O ATAQUE SEM SENTIDO E INÚTIL CONTRA A SÍRIA NÃO RESOLVE NADA
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quarta-feira, 18 de abril de 2018

O ATAQUE SEM SENTIDO E INÚTIL CONTRA A SÍRIA NÃO RESOLVE NADA

O ATAQUE SEM SENTIDO E INÚTIL CONTRA A SÍRIA NÃO RESOLVE NADA 

O mundo não se apressou em mostrar o seu apoio. O secretário-geral da ONU, António Guterres, não quer uma escalada na Síria. A China opôs-se ao uso da força. A Indonésia expressou preocupação com o ataque não exigido pela ONU. O presidente sérvio Aleksandar Vucic alertou que os ataques poderiam levar a um conflito global. O presidente boliviano Evo Morales classificou a acção de agressão.

Por Alex Gorka*


Antes e depois do ataque
A unidade do Ocidente está a desfazer-se e a liderança mundial dos Estados Unidos está a ser questionada. O alegado "ataque químico" na Síria, mas nunca comprovado, oferece uma oportunidade para se tornar num factor unificador. Ao atacar aquele país, a administração dos EUA perseguiu o objectivo de solidificar a sua imagem como líder mundial número um para liderar outras nações num esforço para enfrentar o "mal". Ela queria mostrar a unidade do Ocidente, reforçar a sua posição no Médio Oriente e aumentar os índices de aprovação do presidente em casa. A Rússia foi retratada como um estado pária apoiando o "animal" Assad e aliado do Irão que representam uma ameaça comum. A missão foi cumprida?

O mundo não se apressou em mostrar o seu apoio. O secretário-geral da ONU, António Guterres, não quer uma escalada na Síria. A China opôs-se ao uso da força. A Indonésia expressou preocupação com o ataque não exigido pela ONU. O presidente sérvio Aleksandar Vucic alertou que os ataques poderiam levar a um conflito global. O presidente boliviano Evo Morales classificou a acção de agressão. 

Formalmente, a OTAN aprovou os ataques, mas houve reservas em relação à posição sobre a Rússia. Por exemplo, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier alertou contra a demonização de Moscovo a 15 de Abril, dizendo que não deveria haver animosidade entre o Ocidente e a Rússia numa situação de crescentes tensões. Ele insiste que o diálogo deve ser mantido. A Alemanha aprovou a operação, mas recusou-se a participar. 

O líder do Partido Trabalhista da oposição britânica, Jeremy Corbyn, criticou o movimento e disse que o Reino Unido aderiu aos ataques sob pressão dos EUA. Apenas um quarto dos britânicos aprovam a participação do Reino Unido na operação. 43% deles desaprovam. 

O presidente francês Macron sofreu críticas da direita e da esquerda pela sua decisão em participar na operação. A Itália recusou-se a permitir que os aliados usassem o seu território para lançar os ataques. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Luxemburgo, Jean Asselborn, questionou a legalidade do ataque. O partido SYRIZA, o maior membro da coligação de governo da Grécia, condenou os ataques. Finlândia, Chipre e Suíça expressaram preocupação com o uso da força contra a Síria. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Finlândia, Timo Soini, ainda acredita que a paz teria uma oportunidade na Síria se a lei internacional fosse respeitada. 

Não houve apoio unânime ao ataque nos EUA. O movimento sofreu duras críticas dos dois lados do corredor. Por exemplo, o senador Tim Kaine, D-Va., acredita que o ataque lançado sem a aprovação do Congresso é ilegal e imprudente. Esta posição foi apoiada pelo deputado Justin Amash, R-Mich. O senador Tom Udall, D-NM, emitiu uma declaração especial para discordar fortemente da decisão do presidente de usar a força. Ele acha que Donald Trump está perigosamente a agravar a situação agindo sem autoridade legal. A influente Associação de Controle de Armas criticou os ataques como uma acção míope e ilegal, violando a legislação interna e o direito internacional. 

Os maiores países árabes não aprovaram os ataques. O governo iraquiano acredita que ataques marcaram "um desenvolvimento muito perigoso" para dar aos terroristas outra oportunidade para fortalecer as suas posições. O Egipto expressou "profunda preocupação" ao afirmar que os ataques prejudicaram as perspectivas de paz na Síria. Argélia condenou a acção. O Líbano levantou a voz para se opor fortemente ao acto de agressão. 

A operação militar única, em vez de unir o mundo dividiu-o, incluindo o "Ocidente como um todo". O governo britânico não conseguiu reunir o apoio popular. Em vez disso, tornou a sua posição ainda mais fraca do que antes. O apoio da OTAN, assim como da UE, foi principalmente vocal. Apenas três nações participaram da operação. A contribuição da Grã-Bretanha e da França foi muito limitada. A administração dos EUA tem muitas respostas a dar sobre a sua estratégia na Síria. 

A legalidade da acção é universalmente questionada e muitos governos percebem que a lei internacional não protege ninguém dos ataques liderados pelos EUA e leva-os a obter armas para se defenderem. Como mostra a experiência da Síria, a Rússia tem muito a oferecer não apenas como fornecedor de armas, mas também como um pólo alternativo de poder. 

A situação na Síria não mudou. O seu governo mantém a capacidade de continuar a sua ofensiva de sucesso em todas as frentes. Os ataques não diminuíram o apoio inabalável de Moscovo e Teerão a Damasco. O ataque aéreo não conseguiu nada. Isso apenas demonstrou o quão limitada é a capacidade dos EUA de influenciar os eventos na Síria, colocando em causa as suas reivindicações de liderança global.




Analista em defesa e diplomacia

strategic-culture.org

Tradução Paulo Ramires

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