seus direitos, em vez de serem integrados num novo estado democrático, os grupos líbios negros têm sido sistematicamente excluídos.






O Preto, o Verde, e a luta pela Líbia


Seria presunção assumir que as vitórias militares feitas pela resistência Verde pró-Kaddafi nos últimos dias serão de longa duração, ou que elas representam uma mudança irreversível na paisagem política e militar do país. Embora decididamente instável, o governo fantoche neocolonial em Trípoli é apoiada economicamente e militarmente por alguns dos interesses mais poderosos do mundo, o que torna difícil simplesmente derrubá-lo com pequenas vitórias. No entanto, estes desenvolvimentos fazem assinalar uma alteração interessante do cálculo inicial. Sem dúvida, há uma confluência entre as minorias étnicas negras e os guerrilheiros verdes tal como reconhecer o seu inimigo, como sendo as milícias tribais que participaram no derrube de Kaddafi, assim como o governo central em Trípoli. Se uma aliança formal emergir entre eles ficará depois para ser confirmada.

No seu relatório de 2011, a Amnistia Internacional documentou uma série de crimes de guerra flagrantes realizados pelos chamados "combatentes da liberdade" da Líbia, que, apesar de ter sido aclamado nos media ocidentais como "libertadores", aproveitaram a oportunidade da guerra para realizar massivas execuções de líbios negros, bem como dos clãs rivais e grupos étnicos. Isto é claramente o contraste grosseiro da forma como os líbios negros eram tratados sob o governo da Jamahiriya de Kaddafi  que foi mesmo elogiado em todos aspectos pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas no seu relatório de 2011, que observou que Kaddafi tinha tomado grandes medidas para garantir o desenvolvimento económico e social, bem como especificamente criando oportunidades económicas e protecções políticos dos líbios negros e dos trabalhadores migrantes de países africanos vizinhos. Com isto em mente, não é de admirar que a Al Jazeera tenha citado os guerrilheiros Tuareg pró-Gaddafi  em Setembero 2011 como, "lutar por Kaddafi é como um filho a lutar pelo seu pai ... [Estaremos] prontos para lutar por ele até à última gota de sangue ".

O quadro de confrontos dos Toubou e outros grupos étnicos negros com as milícias árabes, essa guerra, deve ser compreendida no contexto de uma luta contínua pela paz e igualdade. Além do mais, o facto de eles terem de se comprometer nesta forma de luta armada novamente, ilustra o ponto a que muitos observadores internacionais chegaram logo desde o início da guerra: A agressão da NATO nunca foi sobre a protecção de civis ou de direitos humanos, mas sim de uma mudança de regime por razões de interesses económicos e de geopolítica. Que a maioria da população, incluindo as minorias étnicas negras, estão hoje bastante pior do que jamais estiveram com Kaddafi, é um facto que está activamente reprimido.


Eric Draitser  é fundador do StopImperialism,com. É analista independente em Geopolítica em Nova York.

Tradução do original: Paulo Ramires


Acções de milícias pró-NATO na Líbia

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