Há poucas dúvidas de que o envolvimento dos militares ucranianos na Síria foi orquestrado pelos patrocinadores da OTAN do regime de Kiev.
Relatos de que as forças especiais militares ucranianas estão a ajudar crucialmente terroristas jihadistas na Síria não devem ser surpresa — excepto talvez para os consumidores da média ocidental.
O facto de o regime neonazi de Kiev estar agora abertamente alinhado com as redes terroristas na Síria é totalmente consistente com os nefastos objectivos imperialistas ocidentais.
As aparentes contradições ou surpresas surgem apenas se acreditarmos: a) que o regime de Kiev é um governo democrático em vez de uma junta neonazi que glorifica os colaboradores do Terceiro Reich; b) que os militantes na Síria são "rebeldes" de boa-fé lutando uma "guerra civil" para libertar a Síria de uma ditadura, em vez de serem grupos terroristas jihadistas encarregados por patrocinadores ocidentais de mudança de regime; e c) que os valores ocidentais têm tudo a ver com democracia e respeito ao direito internacional, em vez de priorizar interesses hegemónicos, não importa quão criminosos sejam os meios.
O que está a acontecer na Ucrânia e na Síria está sistematicamente ligado, não ocorrências aleatórias. Isso porque ambos os conflitos têm uma raiz — a intriga imperialista ocidental.
Foi relatado de forma confiável há várias semanas pela média turca e russa que o regime de Kiev havia negociado um acordo com militantes na Síria para fornecer “drones”. Até 250 ucranianos foram destacados para a região norte de Idlib, na Síria, o qual é um enclave do grupo terrorista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e de várias outras milícias jihadistas. Todos esses grupos são ramificações da organização terrorista Al Qaeda que as agências de inteligência militar americana e britânica criaram no Afeganistão para lutar contra a União Soviética, depois ajudando o seu aliado afegão (1979–1989).
Quando o HTS lançou a sua ofensiva na semana passada para capturar Aleppo — a segunda maior cidade da Síria — a vitória dramática foi possibilitada em grande parte pela nova implantação de ‘drones’ fornecidos pelos militares ucranianos. É relatado que a unidade de comando dos Lobos Brancos desempenhou um papel vital na ofensiva relâmpago do HTS. Os Lobos Brancos estão supostamente sob o controlo da inteligência militar ucraniana (SBU), que, por sua vez, está a trabalhar lado a lado com a CIA, MI6 e outros serviços de inteligência militar da OTAN.
Não há coincidência aleatória aqui, mas sim uma campanha estratégica.
A guerra por procuração instigada pela OTAN na Ucrânia está a ser atroz para os Estados Unidos e os seus parceiros europeus. A Rússia está a vencer decisivamente essa guerra, que eclodiu em Fevereiro de 2022, quando Moscovo lançou a sua Operação Militar Especial para impedir anos de agressão de baixa intensidade patrocinada pela OTAN usando brigadas terroristas neonazis. O regime neonazi de Kiev foi instalado em 2014 num golpe de Estado apoiado pela CIA, que o Ocidente valoriza como um movimento pró-democracia.
Durante os últimos três anos da guerra híbrida da OTAN na Ucrânia, militantes foram transferidos da Síria para lutar contra as forças russas. O HTS e o Estado Islâmico forneceram os militantes — ambos organizações terroristas designadas internacionalmente.
Oficialmente, até mesmo os Estados Unidos e os membros da OTAN proscrevem o HTS e o EI como grupos terroristas.
No entanto, a média ocidental se entrega à farsa do jogo de concha dos seus governos. O que a média ocidental não noticiará é que os jihadistas na Síria foram patrocinados e armados pelo governo Obama a partir de 2011 como parte de um projecto da CIA chamado Operação Timber Sycamore, conforme relatado pelo jornalista de investigação Seymour Hersh. O objectivo era derrubar o governo do presidente sírio Bashar al-Assad numa operação de mudança de regime sob o disfarce de uma "guerra civil". Isso serviria a vários propósitos estratégicos para os EUA e os seus aliados da OTAN, incluindo quebrar o Eixo de Resistência apoiado pelo Irão contra Israel e minar o domínio da Rússia como fornecedor de energia para a Europa com a construção de novos gasodutos na Síria facilitados por um novo regime pró-Ocidente em Damasco.
A intervenção militar da Rússia na Síria em 2015 pôs termo à guerra por procuração dos EUA e da OTAN para mudança de regime. Em 2020, o exército mercenário jihadista restante estava confinado a Idlib. Os militares dos EUA e da Turquia continuaram a ocupar ilegalmente áreas do norte da Síria e patrocinar grupos terroristas (enquanto alegavam estar a lutar contra o terrorismo).
O aumento da campanha de mudança de regime na Síria é mentirosamente relatado pelos meios de comunicação ocidentais como uma renovação da "guerra civil" que supostamente começou em 2011. Incongruentemente, também, a média ocidental descreve os militantes em termos vestidos de branco como "rebeldes". Esta é uma omissão flagrante e encobrimento do facto de que a última ofensiva para capturar Aleppo e a cidade de Hama, ao sul, é liderada pela organização terrorista Hayat Tahrir al-Sham. A média ocidental está a encobrir assiduamente as origens do HTS como uma dissidência da Al Qaeda e do Estado Islâmico (EI ou ISIS). O encobrimento também esconde que os Estados Unidos e os seus aliados da OTAN patrocinaram activamente essas organizações terroristas na Síria para conseguir uma mudança de regime.
Há poucas dúvidas de que o envolvimento dos militares ucranianos na Síria foi orquestrado pelos patrocinadores da OTAN do regime de Kiev.
A Turquia, membro da OTAN, é o elo mais plausível nessa expansão da guerra. Ancara está por trás dos grupos terroristas islâmicos com o fornecimento de armas e inteligência, além de fornecer uma ponte logística para as milícias viajarem para a Ucrânia e a Síria e vice-versa.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan parece ter se envolvido num acto traiçoeiro contra um suposto acordo de paz — os Acordos de Astana — negociados com a Rússia, Irão e Síria sobre o controlo do enclave jihadista em Idlib.
Erdogan tem sido um defensor ferrenho do regime de Kiev, fornecendo-lhe ‘drones’ e outras armas. É lógico que Erdogan seja receptivo a um plano da OTAN para abrir uma segunda frente na Síria para minar a operação militar da Rússia na Ucrânia. Há também um factor de vingança para os EUA e a Turquia pela derrota anterior na Síria pela Rússia e pelo Irão aliados às forças estatais sírias.
Para quem acompanha de perto os conflitos na Ucrânia e na Síria, prestando atenção à história do terrorismo patrocinado pelo Estado ocidental em ambos os casos, não é estranho ou surpreendente que o regime de Kiev esteja envolvido na Síria. Estamos a ver um representante terrorista ajudando outro representante terrorista. A confusão ou dúvida só surge por causa das falsas narrativas que a média ocidental está difundindo sobre a Ucrânia e a Síria e supostos "valores ocidentais" benignos.
Se os "valores ocidentais" são devidamente entendidos como maquinações imperialistas nefastas para o controlo hegemónico, então o envolvimento do regime de Kiev com terroristas na Síria é um desfecho contínuo. Porque ambos têm os mesmos mestres ocidentais.
Fonte: Strategic Culture Foundation
Tradução e revisão: RD
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