A cena se presta a uma ironia mordaz: Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelita e arquiteto de um dos maiores sistemas modernos de opressão em Gaza, é persona non grata nas comemorações do 80.º aniversário da libertação de Auschwitz. Não por desinteresse, mas por medo de acabar algemado. O motivo? Um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que a Polónia, país anfitrião do evento, se comprometeu a respeitar.
Auschwitz, um símbolo da memória... e contradições
Auschwitz, um dos símbolos mundiais dos horrores cometidos contra a humanidade, celebra todos os anos a libertação deste campo de concentração, onde milhões pereceram. A suprema ironia é que este ano, Netanyahu, chefe de um governo que está a transformar Gaza num campo de concentração a céu aberto, não colocará os pés lá. Varsóvia deixou claro que ele não é bem-vindo.
«Somos obrigados a respeitar as decisões do Tribunal de Haia", disse Wladyslaw Bartoszewski, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Polónia.
Uma declaração que diz muito sobre a dissonância entre a retórica israelita e a realidade das acções de Netanyahu. O líder, acusado de crimes de guerra, prefere evitar uma possível aparição na justiça internacional em vez de participar de um evento que destaca as lições de um genocídio passado.
Gaza: um Auschwitz moderno?
É difícil não traçar um paralelo. Gaza, este território apertado, transformado num moderno campo de concentração por um bloqueio implacável, tornou-se um teatro de horrores inimagináveis. Quase 200.000 mortos, cadáveres abandonados nas ruas, devorados por cães e gatos famintos, testemunham um total desrespeito pela vida humana.
Não é por acaso que alguns comparam Gaza a uma versão contemporânea de Auschwitz. Um lugar onde a população é sistematicamente perseguida, bombardeada e privada dos direitos humanos mais básicos.
«O criminoso de guerra Netanyahu não tem lugar numa cerimónia que homenageia a memória das vítimas de outro genocídio", disse um observador ironicamente.
Silêncio embaraçoso do governo israelita
As autoridades israelitas nem sequer se atreveram a entrar em contacto com a Polónia para considerar a participação de Netanyahu ou do presidente Isaac Herzog. Para quê? Porque a resposta teria sido humilhante. Varsóvia não esconde a sua antipatia por um líder cujas acções na Palestina evocam, para alguns, as práticas mais sombrias do século XX.
Uma lição para a história
Essa ausência marca um ponto de viragem: o mundo está a começar a dizer não. Não aos tiranos que se colocam como vítimas enquanto cometem atrocidades. Não aos padrões duplos que protegem os poderosos.
Talvez seja simbólico que Netanyahu, o arquitecto da opressão de Gaza, seja excluído de um evento que homenageia as vítimas de um genocídio passado. Isso mostra que, apesar de todas as falhas da justiça internacional, ainda há um vislumbre de esperança de que os carrascos modernos um dia sejam responsabilizados.
«Os ausentes estão sempre errados», dizem eles. Nesse caso, a sua ausência é uma admissão.
Fonte: Le Média en 4-4-2
Tradução e revisão: RD
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