A IDEIA DE CRIAR UMA "OTAN ASIÁTICA" NÃO É VIÁVEL
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A IDEIA DE CRIAR UMA "OTAN ASIÁTICA" NÃO É VIÁVEL


A criação de uma OTAN asiática será uma solução para os problemas de segurança regional ou corre o risco de se tornar um novo instrumento de dominação geopolítica pelos Estados Unidos? 


Por Alexandre Lemoine


Neste Outono, no período que antecedeu a campanha eleitoral do Japão para o cargo de líder do Partido Liberal Democrático (PLD), o primeiro-ministro Shigeru Ishiba apresentou a ideia de criar uma "OTAN asiática". Como resultado, o partido iniciou uma discussão oficial sobre a ideia de criar uma aliança militar. De acordo com os média japoneses, um comité especial foi formado para esse fim.

Shigeru Ishiba tem sido um defensor activo do conceito de segurança colectiva. Durante a campanha eleitoral de 2024, ele fez disso um dos pontos-chave da sua plataforma, defendendo a criação de uma aliança militar regional baseada na cooperação entre os Estados Unidos e o Japão. Espera-se que a Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia e Filipinas, com as quais Washington já tem acordos bilaterais de defesa, possam aderir à aliança.

O objectivo do comité é revir as opiniões dos especialistas e preparar um relatório com recomendações, embora os prazos de conclusão ainda não tenham sido anunciados. O próprio Ishiba até agora absteve-se de revelar detalhes da futura aliança, mas enfatiza a necessidade de fortalecer os parceiros regionais diante das crescentes ameaças à segurança.

No entanto, apesar da intensificação da cooperação entre os países da região do Indo-Pacífico (Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia) com a OTAN, particularmente no contexto do arco de instabilidade no continente eurasiático, a proposta de Ishiba de criar uma aliança militar na Ásia ainda não foi seriamente considerada ou recebeu amplo apoio no cenário regional.

Vários factores dificultam a realização da ideia de uma aliança militar asiática. Assim, a criação de um análogo da OTAN pressupõe que essa estrutura dependerá, em certa medida, da política dos EUA. No contexto asiático, essa dependência pode levar os países membros a terem que seguir os interesses americanos também. Portanto, em vez de fortalecer a segurança regional, a organização poderia se tornar um instrumento para projectar o poder americano.

Além disso, a presença dos Estados Unidos na aliança cria desafios adicionais para os países da região, pois os seus interesses nacionais podem divergir radicalmente da posição de Washington. Taiwan, que tem sido um foco de tensão há décadas, é um exemplo disso. Portanto, a participação em tal aliança implica automaticamente que os países serão arrastados para um conflito potencial com a China, mesmo que isso vá contra os seus interesses de longo prazo, incluindo a manutenção de laços económicos com Pequim.

A soberania é também uma questão de particular importância. A autonomia estratégica continua a ser um princípio importante da política externa. Portanto, ingressar numa aliança defensiva multilateral pode ser visto como uma limitação da sua independência e um retorno a um sistema onde as grandes potências ditam os termos. Além disso, alguns países da ASEAN, como a Indonésia e a Malásia, tendem a manter uma política de não alinhamento para evitar cair na órbita de influência de outros países.

Há também o factor que preocupa Pequim, que se opõe fortemente à criação de alianças militares semelhantes à OTAN na região da Ásia-Pacífico, vendo-a como um impedimento estratégico por parte dos Estados Unidos. A China enfatizou que o Japão deve se concentrar nos esforços para melhorar a paz e a estabilidade regionais, evitando acções que possam agravar a situação ou criar uma ameaça à segurança na região da Ásia-Pacífico.

A Rússia também partilha dessas preocupações. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, disse anteriormente que tais movimentos trazem riscos de escalada. "Qualquer militarização, qualquer ideia de criação de alianças militares sempre traz riscos de confronto que podem evoluir para uma fase activa", enfatizou.

Além disso, alguns países vizinhos também expressaram a opinião de que esta iniciativa do primeiro-ministro japonês, destinada a fortalecer o poder militar do Japão, entre outras coisas, poderia ser vista como um passo para restaurar o seu passado imperial.

A Coreia do Sul, embora não tenha rejeitado a proposta do primeiro-ministro de uma OTAN asiática, reagiu friamente. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul, Cho Tae-yil, disse que ainda é muito cedo para começar a discutir a participação de Seul.

Muitos países asiáticos também têm disputas territoriais bilaterais, como Japão e Coreia do Sul ou Índia e China, o que complica a criação de uma aliança unificada.

A região já possui vários mecanismos de cooperação em segurança, incluindo iniciativas como o Diálogo Estratégico Quad, que reúne Japão, Austrália, Índia e os Estados Unidos, bem como a aliança político-militar Aukus entre a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos, da qual o Japão é considerado um participante potencial. Além disso, há uma estreita cooperação de segurança entre os Estados Unidos e os seus principais parceiros asiáticos, que são Japão, Coreia do Sul e Filipinas.

A busca por um modelo ideal para a segurança regional provavelmente continuará.


Fonte: https://www.observateurcontinental.fr

Tradução e revisão: RD


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